O campeão está de volta disposto a provar o seu valor
The King of Fighters XIV é fruto de um anúncio um tanto inesperado da agora renovada SNK. Apesar de o jogo anterior ter feito sucesso e reunido uma comunidade de jogadores bastante habilidosa e dedicada, a empresa passou anos sem dar qualquer indício de que ainda acreditava na franquia — isso até outubro do ano passado, quando ela decidiu focar novamente sua atenção no mercado de jogos eletrônicos.
Esse espírito de renovação pode ser sentido no game, embora também fique evidente que a companhia ainda está cuidadosa em seu retorno a esse universo. No lugar dos sprites 2D detalhados (e caros de fazer), entram personagens e cenários com modelos tridimensionais, o que tira um pouco da personalidade da série.
Questões gráficas à parte, King of Fighters XIV é um game que faz justiça ao legado da franquia, trazendo de volta lutadores conhecidos e incorporando figuras novas que devem conquistar um espaço no coração dos fãs. No entanto, algumas decisões de design e um modo história simples demais oferecem espaço para que a franquia se torne ainda melhor no futuro.
Momento de transição
Um dos aspectos que mais chamou atenção — para o bem e para o mal — durante o anúncio de King of Fighters XIV foi seu novo estilo gráfico. Embora a SNK tenha melhorado bastante esse aspecto desde o primeiro vídeo divulgado por ela, é possível dizer que o visual do jogo simplesmente funciona e não passa muito disso.
Os modelos tridimensionais possuem um acabamento um tanto plástico, e a engine usada pela desenvolvedora faz com que a direção de arte pareça um pouco genérica. Mesmo que alguns dos personagens novos tenham designs interessantes — e alguns dos antigos tenham um visual alterado —, falta algo que realmente dê uma cara única ao título.
Em compensação, as animações dos personagens funcionam bem em um nível geral e o game em nenhum momento tem quedas de desempenho que prejudicam a experiência. Também precisamos elogiar o sistema de partículas utilizado, que oferece alguns momentos bastante atraentes quando usamos personagens como Iori, Benimaru ou Terry.
A mudança visual felizmente não influenciou no sistema de luta, que sem dúvida pertence à série The King of Fighters. No entanto, o ritmo é um pouco mais lento do que o encontrado em KoF XIII, o que pode desagradar um pouco a quem estava acostumado com aquele tipo de experiência.
Lição de casa cumprida
A decisão de apostar em uma engine 3D traz como vantagem a possibilidade da SNK apostar em um elenco bastante vasto de personagens. Ao todo, o jogador pode escolher entre 50 personagens — 16 times com três lutadores e dois chefes finais. Desses, 18 são figuras totalmente inéditas, o que representa um bom balanço entre estilos de luta novos e aqueles já conhecidos.
King of Fighters XIV tem todos os modos que uma pessoa pode esperar de um jogo de luta: além das partidas locais entre dois jogadores, há modos de treino, missões, tutorial, uma galeria de imagens e vídeos e, conforme o esperado, uma área totalmente dedicada aos sistemas online.
Infelizmente, o jogo tem o modo história mais fraco entre os jogos de luta recentes do mercado. A trama — se é que podemos chamá-la assim — não é muito bem explicada, sendo apresentada na forma de cenas desconexas que falham em passar qualquer espécie de tensão ou medo da ameaça que deve ser enfrentada. Em outras palavras, o modo Campanha é muito mais parecido com uma opção arcade do passado do que com os esforços vistos em Mortal Kombat X ou, mais recentemente, em Street Fighter V.
Caso você seja um novato à série ou precise “alongar os músculos”, é uma boa ideia dedicar certo tempo ao modo tutorial para ver como o jogo funciona. Lá, você aprende desde comandos básicos como pular até mecânicas novas como o Max Mode (que fortalece seus ataques especiais durante certo tempo) e as três maneiras de cancelar comandos para criar combos de ataque.
Em sua essência, King of Fighters XIV mantém o mesmo sistema de quatro botões básicos característica da série. Além de permitir que você soque e chute seus oponentes, esses comandos, quando combinados, permitem rolar de um lado para outro (evitando golpes no processo) ou interromper combos e empurrar o oponente para longe, entre outras opções.
