State of Decay 2 supera problemas técnicos e se destaca em gênero saturado
State of Decay 2 não é um “jogo de zumbis” no estilo tradicional. Aqui, você não vai sair matando dezenas de criaturas como em um Dead Rising, tampouco vai testemunhar uma trama focada no desenvolvimento de personagens e em conspirações envolvendo empresas multinacionais, no estilo de um Resident Evil.
O objetivo aqui é um só: sobreviver. E isso envolve tanto enfrentar as criaturas que surgem de todos os lugares possíveis quanto coletar itens e recursos necessários para manter uma comunidade viva — acontece que matar mortos-vivos é legal, mas não enche a barriga de ninguém, tampouco garante a luz necessária para alguém se sentir seguro à noite.
Adotando essa visão mais “realista” do que aconteceria caso o mundo fosse devastado por uma praga misteriosa, o jogo da Undead Labs é marcado muito mais pela exploração cuidadosa e metódica de ambientes do que pelos combates. Claro, eles vão acontecer e não dá para evitá-los, mas esse nunca é o foco principal da aventura.
Lançado para Xbox One e Windows 10 no dia 22 de maio, State of Decay 2 é um game que não tem uma história grandiosa, se focando muito na construção de uma comunidade e no desenvolvimento de seus membros — aspecto que destacou o título original. Agora sob o comando da Microsoft, a desenvolvedora entrega na sequência mecânicas mais refinadas e novas ideias interessantes, que tropeçam em questões técnicas mal resolvidas e um execução que nem sempre é bem-sucedida.
Vida em comunidade
State of Decay 2 começa de maneira bastante semelhante a um filme de zumbi clássico: dois sobreviventes chegam a um acampamento militar pensando que vão encontrar ali a salvação. Infelizmente, a realidade é mais triste do que o esperado: o local está destruído e somente poucos sobreviventes permanecem ali na esperança de que outros humanos cheguem.
Para piorar a situação, seu companheiro é mordido e infectado com a praga que transforma pessoas saudáveis em mortos-vivos. Agora, cabe a você se juntar aos demais sobreviventes do local para encontrar uma região mais segura e, quem sabe, descobrir uma cura para essa doença.
Essa é a premissa básica do jogo, que se torna ainda mais direta caso você queira pular seu tutorial (opção que surge depois de formar sua primeira comunidade). Nesse caso, as duplas que o jogo oferece são substituídas por personagens gerados aleatoriamente, que contam com personalidades, habilidades e desejos diferentes (e que você pode sortear até achar um que se mostre adequado).
Partindo da premissa que você tem que manter todo um grupo de sobreviventes vivo e saudável, não é de se admirar que a maior parte do game seja dedicado a procurar suprimentos como comida, munição e remédios. Quando o jogador retorna à sua base, esses recursos são aplicados em melhorias de estruturas e na construção de novas áreas úteis, como jardins e bancadas de carpinteiro — nunca há espaço suficiente para tudo o que o jogo oferece, o que faz com que decisões difíceis se tornem algo comum durante a aventura.
antes de sair de sua base é preciso determinar seu “plano de jogo”
State of Decay 2 trata todos esses processos de forma bastante metódica: antes de sair de sua base é preciso determinar seu “plano de jogo”, que envolve desde o sobrevivente (e um companheiro) mais adequado para a tarefa até o veículo que mais vai ajudar. Muitas vezes é melhor escolher um meio de transporte mais lento, mas que resiste melhor a batidas, gasta menos combustível e, o mais importante, tem bastante espaço no porta-malas (seus sobreviventes não têm muito espaço no inventário).
Isso faz com que o game seja marcado por um “leva e trás” de suprimentos que pode parecer repetitivo, especialmente enquanto sua comunidade ainda está dando os primeiros passos. Felizmente, a aventura consegue quebrar essa monotonia ao apresentar comunidades que pedem sua ajuda e eventos aleatórias que surgem em pontos diferentes do mapa.
