Super Mario RPG desperdiça o potencial, mas é um belo remake - review
Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars foi lançado em 1996 com o objetivo de inserir os fãs do encanador bigodudo a um gênero de jogos que já fazia sucesso com nomes como Chrono Trigger, Pokémon, Secret of Mana e Final Fantasy. Na época, o título cumpriu bem seu papel e ensinou muita gente a gostar dos combates por turno, longos diálogos, customização de builds e outras características do role-playing game.
Saltamos 27 anos no tempo e estamos aqui em 2023 com uma nova versão do título. O remake, chamado somente de Super Mario RPG, chega para agradar tanto quem era jovem há quase três décadas quanto quem o é agora.
Mas será que o novo game consegue esta façanha? Para não adiantar muito esta análise, posso dizer que sim. Super Mario RPG apela muito à nostalgia e exagera na "fórmula Nintendo", mas mantém os jogadores pela diversão e emoção. Confira, a seguir, o review completo!
O que não mudou em quase três décadas?
O mundo mudou muito nestes quase 30 anos. Os celulares são praticamente extensões dos nossos corpos, as inteligências artificiais nos ajudam com tarefas cotidianas, óculos de realidade virtual nos colocam em outros mundos e etc. No caso de Super Mario RPG as mudanças não foram assim tão radicais.
Dentre as coisas que ficaram iguais entre o jogo original e o remake estão o enredo, nomes de itens e ataques, personagens jogáveis, níveis do mapa e chefões. A estrutura do jogo mais recente é basicamente a mesma do original, com pequenas surpresas bem pontuais (sem dar muito spoiler, incluindo a aparição de um Mario clássico) . Por causa disso, o projeto pode até mesmo virar mais um argumento para a infindável discussão de remake/remaster.
Até mesmo os minigames e resoluções de puzzles são praticamente iguais ao do original. E exemplifico. Na fase do navio Sunken Ship eu não tive paciência para passar por todos os quebra-cabeças e decidi testar a mesma senha do game de 1996 para abrir uma porta do trecho. E para o meu espanto a resolução era aquela mesma, igual há quase 30 anos. De certa forma, esta manutenção decepciona porque praticamente elimina a sensação de surpresa para quem jogou o original.
O tom cômico do jogo de 1996 continua intacto em Super Mario RPG (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
E para o meu espanto a resolução era àquela mesma, igual há quase 30 anos. De certa forma, esta manutenção decepciona porque praticamente elimina a sensação de surpresa para quem jogou o original.
O que mudou em quase três décadas?
Se os pilares se mantiveram, eles pelo menos estão muito mais bonitos. Trilha sonora, sistema de luta (este aspecto ganhará um tópico especial), animações em alta definição, texturas, controles. Tudo isso foi melhorado, sendo que a parte visual está em HD (tudo está muito lindo!).
Um acréscimo especial, inclusive, são as cutscenes. As animações são tão excelentes que lembram até mesmo o filme Super Mario Bros. lançado neste ano. Apesar da absoluta ausência de vozes, o que poderia deixar tudo ainda mais emocionante, os trechos deixam a trama mais palpável e fazem com que você se importe mais com o personagem.
As cutscenes de Super Mario RPG estão lindas e emocionantes (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
E não somente nas cutscenes que as novas animações empolgam. Trechos como a subida de nível dos personagens foram remodelados e trazem os protagonistas em uma dancinha hilária sincronizada.
Dentre outros detalhes, o remake ainda possibilita a escolha das músicas originais em um menu completamente novo chamado “Journal”. Nele, é possível ainda acessar a lista de inimigos, um caderno de anotações com os principais eventos da trama, acessar sound player para ouvir todas as canções e ainda um catálogo mostrando os números do jogador (tempo de jogo, tesouros encontrados, recorde de combo, estatísticas nos minigames e mais).
Dando sobrevida ao RPG de turno
O RPG vive épocas de controvérsia, já que as grandes produtoras estão apostando mais na ação do que em subgêneros como o turn-based. O estilo tão questionado ganha de tempos em tempos uma sobrevida e respiros em projetos como Sea of Stars.
Neste sentido, Super Mario RPG pode ser visto como um novo bote salva-vidas para que quem mergulhar de cabeça no mundo das drogas pesadas dos RPG por turnos. Assim como foi em 1996, o título pode tranquilamente ser utilizado como uma primeira experiência para jogadores novatos.
E o remake de Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars pode cativar gerações mais imediatistas por causa do apelo em suas batalhas.
As batalhas em Super Mario RPG são divertidas e não te deixam entediado (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
Assim como já fazia no original, o game mais recente transforma o jogador em um personagem ativo nas lutas ao permitir a utilização de botões durante ataques feitos e recebidos. O que eu quero dizer com isso é que se pode ir além de selecionar um comando e esperar os efeitos na tela.
Ao pressionar o comando de ação no momento exato é possível aumentar o dano no inimigo, sendo que o contrário também ocorre. Para se defender e tomar menos dano é preciso ficar atento para bloquear as investidas do dry bones, shymores, spikesters, blasters, geckos e outros.
Sem as mesmas limitações técnicas do que antes, Super Mario RPG consegue aplicar janelas melhores nos comandos, tornando tudo mais dinâmico.
Super Mario RPG tem uma variedade excelente de inimigos, com cada um tendo um timing diferente de ataque (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
Outro ponto elogiável é a presença dos cinco personagens jogáveis: Mario, Peach, Bowser, Mallow e Geno. Eles têm boas diferenças de estilo e quando combinados podem até executar um ataque especial que possui outra excelente animação. Estes momentos lembram as melhores cutscenes de invocações de summons da série Final Fantasy.
