Imagem de Octopath Traveler
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Octopath Traveler

Nota do Voxel
75

Octopath Traveler é bom, mas peca pela repetição e história desinteressante

Desenvolvido pela Square Enix e publicado pela Nintendo exclusivamente para o Switch, Octopath Traveler é um game que presta homenagens aos RPGs do passado e tenta retomar alguns de seus melhores elementos. Apostando em um sistema de batalhas aleatórias que se desenrolam em turnos, o game traz um estilo gráfico que evolui os sprites da era 16 bits e os traz para ambientes 3D com mais profundidade.

Embora em alguns pontos o jogo seja bem-sucedido em recriar elementos de sucessos como Final Fantasy VI e Chrono Trigger, ele não consegue ser tão inspirado quanto os títulos que lhe serviram de influência. Apresentando sistemas fortes, o game se esquece de criar personagens relacionáveis e apresenta uma trama que não conecta muito bem as missões principais de cada um de seus protagonistas.

Mais SaGa do que Final Fantasy

Adotando uma estrutura não linear em sua narrativa, Octopath Traveler lembra muito a série SaGa em alguns aspectos. Ao iniciar o game, você é convidado a escolher um entre os oito protagonistas disponíveis — decisão que, na prática, só serve para determinar qual deles vai ficar fixo em seu grupo até que sua trama pessoal seja finalizada.

Octopath Traveler

Cada opção disponível representa uma classe de um RPG tradicional, mas há algumas opções que trazem elementos um pouco fora do convencional. Há o guerreiro, o ladrão, a clériga e o mago, bem como a caçadora (que é especialista em arcos e machados) e a mercadora, que pode gastar dinheiro para contratar mercenários que ajudam durante a batalha — isso só para citar alguns dos exemplos.

Uma habilidade de campo é atribuída a cada um dos personagens, sendo que algumas têm nomes diferentes, mas na prática atuam de forma parecida. A clériga pode usar sua habilidade para recrutar alguém com base na fé, enquanto a dançarina faz isso usando seus poderes de sedução — realizar essas ações garante a possibilidade de usar um NPC como uma espécie de “summon” dentro das batalhas.

Após completar a história do personagem escolhido no início, você é livre para explorar o mundo e avançar sua trama adicional.  Também há a opção de recrutar os demais personagens (cada um com sua própria história), na ordem que você desejar  — tecnicamente, é possível chegar ao final do jogo somente com uma pessoa (o que torna tudo mais difícil).

Após completar a história do personagem escolhido no início, você é livre para explorar o mundo e avançar sua trama adicional

Octopath Traveler não impede que você explore todas as suas regiões e dungeons desde o início, mas possui um sistema de “travas de região” que atua de forma sutil. Você pode decidir explorar uma região mais tropical, por exemplo, mas ela será habitada por inimigos que superam seu nível em dezenas de dígitos — o que contribui para uma morte quase imediata.

A escolha mais sábia, nesse caso, é explorar aos poucos os conteúdos que mais se aproximam de seu nível, o que inevitavelmente leva ao recrutamento de novos personagens e à exploração de suas histórias. Mesmo que você siga esse “caminho natural” proposto pelo RPG, momentos em que o grind — batalhas repetidas somente para ganhar experiência — se torna inevitável.

Octopath Traveler

Muito disso decorre do fato de que os personagens que você deixa “na reserva” não ganham pontos de experiência, então é preciso batalhar ativamente com eles para que eles evoluam. Como as figuras apresentadas não são exatamente carismáticas (com uma ou outra exceção), cheguei ao final do game com uma grande disparidade de níveis entre os protagonistas — mais do que selecionar os membros de minha equipe por suas histórias, sempre vi mais vantagem em priorizar as habilidades que me seriam úteis durante as batalhas.

Histórias individuais

Um dos maiores problemas de Octopath Traveler é o fato de que, embora seus personagens trabalhem em grupo, a história sempre os retrata de forma solitária. Isso é especialmente estranho nas cenas em que um protagonista decide enfrentar por conta própria um inimigo durante uma transição, mas é mostrado acompanhado durante o combate em si.

Octopath Traveler

O game tenta compensar isso com um sistema de “Travel Banter”: conversas casuais que acontecem entre os membros de seu grupo, que parecem ter sido inspiradas por elementos da série Tales Of, da Bandai Namco. Embora alguns dos diálogos sejam interessantes, eles pouco fazem para evoluir os relacionamentos dos personagens e se tornam dispensáveis em um plano mais geral.

O RPG até tenta fazer uma espécie de conexão entre as tramas individuais, mas isso só acontece depois que você terminou todos os capítulos de todos os personagens — que seguem um esquema muito repetitivo. Todas as 32 partes repetem um esquema muito semelhante (cena/exploração de dungeon/batalha contra chefe/cena) e recorrem a clichês que serão facilmente identificáveis para os fãs do gênero.

