The Witness oferece uma experiência fantástica, mas destinada para poucos
The Witness tem sido uma grande promessa desde que foi anunciado. Desenvolvido pela lendária mente de Jonathan Blow, o criador de Braid, o game já estava havia mais de seis anos no forno e prometia um mundo vasto recheado de puzzles.
A obra coloca o jogador no papel de um homem que está em uma ilha misteriosa. O seu objetivo? A grande atração é justamente descobrir isso, em um jogo que pode ser uma das experiências mais únicas desta década quando os assuntos são desafios e narrativas interpretativas.
The Witness foi marcante para mim, com muitos momentos de reflexão, investigação e desafios que colocaram à prova toda a minha capacidade lógica. Depois de muitas horas, tudo o que eu queria eram puzzles ainda mais elaborados e descobrir o mistério deste local enigmático. Contudo, será que o título consegue manter o nível de qualidade por mais de 70 horas? Confira a nossa análise completa.
Um mundo de puzzles
A forma mais simples de resumir este game é dizer que se trata de um jogo de puzzle. Puzzle em sua essência e explorado de maneiras incontáveis, sempre extremamente criativos e originais. A premissa básica é ligar o ponto A ao ponto B de pequenos painéis espalhados pelo mundo aberto.
Entretanto, é nesse momento que as coisas começam a se aprofundar e mostrar a verdadeira face de The Witness. Entre um ponto e outro, há sempre um objetivo a ser cumprido de forma lógica, como coletar pequenos pontos, desenhar formas geométricas e qualquer outra coisa que você possa imaginar.
É impressionante a qualidade do level design e de todas as mecânicas de puzzle presentes no game. A curva de aprendizagem desta obra é uma das melhores já vistas até hoje. É muito gratificante experimentar uma sessão inteira sem que o jogo fique me dizendo o que fazer e guiando pela mão em todos os momentos. Entretanto, não duvide: não importa se você está com 2 horas de campanha ou 20, pois toda evolução é mais um passo de um tutorial invisível e sem fim que o prepara para novos e magníficos problemas lógicos.
Em vez disso, há uma progressão muito bem construída em todos os puzzles. The Witness não possui começo, meio e fim. O mundo é inteiramente aberto e você pode explorá-lo desde o início. Cada parte da ilha conta com desafios diferentes, que demandam a sua inteligência para entendê-los. Todos eles começam simples e ficam mais difíceis com o tempo, inserindo o jogador aos poucos em problemas lógicos que exigem muita dedicação.
Desvendar esses enigmas sempre passa uma sensação extremamente recompensadora. Caso você não consiga um determinado puzzle, não há problema. Basta caminhar pela vasta ilha e achar outro rumo para seguir, encontrando novos mistérios e locais exóticos. Há quase 100 horas de conteúdo aqui, e, apesar de seguirem a mesma premissa, todos os desafios são muito diferentes entre si.
Essas características se refletem em um level design soberbo, que nos guia por uma aventura sem rumo e extremamente bem-feita. Você sempre sabe aonde pode ir para progredir, mesmo sem um indicador de objetivo na tela, um minimapa ou um objetivo escrito em um diário. Aqui, há apenas você, o mundo e o que você pode interpretar dele.
Crie as suas próprias hipóteses
É inevitável perguntar qual é a graça de resolver puzzles por horas. Afinal, muitos títulos mobile já oferecem isso. A questão é que os obstáculos em si já sustentariam uma boa jogatina, mas há muito mais do que isso para vivenciar no universo do game. Se você olhar atentamente, existe uma “história” a ser contada e uma centena de mistérios para serem descobertos.
Não há nenhum tipo de tutorial ou explicação do que fazer na aventura, mas em pouco tempo o jogo consegue iluminar um propósito ao jogador. O grande mistério de The Witness se concentra na montanha mais alta do mapa, na qual você deve acender raios de luz que apontam para lá. Descobrir o porquê e o que aconteceu é por sua conta.
O grande charme deste game é a quantidade de mistérios espalhados pela ilha. Alguns tão escondidos e tão reveladores que fazem com que o jogador se sinta inteligente. Muitos desses desafios não estão conectados ao objetivo principal, mas é bem fácil se perder por horas em frente a um mundo soberbo.
Todavia, é possível dizer que não há narrativa alguma também. The Witness é um playground para a sua própria mente, um exercício de interpretação e uma oportunidade de elaborar a sua própria versão da história. O mundo e os elementos para criar um contexto estão ali e dependem apenas do que você consegue fazer.
