Sword Art Online: AL transita entre diversão e decepção, mas é um bom RPG
Em primeiro lugar, admito que foi difícil analisar Sword Art Online: Alicization Lycoris, a adaptação homônima do arco "Project Alicization" do anime. Como grande fã da série, acabei criando expectativas acima da média em torno do novo título publicado pela Bandai Namco e assinado pelo estúdio japonês Aquria, o mesmo de Sword Art Online: Hollow Fragment e Sword Art Online: Hollow Realization.
Alicization Lycoris é, ao mesmo tempo, divertido e frustrante, além de sofrer com um ritmo volúvel que, a meu ver, representa seu principal deslize. Em muitos momentos, eu me peguei pensando se era válido insistir em mais algumas dezenas de horas que o game ainda tinha a oferecer, intercaladas entre trechos de exploração e inúmeros diálogos — que, felizmente, estão adaptados ao nosso idioma. Em outras ocasiões, não via a hora de ligar o console de novo para dar continuidade à jornada no mundo virtual.
Fonte: Voxel
Deixei o meu lado fã, tanto do gênero quanto do anime, para ser o mais honesto possível: Sword Art Online: Alicization Lycoris tem lapsos de um grande JRPG, mas talvez seja incapaz de segurar a atenção do jogador com as duas mãos, isto é, de maneira consistente. O saldo ainda é um pouco mais positivo do que negativo, mas adorei e me decepcionei quase na mesma proporção.
Vamos aos detalhes.
Prepare a pipoca e a paciência, que lá vem tutorial
Alicization Lycoris é dividido em capítulos e narra os acontecimentos da temporada de mesmo nome de forma fiel. Você assume o papel de Kirito, o grande herói da franquia desde o primeiro arco, um jovem que desperta em uma floresta sem saber sua origem ou como foi parar ali. O protagonista não consegue distinguir se está em um VRMMO, game que permite a imersão do usuário por meio de um capacete especial, ou em um mundo com pessoas reais. No jogo, os personagens o chamam de "o filho perdido de Vecta", alguém que surge do nada, sem memórias, em uma terra distante.
Kirito conhece Eugeo, um dos habitantes da cidade mais próxima, e eles estabelecem uma relação de amizade e confiança. A partir daí, os dois têm o desejo de se tornar cavaleiros da integridade; Kirito para tentar contato com um possível mundo exterior e Eugeo para resgatar Alice, sua amiga de infância levada à Catedral Central depois de quebrar o código do tabu (regras do jogo embasadas em ética) por entrar ilegalmente no Território Negro.
Fonte: Voxel
Em resumo, a história do arco Alicization é contada integralmente no primeiro capítulo, o problema é que isso leva cerca de 15 horas até o jogo, enfim, engrenar. Prepare-se para encarar sequências intermináveis de conversas e muitas telas de carregamento. O foco dessas primeiras horas não é dar liberdade ao jogador, mas sim contextualizá-lo por meio de diálogos excessivos. As partes pontuais de gameplay durante esse pedaço também obedecem a uma linearidade que torna a experiência um tanto insossa (para não dizer outra coisa).
Alguns recursos essenciais, como o modo multiplayer, o seletor de dificuldade e o criador de personagens, apenas para mencionar alguns, só são liberados depois das longas 15 horas. Mas por que burocratizar o acesso a todas essas opções? É claro que o ritmo lento e o destravamento gradual de novas mecânicas são características dos JRPGs, mas os primeiros passos são limitadíssimos mesmo para quem está familiarizado com o gênero. Em resumo, a proporção de gameplay para cada trecho com diálogo é muito baixa.
Ritmo inconstante, aliás, é uma das maiores falhas que um game pode ter. O nosso tempo de jogatina é curto, e existem muitos outros títulos em nossa pilha de pendências, portanto não há como se dedicar a algo que só vai pegar no tranco após a primeira dezena de horas. Se você já é fã de Sword Art Online, o compasso lento é até tolerável. Para quem pretende conhecer a franquia por esse jogo, aventurar-se em um mar de textos com personagens desconhecidos pode ser um péssimo negócio.
Fonte: Voxel
Os episódios subsequentes introduzem uma história original, conduzida pela nova personagem Medina Orthinanos, que luta para virar um cavaleiro da integridade a fim de limpar o nome de sua nobre família e atender ao último pedido de uma pessoa. Sem dar muitos detalhes para evitar spoilers, digamos que ela é uma peça-chave na trama e protagoniza algumas das interações mais legais com outros heróis.
Enfim, liberdade
Depois do capítulo 1, apesar de continuar promovendo diálogos gratuitos e descartáveis, Lycoris abre o mapa e deixa o jogador respirar ao conceder a liberdade que tanto prezamos em jogos de mundo aberto. Na verdade, ele não chega a ser um game assim, mas oferece áreas independentes e interligadas, todas com muitas atividades e missões em tempo real a serem cumpridas.
O mundo aberto é surpreendentemente expressivo se considerarmos o nível de detalhes de jogos baseados em animes com a mesma premissa. Para bem ou para mal, Lycoris segue a linha de JRPGs enraizados e traz uma experiência lotada de coisas em uma estrutura semelhante à de um MMO.
Fonte: Voxel
Pena que o sistema de acompanhar missões é terrível e nem sempre permite detectar o ponto do objetivo, fazendo com que a exploração seja crucial para a conclusão de certos pedidos. Explorar é divertido, é claro, desde que você não se sinta perdido e saiba onde começar a procurar. Com o tempo, não ver qual atividade está apta a ser rastreada é algo que segura a empolgação de quem está jogando.
