Gráficos ultrapassados e sistema de controle ridículo depreciam a versão para PC de um dos melhores títulos da série.


Já são mais de 10 anos desde que o primeiro título da franquia Resident Evil foi lançado (originalmente no Playstation 1). Inspirado em jogos como Sweet Home e Alone in the Dark, o jogo redefiniu o gênero survival horror (horror de sobrevivência), no qual você deve sobreviver em meio a ambientes, em sua maioria, tensos e sinistros.

Com muita ação, inimigos assustadores — como zumbis e animais mutantes — aliadas à vasta exploração do cenário e a resolução de inteligentes quebra-cabeças, a franquia conquistou seu público através do terror psicológico que impunha aos seus jogadores.

Duas seqüências vieram em seguida para o Playstation e uma para o PS2, contando com a mesma fórmula e proporcional sucesso. Porém, em 2002, a Sony perdeu a série para a Nintendo, com o lançamento de Resident Evil Zero e Resident Evil (uma versão refeita do primeiro game da série) exclusivo para Gamecube. Pelo que tudo indicava, sua seqüência, Resident Evil 4, teria o mesmo destino.

Contudo, devido às exigências do mercado, Shinji Mikami e a Capcom finalmente concordaram em lançar Resident Evil 4 para o PS2. O resultado foi muito melhor que ambos poderiam imaginar; a versão para PS2 não deve nada à do Gamecube, contando, inclusive, com uma qualidade gráfica semelhante. Com um novo enredo e jogabilidade reformulada, Resident Evil 4 inova a franquia sem deixar de lado os elementos que o tornaram um sucesso.

Não estamos mais no Kansas

A Umbrella Corporation — a famigerada mega-corporação farmacêutica responsável pelo incidente em Racoon City envolvendo armas biológicas — faliu após uma série de ações do governo estadunidense. A trama agora se dá por conta de uma nova ameaça: uma organização de origem desconhecida, da qual participam habitantes de um vilarejo que colocam suas vidas à disposição de Los Illuminados.

Na pele do agente especial Leon Kennedy (protagonista masculino de Resident Evil 2), você terá como missão resgatar a filha do presidente, seqüestrada pela tal organização. Para tanto, Leon viaja até um estranho vilarejo situado em um país europeu, no qual encontra — além de hordas inimigas — velhos conhecidos do agente Kennedy e da franquia RE, como Ada Wong (também de Resident Evil 2) e Jack Krauser.

Leon também contará com a de Luis Sera, um policial de Madri que investiga as ações do grupo Los Illuminados. Ao longo do jogo, Sera ajudará Leon a descobrir como Los Illuminados exercem o controle sobre as mentes dos habitantes do vilarejo.


Mudança de hábito

Desta vez a resolução de elaborados quebra-cabeças perde um pouco o espaço e acaba se focando mais no combate do que na exploração de ambiente. Em vários momentos do jogo você irá se encontrar cercado por uma avassaladora quantidade de inimigos, o que cria um verdadeiro clima de guerra. Mesmo assim, o jogo não deixa nada a desejar no que tange ao clima sombrio e a tensão presente em todos os outros títulos da franquia.

Seus principais inimigos em RE4 não são os letárgicos zumbis, que dão lugar aos Ganados — humanos manipulados mentalmente. Essa mudança de antagonista acaba exigindo muito mais habilidade do jogador, tornando o título mais dinâmico. Apesar dos Ganados parecerem zumbis (como os vistos nas versões anteriores), ao enfrentá-los pela primeira vez o jogador logo se dará conta de que eles são muito mais rápidos e espertos. Diferente dos mortos-vivos, eles correm, utilizam armas e até mesmo falam.

O simples fato da maioria dos seus inimigos apresentarem algum tipo de inteligência e agilidade já torna o jogo mais rápido e com enfoque maior no combate. Uma das principais mudanças que afeta também diretamente este aspecto é a perspectiva da câmera, desta vez sobre o ombro de Leon (espécie de perspectiva em segunda pessoa), e não mais em estilo cinematográfico como nas antigas versões da franquia.

Diferente das versões anteriores — nas quais há apenas a possibilidade de mirar para frente, para cima ou para baixo — em RE4 o sistema mira é livre, sendo que esta é auxiliada por uma guia laser — acoplada em todas as armas do jogo.