Todas as 32 partes repetem um esquema muito semelhante (cena/exploração de dungeon/batalha contra chefe/cena)

Caso esse não seja seu primeiro RPG, é muito fácil adivinhar o desenvolvimento de arcos narrativos completos a partir de seus primeiros ou segundos capítulos. O resultado final é um game que não sabe explorar bem justamente a principal característica do gênero, que é usar um ritmo de gameplay mais lento para contar histórias interessantes e com bom desenvolvimento de personagens.

Sistema de combate é o forte

O ponto forte de Octopath Traveler é seu sistema de combates, que consegue tão envolvente a ponto de compensar a grande quantidade de grind que o jogo exige. Tirando inspirações de Bravely Default, a cada turno o game adiciona a seus personagens um elemento conhecido como BP — cada ponto dele permite realizar um ataque extra (com limite de 4 por turno) ou fortalecer um pouco algum ataque especial.

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Esse sistema funciona em conjunto com as fraquezas dos inimigos, que podem ser exploradas para deixá-los atordoados por um turno. Quando eles entrem nesse estado, não somente eles deixam de poder agir ou contra-atacar, como se tornam mais suscetíveis a seus ataques — oportunidade perfeita para usar uma magia ou ataque poderoso com todo seu estoque de BP em jogo.

Os dois sistemas fazem com que as batalhas se tornem verdadeiros desafios estratégicos, especialmente quando você confronta um dos vários chefes. Tudo fica ainda mais interessante quando você destrava as classes secundárias, que dão a seus personagens mais oportunidades de enfraquecer inimigos e sobreviver a ataques devastadores.

Os momentos mais avançados de Octopath Traveler não introduzem novas mecânicas ao jogador, mas fazem com que ele tenha que usar os recursos disponíveis da maneira mais otimizada o possível. Pena que os adversários finais podem ficar um tanto “apelões”, usando seus vários ataques em um só turno para realizar uma série de ataques no esquema “one hit kill” — nesse caso, parece que a sua vitória depende tanto de sua habilidade como jogador quanto de dar sorte de que seu adversário não fique apelando para essas táticas sujas.

Vale a pena?

Outro aspecto que destaca Octopath Traveler é sua apresentação em 2D, que usa recursos da Unreal Engine 4 para criar ambientes com boa profundidade. O sentimento é que estamos vendo um diorama, em que elementos são exibidos em planos diferentes para criar a sensação de trimensionalidade — tudo isso rodando na Unreal Engine 4.

Octopath Traveler

Também chama a atenção a trilha sonora composta por Yasunori Nishiki, que conseguiu criar temas que combinam muito bem com cada personagem e ambientação. O destaque vai para a música-tema das batalhas, que continua interessante mesmo após você passar dezenas de horas matando inimigos para subir de nível.

O RPG sem dúvida possui vários pontos positivos, mas acaba sendo uma experiência um tanto “vazia” para o gênero principalmente devido a problemas relacionados tanto ao ritmo quanto ao conteúdo de sua história. A maioria das tramas individuais recorre a uma dose generosa de clichês (o poder da amizade e de “confiar nos outros” é algo recorrente), e o fato de cada capítulo seguir rigorosamente o ritmo dos demais faz com que a sensação de “eu já vi isso antes” seja um elemento central da experiência.

Octopath Traveler

Mesmo com esses problemas, não posso dizer que não gostei de meu tempo com Octopath Traveler. A Square Enix conseguiu criar um universo interessante e com um bom sistema de combate, que compensa a grande quantidade de grind de alguns momentos. Pena que tudo isso é embalado por uma história esquecível e personagens que não são muito marcantes — com mais de 40 horas de jogo, tenho que fazer esforço para lembrar do nome da maioria deles.

Caso a desenvolvedora tivesse conseguido combinar a apresentação competente e os bons sistemas de evolução a uma trama interessante, teríamos em mão um RPG que marcaria gerações. O que temos atualmente é uma experiência muito competente em vários sentidos, mas que “deixa a bola cair” em alguns dos elementos mais importantes do gênero a que ela pertence.

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Pontos Positivos
  • Apresentação estilosa e atraente
  • Uma excelente trilha sonora
  • Sistema de combate envolvente e repleto de opções táticas
Pontos Negativos
  • Histórias recheadas de clichês e que não se conectam bem entre si
  • A trama é contada em arcos com elementos repetitivos e momentos recheados de clichês
  • Seleção de personagens pouco carismática; é fácil esquecer alguns nomes mesmo após dezenas de horas de jogo