Imagem de Spider-Man (2018)
Imagem de Spider-Man (2018)

Spider-Man (2018)

Nota do Voxel
93

Marvel’s Spider-Man é uma aventura obrigatória para os fãs do herói

Possivelmente o herói mais conhecido da Marvel, Spider-Man já foi estrela de vários games que datam desde o Atari até a geração anterior, com qualidade bastante variável. No entanto, uma das referências que permanecem vivas na mente de muitos jogadores até hoje é o Spider-Man 2 da Treyarch (lançado na época em que o GameCube, PlayStation 2 e Xbox disputavam preferêncioas), que ajudou a definir como seria a movimentação do personagem e seus movimentos em um ambiente 3D.

Embora a Insomniac nunca antes tenha trabalhado com o herói, parece que ela fez uma análise atenta do passado do herói para definir como seria Marvel’s Spider-Man. Pegando o que funcionou há mais de dez anos e foi reproduzido várias vezes, a desenvolvedora trouxe suas especialidades — sistemas de ação divertidos e um humor recheado de tiradas — para formar um game que parece um recomeço para o herói.

Tal qual a Marvel fez nos cinemas com Homem-Aranha: De Volta ao Lar, temos aqui um produto que não é uma simples versão reformulada do que vimos no passado. A desenvolvedora entrega uma versão do herói que mistura características conhecidas e amadas, combinando a elas novidades que ajudam a montar um universo novo e que não depende de conhecimentos anteriores para existir.

Um Peter mais maduro, mas ainda quebrado

Em Marvel’s Spider-Man somos apresentados a uma versão mais madura e experiente de Peter Parker, que já está vestindo a roupa de aranha há oito anos. No entanto, enquanto sua carreira como combatente do crime está indo muito bem — e ele já prendeu vários supervilões —, o mesmo não pode ser dito de sua vida pessoal.

Spider-Man

Parker tem diversos problemas em seus relacionamentos pessoais e parece ser incapaz de manter um emprego que lhe permita pagar o aluguel. Embora não more mais com sua Tia May, ela ainda é elemento importante na vida do herói e está sempre lá quando ele precisa de um conselho (ou de uma graninha para pagar as contas).

A esperança do herói para o futuro é a mentoria do Doutor Otto Octavius, um brilhante pesquisador que está prestes a fazer uma descoberta revolucionária no mundo das próteses. O Planeta Diário e as fotografias do Homem-Aranha fazem parte do passado do personagem, que decidiu explorar profissionalmente seu grande conhecimento científico.

Em Marvel’s Spider-Man somos apresentados a uma versão mais madura e experiente de Peter Parker

Marvel’s Spider-Man começa em um momento no qual, após anos de embate com o Rei do Crime, o herói finalmente consegue colocá-lo atrás das grades — algo que o próprio vilão diz que foi um erro. Dito e feito, não demora muito após ele ser colocado atrás das grades para que criminosos comuns e um novo grupo conhecido como “Demônios” tomem as ruas de Nova York e comecem a tentar preencher o vácuo de poder que se criou.

Com a ajuda da polícia, cabe ao jogador descobrir a origem dos novos criminosos e garantir que a cidade vai conseguir desfrutar da paz que tanto demorou a conquistar. Para tornar tudo ainda mais complicado, a partir de certo momento será preciso lidar com os mercenários da Silver Sable, que não deixam claro se são aliados ou não do herói — enquanto tenta lidar com tudo isso, você ainda vai descobrir as verdadeiras intenções de supostos aliados e lidar com os problemas pessoais de Peter.

Coadjuvantes de luxo

Além de jogar como o Homem-Aranha, você também vai encontrar momentos em que a persona de Peter Parker toma o controle da ação. Nesses momentos, o game deixa a ação de lado para se focar na narrativa, apresentando alguns desafios de quebra-cabeça ambientais e desafios de lógica com dificuldade variedade.

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Em alguns trechos também dá para assumir o controle de Mary Jane, que em Marvel’s Spider-Man surge como uma ambiciosa repórter do Clarim Diário. A princípio os trechos em que ela toma controle são parecidos com os de Peter, mas logo fica claro que ela preza muito mais pela furtividade e pela capacidade de investigar crimes sem ser vista.

