O ano de 2015 marcou a ressurreição dos jogos de rally com uma pegada mais séria no gênero de corrida. A Codemasters deu o pontapé inicial com DiRT Rally, mas um dos títulos mais expressivos que pegou carona nessa onda foi, sem dúvidas, Sébastien Loeb Rally Evo, desenvolvido pelo estúdio italiano Milestone.

Apesar de os jogos dos caras não serem tão conhecidos do lado de cá do Atlântico, eles ganharam espaço recentemente por sua retomada relativamente bem-sucedida da franquia oficial da MotoGP, o mundial de motovelocidade, e também pelo lançamento de Ride, outro jogo de motos que desembarcou aqui nas Américas.

No entanto, a história da produtora também envolveu o mundo das quatro rodas em terrenos acidentados e escorregadios: eles eram os responsáveis pela série WRC: FIA World Rally Championship, outra série oficial, desta vez do campeonato mundial de rally. A relação, que começou em 2010, terminou em 2013 com o lançamento de WRC 4. Depois de um hiato de três anos, eles decidiram voltar a trabalhar com o mundo do rally, lançando o Sébastien Loeb Rally Evo.

O game é batizado e tem a chancela de ninguém menos que o próprio Sébastien Loeb, nove vezes campeão – de forma consecutiva, diga-se de passagem – e visto como o piloto mais bem-sucedido em toda a história da categoria. Como os próprios desenvolvedores falaram: "A característica mais marcante de Sébastien Loeb Rally Evo é o próprio Sébastien Loeb".

É claro que um jogo bom não depende de Loeb, mas sim da desenvolvedora, mas não dá para negar que os pitacos de um cara com o currículo dele acabam criando uma grande expectativa sobre o resultado final. Será, então, que os nove títulos e a vasta experiência do piloto se traduzem em um jogo bom? É hora de conferir.

Menos simulação, mais entretenimento

Embora o pessoal da Milestone tenha falado que Sébastien Loeb Rally Evo era um jogo voltado para aqueles que buscam uma jogabilidade desafiadora e imersiva – ou seja, uma simulação –, o resultado final não é bem esse: trata-se de um jogo que flerta pouco com a realidade e mostra uma jogabilidade mais mansa. É como um semissimulador (ou "simcade"), no estilo Gran Turismo e Forza Motorsport, só que na terra.

Mesmo com as assistências desligadas e oferecendo um desafio considerável, o jogo não chega a ser extremamente punitivo. É claro que com um volante a experiência fica bem mais rica, mas com o controle ela também é bem divertida, mesmo que demore um tempo até você se habituar com ela.

Vale ressaltar que, caso você jogue a versão do PC e tenha um volante diferente dos mais comuns no mercado, como o Logitech G27, é bom se preparar para alguns problemas de compatibilidade que podem ocorrer.

O jogo consegue passar bem os diferentes feedbacks de acordo com a superfície em que você está correndo e os tipos de carro, ajudando você a compreender de forma progressiva como cada estilo "funciona". Para quem quer entrar de cabeça no game, as dificuldades maiores demandam familiaridade com acertos e ajustes – mas nada mandatório nos níveis mais fáceis.

As extensivas assistências que podem ou não ser utilizadas, de acordo com a preferência do jogador, facilitam bastante e tornam Sébastien Loeb Rally Evo relativamente "tranquilo" para ser experimentado em sua plenitude até mesmo por quem não é lá muito próximo do rally e só passou perto com títulos mais "arcade", como DiRT 2.

Há possibilidade de adequar a dificuldade de seus oponentes e a própria jogabilidade para a forma que quer jogar, e isso é algo valioso para tornar o game acessível para um número maior de pessoas.

Carreira meteórica

Outro aspecto que reforça o ar de "entretenimento" de Sébastien Loeb Rally Evo são os modos de jogo. O tradicional modo carreira oferece corridas tanto no formato de estágio como em outros estilos de corrida, como rallycross e suas variáveis, que incluem um modo de obstáculos e outro de eliminação. Um sistema de reputação também permite que você corra em eventos especiais que vão te ajudar a alcançar o posto de melhor piloto.

Existe a possibilidade, no entanto, de reviver os grandes momentos da carreira offroad de Loeb na pele do próprio piloto: são 27 eventos em que você joga com os mesmos carros que ele usou, nos mesmos eventos – tudo com registros ricos e muito interessantes sobre a história dele e, consequentemente, da própria categoria, a maior parte narrada pelo próprio Sébastien Loeb.

