Uma ode ao automobilismo virtual [vídeo]
Queira você ou não, o gênero de “corrida” no entretenimento eletrônico encontra-se hoje fortemente dividido. Enquanto em outras eras a busca do realismo parecia ser o único ânimo de desenvolvedores e entusiastas, a capacidade de recriar o automobilismo em ambientes virtuais acabou extrapolando em muito a paciência de alguns jogadores mais interessados em uma diversão rápida.
Entretanto, o espectro com limites opostos de “simulação” e “arcade” atualmente em vigor certamente admite cultos ecumênicos como os de Forza Horizon ou DriveClub — estrategicamente posicionados para conceder uma diversão rápida, mas sem se esquecer de cobrar boas doses de habilidade do jogador. Bem, esse com certeza não é o caso de Project CARS.
Em vez disso, a criação da Slightly Mad Studios é abertamente uma ode ao automobilismo puro; à paixão nutrida por fanáticos por carros e por corridas — o tipo de jogador que se mete a calibrar os pneus, ajustar o tempo de frenagem, evitar alegremente a maior parte das assistências... E descer o sarrafo em qualquer um que se atreva a utilizar câmbio automático (vá lá, nós sabemos que você faz isso).
Embora não evite algumas derrapadas, Project CARS lança mão de uma quantidade absurda de detalhes gráficos e de ajustes mecânicos, os quais são acompanhados por uma jogabilidade tão punitiva quanto realista — embora não seja tão carrasco a ponto de não contar com algumas opções para principiantes promissores e interessados.
Execução e recompensa
Mesmo com um bom periférico de volante, Project CARS não é exatamente um jogo fácil. Ou, pelo menos, não é um jogo que possa ser confundido com uma abordagem mais arcade. Não mesmo. Na verdade, para quem não tem muita prática ao volante, até manter o carro sobre a pista pode ser um belo desafio — “Este carro está andando sobre sabão?!” é um comentário bastante comum, principalmente quando se exclui a vantagem mecânica do controle de tração.
Apesar disso, longe de ser uma instrutora de autoescola sádica, a Slightly Mad oferece diversas opções para não espantar os pilotos virtuais de primeira viagem. Logo no início, por exemplo, é possível escolher entre “Novato”, “Amador” e “Profissional”, determinando questões como a troca de marchas e a dificuldade dos pilotos controlados pela I. A. (inteligência artificial).
Mas há também as opções-padrão. Nestas se incluem a famosa linha de frenagem, o (“vergonhoso”) câmbio automático e por aí vai. Entretanto, mesmo assim, o resultado ainda pode mandar gente para as fileiras de títulos mais desencanados, como Need for Speed, DriveClub, Forza Horizon 2 etc.
Modo Carreira
Embora não traga um modo de jogo exatamente original, Project CARS oferece uma abordagem suficientemente cuidadosa para entreter por bastante tempo. E isso a começar pelo Modo Carreira. Assim que você for contratado por alguma escuderia, haverá um calendário completo de treinos, testes classificatórios e corridas. Não quer perder tempo treinando em uma pista que já conhece bem? Sem problema.
Afinal, qualquer compromisso pode ser apenas “simulado” — embora não participar de uma prova classificatória provavelmente vá fazê-lo largar na última posição.
E também não há qualquer restrição para iniciar a sua jornada em Project CARS; suas primeiras voltas tanto podem ser em um kart quanto em um carro de Fórmula 1. Independentemente da sua escolha, o nome do seu piloto ainda estampará manchetes de jornais hipotéticos, o que pode resultar em convites de escuderias maiores. Basta ficar atento à seção de emails e às novidades da “Rede de Pilotos”.
Fidelidade nos mínimos detalhes
Project CARS é um jogo belíssimo. Desde os efeitos atmosféricos até as texturas das pistas e os mínimos detalhes dos mais de 70 carros disponíveis, tudo aqui deixa transparecer o trabalho cuidadoso da Slightly Mad — com certeza um dos jogos mais belos e realistas da atual geração.
Mas talvez seja esse mesmo preciosismo que, no exagero de detalhes e no tratamento primoroso, tenha acabado por deixar algumas pontas soltas. Não é incomum, por exemplo, encontrar cenas panorâmicas que façam desaparecer o asfalto ou que transformem a neblina em uma espécie curiosa de navalha no horizonte. Ou, durante a largada, assistir ao asfalto desaparecer sob os pneus dos competidores. Nada muito gritante, é verdade. Mas, ainda assim, é difícil não torcer o nariz.
Nada de “motosserras” aqui
Os carros de Project CARS não são apenas bonitos. Na verdade, eles também soam muito bem. Diferente das “motosserras” encontradas em outros games de simulação, cada Renault, dada BMW, cada Lamborghini e cada McLaren soa incrivelmente convincente. De quebra, isso ainda confere uma sensação de velocidade notável, mesmo para um game de simulação.
Falhas mecânicas, pneus, combustível
Caso você queira realmente mergulhar no realismo oferecido pela Slightly Mad, uma das opções que com certeza não deveriam passar batido é a inclusão das “Falhas mecânicas”.
