Imagem de Sonic Unleashed
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Sonic Unleashed

Nota do Voxel
67

O merecido renascimento? Quem sabe da próxima vez.

A volta memorável às origens? Não desta vez. Sonic é hoje uma figura memorável, sendo às vezes até meio difícil julgá-lo de forma imparcial sem deixar escapar uma ponta de arrependimento. Isso porque o amado ouriço da SEGA está firmemente estancado em anos de sucesso absoluto no saudoso Mega Drive (Genesis). Quer dizer, várias gerações de jogadores já passaram raiva com o herói caindo em abismos ou morrendo afogado, mas também colecionaram vários bons momentos conforme um jogo era finalmente terminado ou todas as “esmeraldas do caos” (chaos emeralds) eram coletadas.

Apesar disso, mesmo o fã mais dedicado, aquele que sempre fez vista grossa para as derrapadas da série, não vai poder negar a atual derrocada da franquia que, por algum motivo estranho, parece estar cada vez mais se desligando das suas raízes — daquelas características que efetivamente faziam de Sonic um bom jogo — para flertar com elementos que simplesmente não condizem em nada com o estilo que sempre foi associado à série.

A impressão que fica é que o outrora glorioso Sonic Team tem sofrido um brutal arrefecimento de idéias, uma completa desaceleração no seu “brainstorm” — ou talvez tenha simplesmente acelerado na direção errada. Fato é que o Sonic que tem desembarcado nas plataformas mais recentes simplesmente não é o mesmo Sonic que esteve presente em tantos jogos de sucesso da geração 16 bits. Lamentavelmente.

Warehog (ou o tiro no próprio pé da SEGA)

Mas, deslizes à parte, muita gente vinha acreditando que o renascimento mais do que necessário do ouriço aconteceria em Unleashed. Bem, não aconteceu. Novamente você vai encontrar elementos estranhos e completamente heterogêneos. Vai encontrar também vários diálogos vergonhosos e desnecessários. E, finalmente, você vai ter o desprazer de contemplar a pior pisada na bola do Sonic Team em muito tempo: o Warehog.

Lobisonic, ou o Tony Ramos da SEGA.

Exatamente. Assim que o sol se põe, o bom e velho Sonic se transforma em uma verdadeira abominação da natureza. Uma mutação descerebrada, lenta e que traz consigo uma ação tremendamente maçante. Algo que até obscurece a diversão e o frescor que podem ser encontrados nas fases diurnas do jogo. É lamentável perceber o que foi feito com o jogo unicamente para trazer algumas horas a mais de jogo.

Mas o problema não fica só na transmutação herege do ouriço. As próprias fases noturnas acabam levando o patamar de qualidade do jogo bem pra baixo, trazendo uma série de cenários idênticos, lentos e recheados de dezenas de inimigos iguais. Esses momentos ainda vem acompanhados de uma queda brutal no andamento do jogo, aniquilando completamente a característica mais marcante do herói.

Sonic desferindo socos e combos? Pois é.

E, como se não bastasse jogar Sonic em meio a uma pancadaria sonolenta, as fases do warehog ainda vão trazer outra surpresa: os combos. Pois é, agora o ouriço não pula mais na cabeça dos inimigos, ele dá socos, chutes e arremessos para despachar os inimigos. Isso em uma série de movimentos baseados na prosaica fórmula do “aperte-o-botão-certo-no-tempo-certo”. Enfim, algo que sem dúvida vai deixar qualquer jogador veterano tentado a jogar frisbee com o disco do jogo.

Engana, mas não convence

Mas, apesar da tentativa meio God of War de ser, não parece ser uma boa idéia jogar o bebê com a água do banho. Quer dizer, existem momentos divertidos em Sonic Unleashed. O problema é que esses momentos representam algo em torno de um terço do jogo. Mas, de qualquer forma, as rápidas, belas e cinematográficas fases que dão as caras de dia podem até enganar, fazendo parecer que finalmente, após um longo tempo, a SEGA acertou a mão.

Durante o dia a jogabilidade é rápida (às vezes fica até difícil entender o que se passa na tela) e intensa, transbordante daquele inconfundível estilo “art déco” e a renovada ação garantida pela estreante Hedgehog Engine. Rápido, colorido e sem perfumarias inúteis. Acrescente a isso ainda alguns chefes bastante criativos, e o resultado é talvez um esboço de como deveria ser o Sonic da nova geração de consoles.


