Project Cars 3 agrada novatos, mas decepciona fãs de simulação
Há duas maneiras de avaliar Project Cars 3, o mais novo capítulo da série de corrida desenvolvida pela Slightly Mad Studios e publicada pela Bandai Namco. Se você o encarar como a terceira etapa de uma série até então focada em simulação e reprodução fiel de veículos e pistas, vai ficar decepcionado, como avisamos em nosso teste do Beta.
Porém, se você aceitar curtir o jogo nos seus próprios termos, pode se divertir bastante com a nova proposta de gameplay. Vamos explicar isso direitinho a seguir, na nossa análise completa!
Nomenclatura problemática
É realmente estranho que a produtora tenha optado por colocar um “3” no título desse Project Cars, já que ele não tem quase nada em comum com os capítulos anteriores da série, exceto pelo básico do básico: colocar o jogador no assento de motorista enquanto ele corre por diversos circuitos ao redor do mundo. Contudo, como qualquer entusiasta de jogos de corrida sabe bem, isso não chega nem perto de ser suficiente para descrever um jogo ou contemplar as suas nuances.
Quando a série Project Cars nasceu, fruto de uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo, sua ideia era focar mais na simulação. O próprio C.A.R.S. do título é uma sigla para Community Assisted Racing Simulator, algo como “Simulador de corridas feito com a ajuda da comunidade”. Em grande parte, isso foi seguido nos primeiros dois jogos, que trouxeram fartas opções de customização de controles, filtros com diversas assistências de pilotagem e a busca por reproduzir as máquinas com o máximo de fidelidade possível.
É de se imaginar que Project Cars 3 estaria recebendo avaliações mais empolgadas se, já no seu título, deixasse mais claro o quanto se distancia dessas ideias. Alguma variação de “Project Cars Horizon”, ou qualquer nome que indicasse tratar-se de um lançamento mais arcade faria maravilhas pelo marketing do jogo. Então, antes de mais nada, é essencial ter isso em mente: o terceiro capítulo da série é muito mais um spin-off do que uma verdadeira sequência. Para todos os efeitos, o game fica muito mais em casa quando comparado a Need for Speed: Shift, também da mesma desenvolvedora.
Foco no modo carreira
Project Cars 3 é um jogo que vai direto ao ponto e, logo de cara, o arremessa em seu novo modo carreira, que foi totalmente retrabalhado. Depois de gastar alguns poucos segundos escolhendo entre os visuais a nacionalidade de seu piloto, você mergulha nos Eventos, que agora consistem em corridas bem curtas, via de regra, com disputas que duram entre uma e cinco voltas apenas.
São mais de cem eventos para correr, espalhados em uma estrutura de campeonatos que são destravados aos poucos, conforme você cumpre desafios ou acumula créditos, o que rende uma jornada principal bem longa. Cada corrida possui três desafios próprios, como liderar por certo período, bater a marca de volta mais rápida ou fazer um determinado número de curvas com perfeição. Ter sucesso nisso libera novas corridas dentro de uma mesma série e, finalmente, uma nova categoria que só pode ser jogada com carros ainda mais velozes.
O sistema de progressão é bem gratificante, especialmente porque você acumula vários bônus ao mesmo tempo simplesmente por competir. Eles incluem créditos para tunar os seus veículos, pontos de experiência para a sua carreira e pontos extra por correr seguidamente com um mesmo carro, o que garante melhorias mais baratas na garagem do jogo, onde é possível tuná-lo.
A comparação com Need for Speed que fizemos anteriormente não foi por acaso. Todo o processo de melhorar o seu carro é muito simples, intuitivo e arcade por aqui, envolvendo apenas trocar o seu dinheiro por diferentes níveis de equipamento. Com peças melhores, o seu carro pode evoluir para correr em categorias mais avançadas, então em poucas horas você já estará escolhendo entre economizar para comprar um novo carro ou investir em melhorar o veículo atual.
