O início de um longo caminho a ser percorrido
Em 2014, o gênero de jogos de corrida esteve em voga com os lançamentos de Forza Horizon 2 e DriveClub. The Crew, primeira aposta da Ubisoft no segmento, deveria servir como um contraponto, uma espécie de terceira via aos títulos, ao menos em teoria, mais aguardados pelos jogadores. Porém, infelizmente, o resultado final ainda está longe da experiência que o game poderia proporcionar.
Isso não significa que não há méritos ou que não exista futuro para a franquia, muito pelo contrário. Há potencial para que nas próximas versões do game muita coisa seja corrigida e melhorada. E mesmo com uma série de falhas que encontramos no jogo, ainda assim ele é capaz de garantir algumas boas horas de diversão.
Os Estados Unidos da América como você nunca viu
Entre tudo aquilo que se falou do game desde o início do seu desenvolvimento até o lançamento, um dos pontos mais ressaltados pelos produtores foi a reprodução de diversas cidades e estradas dos Estados Unidos em um gigantesco mundo aberto. De fato, esse é o item que mais chama a atenção no game, um aspecto ambicioso do projeto que deu certo.
Cruzar o país, indo da costa Leste para a costa Oeste é uma viagem divertida e que vai tomar cerca de 1 hora o que, em termos de escala, é muita coisa. Como se isso não bastasse, o trajeto é povoado por elementos que fazem referência direta às cidades envolvidas. Quem conhece lugares como Las Vegas, San Francisco ou Nova York, por exemplo, certamente vai se impressionar com as semelhanças, o que torna tudo mais divertido.
As primeiras derrapadas: bugs e gráficos sem polimento
Quando os carros entram na pista é que a coisa começa a ficar complicada. Embora os cenários façam referências claras a localidades do mundo real, isso não significa que eles estejam bem acabados ou algo assim. Na maioria dos casos, praticamente não há possibilidade alguma de interação com eles, o que faz com que algumas construções se assemelhem a moldes de papelão colocados ao lado da pista.
Os carros também não contam com um acabamento digno de um jogo da nova geração. Ao usar a câmera que mostra o veículo em terceira pessoa, por exemplo, o nível de cintilação na parte traseira dos carros chega a incomodar. Os modelos não são bem acabados como deveriam e decepcionam nesse quesito. Graficamente, o game fica aquém de Forza Horizon 2 ou mesmo DriveClub.
Como se isso não bastasse, há bugs em muitas partes do título que podem causar um certo desconforto. Seu carro ficou preso entre uma árvore e uma casa? Não há o que fazer a não ser que algum outro carro te salve dessa enrascada ou você reinicie o jogo. Seu adversário saiu da pista e rodou? Magicamente o jogo vai trazê-lo de volta a corrida e, pasme, muitas vezes à sua frente.
Ninguém liga
“Nunca dirija sozinho” é o lema de The Crew. E ele não poderia ser mais verdadeiro. Em nossos testes, em nenhum momento percebemos algum problema de conectividade, como servidor inacessível, por exemplo. Contudo, tenha em mente que esse é um jogo 100% online. Se por alguma razão a PSN, a Live ou a UPlay estiverem fora do ar você não vai passar da tela de abertura.
Oportunidades para você montar reunir a sua galera e disputar algumas provas não vão faltar. Praticamente a cada dois ou três minutos de direção uma oportunidade como essa surge. Porém, isso não significa que você vá conseguir reunir jogadores suficientes para uma corrida. Por se tratar de um mapa muito grande, nem sempre é possível encontrar jogadores online em uma determinada área. Há muitos lobbies, mas eles estão constantemente vazios.
Isso causa um efeito bastante frustrante, mesmo nas áreas iniciais do jogo. Em nenhum momento conseguimos encontrar oito pessoas online para disputar uma prova. Em todas as vezes foi preciso esperar pelo menos quinze minutos até que duas ou três pessoas adentrassem ao lobby e a espera poderia ser muito maior. Isso traz à tona outro problema: se agora que o jogo é lançamento está assim, como estará daqui uns seis meses? Se não vingar, vai estar ainda mais vazio.
