Imagem de The Last Guardian
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The Last Guardian

Nota do Voxel
75

Uma jornada emocionante que demorou uma década para ser feita

Mesmo que você nunca tenha jogado nenhum game do Team ICO, provavelmente já ouviu falar em algum momento sobre o processo de desenvolvimento de The Last Guardian. Em 2006, logo após o sucesso alcançado pro Shadow of the Colossus, a empresa começou a trabalhar na história que unia um garoto e uma besta gigantesca.

Desde então, se passaram três Copas do Mundo, o dólar há tempos ultrapassou a marca dos 3 reais e muitos jogos de qualidade já foram anunciados e lançados. Enquanto isso, o projeto do estúdio apoiado pela Sony surgiu algumas vezes, desapareceu durante muito tempo — chegando a ser considerado cancelado por muitos — e somente em dezembro deste ano tomou forma no PlayStation 4.

Com a promessa de oferecer uma experiência bastante sentimental, o game consegue manter boa parte do que tornou o trabalho do Team ICO bastante reconhecido e respeitado. No entanto, o processo de desenvolvimento conturbado deixou marcas bastante evidentes, resultando em um trabalho que, se pode ser considerado bom, já chega às lojas um tanto envelhecido.

Fórmula baseada na parceria

The Last Guardian é um jogo de plataforma marcado por diversos quebra-cabeças que servem como obstáculo entre o jogador e seu objetivo final — que, no caso, é tentar escapar de um vale misterioso. O que o diferencia de outras aventuras semelhantes é o fato de que você é acompanhado por Trico, uma criatura gigantesca que oferece a ajuda necessária para o jogador escapar.

O monstro é especialmente interessante pela maneira realista como ele se comporta. Não espere encontrar aqui uma companhia que responde sempre a todos os seus comandos ou que, de maneira mágica, vai direto ao local que você precisa que ele esteja — ao jogar, a sensação que fica é de que estamos sendo seguidos por um gato gigante que, muitas vezes, vai preferir brincar com um objeto ou com a água a obedecer os seus comandos.

Além de servir como uma forma de alcançar plataformas distantes e locais altos, Trico é essencial para derrotar as armaduras que surgem em diversos pontos da aventura. Isso porque o garoto controlado não tem muitas capacidades de combate e, no máximo, consegue se debater para se desvencilhar de seus inimigos — embora mais à frente na aventura você descubra meios de participar mais ativamente dos embates.

As interações entre o personagem e a criatura acontecem em diferentes níveis: é possível alimentá-la com barris encontrados pelos cenários e fazer carinho nela, mas, na maior parte do tempo, você vai apertar um botão para chamá-la e indicar pontos de interesse no cenário. Trico também é capaz de agir de forma individual em alguns momentos, seja guiando seu progresso ou indicando pontos de interesse que você deixou passar.

Apesar de isso funcionar muito bem em alguns momentos, se prepare para encarar uma série de frustrações. Conforme explicado anteriormente, Trico nem sempre está disposto a responder a seus comandos; muitas vezes, prefere simplesmente dar uma caminhada pelo cenário ou seguir por um caminho diferente — isso quando ele não fica simplesmente encarando o protagonista, criando cenas nas quais quase é possível ver as “engrenagens” do cérebro do monstro se mexendo até que ele entenda o que você quer.

Embora esses tipos de comportamento tornem o jogo menos acessível do ponto de vista da jogabilidade, eles são necessários para que você acredite mesmo que a criatura se trata de algo real — objetivo que o Team ICO conseguiu cumprir muito bem. Ao ver suas animações, expressões e reações, fica fácil entender por que o título nunca poderia ter saído no PlayStation 3, já que o poder do console dificilmente seria capaz de lidar com uma inteligência artificial tão complexa e convincente.

Experiência que chega às lojas envelhecida

Já que mencionei a antiga plataforma da Sony, preciso complementar que as influências dela ficam bastante claras na versão final de The Last Guardian. É possível obervar isso em pontos como o estilo artístico do game que, embora agradável do ponto de vista conceitual, abusa de tons de marrom e cinza — algo que resulta em um universo um pouco confuso de navegar e em locais bastante semelhantes entre si.

