Seven Deadly Sins: Knights of Britannia era promissor, mas é pecado capital
Desde que chegou à Netflix, a série The Seven Deadly Sins (ou Nanatsu no Taizai para os mais puristas) chamou atenção de muita gente, apesar de já existir há uns bons anos como mangá. Com o sucesso nas telas, era só questão de tempo até que um jogo do anime surgisse. Eis que chega The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia exclusivamente ao PlayStation 4.
Todos os trailers apresentavam um jogo de luta interessante com uma campanha promissora e recheada de missões. Infelizmente, o game não é o que foi prometido e cai por terra em sua proposta. The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia não é um completo fracasso, mas é fraco em praticamente tudo que traz à mesa.
Jogo de luta ou estilo musou? Nenhum dos dois
Tudo que havia visto nos trailers empolgaram: contra personagens únicos, seria um estilo de luta similar aos Naruto: Ultimate Ninja Storm, enquanto nas missões contra soldados comuns teríamos algo similar à musou. Infelizmente, os dois elementos acabam sendo a mesma coisa e de uma maneira muito, muito simplificada.
Basicamente, os personagens têm três tipos de ataques: golpe fraco, golpe forte e projéteis/magia. O esperado, como qualquer game de luta, é que se crie combos com esses ataques, certo? Errado. Há um único combo de golpes fracos e apenas um golpe forte. Veja bem: um golpe forte, não um combo de golpes fortes. Em outras palavras, você pode apertar: quadrado, quadrado, quadrado ou quadrado, quadrado, triângulo. Fim.
Essa mecânica se aproxima de games como Saint Seiya Sanctuary Battle, mas de uma forma ainda mais simples. A mecânica de combate acaba sendo travada tanto para batalhas 1 vs. 1 quanto contra grupos de inimigos fracos. Os golpes até são legais, mas faltam variedade, combinações e robustez. Não é legal ter que batalhar apertando um único botão sem nenhum tipo de estratégia.
Para dar uma leve variada, existem três golpes especiais e um ultimate que é carregado no decorrer das batalhas. Emendar golpes comuns com especiais acaba salvando um pouco o combate, mas ele ainda fica longe do ideal. Para utilizar os poderes, é necessário gastar uma barra de “magia” que é preenchida ao receber ataques ou atacar o oponente. A parte interessante é que há vários elementos que utilizam essa barra, o que criaria uma experiência balanceada.
O jogo tem um combate muito raso e fica aquém do que poderia ser. Não é nem um bom musou nem um bom jogo de luta
Essa mesma barra é consumida ao defender, ao utilizar golpes especiais e para dar dashs ou o “Mirage Step”, que faz com que o seu personagem apareça instantaneamente atrás ou acima do inimigo. As ideias são boas, mas sem um sistema de combo minimamente bom, as batalhas se tornam repetitivas em pouco tempo.
Toda a história do anime (mas mal contada)
Bom, se o combate não é tudo isso, a campanha compensa? Afinal, estamos falando de cobrir todos os acontecimentos da primeira temporada do anime e até uns extras. Infelizmente, capturar o enredo dos acontecimentos é vago até para os fãs. Não há cutscenes, os personagens não demonstram emoções e muitos eventos passam batido.
Onde eu quero chegar é: não é possível captar a narrativa pelo jogo. Diferentemente de um Naruto ou qualquer outro game de anime, aqui é bem mais difícil entender a progressão da história. A parte boa é que tudo é dublado e as vozes recriam partes das cenas do material original, mas mesmo assim o resultado não é satisfatório.
Algumas cenas, como no torneio para recuperar o martelo de Diane, tem apenas alguns sprites para representar personagens que aparecem neste ponto da trama, sem nenhum tipo de adorno especial para ilustrar a situação. Esqueça torcida, cenários bem-feitos e tudo mais. O único guia visual existente é o próprio cenário de batalha, que individualmente não é ruim, mas é pobre para contar um enredo.
