Aperte os cintos e embarque na máquina do tempo
Os video games não se resumem apenas a lançamentos com os melhores gráficos do mercado, aos consoles da moda ou a se o seu PC roda tecnologias que respeitam a Física e detalham partículas de luz e poeira. Quem já é veterano na área sabe que a nostalgia é tão importante quanto as novidades — relembrar frustrações por morrer vez após vez, a alegria de zerar um título impossível e virar noites com os amigos buscando a saída de uma caverna.
Rare Replay traz de volta esses sentimentos. A coletânea exclusiva do Xbox One reúne trinta jogos que foram lançados pela desenvolvedora em várias plataformas ao longo dos anos, com vários títulos que se tornaram icônicos e outros que foram esquecidos, mas que fazem parte da biblioteca da marca.
A seguir, você confere o que achamos do pacote como um todo. Ou seja, não espere ver aqui a análise de um dos games em especial.
Direto do túnel do tempo
Você percebe na hora que Rare Replay não é um simples amontoado de jogos. A empresa podia ter optado por uma tela estática com os games lado a lado, mas inseriu uma abertura musical divertida e menus bem feitos, que lembram um teatro ou um hall da fama.
A instalação é um pouco diferente. Os jogos antigos rodam direto do disco ou do game digital e você pode sair de um e voltar ao menu só segurando um botão durante poucos segundos. Só que os títulos originalmente do Xbox 360 precisam ser baixados individualmente, já que operam fora da mídia original e rodam pela retrocompatibilidade do Xbox One.
Entendemos a necessidade disso, mas é um pouco chato baixar ainda mais títulos e ter ainda mais espaço ocupado. Tudo funciona de forma automática, mas você pode ficar irritado por trocar com frequência de jogos e ter que esperar a transição entre os títulos.
Conheça os astros
A seleção de jogos é um pouco controversa. Por um lado, você tem clássicos absolutos, como Battletoads, Banjo-Kazooie e Perfect Dark, que têm qualidade incontestável e divertem até hoje.
Outros não são tão memoráveis assim ou ficaram datados. A maioria deles é mais velha, de quando a Rare ainda se chamava Ultimate Play The Game. É claro que tem gente que gosta e eles fazem parte da história da empresa, mas poucos sentiriam falta de um R.C. Pro-Am II, por exemplo.
Ainda assim, muita gente vai se surpreender com o tempo que vai passar em títulos supersimples, mas que são muito viciantes. Jetpac se resume a você andar pelo cenário coletando peças e combustível da nave, tudo isso enquanto desvia e atira em alienígenas. Tranquilo de dominar, mas quase impossível de vencer sem morrer.
Essa é a lista completa de títulos: Jetpac (1983), Lunar Jetman (1983), Atic Atac (1983, Sabre Wulf (1984), Underwurlde (1984), Knight Lore (1984), Gunfright (1985), Slalom (1986), R.C. Pro-Am (1987), Cobra Triangle (1989), Snake Rattle 'n' Roll (1990), Solar Jetman (1990), Digger T. Rock (1990), Battletoads (1991), R.C. Pro-Am II (1992), Battletoads Arcade (1994), Killer Instinct Gold (1996), Blast Corps (1997), Banjo-Kazooie[a] (1998), Jet Force Gemini (1999), Perfect Dark (2000), Banjo-Tooie (2000), Conker's Bad Fur Day (2001), Grabbed by the Ghoulies (2003), Kameo (2005), Perfect Dark (2005), Viva Piñata (2006), Jetpac Refuelled (2006), Viva Piñata: Trouble in Paradise (2008) e Banjo-Kazooie: Nuts & Bolts (2008).
Vale lembrar que jogos da série Donkey Kong Country e GoldenEye 007 teriam lugar garantido, mas ficaram de fora por contratos de exclusividade ou simplesmente por não se encaixarem nos critérios da empresa. Uma pena.
Os novos velhos gráficos
Os gráficos do Nintendo 64, que marcam o início da era 3D na Nintendo, podem ser difíceis de engolir à primeira vista para quem só está acostumado com os visuais primorosos da atual geração. Só que vários deles foram relançados no Xbox 360 e ganharam uma roupagem relativamente nova, impedindo que o choque visual seja tão intenso.
Algumas texturas ficam esquisitas, especialmente em rostos de personagens, e certas cores ainda permanecem chapadas. Porém, nada que realmente incomode, já que devemos levar em conta que alguns dos jogos já passaram da maioridade. Em Banjo-Kazooie Nuts & Bolts, entretanto, senti uma queda de desempenho brusca no carregamento de cenários quando os personagens chegam ao mapa principal pela primeira vez.
Nos jogos antigos, a iluminação deixa tudo bastante vivo e os detalhes são trabalhados pra que você perceba todos os elementos em tela. Temos que levar em conta que essa não é uma remasterização completa e que, no caso dos clássicos, nem é o objetivo da coletânea.
