Spyro: Reignited Trilogy renova nostalgia da série com mascote em boa forma
Muitos jogadores sentem saudades dos mascotes de outrora, enquanto outros são indiferentes à extinção de alguns deles. A palavra “mascote”, aliás, não necessariamente precisa se aplicar a um personagem exclusivo; o termo pode representar um herói de uma época, de uma geração ou de um estilo de jogo.
Mario está para a Nintendo assim como Halo está para o Xbox e Kratos está para a Sony. Nesse contexto, onde estão Crash Bandicoot? Spyro? Sly Cooper? Ou, correndo por fora, Gex? Quem sabe Bubsy? Star Fox? Oras, não deixam de ser mascotes, independentemente da plataforma ou do caráter exclusivo. Há inúmeros por aí.
São personagens que respiram carisma, rodeados por mundos vivos e coloridos, imputados pela nostalgia que proporcionaram a tantas pessoas. Crash voltou dos anos 90 em muito boa forma na coletânea N. Sane Trilogy, que, assinada pela Vicarious Visions como desenvolvedora, reuniu a trilogia clássica numa repaginação gráfica.
Agora, foi a vez da Activision despertar Spyro, o primo adormecido de Crash, já que ambos são, atualmente, franquias da publisher. O dragãozinho roxo deixou tantas saudades quanto o marsupial saltitante e, graças à parceria com a Toys for Bob a cargo do desenvolvimento, também regressou à indústria com sua trilogia clássica, nascida 20 anos atrás.
Confira a videoanálise:
“Mundinho aberto”: quando ninguém sabia direito o que isso significava
Uma das principais características de Spyro é o hub explorável que a trilogia reserva e a largura das fases. A exploração é feita de maneira mais “circular”, em contraste à rota linear de Crash, por exemplo, que segue um “corredor” e é até considerado por alguns como um endless runner complementado por mais desafios e complexidades.
As comparações não são nem um pouco esdrúxulas. São, na verdade, inevitáveis – estamos falando de dois mascotes que pertenceram à mesma era, um da Naughty Dog e outro da Insomniac, que nutrem o mesmo coleguismo há décadas.
Os lugares que Spyro explora são mais capciosos, cheios de buracos escondidos, beiradas alcançáveis (e inalcançáveis) e plataformas dispostas de maneira a não facilitar o seu acesso. Spyro é muito mais “3D” do que Crash, por assim dizer.
Gameplay gostosura – mas com espaço para melhorias
Em casos de remasters ou remakes, o gameplay é um dos aspectos mais perigosos. É uma faca de dois gumes: modificar radicalmente é um caminho que pode desagradar os fãs mais puritanos, enquanto seguir à risca o esquema original – datado em duas décadas – certamente coloca em xeque o alcance a um público maior.
Cientes de que é importante tentar abraçar gregos e troianos, as publishers e desenvolvedoras tentam atingir o meio-termo, embora nem sempre isso signifique o máximo em primor técnico.
É gostoso curtir cada um na ordem e constatar que, assim como ocorre em Crash, eles evoluem e oferecem mais aos jogadores
Nesse sentido, a Toys for Bob fez um grande trabalho em Reignited Trilogy. O controle do dragãozinho roxo é mais fluido, adaptado aos nossos tempos, com mais peso em física, sem desrespeito à obra original.
Ao mesmo tempo, isso acarreta consequências: planar em fases terrestres não é tão agradável quanto nos níveis especialmente designados para isso. Há trechos nos quais, em formato de desafios, Spyro contempla o céu no encalço de inimigos e atravessa argolas clássicas que rendem mais tempo, tudo isso enquanto desvia de obstáculos.
Nesses momentos, sobrevoar é uma obrigação e, portanto, funciona bem. Mas, nas fases de exploração em terra, o controle de planagem ainda está “duro”, facilmente desorienta o jogador a conduzir o dragão na direção errada ou não planejada. O cálculo deve ser minucioso – e nem sempre é justo.
Aqui há outro vilão comum em jogos do gênero dessa época: a câmera. É possível alternar entre as câmeras passiva e ativa. Na primeira opção, os ângulos acompanham o mascote automaticamente, conforme você o guia. Na segunda opção, a tela não gira em momento algum e depende 100% dos movimentos que você fizer com o analógico direito. Em qualquer uma delas, um incômodo: aquela “patinada” que desfavorece o jogador e faz você proferir insultos diante da tela.
Não é grave e recebeu, sim, ajustes finos da Toys for Bob, mas há pleno espaço para mais melhorias por meio de atualizações; esse é um alicerce que pode e deve ser ajustado em relação à trilogia original.
Trilha sonora “do cara”
Além do visual reformulado, a trilha sonora de Spyro, que sempre trouxe uma marca registrada da franquia, é brilhantemente composta por ninguém menos que Stewart Copeland, baterista e co-fundador da banda The Police.
Ele também é um dos melhores “pratistas” do mundo e, em Spyro, assina uma marca lotada de arranjos de jazz incorporados em música clássica, no estilo que é a cara do artista, cheio de charme e originalidade. Copeland é muito autoral em tudo que faz. A coletânea inclusive permite que você alterne entre a trilha sonora original ou remasterizada – lembrando que o baterista participou das duas.
Conteúdo recheado por um preço honesto
Spyro Reignited Trilogy é generoso em conteúdo: somando os três jogos, há mais de 100 fases e aproximadamente 400 inimigos reimaginados. É gostoso curtir cada um na ordem natural e constatar que, assim como ocorre em Crash, os títulos evoluem e oferecem mais opções aos jogadores.
Em um, Spyro não nada; em outro, ele mergulha e explora fases subaquáticas. No terceiro, você até controla outros personagens, cada um com carisma e movimentos próprios. E essa personalidade é amplificada pela dublagem: Spyro Reignited Trilogy recebeu textos e vozes em português brasileiro. O trabalho está formidável. Me senti assistindo a uma animação da Disney em diversos diálogos.
A Toys for Bob ainda tem espaço para melhorar alguns dos aspectos supracitados – câmera principalmente –, desde que não envolvam conceitos de fundação. Mas, do jeito que está, Spyro Reignited Trilogy é uma ótima revisão que passeia pela nostalgia escondida no inconsciente de muita gente – e, para quem não conhecia, o preço do ingresso oferece um abundante parque de diversões a ser explorado.
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- Exploração circular, feita em largura, rende horas de conteúdo para os 100% em cada jogo
- Enorme salto visual, com novas animações, novos efeitos e muita personalidade
- Carisma de sobra em todos os personagens
- Trilha sonora com Stewart Copeland, um dos melhores bateristas do mundo
- Ótima dublagem em português brasileiro
- A câmera melhorou, mas poderia ter recebido mais ajustes finos e ainda é uma vilã herdada dos originais
- Gameplay retocado com acertos e ressalvas, como planagens em fases terrestres, que deixam Spyro meio “duro”
Nota do Voxel