Scott Pilgrim vs. The World: The Game resgata o querido beat 'em up
Scott Pilgrim vs. The World: The Game — Complete Edition finalmente está de volta! O jogo foi alvo de muita controvérsia depois que a Ubisoft, desenvolvedora e detentora de seus direitos digitais, simplesmente removeu das lojas digitais as versões originais lançadas em 2010, deixando os jogadores "rendidos" e sem opções para jogá-lo além da pirataria.
Essa medida colocou em xeque a ideia de um futuro totalmente digital para os video games, já que evidenciou a forma como todo e qualquer título poderia ser removido dos consoles sem aviso. Após anos de cobrança e pressão, finalmente a Ubisoft relançou o jogo para PC, Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One e Stadia. Confira o que achamos dele em nossa análise completa a seguir.
Scott Pilgrim contra o tempo
Quando a versão original de Scott Pilgrim vs. The World: The Game foi lançada, os video games de beat 'em up viviam uma fase bem diferente da atual. Depois de viver a era de ouro nas décadas de 1980 e 1990, o advento das novas tecnologias e dos hardwares com jogos em 3D acabou deixando esses "jogos de pancadaria" meio de lado, com raríssimas tentativas de reacender o interesse do público (dentre as quais a maioria foi incapaz de alcançar grande repercussão).
Até mesmo a esfera de influência dos nerds na cultura pop ainda não tinha chegado ao mesmo nível de grandeza que temos hoje, quando os filmes de super-heróis dominam o cinema mainstream, e pessoas de todas as idades moldam e definem as suas identidades ao redor de referências nerds "sem vergonha de serem felizes".
Então, quando Bryan Lee O'Malley lançou os quadrinhos originais de Scott Pilgrim, sua obra ressoou e foi abraçada por um público totalmente diferente. Na época, o público via referências como o nome da banda Sex Bob-Omb e sabia que o autor estava falando diretamente com aqueles que ainda não se viam na grande mídia — uma parcela de consumidores ainda extremamente carente de representação.
Por mais legal que seja ter o jogo de volta, ele está bem mais bugado do que o original.Fonte: Ubisoft
Nesses 10 anos até o relançamento do jogo, aconteceram muitas mudanças. Autointitular-se "nerd" passou a ser algo bem-visto tanto na mídia como nas escolas, e os jogos beat 'em up, mesmo que ainda longe das glórias de outrora, voltaram a ostentar lançamentos muito bem-recebidos pelos fãs e pela crítica, como os ótimos River City Girls, Battletoads e Streets of Rage 4. E como fica Scott Pilgrim nessa nova realidade? Infelizmente, não tão bem quanto a minha memória esperava.
Bugs e glitches atrapalham os bons combates
Mecanicamente, o jogo ainda é decente o bastante, embora a nova versão sofra de diversos bugs que não existiam no original ou foram consideravelmente agravados durante o processo de port. Não é incomum que as hitboxes dos inimigos sejam descalibradas e falhem em registrar acertos claros e, em alguns casos, o game pode até sofrer com travamentos completos.
Em diversas fases, eventos que deveriam fazer a progressão pelo nível continuar não são ativados, e a entrada em algumas lojas pode exigir dezenas de tentativas até o jogador finalmente conseguir se situar no exato pixel que registra a sua posição corretamente. Pior ainda, ocasionalmente é possível esbarrar em inimigos invisíveis e sofrer dano injustamente graças aos gráficos que não carregaram direito.
É uma pena ter que lidar com esses problemas, já que o resto do sistema de combate e progressão de personagens é divertido o bastante para engajar qualquer fã de beat 'em up. Quanto mais inimigos são mortos, mais pontos de experiência são conquistados, que, por sua vez, fazem subir de nível e liberam novos movimentos.
É necessário derrotar todos os ex-namorados da Ramona, cada um deles é dono de poderes únicos.Fonte: Ubisoft
No começo, o gameplay é bastante limitado, já que o jogador nem consegue acertar os inimigos caídos no chão, mas em poucos minutos é possível construir um farto arsenal de golpes, que vão desde agarrões até voadoras que permitem quicar na cabeça dos rivais, o que é especialmente legal considerando a boa variedade de lacaios e chefões que o aguardam.
