Como se fosse a primeira vez
Alguns clássicos são sempre bem-vindos, ainda que sejam reincidentes na lista de lançamentos. Afinal, se jogos como Final Fantasy VII já foram relançados quase uma dúzia de vezes com leves alterações, por que não dar mais uma chance ao excelente remake de Resident Evil — que até agora só estava disponível para os usuários de Game Cube e Wii?
O sucesso do Resident Evil original (1996) foi tanto que seu remake surgiu apenas seis anos depois, aperfeiçoando seu visual e corrigindo alguns momentos bem constrangedores como as cenas live-action de gosto duvidoso e a dublagem tão vergonhosa que nunca foi creditada oficialmente. Além disso, novas cenas, áreas e subtramas foram adicionadas à segunda versão do game, tentando expandir a experiência do pouco ambicioso projeto original.
Agora, após anos de clamor vindo da comunidade de fãs, o remake finalmente chegou ao PC e aos consoles Xbox e PlayStation. Nossas impressões sobre essa versão recauchutada, você confere logo a seguir.
Aos iniciantes, o básico
Resident Evil — ou Biohazard, se preferir — acontece inteiro dentro de uma gigantesca mansão — supostamente — abandonada na floresta próxima à cidade de Racoon. Um grupo de oficiais das Forças Especiais S.T.A.R.S. vai ao resgate da equipe Bravo, recentemente desaparecida no local — como contam os eventos de Resident Evil 0.
O resto já é de conhecimento geral: a casa está cheia de zumbis de procedência misteriosa e monstros terríveis gerados através de experimentos genéticos. Você precisa escolher se vai controlar Chris Redfield ou Jill Valentine para descobrir os mistérios por trás da mansão, resolver puzzles, sobreviver e dar o fora de lá.
Imagem é tudo
Além da democratização de plataformas, a razão de Resident Evil HD Remaster existir está nos gráficos e mecânicas atualizadas para o padrão dos dias atuais. O PC, neste caso, leva a melhor. Oferecendo a opção de 60 quadros por segundo e resolução de até 1920x1200. É possível também ativar os recursos de antiserrilhamento e sombras detalhadas, se sua máquina for potente o bastante.
Nos consoles da atual geração (Xbox One e PS4), a resolução é de 1080p e 30 quadros, com poucas diferenças em relação ao PC. Já o Xbox 360 e PS3 recebem a versão mais básica, de 720p, mas ainda assim com o aspecto bem superior ao das versões da Nintendo de anos atrás.
Aquele JPEG esticado
O trabalho de restauração nos modelos 3D dos personagens ficou fantástico e dele não há o que reclamar. Rostos expressivos e convincentes deram um considerável polimento no redesign de 2002, com olhos mais vivos, rugas e detalhes que agora ficam mais evidentes. Por outro lado, os cenários, que são imagens estáticas 2D, não puderam ser refeitos e acabaram se mostrando bem datados.
É preciso lembrar que antes Resident Evil 4, a série usava cenários pré-renderizados para oferecer uma qualidade gráfica melhor do que o hardware dos anos 90 podia fornecer. Assim, apenas os modelos dos personagens, NPCs e objetos interativos são processados em tempo real — todas as demais áreas são ilustrações imóveis.
Essas belas imagens concebidas há mais de uma década, durante o desenvolvimento de RE Remake, podem ter se perdido ou simplesmente estavam em qualidade baixa demais para os dias atuais. E é provavelmente por essa razão que alguns ambientes — como o cemitério — apresentam as texturas em baixa resolução e passam a sensação de fotografia estourada.
Versão de 2002, com aspect ratio 4:3
Versão HD Remaster, com aspect ratio 16:9 (widescreen)
Outro desafio que a Capcom teve que enfrentar nesta questão foi converter o aspect ratio 4:3, usado em 2002, para o atual padrão widescreen (16:9). Para isso foi necessário “esticar” as imagens dos cenários — muito possivelmente, foi preciso alterar também a área por onde os personagens podem andar, redefinindo assim aspectos do level design.
"Aí a coisa fica embaçada"
O maior incômodo estético, no entanto, fica por conta das CGIs pré-renderizadas. Enquanto a maioria das cutscenes acontece em tempo real, cinematics clássicas como a chegada à mansão e o encontro com o primeiro zumbi, são apresentadas em qualidade bem ruim. Houve sim um upgrade, como você pode ver no vídeo abaixo, mas o trabalho deixa a desejar e a situação lembra muito a do port de Resident Evil 4 para os PCs em 2006.