Só que nem tudo são flores. Apesar de divertidas, as batalhas têm um sério problema que será abordado mais à frente. Ele está intimamente ligado ao "jeitinho Nintendo" de ser.
O exagerado mundo lúdico da Nintendo
Os projetos da Nintendo são um mundo à parte dentre as principais empresas do mercado de jogos eletrônicos. Mantendo a essência de entregar experiências familiares, os títulos da Big N trazem sempre uma pegada lúdica.
Em Super Mario RPG isso não seria diferente, já que o principal mascote dos joguinhos está envolvido. E se por um lado a marca japonesa consegue entregar histórias universais, por outro ela acaba tendo tramas praticamente inofensivas.
No game recente o roteiro é mantido e por causa disso Mario e sua trupe precisam recuperar as Star Piece para reconstruir a Star Road que dá acesso ao castelo do Bowser. A estrada foi destruída pelo vilão Exor (na verdade há um outro vilão por trás de tudo), que tomou conta do castelo de Bowser.
O vilão em formato de espada Exor na verdade é um dos capangas do verdadeiro vilão (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
Por mais que a trajetória dos personagens ensine boas lições como companheirismo, acreditar nos sonhos, a importância das amizades e dos verdadeiros laços, tudo é muito bobinho.
Acredito ser importante citar este ponto sobre a trama por acreditar que a Nintendo poderia construir narrativas um pouco mais maduras. E outro detalhe é que apesar de levar isso em consideração, este aspecto específico não será relevante para a minha nota.
Como eu disse anteriormente, a proposta da Nintendo é essa. E apesar de não ser exatamente do meu agrado, é impossível negar que somente a companhia consegue oferecer experiências que agradam públicos de 8 a 80 anos.
Modo super super super easy
A pegada lúdica da Nintendo me incomoda particularmente quando afeta o gameplay, o que é o caso de Super Mario RPG. Em seu ponto mais baixo, o jogo é tão casual que praticamente não entrega desafio.
As batalhas são extremamente fáceis, sendo possível completar o jogo sem morrer nem uma única vez. E este aspecto é relevante para o meu caso, já que eu reconheço não ser um jogador dos mais habilidosos.
Eu completei o game em aproximadamente 13 horas e 27 minutos sem perder nenhum combate. Isso seria uma façanha, mas não no caso de Super Mario RPG.
A pegada às vezes exageradamente lúdica da Nintendo pode incomodar um pouco (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
O jogo até entrega com certa frequência inimigos com uma faixa amarela que indicam que eles são mais fortes que os normais, mas isso acaba não sendo suficiente. Para desequilibrar a balança ainda estão fatores como a possibilidade de causar danos a todos os inimigos caso você execute o ataque perfeito e ainda um indicador visual (um símbolo de interrogação) que mostra o momento certo de apertar o botão para dar o super ataque.
Como se não bastassem os duelos fáceis que não exigem praticamente nenhuma estratégia prévia, o remake também ganhou a função de autosave. Ou seja, a praticamente cada cenário ultrapassado o progresso é salvo automaticamente, garantindo que não haverá perda na trajetória.
E um fator muito esquisito é que o título tem um modo ainda mais fácil. Chamado de “Breezy”, ele deixa as lutas ainda menos complicadas.
Super Mario RPG vale a pena?
Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars foi o “culpado” por tornar centenas (ou milhares) de crianças fãs do gênero de role-playing game e mais especificamente de games turn-based. E eu fui uma delas.
O que está claro é que o remake do projeto de 1996 terá um impacto no mínimo parecido, já que chega a um console com um base instalada gigantesca e com centenas de milhares de donos ao redor do mundo. Portanto, é muito difícil imaginar que muita gente não vai procurar outros games parecidos para apreciar depois da aventura pelos reinos do Cogumelo.
Só que ao mesmo tempo em que entrega nostalgia e momentos extremamente divertidos, Super Mario RPG desperdiça o potencial de virar novamente referência, como o jogo original o foi.
Super Mario RPG foi desenvolvido em parceria entre Nintendo e Square Enix (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
Com um balanceamento melhor, o título estaria certamente dentre os principais lançamentos de RPG do ano, e olha que a concorrência em 2023 é fortíssima. A sensação ao terminar a batalha final do game é que você praticamente não evoluiu como jogador.
O último chefe tem nada mais do que uma vida maior do que os outros inimigos. Com isso, parece que foi pensado somente a oferta de um duelo um pouco mais longo ao invés de um momento realmente desafiador para fechar a experiência com chave de ouro. E vale também dizer que diferentemente de Super Mario Wonder, que foi lançado há pouco tempo, Super Mario RPG não tem localização em PT-BR.
No final das contas, Super Mario RPG é extremamente cativante, mas poderia ter largado por pelo menos alguns momentos a fórmula Nintendo.
Apesar dos problemas, Super Mario RPG é um grande jogo (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
Esta análise de Super Mario RPG foi realizada com uma cópia digital cedida gentilmente pela Nintendo. Super Mario RPG será lançado nesta sexta-feira (17) exclusivamente para Switch.
- Gameplay divertido
- Cutscenes lindas que parecem o filme do Mario
- Personagens que se complementam no combate
- Apelo à nostalgia
- Visual de brilhar os olhos
- Poucas surpresas para quem jogou o original
- Não tem localização em PT-BR
- Extremamente fácil
Nota do Voxel