Para não ficar sem munição, você também conta com a opção do combate corpo a corpo, usando chutes ou golpes com a faca. A faca não é mais selecionada no mesmo menu que as outras armas, agora esta é ativada independentemente, permitindo maior dinamismo durante o combate. Quando um Ganado se aproxima, pode-se optar também em golpeá-lo usando o botão de ação.

Outra novidade interessante são os controles de contexto — comandos ditados pelo jogo para situações específicas, por exemplo: um gigante persegue Leon, o jogo determina um comando para fazê-lo correr e, ao cair uma coluna a sua frente, determinado comando para fazê-lo desviar o obstáculo.

Ao longo do jogo, Leon encontra — nos locais mais inusitados — um estranho mercador disposto a vender armas, munições, upgrades para armas e outros itens. Para comprá-los, o jogador deve coletar dinheiro e tesouros ao longo de seu percurso, vendendo-os ao mercador. Apesar de não fazer parte do enredo, a presença deste personagem é fundamental em determinadas partes do game, porém é inevitável questionar a ganância do indivíduo, disposto a perambular por um local tão sinistro e repleto de monstro apenas para faturar um extra.

Clima aterrorizante

Além de contar com uma história aterrorizante, RE4 foi completamente desenhado para acelerar o ritmo do mais duro dos corações. O jogo possui cenários e personagens que fazem da trama um verdadeiro filme de terror. Apesar dos gráficos não causarem tanto impacto, o som certamente contribui para a construção de um clima de suspense repleto de horror.

A trilha e os efeitos sonoros são bastante adequados, tornando o clima mais tenso ou mais ameno de acordo com a situação. As vozes dos Ganados, dubladas em espanhol, dão um toque especial acrescentando um clima de “estranho no ninho”, a já aterrorizante atmosfera do game.

O port dos desesperados

Esta versão de RE4, não passa de um simples port (versão adaptada do jogo) do título original para o PS2. Se a maioria dessas adaptações já não apresenta a mesma qualidade observada em seus progenitores, esta edição de Residente Evil 4 certamente estabelece novos padrões para os piores ports da indústria do videogame.

Parece que os responsáveis pela “tradução” do jogo do PS2 para o PC esqueceram as diferenças óbvias entre o console caseiro e os computadores. Se você utilizar um gamepad, você não terá muitos problemas, entretanto o esquema de comandos no teclado é absurdo, pouco intuitivo e extremamente limitado.

Sem qualquer suporte ao mouse, você deverá dominar as teclas W,A,D,S, isso sem contar as outras telas designadas para o seu inventário (I), mapa (M), controle de câmera (setas direcionais), armas de tiro (shift da direita), faca (shift da esquerda), ação (enter) e outras combinações com a barra de espaço ou com as teclas “Ctrl”.

Com tantas possibilidades é praticamente impossível memorizar o que cada botão faz. O pior é que ao longo do título vários minijogos farão o usuário pressionar rapidamente dois ou mais botões, por exemplo: as teclas A e D — movimentando seu personagem para esquerda e direita a fim de se livrar de um inimigo que esteja lhe segurando.

Por fim, os gráficos não apontam nenhum melhora, e realmente parecem saídos diretamente do PS2. Se no console os gráficos 3D eram um destaque em 2005, os usuários do PC, normalmente acostumados com apresentações visuais melhores, não receberam nenhum melhoria em uma edição dois anos mais nova.


Terror psicológico

Mesmo sendo o sexto jogo envolvendo a história principal da franquia, os produtores conseguiram desenvolver um enredo envolvente e aterrorizante. Apesar da ameaça ter ficado por conta de um evento paralelo ao dos seus antecessores, a história é bastante coerente com a série.

A injeção de dinamismo administrada ao título teve um resultado ótimo. A ação tornou-se um elemento muito mais presente no jogo e não raro haverá situações de risco extremo e adversidades complexas. O contraste das emoções é grande; a sensação de calma será subitamente interrompida por euforia e medo. Ponto positivo para o game, pois este elemento, que sempre foi um ponto forte da série, está mais acentuado que nunca.

Resident Evil 4 é diferente dos outros jogos da franquia e suas versões para Wii, PS2 e Gamecube certamente valem cada centavo, entretanto os problemas no sistema de controle e a falta de melhoramento nos gráficos deixam a versão para PC bem atrás de suas contrapartes.

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