A novidade que promete mais controvérsia é o Rush Mode: apertando o botão de soco fraco repetidas vezes, o game ativa um combo automático que acaba em um especial caso haja barra suficiente para isso. Embora isso facilite a vida de novatos, apelar para esse método tem um custo: as combinações são sempre as mesmas e costumam tirar pouca energia do adversário.
Além disso, é preciso estar próximo ao inimigo e de pé para que o Rush funcione corretamente, o que por si só já representa uma grande limitação. Infelizmente, não há uma opção para desligar esse recurso, o que pode se provar uma dificuldade adicional para quem deseja abandonar maus hábitos e aprimorar suas habilidades aprendendo como realizar combinações por conta própria.
Por fim, também vale a pena dar uma atenção aos desafios, que são específicos a cada um de seus personagens. De maneira progressiva, esse modo ensina como realizar algumas das combinações básicas de cada lutador, com direito a dicas de quando é possível usar o cancelamento de comandos para aumentar os danos causados aos inimigos.
Multiplayer nos trilhos
Antes do lançamento de The King of Fighters XIV, a SNK havia feito a promessa de que o sistema online do jogo funcionaria muito bem. Felizmente, a empresa foi bem-sucedida em criar um ambiente que não somente é funcional, mas também oferece uma série de conveniências aos quais os jogadores do estilo já se acostumaram.
Antes de participar de batalhas online, você deve escolher uma equipe de três lutadores, um personagem único e um cenário de sua preferência. Tais opções (que podem ser alteradas a qualquer hora) ficam associadas a seu perfil online e servem como parâmetros de escolha para partidas no modo rankeado.
Também é possível participar de confrontos amistosos no qual não há mudança de seu ranking de jogador ou simplesmente realizar treinos online. Os jogadores podem realizar partidas contra membros de suas listas de contato ou se organizar em lobbies com capacidades diversas. Dentro desses espaços é possível organizar partidas com regras variadas: entre as opções disponíveis estão pequenos torneios no qual o vencedor fica ou partidas “infinitas” no qual alguém só sai quando cansa ou decide ceder espaço para outras pessoas.
Durante nossos testes, os servidores da SNK se mostraram bastante estáveis, o que permitiu realizar uma série de partidas sem nenhum lag visível. No entanto, foi comum encontrar salas um tanto vazias, sendo que a qualidade da conexão variou um pouco nos lobbies que contavam com a presença de muitos jogadores. Apesar disso, no geral, o modo online de KoF XIV se mostrou capaz de oferecer uma boa experiência contanto que você tenha uma conexão de qualidade em casa.
A modalidade também oferece a opção de realizar o download de replays gravados por outros jogadores e acessar a central de comunidade do jogo para conferir vídeos relacionados. Isso é especialmente importante para quem deseja aprender como usar personagens ou simplesmente gosta de assistir a outras pessoas jogando, e é bom ver que a SNK teve o cuidado de adicionar tais recursos.
Vale a pena?
The King of Fighters XIV é um bom retorno para a série, mantendo as características que a ajudaram a angariar uma dose generosa de fãs nas últimas décadas. No entanto, parece que a SNK decidiu “jogar seguro” e entregou um game que não chega a evoluir a franquia — algo que podemos desculpar visto que ele se trata de um “recomeço” tanto para a série quanto para sua desenvolvedora.
A empresa consegue entregar uma experiência marcada pelos sistemas de luta divertidos, embora alguns personagens surjam de forma bastante desbalanceada, o que pode prejudicar um pouco a cena competitiva. O maior feito da companhia, no entanto, é criar uma experiência online que realmente funciona e que consegue apagar a má impressão deixada pelos netcodes das versões XII e XIII.
Oferecendo um sistema de tutoriais amplo, The King of Fighters XIV é o melhor ponto de entrada na série em muitos anos, também devendo agradar quem já se considera um veterano na franquia. Só esperamos que, estabelecida a base com esse lançamento, a SNK decida apostar em um estilo visual com mais personalidade nas próximas versões.
Categorias
- Ótimo sistema de batalhas
- Online funcional e com várias funções
- Grande número e variedade de personagens
- Novas técnicas também são acessíveis a iniciantes
- Modo campanha fraco
- Apresentação visual sem personalidade
- Os combates apresentam ritmo um pouco lento
- Alguns dos personagens novos são um tanto genéricos
Nota do Voxel