Imagem de Sid Meier's Civilization IV
Imagem de Sid Meier's Civilization IV

Sid Meier's Civilization IV

Nota do Voxel
89

Mais do que maduro, Civilization IV mostra todas as suas qualidades.

Diga rapidamente: qual é o jogo de estratégia baseado em turnos mais famoso? A não ser que esteja à parte dos lançamentos pelas últimas 2 décadas, é fácil responder a esta pergunta: a série Civilization, naturalmente. Contando com legiões de fãs, a série conseguiu manter esta posição favorável justamente por nunca ter mudado radicalmente sua mecânica primordial.
As tecnologias, as maravilhas do mundo e a corrida espacial são algumas das características presentes em todas as versões da série, assim como as várias possibilidades de vitória. Colossus, Pirâmides, Apollo entre outros eventos e construções que delinearam o curso da história do Homem já se tornaram pontos marcantes, sendo que a sua retirada talvez defina a extinção dos aficionados pela franquia. Não é o caso aqui, pois o jogo ainda causa uma certa nostalgia, um certo resgate daqueles velhos dias em que uma despretensiosa "máquina 486" rodava Civ.exe (sem suporte ao modo VGA, para quem se lembra do bug) rendendo boas noites sem dormir.

Vários modos para uma mesma jogabilidade

Antes de mais nada, vale dizer que o jogo tem uma instalação rápida, não ocupa muito espaço na memória e tem um patch, disponível desde abril de 2006, que corrige e aprimora diversos defeitos (a 2k games certamente não ousaria manchar este jogo através da indiferença). Quanto à animação inicial, esta não chega a ser estonteante, mas suficientemente boa para comunicar uma coisa apenas: quem está no comando aqui é você, devendo mostrar competências diplomáticas, militares e comerciais para atingir a hegemonia sobre o planeta.

Quanto às opções, não houve mudanças drásticas em relação aos antecessores. Pode-se optar por vários estilos de jogo, tais como: cenário predefinido, com metas e definição de unidades e cidades já feitas; modo play now, em que é possível optar pelas dimensões, tipo de terreno, nível do mar, dificuldade, civilização, etc. e o custom game, onde rapidamente tem-se as mesmas opções de play now com a diferença de escolha da quantidade de inimigos. No total existem 9 níveis de dificuldade, sendo que a partir do quarto uma boa dose de planejamento já se faz necessário.

A partida começa sem recursos, com a tarefa de expandir e evitar combates precipitados. Infelizmente, a opção de rush (ataques rápidos logo nos primeiros turnos) não é bem-vinda, em especial quando existem muitos inimigos. O melhor é construir a cidade no primeiro turno, fortificar e explorar, fazer acordos de paz e expandir. O tutorial cumpre bem o papel de ensinar os primeiros passos, além de introduzir as novidades desta versão, não consistindo apenas em janelas impessoais, afinal o próprio Sid Meier narra e é representado visualmente na tela. Bom para estimular os indispostos, impaciente com o aprendizado.

Dois pontos que chamam a atenção para quem já conhece as outras versões são as mudanças gráficas e a ausência de uma visão panorâmica da cidade. Apesar desta última nunca ter realmente tido um efeito prático na jogabilidade, ajudava a variar um pouco o visual e imergir o jogador na atmosfera de evolução e desenvolvimento. Não é uma falha grave, mas induz o jogo a um atmosfera de xadrez, pouco estimulante portanto. Estão de volta, contudo, as animações que são apresentadas a cada maravilha edificada. Se elas fossem boas, realmente poderiam suprir esta carência de estímulo visual, mas o efeito causado é bastante negativo. Parecem esboços da modelagem das construções quando o jogo estava em versão alfa, e os desenvolvedores tiveram a idéia de se valer disso para economizar tempo e esforços.
Quanto à remodelagem 3D, um ponto muito favorável foi a introdução de múltiplas visões do mapa, variando a profundidade com o rolar do mouse. Às vezes queremos saber quais fazendas, minas e recursos especiais estão próximos às cidades exigindo, neste caso, uma aproximação maior, ao contrário do planejamento e estudo do posicionamento do inimigo, cabendo neste caso aqui uma visão mais ampla.

Interface simples e direta

Para amenizar a ausência da visão da cidade, esta tem o visual modificado constantemente pelas novas obras feitas. As unidades são animadas e, nos ataques, elas realmente adentram no campo inimigo e guerreiam ativamente. Boas novidades que, apesar de não enjoarem necessariamente, tornam a jogabilidade enfadonha pois o foco do jogador, após um determinado tempo, serão os novos lances e não a maneira como o mosqueteiro atira nos pobres peões. Claro que Fireaxis Games teve o bom senso de deixar todas estas opções para o jogador escolher.

Quanto às novidades funcionais, o jogo reserva boas surpresas. Primeiramente, as batalhas se tornaram mais simples, contendo apenas um atributo: a força. Outros fatores, entretanto, contribuem para fazer o jogador arquitetar melhor antes de atacar de qualquer ponto o inimigo. Certas unidades, por exemplo, possuem bônus para defesa em cidades (notadamente arqueiros), ou vantagens em terrenos montanhosos e florestas. Após o ataque, pontos de experiência são concedidos ao vitorioso, que pode aumentar de nível, de modo que determinada característica possa ser acrescentada ou melhorada, tornando cada exército menos genérico, menos descartável.

