Clementine cresceu, e o número de ameaças ao seu redor também
É verdade, a Telltale Games tem sido bastante requisitada nos últimos anos, mas parece que uma das suas paixões ainda é a saga de Clementine em The Walking Dead, tendo em vista o zelo, o cuidado e o capricho em entregar boas histórias envolvendo a garota. Foi assim com a saga de Lee, com a jornada vista na segunda temporada e, a julgar pelos episódios já disponíveis, o mesmo vai acontecer com a terceira aventura.
Diferente das outras temporadas, desta vez a Telltale Games nos entregou de cara dois dos cinco episódios que estarão disponíveis em The Walking Dead: A New Frontier, trecho em que podemos ver uma Clementine um pouco mais velha e já capaz de lidar com as ameaças dos zumbis que aparecem no caminho sem precisar da ajuda de um adulto.
Entretanto, ela não está sozinha nessa, uma vez que a história apresenta um novo protagonista: Javier, jovem latino que usa todos os recursos a seu alcance para manter sua família viva. E, com um toque de novidade para a série, temos a oportunidade de intercalar entre eles para acompanhar a jornada de dois destinos que se cruzam inicialmente por acidente, mas que revela um laço de amizade e companheirismo forte entre eles.
Tema os humanos, mas conviva com eles
Tive a oportunidade de analisar The Walking Dead: Michonne há algum tempo, e uma das coisas que acabaram me incomodando era o fato de estarmos diante de uma temporada curta e na qual, tirando Michonne, nenhum outro personagem possuía carisma suficiente para cativar o público. Por sorte, os primeiros dois episódios dessa temporada correm por um caminho contrário.
Primeiramente, temos a própria Clementine, que está bem mais durona se comparada à garota que vimos na segunda temporada. Agora, ela é capaz de lidar com diversas situações com as quais antes certamente precisaria de ajuda, além de ter um perfil que condiz totalmente com o de uma adolescente (ela questiona mais, é um pouco mais “boca suja” e por aí vai). Javier, por sua vez, é um personagem que precisa ser moldado, então cabe a você decidir os rumos que ele vai tomar.
Entretanto, não são apenas os protagonistas que brilham nessa história, já que há outros personagens que podem cair no seu gosto. Nessa relação, podemos incluir AJ (o bebê que Rebecca teve na segunda temporada), Jesus (ou Paul, alguém que você conhece no segundo episódio e que possui um estilo mais descolado), Kate (a parceira de Javier nesse mundo apocalíptico) e alguns outros. Independentemente do motivo que atrair a sua atenção, tenha certeza de que dificilmente alguém vai passar despercebido, seja conquistando a sua afeição ou a vontade de ver o seu cérebro sendo abocanhado por uma das criaturas do além.
Apesar de traçarem caminhos diferentes, todos eles vão ter uma participação importante no desenrolar da história, de modo que nenhum deles chega a ficar apagado quando Clementine ou Javier está por perto – e isso, ao meu ver, é algo realmente muito bom e digno de nota.
Brincando de vai e vem
Com uma mudança de foco no que diz respeito à forma encontrada para conduzir o enredo, a Telltale sabiamente conseguiu adicionar um elemento importante para o desenrolar da história. Em vez de apresentar os protagonistas e jogar de uma vez todas as informações sobre o passado deles em um único momento, a produtora adotou um sistema de flashbacks ativos, nos quais você tem participação em algumas escolhas.
Você se lembra que, há algum tempo, a Telltale mencionou que as decisões tomadas no último episódio da segunda temporada não seriam ignoradas aqui? Elas realmente são levadas em consideração (seja exportando informações do seu arquivo de save ou respondendo um pequeno questionário no início da aventura) e podem oferecer detalhes diferentes – o que, dependendo da situação, pode tirar uma dúvida ou outra.
Com dois exemplos bem breves, lembro-me de ter terminado a segunda temporada ao lado de Jane, enquanto o Vinicius Munhoz, que também é redator do TecMundo Games, concluiu a sua saga ao lado de Kenny. Ele obteve uma informação que eu não tive e diz respeito a uma das novas habilidades de Clementine (fique tranquilo, vou tentar manter a análise o mais livre possível de spoilers!), portanto não estranhou quando um certo evento aconteceu (por outro lado, acabei ignorando tal dado imaginando que isso seria explicado em algum momento). Ah, e não se preocupe, pois esse dado não é essencial para o desenrolar da história.
Aliás, isso não vale apenas para Clementine, já que a história de Javier também é apresentada dessa forma. É graças a esse método que temos a oportunidade de conhecer mais sobre Kate, Mariana, Gabriel e outros membros da família Garcia, bem como ter uma noção melhor de suas personalidades e de como algumas relações se formaram. A melhor parte disso tudo? Em nenhum momento você se sente perdido ou confuso com a apresentação dessas informações.
Pode curtir sem medo – se já for fã da série, claro
Diferente do que vem acontecendo com alguns games recentes para PC (incluindo nessa relação o jogo de Batman feito pela própria Telltale Games), The Walking Dead: A New Frontier rodou bem nos dois computadores em que fiz os testes (tanto o que uso no dia a dia na empresa quanto o meu pessoal, que possui configurações ligeiramente mais elevadas) – ou seja, não é preciso ficar com medo de travamentos, quedas de frames ou coisas do gênero.
Outro detalhe é o fato de que essa temporada está com legendas em português, o que ajuda a entender um pouco melhor aquilo que acontece com Clementine e Javier. Entretanto, é preciso mencionar que essa tradução não é totalmente perfeita, tendo em vista que em alguns momentos podemos ver erros de concordância, enquanto em outros o que o personagem fala não é exibido em nosso idioma.
Também fica aqui um recado: não venha com sede ao pote caso tenha acreditado naquela história da Telltale de que esse seria um jogo que abraçaria tanto veteranos quanto novos jogadores. É bem provável que alguém que nunca tenha se aventurado nos games de The Walking Dead acabe se perdendo em diversos detalhes, sejam eles relacionados a personagens passados ou até mesmo na decisão de como sua história vai começar (afinal, não dá para simplesmente deduzir quem foi Kenny, Jane e Luke).
Vale a pena?
Se você é fã da história de Clementine, não preciso dizer muito para convencê-lo de que esse é um game mais que obrigatório para entender como a jornada da garota se desenrola, ainda mais se levarmos em consideração o fato de que todos os personagens que estão ao seu redor são capazes de construir um jogo que, apesar de contar com algumas pequenas falhas, está bem longe de ser ruim.
Aliás, se a essa altura você simplesmente rolou para ver a nota e depois leu a análise, deve estar se perguntando sobre o valor atribuído a esses dois episódios. E a resposta é bem simples: como The Walking Dead: A New Frontier ainda vai ter mais três episódios, acredito que é mais seguro manter o 80 como uma nota de partida para ter como aumentar ou diminuir esse montante de acordo com o andamento dos próximos capítulos.
Outro ponto que vale a pena ser mencionado é que o jogo que é 80 para mim pode valer menos ou mais para você. No fim das contas, os números não importam, mas sim a diversão – e, nesse ponto, tenha certeza de que Clementine, Javier e todos os outros personagens apresentados aqui serão capazes de manter a sua atenção até o desfecho de Laços que Unem.
Categorias
- O jogo consegue mater a sua atenção do início ao fim
- A adição de um novo protagonista muda um pouco a dinâmica do jogo
- As suas decisões na temporada anterior são consideradas aqui
- Presença de legendas em português
- Alguns erros de concordância nas legendas
Nota do Voxel