Com o tempo, Mary Jane ganha algumas ferramentas que possibilitam distrair inimigos e partir para o confronto com eles. No entanto, fica claro que ela não é nenhuma super-heroína e que o silêncio e a movimentação cuidadosa são sempre as melhores soluções para você não sofrer nenhum dano ou falhar em sua missão.

A história também é recheada de figuras conhecidas do universo do herói, muitas delas com caracterizações um pouco diferentes. Norman Osborn, por exemplo, continua sendo o industrial de sucesso que não tem muito valor pela ética, mas aqui ele também decidiu entrar para a política e já é prefeito da cidade há alguns anos.

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A Imsoniac mudou até mesmo a caracterização da Tia May, que deixa de ser aquela idosa frágil dos quadrinhos para atuar de forma ativa em um abrigo para moradores de rua. Além disso, os vilões que surgem possuem características diferentes, que prefiro não revelar para não estragar nenhuma surpresa.

E claro, eu não poderia deixar de citar a presença de Miles Morales, que chamou a atenção de muita gente ao surgir nos trailers do game. A pedidos da desenvolvedora não posso revelar o que acontece com ele, mas posso adiantar que não somente seu desenvolvimento, mas a história em geral, são bem contados e resultando em um terceiro ato repleto de tensão e momentos visualmente impressionantes.

Nova padrão de qualidade

Em Marvel’s Spider-Man, a Imsoniac teve o sucesso que muitas empresas que trabalharam com o herói não conquistaram. Enquanto outros jogos continuaram presos às mecânicas de movimentação e às bases de combate estabelecidas no Spider-Man 2 da Treyarch, o novo game consegue finalmente evoluir esses conceitos e estabelecer um novo padrão de movimentação para o amigão da vizinhança.

a Imsoniac teve o sucesso que muitas empresas que trabalharam com o herói não conquistaram

Balançar de prédio em prédio é um processo gostoso e fácil de dominar, permitindo que você viaje bem rápido entre os diferentes pontos do mapa. Conforme o herói sobe de nível é possível desbloquear habilidades que tornam tudo ainda mais prazeroso e natural, aumentando a sensação de controle ao pular e se pendurar pelos céus de Nova York.

Depois de algumas missões, você também destrava um sistema de viagens rápidas que traz algumas piadinhas visuais durante o loading, mas acabei preferindo deixar esse elemento de lado depois de algum tempo. Muito disso porque, ao decidir “pular” certas partes, você acaba abrindo mão de realizar algumas das atividades paralelas que o game oferece.

Inspirações em Arkham

No que diz respeito aos combates, é difícil não perceber uma clara influência do que a Rocksteady fez com a série Arkham. No entanto, eles trazem novidades o suficiente para que você não sinta que o Homem-Aranha é simplesmente uma versão do Batman capaz de atirar teias e se balançar por aí.

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Em vez de contra-atacar inimigos, por exemplo, o cabeça de teia usa sua agilidade para escapar de golpes e garantir pontos de vantagem. Isso é bastante útil, especialmente nos momentos iniciais do game em que você está fragilizado e não aguenta tomar muitos socos antes da tela de Game Over aparecer.

O contador de golpes também funciona de forma diferente, servindo mais como um indicador de seu desempenho do que como um sistema que aciona seus golpes especiais. Eles são controlados por uma nova barra de foco, que se preenche conforme você derrota inimigos, realiza desvios na hora certa ou usa os acessórios do herói.

O foco não serve somente para ativar finalizações especiais: ele também controla a capacidade do herói de recuperar sua vida, criando uma relação de risco e recompensa própria. É melhor acabar rápido com seus inimigos ou guardar uma barra para sobreviver a um ataque inesperado? E vale a pena gastar duas barras inteiras para derrotar logo um inimigo mais pesado? Essas questões surgem constantemente e somente você pode decidir o que é melhor fazer durante o calor da batalha.