As cidades possuem fronteiras que se expandem conforme os implementos culturais são feitos. Além do domínio territorial, permitem o acesso a recursos únicos, fundamentais para a construção de unidades-chave para a vitória. Ferro, por exemplo, é um elemento necessário para construir toda a infantaria da Idade Média; urânio, para armamentos nucleares. O acesso a todos eles é praticamente impossível, somando-se no total mais de 30 tipos incluindo metais, alimentos e itens luxuosos como vinho, especiarias e incenso.
O comércio acaba sendo inevitável e o estilo de jogo autônomo levará fatalmente ao atraso. Já que não é permitido entrar em território alheio sem declarar guerra (ou estar em paz), não é possível alcançar recursos presentes nas imediações das cidades adversárias (única exceção para isso são os espiões), reforçando a estratégia de manter tratados de paz.

Esmiuçando mais o aspecto cultural, temos aqui uma das alternativas à vitória através da guerra. Pela construção do coliseu, bibliotecas, jardins suspensos entre outros feitos artístico-culturais, é possível estender a área de influência de uma cidade a ponto de causar uma rebelião no inimigo e admiração pela sua civilização. Nada mais gratificante que receber uma nova cidade sem precisar derramar uma gota de sangue.
Nas batalhas, é importante realçar os transtornos causados por ela para o desenvolvimento, fazendo com que o jogador invista em muita pesquisa e fabricação de unidades em detrimento das construções. O defensor sempre possui bônus e fica mais forte ainda quando derrota um invasor. Quando estão na cidade, acentua-se mais o desequilíbrio. A partir de um determinado momento, catapultas, artilharia, ataques navais e bombardeiros se tornam pré-requisito antes de qualquer invasão. Eles podem fazer ataques à distância, sem entrar em território inimigo, evitando assim desgastes e penalidades.

A religião cumpre um papel importante, dando harmonia ao comércio entre as cidades, além de bônus específicos. Não há motivo para mudanças de religião freqüentes, visto que a Fireaxis games conseguiu equilibrar bem todas elas, não havendo uma superior à outra. Ao fundar uma nova religião, uma unidade profeta especial pode ser gasta conferindo uma das seguintes opções: ouro, construção de um templo único ou aumento das fronteiras. Para conferir esta harmonia, deve-se enviar missionários de uma cidade a outra, convertendo-as, aumentando assim o comércio e diminuindo conflitos causados pelas diferenças de religiões.

Em cada cidade é possível, no decorrer do jogo, estabelecer a população para atividades específicas tais como ciência, cultura e ouro. Além disso, existem as Great Persons, unidades especiais que fornecem tecnologia instantânea, construção ou benefícios numéricos. O jogador facilmente reconhecerá nomes como Albert Einsten, Platão, Isaac Newton entre outros gigantes da ciência, arte ou cultura.

Estratégia em doses maciças


É difícil não se irritar com a resposta lenta das passagens de turnos e das unidades de um modo geral. É claro que, após algumas horas de jogo, não há tanta paciência para se esperar os segundos entre os turnos e, ao acionar a transição, certamente o botão é apertado várias vezes, causando a perda do movimento de algumas unidades. Algumas indicações e linhas textuais na tela estão minúsculas, dificultando a leitura e o acesso. Não há uma opção para acessar a Civilopedia (ajuda contendo a descrição de cada elemento do jogo) através do clique no componente desejado, sendo necessário acessá-la manualmente no menu principal. De modo geral, a compreensão de qualquer dado, seja nas cidades, seja no mapa, é difícil mesmo para quem já está acostumado com os predecessores.

Os gráficos, por sua vez, são totalmente em 3D, possuem ótima qualidade e desempenho excelente, rodando até mesmo em micros mais antigos. Há uma razoável quantidade de opções para mudar a qualidade de texturas, não havendo proveito de tecnologias avançadas tais como Pixel Shader 3 ou HDR Lighting. Porém, espera-se que não tenha sido negligência ou incapacidade dos desenvolvedores, e sim uma escolha técnica (justamente para rodar em configurações de baixo custo).

O apogeu de toda a franquia!


Infelizmente, Civilization costuma ser interpretado de maneira hostil ou apaixonada, não são muitos aqueles que têm paciência para aprender a mecânica do jogo e apreciar todas as horas de diversão que ele tem a oferecer. Outros, por sua vez, adoram-no incondicionalmente, não se importando tanto com questões gráficas e sonoras.
A trilha sonora é muito boa e varia conforme a civilização escolhida. Quando é realizado o zoom a trilha some gradualmente; ao se distanciar, ecoam belos sons da natureza, animais ou do mar. Vale ressaltar a ausência de trilhas apelativas que possam cansar o jogador, fato este perfeitamente possível, afinal o game é altamente viciante, dando vontade de jogar por horas e horas a fio. Portanto, músicas muito presentes logo cansariam os ouvidos.

Além disso, a sonoplastia é adornada de ritmos étnicos e exóticos. Percussões árabes, cítaras orientais e instrumentos de cordas típicos do Japão são alguns dos materiais sonoros utilizados; trechos com vocais empolgantes, que nunca caem no mal gosto ou lugar-comum também marcam presença. Destaque especial para a abertura — épica e peculiar ao mesmo tempo — apresentando perfeitamente o tamanho da emoção do jogo, a importância e os sonhos de uma civilização inteira.

Enfim, Civilization IV reúne de maneira especial todas as características marcantes da franquia: bons gráficos, trilha sonora de qualidade e jogabilidade que prima pela cautela e planejamento. Para aqueles que nunca experimentaram, recomenda-se uma tentativa, pois o jogo que já era maduro chegou à sua melhor forma nesta quarta edição!
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