Saints Row: The Third Remastered é um brinde à diversão escrachada
Muitos jogadores consideram a franquia Saints Row uma mera cópia de Grand Theft Auto. Eu costumo dizer que Saints Row é apenas uma alternativa descompromissada ao icônico jogo da Rockstar, já que a franquia sempre abriu mão da densidade narrativa em prol da diversão descerebrada.
A versão original de Saints Row: The Third, lançada no final de 2011 para PS3, Xbox 360 e PC, acentuou a filosofia de “não se leve tão a sério” herdada dos 2 títulos anteriores. É bem provável que você não lembre, mas, no longínquo ano de 2012, The Third arrancou um sólido 80 na análise do Voxel, tendo os fatores diversão, sistema de personalização robusto e humor bizarro como os principais pontos positivos.
Fonte: Voxel
Revelado em abril deste ano e lançado em maio, Saints Row: The Third Remastered é o primeiro game verdadeiramente repaginado da série – afinal, Saints Row IV: Re-Elected foi apenas um port com todos os conteúdos adicionais. Se você anseia pela chegada do quinto título, o remaster é uma ótima opção para fomentar o hype e pode ser seu melhor passatempo até lá. Prossigamos.
Doses de testosterona
Desenvolvido pela Volition e publicado pela Deep Silver, Saints Row: The Third talvez seja o único jogo no qual é possível ter o corpo escultural de um fisiculturista, andar nu e ter algum objeto sexual como arma. É meio doido, na verdade, mas é real. O game traz um senso de humor agressivo cuja grande virtude é satirizar de forma descomedida os maiores clichês do final dos anos 2000.
Fonte: Voxel
Assim como em qualquer outro jogo da franquia, o pano de fundo serve como pretexto para apresentar uma jogabilidade em terceira pessoa, aberta, simples e funcional. As mecânicas são todas voltadas para que o jogador seja capaz de instaurar o caos sem grandes esforços, ou seja, há armas, veículos e munição aos montes.
A narrativa, aliás, acompanha a leveza do gameplay mais arcade e explora a temática urbana como ninguém, sem seriedade. O objetivo do grupo Third Street Saints, ao qual seu personagem pertence, é assumir o controle da cidade de Steelport, um local inspirado nos principais centros urbanos dos Estados Unidos, como Nova York e Pitsburgo.
Fonte: voxel
Prepare-se para participar de dezenas de missões politicamente incorretas, com foco em conflitos entre facções, furto de veículos e muitos tiroteios desenfreados. Há, por exemplo, uma missão em que o seu personagem deve atropelar o maior número de pedestres possível para manter o nível de empolgação do passageiro ao lado lá no alto.
Conforme acumula dinheiro por meio de atividades no mapa, você pode comprar estabelecimentos pela cidade para elevar o nível de respeito da gangue e, por consequência, ampliar o domínio dos Saints na área (o pessoal do seu bando). O ciclo de roubos, invasões de bases e aquisições de propriedades é um convite para que o jogador se dedique por dezenas de horas ao universo deturpado e caótico que The Third procura ofertar a cada nova atividade.
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O pacote ainda é robustecido pela inclusão dos 3 DLCs de história, cada qual com troféus e pontos individuais, isto é, separados da lista do jogo base, além de trazer os mais de 30 itens cosméticos, incluindo roupas, veículos, armas e visuais da gangue. O meu conteúdo extra favorito, o Gangstas in Space, serviu como uma prévia para Saints Row IV, só que ninguém sabia disso na época.
Limitações? Algumas
Apesar das qualidades, o game já não tem o mesmo impacto de antes e pode não ser tão convidativo a marinheiros de primeira viagem. O mapa de Steelport, embora seja um generoso parque de diversões, é minúsculo em comparação a outros jogos recentes de mundo aberto – ainda mais se você estiver com um tal de GTA V fresco na memória.
Fonte: Voxel
As missões secundárias também envelheceram e caíram na repetição, ainda que a infinidade de coisas para fazer satisfaça o jogador. A dirigibilidade, por sua vez, que funcionou bem à época, já está um tanto obsoleta e não foi polida nem modernizada. Confesso que dirigir veículos terrestres com precisão é uma tarefa árdua, especialmente quando se está com os mais potentes.
É necessário ter pleno domínio do freio de mão para manter o controle, uma vez que pressionar o gatilho (botão padrão de frear) não é suficiente para impedir o carro de percorrer a pista como um sabonete. Talvez eu esteja apenas mal acostumado depois de experimentar games mais modernos da atual geração.
Fonte: Voxel
Visual autêntico
Já faz um tempo desde a minha última visita à cidade de Steelport no Xbox 360. Nove anos depois, é surpreendente ver o quanto ela mudou. O remaster cumpre bem o papel de reconstruir a parte visual, agora mais vistosa aos olhos atuais, sem modificar a essência do material de origem em questão de gameplay.
A repaginação gráfica ficou a cargo do estúdio Sperasoft, parceiro da Volition em outras ocasiões. A demanda de trabalho deve ter sido alta, tendo em vista que armamentos e veículos foram remodelados, além do notável redesenho de grande parte da cidade. Segundo o estúdio, mais de 4 mil assets foram devidamente atualizados, o que se traduz em uma experiência mais, digamos, condizente com a geração do PS4 e Xbox One.
Fonte: Voxel
O que mais se destaca em relação à versão de Xbox 360 e PS3 é o sistema de iluminação, considerando que há um mecanismo dinâmico para conceber luzes e sombras. De dia, a luz solar reflete em prédios e promove um senso maior de profundidade aos ambientes; de noite, os letreiros em neon, que são decorações essenciais a qualquer metrópole norte-americana, enaltecem o glamour de Steelport.
Isso sem contar que modelos e visuais de personagens foram melhorados, e os cenários têm novas texturas. The Third traz suporte à tecnologia HDR, o que faz toda a diferença na hora de equilibrar cores claras e escuras, e ainda roda na gloriosa resolução 4K por meio de upscale no Xbox One X e PS4 Pro (a resolução nativa é 1440p). Confesso que fiquei surpreso com as novidades estéticas, embora haja elementos do cenário brotando do chão em certos momentos. Como tudo é uma grande zoeira, as falhas técnicas até passam despercebidas.
Fonte: Voxel
Veredito
Não há como negar que o tempo foi um pouco injusto com Saints Row: The Third. Apesar de a estrutura ser um tanto antiquada para os padrões atuais de mundo aberto, ele ainda é um ótimo game que preza pelo que realmente interessa ao fã: diversão escrachada.
Trata-se de um remaster feito com carinho, capaz de cumprir o propósito nostálgico, mas que não oferece novidades em termos de mecânicas. Encare-o como um bom aperitivo até a iminente chegada do quinto título.
Saints Row: The Third Remastered foi gentilmente cedido pela Deep Silver para a realização desta análise.
Categorias
- Novos modelos de personagens, veículos e armamentos
- Mecanismo de iluminação sustenta o visual repaginado
- Contempla todos os DLCs num mesmo pacote
- A diversão escrachada não tem prazo de validade
- Tiroteio continua prazeroso
- Sistema de direção desengonçado
- Missões repetitivas e extensão do mapa funcionaram bem à época, mas hoje nem tanto
Nota do Voxel