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Outro diferencial são os gadgets desenvolvidos por Peter, que funcionam de forma bem diferente do arsenal do Homem-Morcego. Além do lançador de teias convencional, você conta com ataques elétricos, granadas que prendem tudo ao redor de um foco de explosão, um robô-aranha que ataca inimigos e até mesmo um dispositivo antigravidade que manda os inimigos para o ar.

Também dá para interagir com itens do cenário para jogá-los em cima de inimigos e, mais para frente, é possível puxar as armas de seus adversários para usá-las em vantagem própria. Quem for mais paciente pode apelar para a furtividade, usando cantos escuros e a agilidade do herói para abater inimigos sem ser visto.

A alegria de qualquer colecionador

Marvel’s Spider-Man é o tipo de game que vai deixar atiçados os instintos de quem faz questão de coletar tudo o que surge pela frente e completar o máximo possível de atividades paralelas. O elemento principal nesse sentido são as vestimentas do herói, que garantem visuais novos a ela bem como mais habilidades especiais para usar nas batalhas.

Spider-Man

Com isso, vale a pena destravar aquela roupa que você pode achar feia e nunca usar somente para desbloquear um poder de batalha legal. Além de ter o nível adequado para as vestimentas, o jogador também vai ter que possui fichas (tokens) coletadas em tarefas secundárias para garantir acesso ao guarda-roupa completo.

O game também aposta em um sistema de evolução tradicional, em que novos níveis rendem pontos de habilidade que melhoram seu poder de ataque, movimentação e defesa. Para completar, você tem três espaços para modificações que garantem mais resistência a ataques físicos ou disparos, uma maior capacidade de recuperar vida ou a um radar que revela itens escondidos pelo mapa — novamente, além de ter o nível adequado para desbloqueá-las, é preciso ter a quantidade adequada de fichas de desbloqueio.

Essas mesmas fichas também são usadas para desbloquear alguns gadgets e evoluí-los, o que significa que, se você quiser tudo que o game tem a oferecer, é bom estar preparado para fazer muitas atividades paralelas. Infelizmente, isso faz com que o jogo acaba sofrendo com o famoso “inchaço” de tarefas repetidas vistas em muitos jogos de mundo aberto.

o jogo acaba sofre com o famoso “inchaço” de tarefas repetidas vistas em muitos jogos de mundo aberto

Os desafios paralelos incluem desarmar bombas, perseguir o caminho feito por drones, abater inimigos silenciosamente, solucionar crimes variados, encontrar mochilas e pontos de interesse espalhados pelo mapa e bases recheadas de inimigos. A isso tudo se soma a preocupação do herói com o meio-ambiente, o que faz com que ele realize atividades que vão de curar pombas infectadas com vírus mortais até retirar por conta própria lixo dos oceanos.

Também há uma quantidade generosa de crimes procedurais acontecendo por Nova York, e você sempre pode usar um tempinho para ajudar a pará-los. O elemento comum entre eles é o fato de que todos podem ser resolvidos em questão de poucos minutos, algo que acaba servindo como estímulo para resolvê-los sempre que surge uma oportunidade.

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Como se isso não fosse o bastante, o game também tem uma coleção de jornais, pontos turísticos escondidos e uma quantidade generosa de torres da Oscorp espalhadas pelo mapa. Sim, voltamos aos tempos dos primeiros Assassin’s Creed, em que era preciso alcançar pontos de vantagem para somente depois conseguir revelar os pontos de interesse do mapa.

No final da aventura, seu mapa estará recheado de ícones com atividades paralelas e pode parecer impossível lidar com todos eles. Meu conselho é que, se você se propor a fazer tudo o que o game tem a oferecer, o melhor é alternar entre atividades de diferentes tipos — caso contrário, se prepare para sessões de jogo que podem ser bastante repetitivas.

Bonito de ver, mas não tão bom de escutar

Visualmente, Marvel’s Spider-Man sabe aproveitar bem o potencial do PlayStation 4 para criar um universo bonito e com uma boa qualidade de detalhes. Mesmo na versão normal do aparelho o game roda muito bem e não sentimentos nenhuma queda visível de desempenho durante nossa análise.