Inteligência artificial ruim
A falta da galera por perto não seria algo (tão) ruim se as missões em modo solo dessem conta do recado e garantissem boas doses de entretenimento. Em boa parte delas, infelizmente, não é isso que acontece. O sistema de inteligência artificial adotado pelo jogo é limitado e faz com que as coisas se tornem repetitivas.
Além disso, caso você planeje sair do script, buscando soluções lógicas para ganhar mais velocidade, por exemplo, o resultado é tão insignificante que vale mais a pena dirigir como um imbecil apenas para cortar caminho. É o caso de algumas missões off-road. Fazer um traçado dentro da pista significa ser mais lento do que “cortar caminho” pelo meio do mato, desviando de árvores e fazendo zigue-zagues.
Ou seja, na prática basta jogar uma ou duas vezes uma missão e decorar qual é o caminho que o seu adversário faz para que você possa ultrapassá-lo ou derrubá-lo. Essa ausência do fator surpresa, um dos itens mais divertidos em um jogo de corrida, torna muitas das missões monótonas.
Os 510: uma gangue para ninguém temer
O modo história de The Crew revela uma trama pouco original, mas que funciona. Depois de ter ser irmão morto pelos membros da gangue 510, e passar cinco anos preso, o personagem principal ganha uma proposta do FBI: se infiltrar na gangue para derrubar os dois cabeças responsáveis pelo tráfico de drogas, armas e roubos de carros.
Embora os 510 sejam pintados como temíveis, na prática o que você encontra ao longo do game é um gangue fragmentada e que mais briga entre si do que contra a polícia. É nesse cenário que você encontra a oportunidade de fazer alguns trabalhos para os membros do grupo de forma que possa crescer e se infiltrar cada vez mais, repassando as informações para o FBI em troca da sua liberdade.
Mas vocês só falaram mal. Então o jogo é ruim?
Apesar do grande número de pontos negativos não dá pra afirmar que The Crew é um jogo ruim. Isso se deve ao fato de que sim, provavelmente você vai se divertir jogando o título e o fator diversão acaba compensando algumas das falhas mais técnicas. Deixe gráficos de lado um pouco, esqueça os modos repetitivos em algumas missões e mantenha o foco em correr com o seus amigos ou ainda passear por algumas cidades norte-americanas. Sim, é legal fazer tudo isso seguidas vezes.
Além disso, há muito a ser explorado. Como mencionamos, o mapa do jogo é imenso e se você pretende fechar o jogo, com todas as suas missões, itens secretos e carros possíveis de serem comprados, então você terá que dedicar muitas e muitas horas ao game. E quando falo muitas estou falando de 40, 50 horas em diante. Não é pouca coisa e, portanto, dá sim para se divertir muito com The Crew.
Vale a pena?
Mais uma vez a Ubisoft parece ter sido vítima da expectativa que criou em torno de The Crew. O problema de ter um marketing tão eficiente quando o produto final não entrega exatamente aquilo que promete é que ele causa uma certa dose de frustração de lado. Porém, tirando o fator “expectativa” o que sobra é uma proposta diferenciada e ousada, que funciona até certo ponto, mas que ainda parece inacabada.
Melhorias nos gráficos, nos modos de jogo cooperativo e na inteligência artificial seriam muito bem-vindas em uma segunda versão do game. Uma história mais aprofundada, com um personagem principal mais carismático também seria uma boa ideia. The Crew parece ser vítima da sua própria proposta: preparou o salão de festas perfeito para um baile de gala, mas esqueceu de alimentar os seus convidados.
Contudo, ainda assim, é possível se divertir bastante no game, por muitas e muitas horas. Não é o tipo de jogo que você vai jogar uma vez e vai enjoar: você terá vontade de evoluir e conhecer cada vez mais os cenários e as possibilidades que o título oferece. Pode até não ser aquilo que você esperava, mas por se tratar do início de uma franquia, vale a pena dar um voto de confiança à Ubisoft. Mas não se engane, Ubi: queremos algo melhor da próxima vez.
- Proposta diferenciada para um game de corrida
- Mapa gigantesco, com retrato fiel de várias regiões dos EUA
- Alto fator de diversão, que garante mais de 50 horas de jogo
- Modo história tem uma trama pouco envolvente
- Carros com falhas gráficas gritantes e incômodas
- Inteligência artificial deixa a desejar
- Muitas salas e poucos jogadores torna difícil encontrar amigos para correr
Nota do Voxel