Mas, conforme já dito, essas partes mais “felizes” representam apenas um terço do todo. No mais, caso você não esteja entediado passando pelas intermináveis fases do “Lobisonic”, provavelmente vai estar perdendo um bom tempo em mais uma tentativa da SEGA de trazer Sonic Adventure de volta a vida. Isso porque quando você estiver em uma das cidades que servem como elo de ligação entre as fases, o jogo vai arremessá-lo diretamente para um simulacro de RPG pobre e absolutamente desprovido de sentido.

As cidades: verborragias e perda de tempo. Pelo menos são bonitas. Mesmo que fosse possível olhar a coisa pelo lado bom, tentando se convencer de que procurar pistas para abrir a próxima fase em meio a transeuntes fosse algo razoável, esses momentos trazem a tona outro ponto baixo. Os diálogos absolutamente sofríveis. Isso porque entre uma informação concreta e outra você vai ter que ouvir um cidadão se lamentando porque o mundo foi dividido em pedaços, um sorveteiro se vangloriando da sua criação ou ainda uma cabeleireira elogiando o senso estético de quem criou o penteado de Sonic.

E o pior de tudo é que nem os heróis escapam desse recrudescimento verborrágico. O próprio Sonic manda algumas pérolas como “se você brincasse direito eu não teria que quebrar todos os seus brinquedos”, esta tendo como alvo o incansável Robotnik logo no início da aventura. Enfim, desnecessário, cansativo e sem nenhum apelo. Apenas mais um hiato entre você e a diversão das fases diurnas.

Desvie da bomba! Opa, já era.

Não obstante a profusão de cores e velocidade, nem mesmo as fases diurnas estão livres de outro considerável deslize da SEGA. Talvez, em meio à velocidade e aos loops fique meio difícil de perceber. Entretanto, assim que você tentar desviar alguma coisa ou topar de frente com uma parede fazendo com que a velocidade do jogo diminua, fica evidente: os controles do ouriço não estão nem um pouco precisos.

Bombas e buracos, aí vou eu! Basicamente, de dia você vai  ter dificuldade para desviar de obstáculos e controlar toda a velocidade. De noite o negócio é gastar muitas vidas tentando controlar o desajeitado werehog conforme ele despenca em qualquer buraco — parte pela imprecisão dos controles, parte pelo fato de não se poder saber exatamente o local em que o personagem vai aterrissar.

Outro momento frustrante acompanha a volta do lendário Tornado-1 (o avião do Tails). Não bastasse o fato de o teco-teco ser transfigurado em uma esquisitice bélica, as fases no ar não envolverão o controle direto do herói... e nem do avião. Desde o começo até o fim, o que se tem é uma seqüência de botões a serem pressionados; cada um vai atingir um inimigo na tela. E isso vale inclusive para o chefe, o Egg Caldron.

Hedgehog Engine

O mais triste nas derrapadas de Unleashed, é que a nova Hedgehog Engine faz sim um bom trabalho. Um bom trabalho que infelizmente acabou meio obscurecido pelas mancadas dos desenvolvedores. Vale aqui voltar às fases ensolaradas: são belas imagens, muitas cores, um estilo arquitetônico absolutamente belo e envolvente  e um herói azul e sem pelos proeminentes atravessando tudo à velocidade da luz — do jeito que tem que ser.

E não é só isso. Vale aqui um elogia sincero para os sons do jogo. As música vão de baladas tranqüilas de violão ao jazz sem perder o compasso. Enquanto que uma sonolenta melodia embala as coisas nas cidades provincianas do jogo, um ritmo intenso vai embalar as coisas de dia, enquanto que um “bebop” dos mais boêmios vai evocar magistralmente o clima noturno.

O bom trabalho da Hedgehog Engine.

Por fim, resta a esperança de que as boas idéias desenvolvidas não sejam deixadas de lado, já que muito do que se encontra nas fases diurnas de Unleashed pode muito bem servir para criar um novo, revigorado e bem contextualizado jogo do ouriço. Por outro lado, espera-se também que a SEGA saiba aprender com os seus erros, eliminando sumariamente elementos que simplesmente não evocam em nada o nome Sonic.

Quem sabe se o Sonic Team paresse e se perguntasse: o que realmente faz um bom jogo de Sonic? Quais foram os características que puderam manter uma legião tão fiel de fãs? Fãs que foram até mesmo capazes de ignorar verdadeiros fiascos da série? Juntamente com um boa resposta a essas questões certamente viria a autêntica e merecida reforma da série. Até lá, talvez a melhor idéia seja religar o velho Mega Drive.
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