O novo tiro da Rebellion passa perto do alvo, mas não causa grande impacto
Em Sniper Elite 3, a Rebellion tenta se distanciar um pouco do passado da série — ao menos no que diz respeito ao quesito cenários. Tendo como palco os conflitos da Segunda Guerra mundial ocorridos no norte da África, o game novamente coloca você na pele de um atirador de elite que precisa se infiltrar nas linhas inimigas com o intuito de derrotar um adversário capaz de mudar sozinho o rumo da guerra.
Apesar de explorar uma parte da guerra pouco vista em jogos eletrônicos, o jogo peca ao fazer isso de forma conservadora, o que resulta em uma experiência um tanto quanto “aguada”. Mas será que, apesar disso, ainda vale a pena gastar seu suado dinheiro no título? A resposta você descobre em mais uma análise do BJ.
Pare, respire, atire. Repita.
Antes de começar a criticar Sniper Elite 3, devemos deixar claros os aspectos nos quais o game se diferencia de suas encarnações anteriores. Além de ganhar uma bem-vinda atualização gráfica, o título abandona os corredores e a estrutura linear de seu antecessor direto e passa a apostar em cenários mais abertos.
A consequência disso é o fato de que agora o jogador tem mais liberdade na hora de decidir suas ações, podendo adotar tanto uma abordagem mais direta (matando inimigos com golpes físicos) ou usando pontos de vantagem para abater inimigos à distância. Independente da tática que você considera mais eficiente, um elemento se mantém inalterado — você vai querer permanecer escondido a maior parte do tempo.
Como o protagonista — cujo nome sequer vale a pena mencionar, vista a maneira genérica como ele é construído — possui pouca resistência e um medidor de vida escasso (que só se regenera mediante o uso de itens), nunca é uma boa ideia enfrentar adversários “de peito aberto”. Para se certificar de que isso não ocorra, a Rebellion construiu cenários nos quais há a presença de dezenas de adversários que raramente costumam andar sozinhos.
Infelizmente, na tentativa de fazer com que o jogador se comportasse de maneira furtiva, os desenvolvedores adotaram soluções que, postas em prática, se mostram um tanto quanto tediosas e repetitivas. Como você se sente compelido a usar sua arma de longa distância a maior parte do tempo (justificando a palavra “Sniper” no título do game), muitas vezes sua tática de combate vai ser constituída por “atirar, mudar de posição e esperar que os inimigos voltem a seu local de origem”, sequência que será repetida à exaustão até o final da aventura.
Isso acontece devido ao fato de cada disparo de seu rifle despertar a atenção dos inimigos — um segundo tiro faz com que eles tenham certeza exata de sua localização. A exceção se mostra em áreas nas quais há alguma espécie de barulho externo (como um gerador ou alguém tentando iniciar um motor), capaz de mascarar o barulho gerado por seu armamento.
Faltou estudar estratégias de guerra
Um dos motivos pelos quais o game acaba caindo em certa monotonia é o fato de que os inimigos não são exatamente inteligentes, o que não estimula a experimentar na hora de realizar ataques. Mesmo que eles saibam exatamente onde você está, basta correr alguns metros, se esconder e esperar alguns segundos até que seus adversários passem a se comportar como se nada estivesse ocorrendo — mesmo que haja corpos no chão para provar o contrário.
Infelizmente, a situação se mantém inalterada caso você decida apostar no nível de dificuldade mais intenso do título. Nesse cenário, você simplesmente tem que lidar com soldados mais agressivos (leia-se, que acertam tiros com maior precisão) e com um campo de visão maior, algo que não se reflete na necessidade de alterar táticas de combate para sobreviver.
Com isso, a maior dificuldade de Sniper Elite 3 fica por conta da averiguação detalhada dos ambientes necessária para que você possa estabelecer uma tática de combate eficiente. É justamente nesse momento em que o jogo brilha, já que o jogador deve utilizar todas as ferramentas que tem a seu dispor (como a possibilidade de marcar inimigos com o auxílio de binóculos) para não sofrer com as consequências inesperadas de um ataque.
Nesses momentos, é difícil não ficar com a sensação de que você está “organizando um tabuleiro”, decidindo quando e como cada uma de suas peças deve ser removida. Pena que, finalizada essa etapa de preparação, o processo de remover os elementos em jogo se mostre repetitivo e previsível.
Violência pornográfica
Talvez o aspecto que mais incomode em Sniper Elite 3 é o fato de ele apostar muitas de suas fichas nos momentos em que você mata inimigos usando seu rifle de longa distância. Quando isso ocorre, o game entra em modo slow motion, dando destaque à trajetória de sua bala até que ela encontre o corpo adversário.