Jogando no PlayStation 4 Pro (plataforma que serviu de base para a análise) a coisa não é muito diferente, sendo que em 1080p não há qualquer opção para melhorar gráficos ou priorizar o desempenho da aventura. Assim, a maior vantagem para quem não tem uma TV 4K (e antes que você fale nos comentários, eu sei que a aventura não renderiza a resolução nativamente) é a possibilidade de usar o modo supersampling para ter imagens com arestas um pouco menos evidentes.

Spider-Man

Os modelos de personagens chamam atenção pelos seus detalhes, mas dá para notar que os pedestres e outras figuras secundárias não receberam tanta atenção quanto os principais. O problema mais evidente neles — e na apresentação do jogo como um todo — é reflexo do trabalho de tradução.

As vozes, a entonação dos dubladores e a adaptação tem um nível bom, mas que não chegam a ser excelentes. O mesmo não pode ser dito da sincronia labial, que é bem fraca em algumas cenas e chama a atenção de quem está jogando quando personagens mexem seus lábios sem que nenhum som saia deles.

a sincronia labial é bem fraca em algumas cenas e chama a atenção de quem está jogando

Também estranhei algumas opções na tradução de nomes: o Rei do Crime, por exemplo, é conhecido aqui como “Kingpin”, sendo que os Vingadores são conhecidos como “Avengers”. Levando em consideração que o Homem-Aranha possui um longo histórico de adaptações para o português, é estranha a opção de manter os nomes originais que não são usados nos quadrinhos, animações e cinema.

Mesmo com esses problemas, a adaptação soube manter o bom-humor do game original, que é uma das principais forças de seu roteiro. O Homem-Aranha é especialista em soltar piadinhas durante as batalhas, e a decisão de transformar J.J. Jameson em um raivoso produtor de podcasts é uma solução genial para garantir sua presença ativa no game.

Pelos becos da cidade, vai Homem-Aranha

Marvel’s Spider-Man cumpre bem a missão de representar um novo começo para o universo do herói nomundo dos games. Apostando em uma versão renovada de Peter Parker, a Imsomniac conseguiu criar uma história que, ao mesmo tempo em que respeita elementos estabelecidos, traz novidades o suficiente para diferenciá-la do passado, deixando aquele “gostinho de quero mais” quando os créditos terminam de rolar.

Spider-Man

A desenvolvedora soube aproveitar bem o universo do herói, criando mecânicas que tiram proveito de seus poderes e de sua agilidade e que, no fim do dia, são simplesmente divertidas de usar. Recheado de referências a um universo Marvel mais amplo, o game serve como um indicativo de que a editora — com sua nova postura mais ativa — tem potencial de replicar nos jogos licenciados o mesmo sucesso que obteve no cinema.

Posso estar sendo polêmico, mas não tenho problemas em dizer que Marvel’s Spider-Man finalmente consegue ocupar o lugar do Spider-Man 2 da Treyarch no topo das melhores adaptações estreladas pelo personagem. Nem tudo na aventura é perfeito, mas nenhum outro game conseguiu capturar tão bem o espírito do herói e a adrenalina de se pendurar pelos céus de Nova York ou de lutar contra seu seleto hall de vilões.

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Pontos Positivos
  • Ótima retratação do personagem, mostrando um Peter Parker mais maduro, mas não menos atrapalhado
  • Controles que respondem bem tanto na movimentação quanto nos combates, oferecendo uma ótima sensação de controle
  • Uma história que sabe construir tensão e que resulta em um terceiro ato repleto de surpresas e cenas impressionantes
  • Usa bem o potencial do PlayStation 4 para criar um universo atraente e recheado com uma boa dose de detalhes
  • Combate ao “estilo Arkham” que consegue se diferenciar e usar bem as características do herói
Pontos Negativos
  • Há um inchaço de atividades paralelas, o que resulta em uma sensação de repetição evidente ao tentar completá-las totalmente
  • Essas atividades, que deviam ser opcionais, são praticamente obrigatórias para destravar os conteúdos mais legais do game
  • A dublagem em português não tem muito cuidado com a sincronia labial dos personagens