A história é mal contada e cobre os eventos com muitos furos e com pouca emoção nas animações
A parte narrativa é representada por quest douradas, mas há também as missões secundárias. Elas não são ruins e até oferecem uma certa variedade, mas não passam de extras. Os desafios realmente são difíceis e envolvem um certo planejamento, mas é mais por causa das mecânicas travadas do que pelo desafio em si.
Uma boa seleção de personagens e outros pontos fortes
Por mais que até agora pareça que o jogo é um completo desastre, não é bem assim. The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia tem seus pontos positivos. O primeiro deles é a seleção de personagens. Há mais de 20 e todos são bem caracterizados, oferecendo uma boa sensação de controlar as individualidades deles.
Vamos pegar a Diana, por exemplo, que é uma giganta. É bem interessante controlar um personagem mais lento e com poder de destruição maior. Gilthuder, em contrapartida, é extremamente rápido e com alguns ataques muito legais. Todos os personagens são distribuídos em três categorias: magos, guerreiros ou defensores. Essa distribuição cria uma dinâmica interessante nas batalhas.
Além disso, todos os cenários de Seven Deadly Sins: Knights of Britannia são destrutíveis. É bem legal lançar os oponentes para muito longe e ver as casas e barreiras no caminho serem destroçadas. Some isso com a variedade de personagens e você ganha uma experiência levemente variada e bem fiel aos traços do anime.
Porém, como ressaltado no começo do texto, há pouquíssima variedade de combos e uma quantidade bem limitada de golpes, o que é uma pena. Se apenas esse ponto fosse melhor desenvolvido, o primeiro jogo do anime seria vezes melhor e seria uma boa tacada para um estreante.
Gráficos razoáveis, mas com problemas de performance
The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia não é um jogo horrendo visualmente, mas também não é um exímio técnico. Nas condições certas, temos um jogo de cel-shading bem legal e que captura com certa facilidade os visuais da obra original. Os efeitos de partículas são bem legais e os cenários destrutivos criam uma apresentação bacana.
Como dito acima, não é nada espetacular, mas nas condições certas é bonito de ver. O problema, no entanto, é que além de ser visualmente simples, há complicações de performance recorrentes. Toda vez que algo é destruído ou grandes efeitos tomam a tela, o desempenho cai drasticamente. É uma queda brusca e bem rápida, nada que persista por muito tempo, mas é um pouco desconfortável e quebra a imersão.
O problema maior não é a queda em si, mas a intensidade. The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia roda em 60 fps lisos, com esses casos como exceção. O maior empecilho é que a performance não cai de 60 para 50 ou 45 fps. A queda é bem mais brusca e incomoda. Mas, tirando isso, sem grandes contrapontos no desempenho.
Vale a pena?
The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia é praticamente o alicerce de algo que poderia ser maior. A equipe trabalhou na base, pegou uma franquia legal e colocou algumas ideias bem interessantes em prática, mas tudo em nível básico de desenvolvimento. É quase como se fosse uma versão alfa que poderia ser bem melhor.
No fim, nem todas as ideias são ruins. E para deixar bem claro: praticamente zerei a campanha e não me senti em um grande tédio. Até foi divertido em alguns momentos e a variedade de personagens ajuda, mas logo se torna repetitivo. Infelizmente, o tom aventuresco e recheado de diversão que o anime apresenta se perde por aqui. Quem sabe uma sequência corrija grande parte desses problemas. Por enquanto, é bom esperar uma promoção, caso você seja muito fã da série.
*The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia foi gentilmente cedido pela Bandai para a realização desta análise.
Categorias
- Seleção boa e vasta dos personagens da série
- Os cenários destrutíveis são legais e dão bons efeitos nas lutas
- Os personagens são bem caracterizados no gameplay
- História bem mal contada e cheia de furos
- O combate é simples demais (poucos combos) e se torna repetitivo em pouquíssimo tempo
- Nem como jogo de luta nem com musou o jogo se dá bem
- Há quedas de performance consideráveis nas batalhas, mesmo no PS4 Pro
- Sidequests bobinhas e muito curtas
Nota do Voxel