Deixando até os mais saudosistas com um sorriso no rosto
A segunda metade de Resident Evil: Revelations 2 tem uma missão difícil: iniciar o fechamento de uma história que parece bem encaminhada, mas que pode virar um desastre se mal concluída. Cabe a “Julgamento”, o terceiro capítulo, provar que vale a pena seguir a série de games até o final.
A revelação de que Alex Wesker é a vilã pegou todos de surpresa: ela é a remanescente de um antigo projeto da Umbrella para criar a “raça humana superior”. Tecnicamente, é como se fosse uma “irmã” de Albert Wesker, pois eles dividem o sobrenome (homenagem a um dos geneticistas originais da empresa de bioterrorismo) e até as ambições, porém não há qualquer laço familiar.
Mesmo sabendo quem é a antagonista, o jogo ainda deixa muitas perguntas a serem respondidas. Os mistérios da ilha, de seus habitantes e do vírus T-Phobos ainda não acabaram, e cabe a Claire, Moira, Barry e Natalia descobrirem que tipo de plano a vilã planeja executar – sabendo que ela é uma Wesker, o que só torna as coisas ainda mais interessantes. Abaixo, confira a análise do BJ.
Princípio do fim
O capítulo continua exatamente de onde o segundo terminou. Agora, Claire e Moira não querem somente sair da ilha: elas precisam achar Natalia, que foi aparentemente sequestrada, e Neil, líder da Terra Save que ficou para trás para ganhar tempo na fuga das colegas. Elas são levadas a uma fábrica abandonada e cheia de mistérios e quebra-cabeças, além de encararem um esgoto. Esse cenário específico costuma ser o mais entediante de qualquer jogo de ação ou aventura, mas aqui é bem desenvolvido e não passa a sensação de tédio.
Do lado de Barry, a cena bombástica do final de “Contemplação” termina de forma rápida e anticlimática demais, mas permite uma boa evolução na relação entre ele e Natalia. A dupla fugiu do ataque da vilã e foi parar no mesmo esgoto que as duas outras protagonistas (mas separados por seis meses, lembre-se), além de terem que passar por uma pedreira abandonada.
“Julgamento” é carregado de diálogos mais intensos sobre a relação entre Barry e Moira — o papel entre pais e filhas é o cerne de todo o capítulo. Finalmente ficamos sabendo o que aconteceu para separar a família Burton, e relances do passado de Natalia e Alex são revelados, só para citar alguns exemplos.
O feitiço do tempo
A principal reclamação de quem comprou os episódios avulsos de Revelations 2 é a duração de cada capítulo: você termina as campanhas semanais de Claire e Barry em no máximo quatro horas e precisa aguardar sete dias por mais. Em “Julgamento”, não é bem assim.
Trata-se do capítulo mais longo do jogo até aqui. A quantidade de enigmas a serem resolvidos e salas a serem exploradas, além dos mapas maiores, fazem com que o jogador perca (não em um sentido negativo!) bem mais tempo aqui do que em “Colônia Penal” e “Contemplação”.
Puzzles: não é o ideal, mas é o que tem
Quem reclamava da ausência de puzzles com um mínimo de dificuldade ou necessidade de raciocínio terá os pedidos parcialmente atendidos. Explicamos: durante o trecho da campanha com Claire, que se passa inicialmente em uma fábrica abandonada, há alguns quebra-cabeças que precisam ser resolvidos para que você obtenha uma chave, ganhe acesso a uma determinada porta ou desative um esquema de segurança.
Para isso, você precisa ler documentos espalhados pelo mapa, prestar atenção no teto e nas paredes e analisar atentamente cada possibilidade. A interação entre os personagens também é ampliada: no single player, você é obrigado mais do que nunca a alternar entre as duplas para passar por certos obstáculos. No cooperativo offline, a comunicação com o parceiro se torna mais importante.
Ao mesmo tempo, entretanto, há algumas facilidades ao jogador que poderiam ser deixadas de lado: alguns puzzles são difíceis e até causam mortes acidentais por conta das armadilhas, mas há quase sempre uma pista bem dispensável que faz você matar a charada na hora. Um bom exemplo é a sala de lasers: pegadas luminosas que não deveriam estar ali guiam você exatamente até o lugar correto.