Nesse momento, o jogador é “brindado” com cenas que lembram muito os movimentos de raio X vistos em Mortal Kombat 9. Com direito a doses massivas de sangue, você consegue ver o interior de seus inimigos, incluindo detalhes bastante gráficos de ossos e músculos se partindo conforme a bala disparada os atravessa.
Embora o impacto causado por essas cenas funcione em um primeiro momento, elas pecam pelo excesso. Depois de ver dezenas de inimigos sendo dilacerados em câmera lenta em um período de poucos minutos, fica difícil entender o fetiche da Rebellion pelo que não pode deixar de ser considerado uma violência sem muito sentido.
Caso essa mecânica entrasse em ação somente em momentos-chave (como ao dar um tiro certeiro em um comandante inimigo, por exemplo), ela poderia manter seu impacto e virar algo memorável — como o momento em que os cachorros pulam pela janela no primeiro Resident Evil, por exemplo. Infelizmente, a maneira como a solução foi empregada se mostra pouco agradável e bastante excessiva — talvez cientes disso, os desenvolvedores incluíram a opção de desligar a qualquer momento a reprodução dessas cenas.
História “qualquer coisa”
Lembra-se de como no início deste texto falei que pouco importava saber a história do personagem principal de Sniper Elite 3? Esse princípio se adapta ao enredo do game em geral, que pode ser totalmente negligenciado sem que haja muitas perdas no processo.
Apesar de o cenário de fundo do jogo ser bastante interessante — e lidar com um ponto pouco explorado pela mídia eletrônica no que se refere à Segunda Guerra Mundial —, seu potencial é desperdiçado pela Rebellion. Em vez de tentar seguir acontecimentos históricos, o jogo opta pela criação de um vilão fictício tão ardiloso e mau que até os próprios nazistas pensam que seus métodos são exagerados.
Assim, não demora muito até que o título abandone qualquer pretensão de seguir à risca eventos históricos e se transforme em uma longa caçada cujo fim ocorre após centenas de mortes. Para completar, não ajuda muito o fato de o protagonista seguir a cartilha do “soldado com cabelo raspado de voz áspera e poucas palavras”, modelo já explorado além do limite pelo universo dos games.
Multiplayer esquecível
Caso você tenha se interessado por Sniper Elite 3 pelo seu modo multiplayer, recomendamos pensar duas vezes. Além de os servidores do game se mostrarem pouco povoados, a maneira como ele lida com partidas competitivas se mostra um tanto quanto “crua” — grande parte disso devido ao fato de o jogo priorizar um ritmo mais lento.
Enquanto modos mais tradicionais como “Deathmatch” e “Team Deathmatch” apresentam um desenvolvimento um pouco caótico (é difícil encontrar quem realmente use rifles como arma principal), opções como “No Cross” — na qual dois times ficam divididos por barreiras insuperáveis — se mostram mais interessantes, embora lentas demais para que resultem em grandes emoções.
Sniper Elite 3 também dispõe de um modo cooperativo, que se mostra o destaque entre as opções multiplayer. Coordenar ataques junto a um amigo se mostra bastante divertido, e o único ponto no qual essa modalidade peca é o fato de ela dispor de uma quantidade muito limitada de mapas.
Vale a pena?
Após ler todas as críticas que fiz a Sniper Elite 3, você deve estar perguntando os motivos pelos quais o game recebeu a nota 70. Tal pontuação foi decidida porque, apesar de ter muitos problemas, o título ainda assim consegue divertir em doses homeopáticas — muito graças ao design de seus níveis, cuja exploração cuidadosa se mostra um processo prazeroso.
O game da Rebellion definitivamente está um passo à frente de seu antecessor, apesar de ainda conservar mecânicas que o impedem de realmente brilhar. Em geral, o título lembra bastante os projetos desenvolvidos pela falecida THQ — embora grande demais para ser considerado “indie”, o jogo não apresenta o nível de polimento comparável a um grande lançamento triplo-A.
No final das contas, Sniper Elite 3 é aquele jogo com o qual você consegue se divertir durante uma ou duas semanas, mas que inevitavelmente vai acabar esquecido em alguma prateleira após certo tempo. Embora adquirir o game não seja um erro, pode ser uma boa ideia só fazer isso mediante o surgimento de algum desconto atraente.
Categorias
- Ambientes abertos e bem construídos
- Explorar cenários de maneira cuidadosa é algo prazeroso
- Inteligência artificial dos inimigos decepciona
- Cenas em câmera lenta perdem rapidamente seu impacto visual
- Táticas de combate priorizam a repetição de ações
Nota do Voxel