Também fica claro que a Sony não conseguiu adaptar muito bem o código original do jogo (feito para a arquitetura Cell) para a maneira como o PlayStation 4 trabalha. Isso resulta em uma experiência que só consegue manter uma taxa de quadros estável na versão pro do console, sendo que a versão original e o modelo slim oferecem uma aventura repleta de slowdowns.

Infelizmente, também é comum presenciar alguns bugs bizarros. Em minha experiência, testemunhei um momento no qual um barril que estava sendo engolido por Trico foi teletransportado para sua orelha, somente para instantes depois voltar a ser engolido pelo monstro — dessa vez da forma correta.

No entanto, do ponto de vista técnico, o elemento que mais entrega a idade avançada de The Last Guardian é a sua câmera, que possui uma aceleração estranha e nem sempre foca naquilo que você quer ou precisa ver. Esse problema se torna bastante notável em áreas pequenas, onde sua visão acaba bloqueada por paredes, impedindo ter uma ideia clara do que está acontecendo ao redor.

Em contrapartida, o poder do PlayStation 4 fica evidente nos efeitos de iluminação do jogo e nas animações dos personagens. O garoto controlado se move de forma desengonçada, mas realista, e é fácil se surpreender nos momentos em que Trico se esgueira igual a um felino ou quando raios de sol se refletem de maneira individual em cada uma de suas penas.

Após dedicar aproximadamente 12 horas para chegar ao final do game (o que me rendeu uma conquista), fiquei com a sensação de que ele ainda precisava de mais algum tempo de desenvolvimento para ganhar a otimização que merecia. Obviamente, isso é algo que a Sony sequer tinha como cogitar, visto que uma decisão do tipo só aumentaria a impaciência de quem já teve que lidar com os inúmeros atrasos anteriores.

Uma jornada que vale a pena testemunhar

The Last Guardian é um game que sem dúvida tem a assinatura do Team ICO e do diretor Fumito Ueda — para o bem e para o mal. Assim como Ico e Shadow of the Colossus, ele tem uma identidade visual e um estilo de narrativa bastante característicos, mas, ao contrário dos demais títulos citados, não há muitos indícios de que ele deva ter grande influência sobre a indústria.

Não estou dizendo que não valeu a pena esperar pelo game, mas sim que o longo tempo de produção deixou marcas que não podem ser ignoradas — o que resulta em uma experiência que chega às lojas já envelhecida. Mesmo Trico sendo uma criatura surpreendente —  o que fez eu realmente me importar com seu destino —, problemas de câmera e slowdowns constantes impediram que eu sentisse estar lidando com algo digno da geração atual.

Em vários pontos, The Last Guardian se aproxima muito mais do que podemos esperar de produções independentes com orçamentos médios do que o nível técnico associado a produções “Triplo A”. Isso é compensado pelo fato de que o game tem um nível de autoria pouco visto em produções tão grandes e que toma riscos que, se nem sempre dão resultados bons, são totalmente válidos levando em consideração o resultado final.

Mesmo com os problemas conceituais e técnicos que descrevi, saí satisfeito de poder ter testemunhado a saga de Trico e seu jovem companheiro. Vale a pena jogá-lo nem que seja para saciar sua curiosidade ou simplesmente para ter a oportunidade de presenciar por conta própria o trabalho que marcou o fim do Team ICO como o conhecemos.

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Pontos Positivos
  • Trico é uma criatura impressionante
  • Puzzles inteligentes e cenas de ação bem legais
  • Uma história que vale a pena testemunhar
  • Uma direção artística muito boa
Pontos Negativos
  • Os cenários abusam demais dos tons marrons e cinzas
  • A câmera é horrível em locais pequenos
  • Slowdowns constantes a não ser para quem joga no PlayStation 4 Pro em 1080p
  • Jogabilidade um tanto envelhecida