A tão aguardada diversidade
A partir do ponto da história de “Julgamento”, os mesmos cenários não serão mais revisitados por Claire e Barry, ao menos integralmente. Esse é um dos pontos positivos do episódio: os mapas dos dois personagens são bem diferentes entre si, exceto pequenas coincidências de caminhos, fazendo com que ambas as campanhas sejam igualmente inéditas e reveladoras para o jogador. Os gráficos continuam não sendo um primor, mas o visual se torna diversificado e, por isso, agrada. A parte sonora permanece um dos maiores destaques de todo o jogo.
Claire agora enfrenta um chefe de verdade, que exige estratégia para ser batido e pode consumir quase toda a sua munição. Barry encara um novo desafio que possui um ponto fraco evidente, porém é resistente e perigoso.
Um pouco mais de profundidade
O responsável pelo roteiro de Resident Evil: Revelations 2 é Dai Sato, mesmo escritor de Resident Evil: Revelations e alguns episódios do anime Cowboy Bebop, fora outros trabalhos. Até agora, ele mostra que deveria continuar na franquia: a trama é muito bem interligada com games anteriores, há referências por todos os lados e até algumas histórias bem tristes são contadas, como a do velho combatente russo que procura pela filha, Irina.
Ainda assim, alguns elementos não foram bem aproveitados. O personagem Neil, por exemplo, é essencial para o capítulo, e os diálogos entre Claire e Moira transparecem que ele é um homem importante e virtuoso. As rápidas aparições do personagem, entretanto, não aprofundam isso — e algumas de suas ações se tornam injustificadas dentro do game justamente pela falta de explicações.
Vale a pena?
Terceiro episódio de Resident Evil: Revelations 2, o capítulo “Julgamento” é disparado o melhor do game até o momento – e olha que o nível dos anteriores não é nada baixo. Muitos dos elementos que os fãs da franquia adoram foram concentrados aqui. Só na campanha de Claire e Moira, você encontra puzzles, revelações bombásticas, criaturas variadas, cenários grandes que envolvem idas e voltas e uma boa e velha contagem regressiva, fora um chefe gigante cheio de mutações.
Continuo batendo na mesma tecla: esse Resident Evil não é um resgate ao passado da série e isso não vai acontecer novamente tão cedo. Ainda assim, pelo que ele se propõe, o trabalho é cumprido com louvor: há puzzles, embora não tão criativos e difíceis; há tensão, embora sem corredores curtos e escuros; e há um roteiro coeso e intrigante (com um final de capítulo bombástico novamente, claro!).
A duração do episódio é muito maior do quea dos anteriores. Isso faz com que quem comprou o game por volumes finalmente se sinta satisfeito com um único episódio. Há ainda mais tempo para trabalhar a troca de personagens e o modo cooperativo, sem contar mapas bem distintos. Aliás, a diversidade e o tamanho dos cenários é outro ponto positivo: a evolução é notável de “Colônia Penal” e “Contemplação” para cá.
Os pontos negativos permanecem: não foi detectado um erro grosseiro de tradução, mas ela ainda não agrada, enquanto os gráficos não chegam perto de algo da nova geração. Além disso, alguns pontos da trama são pouco desenvolvidos e trazem a sensação de que o roteiro é profundo em alguns trechos e superficial em outros.
De qualquer forma, os fãs devem deixar a nostalgia de lado e julgar Resident Evil: Revelations 2 com os olhos voltados para a modernidade. Games como Resident Evil Remaster HD existem para que os veteranos matem a saudade do estilo antigo da série, enquanto Revelations é a progressão natural (e que é cada vez mais bem aceita) da saga.
Categorias
- Duração bem superior à dos demais
- Puzzles no bom e velho estilo Resident Evil
- Dificuldade em bom nível para todos os jogadores
- História entrelaçada com a franquia
- Algumas “facilidades” ao jogador
- Falta desenvolvimento aos coadjuvantes
Nota do Voxel