"Pão engorda?!"
Dependendo do nível de habilidade e de qual nível de dificuldade for escolhido para começar (há três opções iniciais para escolher), zerar o jogo pode exigir um pouco de grinding. Isso acontece porque, embora o gamer tenha continues infinitos, conta com apenas três vidas para passar do jogo inteiro. E, a cada nova fase, todas espalhadas por um hub bem no estilo de Super Mario World, os inimigos ficam mais fortes.
Então, a tendência é que lá pela quarta ou quinta fase os rivais já comecem a parecer um pouco com "esponjas de dano". Os ataques deles já não funcionam mais tão bem, a não ser que sejam revisitados os níveis anteriores para fazer compras nas lojinhas e se aprimore os atributos passivos, como força e defesa. Isso cansa e tira um pouco o ritmo do jogo.
Por sinal, é decepcionante saber que a Complete Edition que dá nome ao relançamento diz respeito apenas à adição dos personagens Wallace Wells e Knives Chau, ambos DLC do jogo original, que agora se unem a Scott, Stephen, Ramona e Kim para completar o elenco de seis personagens jogáveis.
O jogo fica bem mais divertido se jogado cooperativamente.Fonte: Ubisoft
Como é necessário aprimorar individualmente os atributos de cada um deles, leva muitas horas até ter um elenco com força máxima. Essa repetição fica bem mais fácil de digerir se houver dedicação a jogar cooperativamente com mais três amigos ao mesmo tempo, o que pode ser feito tanto localmente como online. Como de praxe no gênero, a pancadaria fica bem mais divertida existirem aliados.
Sonzeira e visual caprichados
Se há 2 departamentos nos quais o jogo brilhava há 10 anos e ainda continua impecável são nas suas incríveis trilha sonora e direção de arte. Os modelos de personagens são extremamente fiéis ao traço de Bryan Lee O'Malley nos quadrinhos, e todo o mundo ao seu redor emula muito bem a "versão videogamística" de Toronto (Canadá) que o autor idealizou.
Mas o verdadeiro atrativo, que quase vale a compra do jogo por si só, é o trabalho fora de série que a banda Anamanaguchi fez. O grupo americano que mistura chiptune com indierock, nintendocore e rock eletrônico compôs todas as faixas da trilha sonora; portanto, cada fase brilha com identidade própria e melodias marcantes, dando até vontade de parar de jogar só para ficar curtindo a sonzeira!
Veredicto
Scott Pilgrim vs. The World: The Game — Complete Edition continua sendo um bom jogo de beat 'em up e sem dúvidas é ótimo poder jogá-lo mais uma vez! Ainda que cobrar novamente pela sua aquisição, até de quem já possuía o jogo original, seja uma prática questionável, quem fizer isso vai curtir uma trilha sonora primorosa, ótimos gráficos fiéis ao traço de Bryan Lee O'Malley e bastante diversão multiplayer (ao menos enquanto não houver sofrimento devido aos ingratos bugs e glitches). Para fãs do gênero ou dos quadrinhos, não tem erro!
"Scott Pilgrim vs. The World: The Game é a volta do beat 'em up que nunca deveria ter parado de ser vendido."
Pontos positivos
- Trilha sonora animal da banda Anamanaguchi.
- Multiplayer muito divertido online e offline.
- Várias referências engraçadas.
- Arte fiel ao traço de Bryan Lee O'Malley.
Pontos negativos
- Muitos bugs e glitches.
- Design já ficou um pouco datado.
- Dificuldade inconstante.
- Sem extras ou adições dignas de nota além dos pequenos DLC originais.
Nota: 80
- Trilha sonora animal da banda Anamanaguchi
- Multiplayer muito divertido online e offline
- Várias referências engraçadas
- Arte fiel ao traço de Bryan Lee O'Malley
- Muitos bugs e glitches
- Design já ficou um pouco datado
- Dificuldade inconstante
- Sem extras ou adições dignas de nota além dos pequenos DLC originais
Nota do Voxel