Para os mais saudosistas, nesses clássicos você pode pressionar R3 para adicionar um filtro que imita os efeitos de uma televisão de tubo, deixando a imagem propositalmente embaçada e com reflexo. Não é uma coisa que você deixa ligado todo o tempo, mas é um recurso divertido.
Matando as saudades dos controles
Você leva algum tempo até se reacostumar com os controles e os gráficos dos games mais antigos. E já esteja avisado: os games que eram difíceis continuam difíceis, mas a jogabilidade está fluida em todos os títulos. A boa notícia que é você pode escolher em jogar pelo analógico ou pelo direcional convencional, de acordo com a sua preferência.
A preocupação da Rare com a adaptação do jogador é tão alta que Jet Force Gemini recebeu uma atualização nos controles depois de muitas críticas iniciais. Agora, ele está mais parecido com um jogo de tiro em terceira pessoa de verdade, já que antes usava os controles do Nintendo 64 – ou seja, com um só analógico e botões diferentes.
O jogo tem uma tela em que são exibidos todos os controles de cada integrante do pacote, facilitando o seu trabalho em dominar cada botão. Além disso, os títulos com tutorial dão uma chance a mais de você aprender todos os comandos.
Nos bastidores do espetáculo
Rare Replay inclui uma série de extras para você conhecer a fundo a empresa. São documentários sobre o processo de criação dos projetos, clipes especiais sobre os games mais famosos, artes conceituais e até materiais nunca antes divulgados sobre projetos que mal saíram do papel. Você desbloqueia tudo isso ao longo dos jogos ou fazendo os desafios, mas nenhuma das tarefas é muito impossível. O problema é que esse conteúdo está com áudio e legendas apenas em inglês.
Já os desafios Snapshots testam as suas habilidades em alguns dos jogos e também ajudam você a dominar alguns dos controles. Será que você consegue sobreviver por 45 segundos na fase de veículos de Battletoads? Essa é a sua chance de descobrir.
Com esses extras, você acumula uma quantidade generosa de pontos em sua conta da Xbox LIVE e ganha selos para desbloquear conteúdos na galeria do Rare Replay.
Além disso, os jogos lançados antes de 1996 ganham uma série de novidades na jogabilidade que fazem o game parecer mesmo um emulador. Você pode "rebobinar" os últimos segundos jogados para evitar uma morte e refazer um pulo, por exemplo. Mas pode ficar tranquilo, porque essa opção de jogadores "leite com pera" é opcional e não estraga a experiência original.
Vale a pena?
Rare Replay é uma auto-homenagem de alta qualidade à história de uma das desenvolvedoras mais queridas dos games. Pelo preço de lançamento de 99 reais no Brasil e por serem jogos que garantem bastante tempo de diversão cada um, vale a pena ter essa coletânea na biblioteca.
Ela é feita com carinho, tem um acabamento bem decente e, acima de tudo, é uma aula da história de toda a indústria. A quantidade de ofertas é bastante alta e a diversidade também, apesar de alguns títulos não serem unanimidade. Cansou de plataforma? Vá dar umas porradas em Killer Instinct. Tá afim de relaxar? Então pule para Viva Piñata, que é um excelente passatempo.
A ideia não é deixar todos os jogos com visual estonteante, então não espere todos rodando com os gráficos no máximo. Mas a Rare fez um bom trabalho de atualização e deixou todos os títulos com um estilo bastante aceitável (tirando pequenas exceções). Como alguns jogos mais recentes já foram portados para o Xbox 360, o trabalho até já tinha sido feito.
Os pontos negativos são quase imperceptíveis. Algumas limitações gráficas existentes nos títulos originais continuam e nem todos os títulos da coletânea são realmente clássicos inesquecíveis, mas o saldo final é mais que positivo. Outro problema é que, se o inglês não for o seu forte, os vídeos de extras quase não têm utilidade.
A essência dos títulos foi mantida. Conker’s Bad Fur Day continua pesado e insano, Battletoads ainda é impossível e Perfect Dark deixa você com água na boca por uma continuação. As novidades que deixam alguns dos games mais fáceis não são bem-vindas para os jogadores mais exigentes por serem considerados trapaça, mas você pode optar por simplesmente não usar nenhuma delas. Em outras palavras, Rare Replay é uma jornada mais do que recomendada — seja você um velho fã da empresa que literalmente fará "replays" ou um novato disposto a mergulhar nesses clássicos.
Categorias
- Variedade em gêneros nos jogos escolhidos
- Extras como vídeos de bastidores e desafios isolados
- Gráficos decentes e controles dinâmicos
- Alta seleção de títulos de qualidade
- A seleção de títulos poderia ser melhor
- Conteúdos extras apenas em inglês
- Instalação pode ocupar bastante espaço
Nota do Voxel