Quebre a cabeça desvendando os mistérios da existência humana
The Talos Principle é um game cujo principal objetivo é fazer você pensar. Combinando uma série de quebra-cabeças a uma história que se revela aos poucos e apresenta questionamentos relacionados à própria existência humana, o título coloca o jogador no papel de um androide destinado a vagar pelos jardins de Elohim — um ser supostamente onipotente e onipresente.
Guiado pela voz desse misterioso criador, você é instruído a coletar uma série de peças chamadas “glifos”, cujo formato lembra os tetraminós da série Tetris. A promessa é que, ao reunir todos esses itens, o protagonista silencioso vai abrir o caminho rumo à sua imortalidade — contanto que ele não cometa erros que vão condená-lo à danação.
Em meio a essas referências bíblicas nada sutis, o game apresenta alguns questionamentos filosóficos que envolvem temas como a criação de inteligência artificial até a natureza da própria existência humana. Tudo isso sem parecer uma simples aula cansativa e sem deixar de lado sua própria natureza como jogo eletrônico, cujo principal objetivo é entreter.
Complexidade desafiante
É difícil não estabelecer comparações entre as mecânicas de The Talos Principle e aquelas apresentadas por Portal. Afinal, ambos se tratam de games de quebra-cabeças em primeira pessoa nos quais a interação com elementos do cenário é determinante para o progresso na aventura.
No entanto, enquanto o game da Valve se contentava em explorar da maneira mais variada o possível os princípios de um equipamento — a arma de portais —, o título da Croteam introduzir novos elementos à sua fórmula de maneira constante. Com isso, temos em mão uma experiência ligeiramente diferente, cujos princípios se transformam em ritmo constante e garantem uma sensação de frescor permanente.
Se no início do jogo você vai usar aparelhos que interferem com o funcionamento de eletrônicos para abrir portais e desativar bombas, em questão de pouco tempo será preciso reposicionar caixas e guiar lasers até seu lugar. Todas essas mecânicas vão se misturando aos poucos e em questão de pouco tempo resultam em desafios que vão desafiar toda a sua capacidade lógica.
Atingindo um balanço quase perfeito entre acessibilidade e complexidade, The Talos Principle é bem-sucedido em introduzir elementos de forma a torná-los compreensíveis ao mesmo tempo em que eles não se tornam repetitivos. Quando você acha que dominou totalmente uma mecânica, o game força você a reaprendê-la e pensar em uma maneira diferente de conseguir aplicá-la na situação apresentada.
Ciente de que muitos jogadores podem ficar presos em alguns desafios, o game adota um sistema de progressão que permite deixar de lado alguns quebra-cabeças, aos quais você pode retornar a qualquer momento. No entanto, o acesso a fases (e mecânicas) mais avançadas é bloqueado caso o jogador não tenha desbloqueado uma quantidade suficiente de glifos para prosseguir em sua missão.
Narrativa envolvente
Levando somente em consideração os quebra-cabeças de The Talos Principle, a Croteam já teria em mãos um título de qualidade suficiente para se destacar em meio a outras opções recente do mercado. No entanto, o estúdio não se contentou simplesmente em apresentar uma parte mecânica envolvente e também investiu em uma história envolvente — que é quase totalmente opcional.
Conforme você explora os terminais e escuta aos diários em áudio espalhados pelo mundo do game, começa a descobrir que há algo além da voz oniciente que lhe diz o caminho a seguir — chegando ao ponto de desconfiar de sua própria natureza. Tudo isso permeado por relatos que, se não chegam a avançar a narrativa, resultam em questões importantes.
O principal mérito de The Talos Principle é o fato de ele ser um game que estimula você a pensar. Para isso, o game aposta não em frases feitas ou em afirmações, mas sim em uma série de perguntas cuja solução nem sempre surge conforme o esperado — e, na maioria do caso, elas sequer são apresentadas, cabendo ao jogador chegar a uma resposta (ou não) por conta própria.
Conforme você explora o universo do game, se depara com a figura de Milton, que parece fazer um contraponto a tudo aquilo que Elohim afirma e promete. Esse personagem misterioso ajuda a manter o tom ligeiramente pesado da trama, que nem por isso se torna cansativa ou insatisfatória.
Vale a pena?
Apresentando uma mistura competente de mecânicas bem estabelecidas e uma história intrigante — e totalmente opcional àqueles que não gostarem de seu tom filosófico —, The Talos Principle é uma das melhores surpresas do final de 2014. A impressão que fica é que, diante da fama de “superficial” obtida com a série Serious Sam, a Croteam dedicou esforços redobrados na criação de um título “sério” e profundo.
Após passar algumas horas com o game, é difícil não sentir que quase tudo que ele apresenta foi colocado ali com algum propósito bem definido. O único momento no qual o game falha um pouco é ao insistir em certos desafios que exigem um posicionamento muito específico de determinado item, algo que nem sempre funciona bem em seus ambientes tridimensionais.
Caso você procure por um game que desafie seu raciocínio de maneiras variadas ao mesmo tempo em que oferece uma grande dose de diversão, não é preciso ir além de The Talos Principle. Em meio a um mercado recheado de games triplo-A problemáticos, é refrescante se deparar com projetos menores capazes de surpreender tanto.
Categorias
- Quebra-cabeças inteligentes e complexos
- História intrigante
- Trama pode ser ignorada caso o jogador assim deseje
- Certos desafios que exigem posicionamentos precisos não funcionam muito bem
Nota do Voxel