Ninguém é uma ilha
State of Decay 2, em essência, é um game sobre escolhas, que vão desde o lugar que é preferível explorar até a ordem que você deseja fazer as coisas. Prefere ir atrás dos remédios que seus sobreviventes estão precisando e quer ignorar os pedidos de outra comunidade? Tudo bem, mas eles podem não estar por lá quando você precisar (ou podem tratar sua decisão de forma rancorosa, se transformando em inimigos de seu grupo).
Da mesma forma, decidir ir atrás de um tipo de suprimento em vez de outro geralmente implica em ter que lidar com a impossibilidade de construir certa estrutura ou acionar alguma habilidade especial. Essa necessidade de gerenciamento constante diminui conforme você avança (e aprende a usar os comandos de rádio), mas nunca desaparece completamente: são raros os momentos em que você vai ter em abundância tudo o que precisa para sobreviver (e algum sobrevivente vai fazer questão de quebrar alguma coisa para desestabilizar seus estoques).
Essa necessidade de balancear necessidades se estende a seus sobreviventes, que possuem vontades e personalidades que nem sempre combinam, bem como pequenas histórias. Uma das minhas lutadoras mais eficientes, por exemplo, ganhou destaque pela pequena trama que envolvia uma tia desaparecida que, depois de algumas missões, me rendeu uma ótima escopeta.
State of Decay 2, em essência, é um game sobre escolhas
Já outro membro da minha comunidade gosta de fazer confusão, e eu preciso usá-lo constantemente para destruir infestações de zumbis (caso contrário, ele fica frustrado e dificulta a vida em grupo). Eu sempre tive a opção de bani-lo e não me incomodar mais com isso, mas prefiro mantê-lo por perto para garantir mais possibilidades de exploração (seus sobreviventes cansam, e é preciso trocá-los constantemente para evitar problemas).
Novidades pestilentas
Enquanto tudo o que eu escrevi nos parágrafos anteriores também se aplica de alguma forma ao State of Decay original, a sequência traz algumas novidades, principalmente em sua jogabilidade. Agora, além dos zumbis normais e das mutações especiais (como o Colossal e o Selvagem), você também vai encontrar pelos mapas algumas criaturas infectadas que podem transformar seus personagens em mortos-vivos — assim que você ver olhos vermelhos brilhando no horizonte vai conseguir identificá-las facilmente.
Quando você é atacado por uma dessas criaturas, surge na tela uma barra que indica o nível de infecção de cada sobrevivente: quando ela está completa, um contador começa a mostrar quando tempo lhe resta de vida. Infelizmente, a mecânica não provoca a tensão necessária por um simples motivo: criar uma cura para a peste é muito fácil, e o tempo necessário para a transformação é muito generoso.
Outra novidade de State of Decay 2 são os chamados “Núcleos Pestilentos”, que são o mais próximo que o título oferece em matéria de batalhas contra chefes. Eles não atacam diretamente seus personagens, mas são capazes de atrair diversas hordas de zumbis agressivos, que vão fazer de tudo para acabar com sua vida.
Esses momentos oferecem tensão real, especialmente quando você já destruiu alguns núcleos antes: quanto mais deles morrem, mais os restantes se tornam fortes. Dessa forma, é sempre bom contar com alguns explosivos, um bom companheiro e pelo menos duas armas com munição de sobra na hora de encarar esses desafios — ou com a ajuda de outro jogador.
Atendendo aos pedidos dos fãs, a Undead Labs trouxe à sequência um sistema multiplayer que permite que até quatro pessoas participem do mesmo universo. Os visitantes de seu mundo não podem levar sacos de suprimentos para casa, mas têm direito sobre qualquer item encontrado por eles (o loot disponível é específico a cada jogador) e ainda recebem alguns bônus quando voltam para suas comunidades.