Aí surge a dúvida: refazer as cinematics era custoso demais para um relançamento remasterizado ou simplesmente foi impossível recuperar o projeto original? Porque definitivamente causa desconforto a transição de um gameplay com modelos em tão alta resolução para vídeos que parecem terem sido tirados do YouTube na época do pré-HD — situação que afeta principalmente os usuários de PC e consoles da geração atual.
Tanque nunca mais!
Aqueles que viveram bem a geração de 32 bits vão se lembrar que os controles de jogos como Tomb Raider e Resident Evil eram bem diferentes naquela época. O conceito conhecido como “tanque” (ou “tank”) obrigava o personagem a definir primeiro sua direção e depois pressionar o analógico para cima. Isso tornava o gameplay bem mais difícil e às vezes impraticável.
Em HD Remaster, a Capcom teve a feliz ideia de reformular o sistema de direcionais. Em vez da dinâmica travada, agora temos o padrão moderno de movimentação, que responde melhor à dupla de direcionais analógicos dos joypads de hoje em dia.
Vale dizer que a mecânica é mais amigável, mas poderia ser ainda mais. A mira, que naturalmente sofre com a icônica câmera estática, não chega a ser controlada pelo direcional esquerdo, como nos jogos atuais, o que ainda mantém parte do desafio. Contudo, mesmo sem isso, a atualização já é uma ajuda e tanto para aqueles que não estão acostumados ao modelo de movimentação bizarro e obsoleto dos video games antigos.
Jogatina personalizada
É claro que os mais puristas vão preferir os controles tradicionais. E a boa notícia é que eles podem. Controles antigos, controles modernos, aspect ratio 4:3, aspect ratio widescreen... Os desenvolvedores lapidaram o rústico para atrair novatos, mas mantiveram as antigas opções para os graduados da franquia.
É importante dizer também que com essa nova movimentação também ficou mais fácil desviar dos zumbis. Especialmente quando os controles atuais não pedem que você aperte um segundo botão para correr. É só pressionar o direcional e pronto.
Por fim, entre as novidades, a nova versão do título trouxe também duas skins extras. O visual de Jill e Chris visto no DLC de Resident Evil 5 Lost Nightmares está disponível desde o início do jogo, sem a necessidade de completar a campanha para desbloqueá-los.
Vale a pena?
Resident Evil HD Remaster realiza o que poucos relançamentos de jogos do passado conseguem: se manter fresco após alguns retoques. Provavelmente, o jogo não provoca mais tantos sustos quanto a primeira vez, mas o clima aterrorizante da Mansão ainda está lá, assim como a tensão de poder encontrar em cada troca de enquadramento ou corredor um monstro pronto a atacar você.
É obvio que é um game de 2002 e você, caro jogador, vai sentir isso ao se deparar com a dublagem canastrona, as “inovações” que já viraram clichê e o level design antiquado. Afinal, talvez você não se lembre, mas os primeiros games da série, mais do que jogos de horror, eram jogos com forte foco nos puzzles e na exploração. Idas e vindas, reaproveitando um mapa não muito grande — modelo praticamente extinto em grandes lançamentos atuais.
Em seu favor, a remasterização acertou em cheio na atualização da modelagem dos personagens e mudanças de controles — principalmente quando lembramos de versões restauradas como a de Code Veronica X, que em comparação com este jogo parece um simples port.
Resident Evil HD Remaster é bem-vindo não apenas pelos jogadores recém-chegados, mas também por aqueles que não tinha consoles Nintendo e esperaram por anos em jogá-lo.
É verdade que o trabalho de renovação não foi 100%, principalmente nas CGIs e em grande parte dos cenários, e é verdade que se trata de uma “marmita” que já está sendo “requentada” pela segunda vez, no entanto é sem dúvida uma bela refeição.
Categorias
- Modelos dos personagens e NPCs foram belissimamente restaurados
- Novos controles deram um ar de "jogo atual" para o título
- A transição do formato 4:3 para o 16:9 recebeu tratamento de primeira
- Opção de recursos novos e tradicionais nas configurações
- Novas skins
- Cinematics são pré-renderizadas e estão em baixa definição
- Alguns cenários apresentam contraste estourado e texturas em baixa resolução
Nota do Voxel