Sonic de volta à sua melhor época
A história do ícone maior da SEGA já é praticamente de conhecimento geral — pelo menos entre os jogadores que hoje não têm muito cabelo na cabeça. O ouriço rápido, desbocado e inegavelmente “cool” serviu como uma tentativa da empresa de abocanhar uma parte do imenso filão de jogadores que, em 1991, congregavam em massa em torno da figura de certo bombeiro — situação bastante indigesta para o mascote da época, Alex Kidd.
Mas, se Sonic certamente construiu uma carreira sólida ao desfilar em montanhas-russas através dos primeiros jogos para Mega Drive e Master System, o que se viu posteriormente foi uma franquia que, embora poderosa, acabou não conseguindo se adaptar totalmente ás exigências das novas gerações de consoles. Quer dizer, desconsiderando-se Sonic Adventure 1 e 2 para Dreamcast, as apostas 3D do Sonic Team sempre redundaram em jogos medianos ou catástrofes completas — é só conferir o infame Sonic Unleashed.
Diante de um histórico dessa natureza, as escolhas se limitam a apenas uma: voltar às origens. E é exatamente isso que Sonic The Hedgehog 4 fez em seu Episódio 1. Retomou as pistas vertiginosas, a velocidade ensandecida, o excesso de cores primárias e brilhos e a história simples para devolver a franquia a uma época em que Sonic representava uma séria pedra nas botinas de Mario. E o melhor? Tudo isso com um inegável sabor de infância; uma nostalgia tremendamente bem-vinda.
Entretanto, às vezes, esse deslumbramento dá lugar a algumas constatações mais frias, por assim dizer. Impossível não ver também em Sonic 4 uma espécie de rendição da SEGA em relação ao futuro do herói.
Embora a viagem no tempo promovida pela SEGA não seja desprovida de melhorias e até de algumas inovações, é possível ler o seguinte nas entrelinhas: “ok, nós não conseguimos fazer mais nada com Sonic além de botá-lo para correr sem maiores motivos”. Olhando por esse ângulo, a quarta edição de Sonic The Hedgehog soa quase como um canto do cisne; uma inadequação irremediável diante dos novos estilos. Afinal, enquanto Mario sempre foi uma figura meio coringa, Sonic, por sua vez, tem a velocidade infalivelmente associada à sua imagem — para o bem e para o mal.
Mas espere! Nem tudo aqui evoca um clima de despedida. O primeiro episódio de Sonic 4 também consegue se apresentar como uma sequência ao que foi visto no terceiro jogo do ouriço — isso no longínquo ano de 1994. Existem novos ataques, novas formas de interação com os cenários, novas engenhocas demoniacamente urdidas pelo malévolo Dr. Ivo “Eggman” Robotnik. Afinal, trata-se de um novo jogo.
Entretanto, ao tomar as coisas por essa perspectiva, é impossível deixar de perceber alguns equívocos e arestas por aparar, tais como a trilha sonora — com baixa qualidade mesmo para os padrões do início dos anos 90 — e a incrível ausência de um modo cooperativo, uma ofensa pessoal ao eterno sidekick Miles “Tails” Prower. Isso sem falar em alguns trechos que simplesmente se limitam em repetir o que já foi feito.
Só que, justiça seja feita, nada que possa apagar o prazer que qualquer fã de carteirinha do ouriço provavelmente terá gastando alguns poucos trocados. Vamos aos detalhes.
Se atravessar fases em alta velocidade, preocupando-se em reservar suas poucas argolas enquanto digladia com o tempo, traz boas lembranças, então Sonic 4: Episode 1 é compra certa. Tudo que constituiu a era de ouro do mascote da SEGA está aqui devidamente retratado: velocidade absurda, cenários coloridos e brilhantes, chefes saídos da cabeça fértil de um engenheiro ensandecido; é só ligar o console e rememorar.
É claro, existem alguns pontos aqui que provavelmente farão os mais puristas torcerem os narizes. A trilha sonora é apenas uma sombra pálida do que já foi um dia, o novo ataque dash altera de forma contundente a jogabilidade tradicional da série. Alguns podem até mesmo achar que Sonic acabou ficando... “Cool” demais.
Trata-se de reações inevitáveis quando se tenta lançar uma nova luz sobre algo irremediavelmente clássico. Entretanto, justiça seja feita, a SEGA parece ter encontrado um bom equilíbrio entre saudosismo e a necessidade de produzir algo novo. Em outras palavras: Sonic 4 é uma homenagem, mas também é uma boa sequência. Agora, se esse renascimento tem realmente o cacife para reanimar aquela velha briga de mascotes, só o tempo dirá.
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Nota do Voxel