Infelizmente, nem tudo funciona conforme o esperado: enquanto o jogo se mantém estável com duas pessoas, grupos de três ou quatro jogadores são um convite a lags e ao surgimento de bugs variados. Da mesma forma, é recomendável sempre jogar com amigos em grupos fechados: entrar em universos de pessoas aleatórias é um convite à falta de comunicação, o que geralmente resulta em ficar abandonado em alguma área enquanto ela decide fazer alguma atividade diferente.
Questões técnicas
O principal problema de State of Decay 2, que denota que a Undead Labs ainda trabalha com uma postura “indie”, é sua parte técnicas. Em muitos momentos o jogo parece ser ambicioso demais para a estrutura em que foi criado, o que resulta em uma quantidade generosa de bugs e questões de desempenho.
No Xbox One X (uma das plataformas usadas para esta análise), o framerate tem quedas notáveis nos momentos em que muitos elementos tomam a tela — o que geralmente ocorre quando você está dentro de um carro. Além disso, o console sofre com texturas que demoram a carregar, exigindo um pouco de paciência especialmente quando você acabou de carregar seu save mais recente (o jogo estava instalado no HD console em nossos testes).
Em muitos momentos o jogo parece ser ambicioso demais para a estrutura em que foi criado
No PC, o problema do framarate desaparece em máquinas mais poderosas, mas isso não exime o game de exibir uma quantidade generosa de bugs. Companheiros que desaparecem, zumbis que ficam presos no cenário e conquistas que não são desbloqueadas são somente alguns dos problemas que você vai enfrentar — e que se tornam mais constantes quando o modo multiplayer é usado.
A Undead Labs parece reconhecer que seu jogo está propenso a dar problemas, chegando a incluir opções que “destravam” personagens presos no ambiente e que desviram carros que estão de ponta-cabeça. Embora esses problemas não tenham estragado minha experiência (mesmo sendo difícil ignorá-los), consigo entender quem decidir deixar o jogo de lado pelo incômodo causado por esses problemas técnicos.
E sim, eu tenho consciência de que a maioria das questões podem ser resolvidas com atualizações futuras, tornando a experiência mais agradável estável. Mas seria injusto não falar sobre os problemas que enfrentei, especialmente em um contexto no qual aqueles que pagaram mais pelo jogo vão ser aqueles que mais vão ter que lidar com questões indesejáveis.
Vá com as expectativas corretas
State of Decay 2 não deve ser encarado como um Triplo A — algo que seu preço já deveria deixar claro —, nem como uma revolução para o universo dos jogos com zumbi. Mais focado no gerenciamento de estruturas e pessoas do que no combate, o novo game da Undead Labs mantém o espírito independente de seu antecessor e oferece uma experiência interessante, mesmo que um tanto falha em alguns quesitos.
Não há como ignorar os bugs ou justificar que não podemos falar sobre eles porque “podem ser corrigidos no futuro”, mas eles não chegaram a ser graves o bastante para prejudicar totalmente minha experiência. Sim, foi chato ter que resetar o console para corrigir falhas de som e fazer com que sobreviventes reaparecessem, mas na maior parte do tempo eu consegui me concentrar em explorar ambientes, matar zumbis e acumular recursos sem maiores problemas.
Mesmo com esses problemas óbvios, consigo ver em State of Decay 2 uma experiência muito divertida e que tem um ciclo de risco e recompensa muito satisfatório. Encarado de forma correta (como um game com orçamento menor e uma proposta mais centrada), o título oferece horas de exploração e gerenciamento em um universo que consegue ser interessante, mesmo em um momento no qual o gênero de zumbis está bastante saturado.
Categorias
- Sistema de exploração que exige cuidados
- Foco no gerenciamento de comunidades
- Força o jogador a pensar de maneira estratégica
- Refina tudo o que funcionou no primeiro game
- Interações interessantes entre os membros da base
- Bugs constantes com gravidade variável
- Quedas constantes de framerate no Xbox One X
- Sistemas como a infecção zumbi não funcionam conforme o esperado
- O multiplayer ainda precisa de alguns ajustes de conectividade
Nota do Voxel