O progresso no jogo tem um bom ritmo, não sendo muito cansativo e também não entregando todo o conteúdo de bandeja para o jogador. Para cada categoria de carro, existe um tipo de campeonato diferente que é composto por corridas nos mais variados tipos de superfície.

São mais de 300 km em trajetos espalhados em locais conhecidos no mundo do rally, como País de Gales, Suécia, Finlândia e Austrália, cada um com uma característica bem peculiar em seus trajetos.

Uma coisa que ajuda bastante na variedade dos estágios é o clima: a chuva pode influenciar de forma substancial no comportamento do carro, e você precisa se "reprogramar" para pilotar.

Para desbravar essa quantidade toda de trajetos, você tem à disposição 58 carros divididos em 11 categorias, que vão desde os clássicos da década de 70 até o Peugeot 208 T16 utilizado por Loeb para estabelecer o recorde que permanece até hoje na histórica subida de Pikes Peak em 2013 – evento que, claro, está no jogo. Além de poder mexer nos acertos e ajustes do veículo, o título permite que você customize a pintura de seus carros, como se você tivesse sua própria equipe.

Enquanto a grande maioria dos veículos pode ser comprada com os créditos do jogo, alguns modelos especiais só são destravados depois que você participa de corridas específicas, a maioria delas sendo os eventos especiais do modo carreira – o que significa que você tem um ótimo motivo para continuar jogando.

Acelerando em grupo

Sébastien Loeb Rally Evo conta também com um modo multiplayer muito interessante para um jogo de rally que, supostamente, sofreria com as limitações no formato da categoria. Isso porque é possível correr os estágios contra outros jogadores de forma simultânea, em que eles são representados por "fantasmas" na pista e permitem que você tenha uma noção de seu progresso em relação aos competidores. Além dessa bem-vinda adaptação, o jogo conta com o multiplayer no estilo rallycross, que lembra mais uma corrida tradicional, com todos os carros no mesmo circuito.

É importante reforçar que é mais fácil encontrar parceiros para a jogatina online nos consoles do que no PC, plataforma que, apesar de contar com um grande número de entustiastas por simuladores de corrida, parece não ser a mais popular para o Sébastien Loeb Rally Evo.

Escorregadio para os olhos e ouvidos

Um dos pontos que sempre foram apontados em jogos anteriores da Milestone é com relação à parte audiovisual. Embora os gráficos não sejam necessariamente ruins, eles também não são nada dignos de destaque. Algumas texturas não são tão caprichadas assim, e o título apresenta quedas de FPS significativas, principalmente no PC.

Os cenários não fazem feio, mas os carros acabam sofrendo com alguns interiores pouco detalhados e que não seguem a mesma qualidade do mundo fora do cockpit. Os modelos externos dos carros, no entanto, são bons – mas, novamente, a qualidade não chega a impressionar.

A mesma sensação de "nem tão bom, nem tão ruim" acontece na parte de áudio: os sons e efeitos convencem, mas poderiam ser mais bem trabalhados de alguma forma.

Até mesmo a parte das instruções do copiloto carece de maiores detalhes, com informações importantes sobre cortar ou não uma curva, posicionamento em saltos e coisas que podem ajudar (e muito) a ser mais rápido ou evitar um acidente que pode comprometer sua corrida.

Uma experiência digna de nove títulos?

Sébastien Loeb Rally Evo é um jogo que tem uma proposta muito ambiciosa, traz uma grande variedade de conteúdo, especialmente trajetos e carros, além de dar a oportunidade de o jogador e os fãs de rally viverem a história do maior campeão da categoria. É um pacote no mínimo promissor – mas que não consegue fazer o suficiente para ser o melhor.

O principal problema do título é que ele fica no meio termo em praticamente todos os aspectos: gráficos não são ótimos, mas também não são ruins. A jogabilidade não é simulação, mas também não é arcade. Os sons são convincentes, mas poderiam ser melhores.

Parte disso acaba sendo compensada por um modo campanha com um bom ritmo de progressão, um estilo de jogo que permite que os mais casuais se divirtam e um modo multiplayer interessante.

Entretanto, o Sébastien Loeb Rally Evo também sofreu porque seu principal concorrente, DiRT Rally, subiu consideravelmente o nível de qualidade para o gênero e o título da Milestone, mesmo não sendo ruim, não conseguiu alcançar.

Apesar de a desenvolvedora afirmar que se trata de um simulador, não é o caso – mas isso, ao contrário do que parece, não é ruim: para os jogadores casuais que gostam de rally, ou que querem experimentar um pouco da experiência offroad, ele é uma das melhores opções disponíveis.

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