Isso é ao mesmo tempo magnífico e ruim. A atividade de ter um mundo recheado de características interpretativas pode ser incrível e extremamente instigante. Porém, isso pode ser a falta de motivação para muitas pessoas também. Se você não conseguir dar um contexto para o que faz ou não se empolgar para descobrir mais detalhes, então The Witness não passará de uma revista de Sudoku qualquer.
Uma atmosfera extremamente linda e imersiva
Os gráficos de The Witness são um espetáculo à parte. O visual foi criado em um motor gráfico próprio desenvolvido por quase seis anos. O capricho estético é claro, pois todo o mundo do game é ricamente decorado, com detalhes e paisagens fantásticas. A imersão é gigantesca, uma vez que em algumas horas você já se sente como parte da ilha.
É simplesmente sensacional ir até o topo da maior montanha do game e observar o ecossistema da ilha. Há cenários distintos e muito variados durante as dezenas de horas gastas na jornada. Essa diversidade ajuda o jogador a se interessar pelos mistérios do mapa, que são cuidadosamente espalhados e inseridos como detalhes visuais.
Contudo, se há um elemento que pode desencorajar o avanço, principalmente no começo, é a falta de uma trilha sonora. Por quase toda a jogatina, o silêncio absoluto impera. A única coisa reproduzida são os efeitos especiais do mundo do game, que já é quieto por natureza.
Ter algumas faixas musicais pode não ser algo de extrema importância no contexto de The Witness, mas certamente algumas obras bem-feitas casariam perfeitamente com horas seguidas de jogo.
Muito difícil e pouco recompensador? Talvez
Por mais incrível que pareça, o maior desafio de The Witness não é um puzzle. A grande dificuldade é sobreviver às primeiras horas sem se sentir entediado, pois o começo é simplesmente muito monótono devido à falta de explicações e aos elementos confusos. Todavia, se você der uma chance e continuar a exploração, perceberá que a grande graça da obra é descobrir as coisas por si mesmo, criando uma experiência única e uma interpretação filosófica própria.
Porém, há o outro lado: e se a pessoa não tirar conclusões, não bolar hipóteses e seguir apenas resolvendo desafios? Sinceramente, pode ser uma experiência frustrante. O nível dos desafios sempre aumenta, sempre muda e sempre utiliza novos meios criativos para nos surpreender.
Embora isso seja algo positivo, também pode ser bem negativo para um jogador não imerso no mundo de The Witness. O grande propósito de solucionar puzzles é desvendar os mistérios da ilha e se sentir inteligente, algo que pode não acontecer sempre. Em alguns desafios, me senti apenas aliviado de ter conseguido superar.
A grande questão é que as informações com as quais podemos trabalhar para criar as nossas próprias hipóteses estão muito espalhadas. Em algumas ocasiões, eu não me senti recompensado da maneira que eu queria por ter dominado um desafio tão difícil, algo com que pode ser especialmente complicado lidar no começo da jornada.
Vale a pena?
Se você gosta do gênero de puzzle, The Witness é uma obra-prima indispensável para a sua biblioteca. Apesar de ter um início desinteressante, o game mostra que ainda existem maneiras inteligentes de guiar e entreter o jogador sem subestimá-lo. O mundo magnífico do título somado aos geniais e incríveis puzzles criam uma experiência única e incomparável no universo dos video games.
Entretanto, fica o aviso: se você não gosta de títulos altamente interpretativos e com muitos, muitos desafios, então passe longe deste game. Não há textos, cutscenes, quick time events ou qualquer outra coisa, apenas caminhadas e solução de desafios que utilizam sempre a mesma premissa.
Não entenda mal, pois The Witness é um jogo soberbo e uma grande surpresa. Quando percebi, estava concentrado havia horas em frente à TV, apenas esperando para ver o que mais o jogo tinha para me oferecer. Posso não ter descoberto tudo o que eu queria, mas certamente voltarei a explorar por muito tempo a misteriosa e encantadora ilha. Se você gosta de puzzles e mistérios, não deixe de experimentar The Witness.
Categorias
- Puzzles inteligentes e muito desafiadores
- História altamente interpretativa e misteriosa
- Level design soberbo
- Visuais 3D de cair o queixo
- Método de ensino invisível e inteligente
- Ótima estrutura de mundo aberto
- A falta de uma trilha sonora, mesmo que simples, faz falta em alguns momentos
- Em alguns momentos, resolver certos puzzles pode não ser recompensador
Nota do Voxel