Acessível ao máximo
Há uma boa variedade de pistas, alternadas entre circuitos reais e fictícios. Espere correr por locais bem conhecidos, como Silverstone, Brands Hatch e a nossa eterna Interlagos, mas também por uma boa variedade de ambientes criados diretamente para o jogo, que vão desde desertos até ambientes urbanos.
Infelizmente, Project Cars 3 não é exatamente um primor gráfico e, rodando na versão básica do PlayStation 4, muitas vezes o jogo parece saído do início da geração, com efeitos de iluminação muito básicos, modelos de carro simples e até mesmo serrilhados grosseiros na câmera interna dos veículos. Ou seja, não espere um espetáculo visual!
Também são um pouco estranhos os diferentes níveis de dificuldade. Apesar de já ter testado vários games de corrida, não sou exatamente um especialista em simuladores e não tenho vergonha de jogar com câmbio automático e assistências de tração. Ainda assim, Project Cars 3 é tão simples em sua jogabilidade que, três ou quatro corridas após começar minha campanha, eu já estava correndo na dificuldade máxima e vencendo as corridas!
Ligar ou desligar todas as assistências de pilotagem faz bem pouca diferença, dada a natureza arcade do jogo, e isso também tem pouco impacto na inteligência artificial superagressiva da CPU, que é fácil de ser ultrapassada, mas não tem vergonha de dar algumas batidas na sua traseira de tempos em tempos. Em um jogo mais simulador, esses seriam pecados graves; porém, novamente, Project Cars 3 é tão consciente de suas escolhas por diversão arcade que fica difícil o punir demais nisso.
Bom fator replay
Project Cars 3 é um video game sem vergonha de se assumir como video game, com corridas bobas e recompensas imediatistas até mesmo para aqueles que se aventurarem a competir online, como no modo Rivais, que tem tabelas de liderança para seus eventos diários, semanais ou mensais, nos quais você pode correr contra fantasmas de outros jogadores enquanto batalha para subir de elo.
Também há um modo mais tradicional de multiplayer, com corridas rápidas, eventos com hora marcada para começar e lobbies customizados; e tudo funcionou tão bem quanto deveria, com um matchmaking rápido e funcional, ao menos na semana de lançamento do jogo. Ainda assim, subir de elo no modo Rivais acabou se mostrando uma opção mais divertida e longeva que o multiplayer básico.
Seu sistema é tão simples que dá vontade de revisitar frequentemente, pois os tempos dos pilotos são divididos de acordo com o seu desempenho. Os melhores tempos registrados no evento pegam o elo platina, enquanto os mais fracos precisam ir escalando e melhorando suas marcas desde o bronze, escalando por prata e ouro até a posição mais alta. Como as pistas são curtas e as suas poucas voltas são rapidinhas, é legal ficar farmando um pouco de experiência por aqui.
Há mais de 200 carros para pilotar, e felizmente você não precisa juntar dinheiro no modo carreira para jogar com todos eles, já que é possível criar seus próprios eventos e usar os veículos que bem entender por lá, além de configurar condições climáticas, duração e número de adversários na prova. Tudo isso garante que Project Cars 3 seja uma boa pedida para correr por alguns minutinhos todos os dias.
Veredito
Project Cars 3 pode ser uma das maiores bombas do ano ou um jogo de corrida extremamente agradável dependendo de suas prioridades e seus critérios. Como sequência, ele falha por descartar vários conceitos, ideias e tom de seus antecessores. Já como um jogo de corrida arcade analisado no vácuo, seus sistemas são muito recompensadores e as corridas, divertidas o suficiente para garantir dezenas de horas de diversão!
Project Cars 3 foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise.
Categorias
- Diversão imediata e acessível
- Sensação gratificante de progressão
- Bons modos online
- Bem simples para novatos
- Largou quase todos os elementos de seus antecessores
- Gráficos um tanto datados
- Bem simples para veteranos
Nota do Voxel