Quer dizer, sendo o carro uma máquina, um objeto falível, é possível que ele simplesmente se recuse a funcionar ou “peça água” dependendo de quanto for puxado durante uma prova, não? Este redator, por exemplo, teve o motor de seu Renault Clio fundido alguns metros antes de cruzar a linha de chegada em primeiro lugar... Até pareceu coisa deliberada. (Ok, admito que forcei o carrinho um pouco mais do que o razoável durante a corrida).
Além disso, também é possível complicar mais a própria vida (todo fã de simulação é também um masoquista, certo?) selecionando desgastes realistas dos pneus e consumo igualmente realista do combustível. Isso torna a coisa ainda mais interessante quando se lança mão de estratégias diferentes de pit stop — em que é possível determinar quanto combustível é adicionado, o que altera perceptivelmente a inércia do carro.
Falhas mecânicas involuntárias
É claro que boa parte das falhas mecânicas ocorridas durante as corridas é apenas a prova do trabalho rigoroso da Slightly Mad na recriação de provas reais. Entretanto, há falhas eventuais que são obviamente involuntárias.
Pode acontecer, por exemplo, de o seu carro simplesmente não engrenar nenhuma marcha no momento da largada — ou de puxar marchas absurdamente, reduzindo da quarta para a primeira, por exemplo. Ou, também durante a largada, de você ver o “ponto morto” saltar diretamente para a segunda marcha, sem qualquer motivo.
Menus difíceis de acessar
Alguns menus de Project CARS têm seu acesso desnecessariamente dificultado, sobretudo durante as corridas. Para alterar configurações de controle, mudar o esquema de marchas (automático, manual e manual com embreagem) e efetuar diversas regulagens do carro, você precisará sair completamente do modo em que estiver, voltando para o menu inicial. Enfim, algo que certamente poderia ser corrigido, evitando muito transtorno e perda de tempo.
O computador é um competidor duro, mas justo
A inteligência artificial de Project CARS é bastante decente. Na maior parte dos casos, os pilotos controlados pelo computador sabem se portar de forma bastante realista — com agressividade, mas sem sair jogando tudo e todos para fora da pista. Além disso, o nível de habilidade dos seus competidores virtuais pode ser selecionado antes de qualquer corrida.
Danos nos carros
O nível de dano causado nos carros de Project CARS é outro campo que pode ser ajustado de acordo com o gosto do freguês. Vai-se aqui de “nenhum dano” a “apenas danos cosméticos” e, finalmente, “danos totais”. Em “danos totais”, há o limite da experiência simulada do game, já que qualquer batida pode detonar o motor ou uma das suspensões, colocando você imediatamente para fora da corrida.
Embora a parte visual das batidas normalmente funcione adequadamente, nós cruzamos algumas vezes com danos nada menos do que sobrenaturais. Vez ou outra, é possível bater de frente com um carro e acabar com o porta-malas e com as portas amassadas.
Condições atmosféricas
Project CARS não apenas permite que você escolha as condições meteorológicas de cada corrida como também dá a opção de prever alterações — começa com chuva, vai para neblina, termina com céu ensolarado e por aí vai. Seja qual for o caso, o resultado é um espetáculo gráfico de cair o queixo. Mesmo que, após uma chuva, a pista às vezes seque um pouco rápido demais.
HUD personalizável
Prefere o velocímetro ao lado da tela? A representação do traçado ficaria melhor mais para cima? Ok, Project CARS respeita as suas preferências. Todos os elementos exibidos na tela podem ser arrastados para diversos pontos alternativos. E, se algo estiver simplesmente sobrando, basta excluir.
Uma proposta certeira
Das dezenas de opções de ajuste mecânico ao detalhamento gráfico e, daí, ao comportamento da inteligência artificial, fica claro que a Slightly Mad não imaginou Project CARS como um jogo para todos os gostos. Mesmo que seja possível “amaciar” um pouco a experiência com as várias assistências disponíveis, o resultado é um título que ainda pode ser bastante “agreste” para jogadores menos acostumados ao gênero.
Para os fãs de automobilismo, entretanto, é um prato cheio. É possível afinar e ajustar mesmo os menores detalhes, com uma exigência de habilidade que confere aquela valiosa sensação de “dever cumprido” após a conquista de uma pole position. Além disso, o calendário completo, com treinos, testes classificatórios e provas, expande ainda mais o realismo.
Sendo assim, se você é do tipo que reclama de jogos pouco convincentes e que gasta centenas de reais em um bom kit com volante e pedais... Então, meus parabéns. É bem provável que você tenha encontrado o seu jogo.
Categorias
- Simulação realista, mas não inacessível
- Um dos melhores gráficos já vistos em um jogo de corrida
- Dezenas de detalhes e ajustes disponíveis
- Recriação fiel do som de alguns dos motores mais caros do mundo
- Modo Carreira envolvente
- Inteligência artificial equilibrada (agressiva, mas sem se tornar um "troll")
- HUD personalizável
- Sistema cosmético de danos deixa a desejar em alguns veículos
- Eventuais bugs gráficos e de jogabilidade
- Vários menus inacessíveis durante a campanha
Nota do Voxel