Seria injusto, porém, não enaltecer a tentativa do estúdio Aquria de se desvirtuar da mesmice ao enriquecer o mundo de Alicization com distrações bem-vindas. Você pode, por exemplo:
- pescar e adquirir novas ferramentas para fisgar peixes maiores;
- coletar itens e preparar refeições em acampamentos, garantindo bônus temporários ao grupo;
- obter matéria-prima para criar itens e equipamentos;
- conversar com pessoas do reino humano para aumentar sua reputação;
- cumprir contratos de caça para ganhar recompensas e pontos extras de experiência;
- tomar decisões que afetam os níveis de afinidade com os aliados;
- explorar áreas ocultas em busca de baús de tesouro;
- entrar em partidas online para desbravar o mundo em equipes de até quatro jogadores;
- participar de raides cujos prêmios são valiosos.
Sword Art Online: Alicization Lycoris é, sem sombra de dúvidas, o game mais ambicioso da série em termos de escopo. Há, de fato, muito conteúdo a ser degustado, e você raramente vai ficar sem ter o que fazer. Existem elementos complexos em meio a tantas mecânicas, mas o jogo não o obriga a dominá-los. O fã da franquia que se enquadra em um perfil casual, alguém que busca uma experiência descompromissada, também estará bem servido.
Fonte: Voxel
Precisão é tudo
O sistema de combate, cuja essência se conecta ao gênero hack and slash, agrada e traz novidades em relação aos jogos anteriores. Macetar botões continua necessário, só que agora é preciso ter estratégia para saber o momento certo de esquivar, bloquear e executar habilidades especiais e artes sagradas. Ao golpear os inimigos, eles dão brechas para que você combine investidas comuns com ataques mais poderosos. Todas as ações são baseadas em tempo, embora a câmera muitas vezes atrapalhe sua precisão.
Em um tom quase rítmico, o combate se sobressai por ser acessível, ao mesmo tempo que entrega complexidade suficiente a quem deseja dominar todas as camadas. Apesar do gameplay funcional, a progressão questionável faz com que os inimigos de mesmo nível virem esponjas quase imbatíveis. Pelo fato de o sistema estar desbalanceado, não existe um incentivo para farmar e não há um senso real de avanço ao personagem no sentido de ele ficar mais forte.
Não consigo afirmar se a intenção da desenvolvedora era tornar os inimigos mais resistentes ou se a progressão requer ajustes. Se o jogo quer funcionar em torno de um viciante sistema de níveis, o mínimo que ele deve fazer é recompensá-lo por ter evoluído. E não há, convenhamos, recompensa melhor do que se sentir superior ao oponente.
Fonte: Voxel
Para minimizar os efeitos colaterais do sistema de progressão, é possível equipar e administrar novas técnicas especiais por meio de uma robusta árvore de habilidades. O personagem estará apto a causar mais dano dependendo da skill que estiver ativa. Inclusive, existem diferentes tipos de técnica a serem equipadas, e o jogo permite se especializar em mais de um, assegurando uma boa variedade às lutas.
Visual? Lindo. Mas a performance…
Como jogo de anime, Alicization Lycoris faz um bom trabalho em reproduzir o mundo virtual do VRMMO no qual é baseado. Em vez de seguir o padrão cel shading, o mais usado em games do gênero, Lycoris adota uma estética mais realista, semelhante a Jump Force. Alguém se lembra dele?
Os personagens ainda têm aquele aspecto cartunesco e são fiéis à obra original, enquanto os cenários imprimem modelos mais próximos da realidade e se beneficiam de um primoroso sistema de iluminação. O bom uso do HDR, aliás, suaviza a diferença de tonalidade entre personagens e mundo. De modo geral, é seguro dizer que no quesito gráfico o resultado é satisfatório.
Fonte: Voxel
Por outro lado, o desempenho é desastroso. Lycoris tem quedas brutais de frame, com congeladas constantes em áreas mais abertas, e pop-ins gritantes, aquele tipo de bug gráfico que faz com que elementos surjam no cenário repentinamente. Ainda em relação à taxa de quadros, a impressão é de que o game alcança menos de 10 fps e se mantém assim por algum tempo. Uma atualização de performance já está disponível, mas ainda não foi suficiente para corrigir esses problemas técnicos recorrentes.
Veredito
Confesso que eu queria ter gostado do novo Sword Art Online muito mais do que gostei. Trata-se de um jogo grandioso, abarrotado de coisas, mas que peca em ritmo e na execução de alguns sistemas. Alicization Lycoris transita entre diversão e desapontamento, interesse e desdém, momentos bons e ruins. Ainda assim, o combate funciona, a história original é bem-vinda, e seu conteúdo é generoso. Você só precisa insistir para desfrutar das boas ideias que existem nele.
Sword Art Online: Alicization Lycoris foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise.
Categorias
- Generoso em conteúdo
- Combate funcional e mais estratégico
- História original é bem-vinda; Medina é uma ótima personagem
- Visual agradável
- Acessível a novatos, mas com sistemas profundos a quem busca complexidade
- O ritmo inconstante faz com que o jogador perca o interesse em prosseguir
- Sistema de progressão desbalanceado
- Desempenho desastroso, tanto nos consoles quanto no PC
- Prepare-se para um extenso tutorial de 15 horas
- Carregado de diálogos descartáveis
Nota do Voxel