Predator: Hunting Grounds tem boas ideias, mas pouco conteúdo
Em Predator: Hunting Grounds, o novo jogo da Illfonic lançado para PC e PlayStation 4, o cenário é bem parecido com o do primeiro filme da franquia, aquele estrelado pelo Arnold Schwarzenegger e Carl Weathers: Predador e humanos se enfrentam na selva — neste, só o mais capaz sairá vivo do conflito.
A premissa naturalmente encaixa muito bem com o gênero multiplayer assimétrico, e a desenvolvedora certamente aprendeu bastante depois de ter trabalhado em Friday the 13th. Como o Predador tem muito mais movimentos e agilidade do que o serial killer Jason (todo pesadão e lento), dessa vez os cenários fazem um bom uso da verticalidade, repletos de árvores e prédios altos para gerar oportunidades de emboscada, o que garante um ritmo bem-diferente e único ao game.
-
Caça ou caçador
Em seu lançamento, Predator: Hunting Grounds apresenta um único modo de jogo, no qual você pode escolher entre jogar na equipe dos humanos, que inclui quatro soldados, ou como um Predador solitário. A boa notícia é as duas opções serem divertidas, e a má (melhor você se preparar) é você encarar longas filas caso esteja a fim de jogar como Predador!
É muito legal ouvir a música-tema do filme no menu principal e durante a ação, mas basta jogar por 1 hora para ficar de saco cheio da trilha, pois é a única música presente no lobby enquanto você espera uma eternidade para jogar. Custava ter composto mais algumas faixas originais para embalar o monótono menu? É uma boa ideia deixar um livro ou seu celular ao lado enquanto estiver buscando partidas para não pegar no sono.
O matchmaking é horrível e pode demorar mais de 10 minutos para jogar como Predador.Fonte: illfonic
O jogo tem crossplay nativamente habilitado por padrão nas duas plataformas, o que garante servidores muito populosos. A maioria dos jogos fluiu sem maiores lags ou claras diferenças de performance, até porque a noção macro de posicionamento é mais importante nos tiroteios do que as mecânicas micro de mira ou reflexos afiados — o que acaba igualando quem joga no joystick ou mouse e teclado.
Como era de se esperar, o jogo flui melhor ao lado de amigos se comunicando e planejando táticas em tempo real, mas é possível se divertir mesmo jogando com estranhos, em silêncio, já que a interface e objetivos são simples e intuitivos (desde cumprir as missões principais até reviver aliados caídos). Basta segurar um botão para reviver seus companheiros ou pedir socorro aos soldados mais próximos.
Tudo fica mais divertido jogando em grupo com seus amigos.Fonte: Illfonic
“Se ele sangra, podemos matá-lo!”
Após jogar algumas dezenas de partidas, o jogo me pareceu ainda sofrer com alguns problemas de balanceamento, já que na esmagadora maioria das partidas a vitória ficou com o time dos humanos, fazendo valer sua superioridade numérica para não dar espaços ao Predador.
Se o time andar junto e não se espalhar demais pelo mapa, fica difícil para o monstro criar oportunidades claras de abate, ainda que ele tenha um arsenal bem mais interessante em mãos. Como Predador, você pode ficar invisível por uma janela de tempo bem generosa, escalar árvores, andar pelos galhos, desferir tiros de longa distância e acompanhar a movimentação dos humanos em visão de calor, com estética bastante parecida aos filmes.
Os poderes do Predador são divertidos, mas ele parece fraco demais mesmo assim.Fonte: Illfonic
Ao ser ferido em combate, sangue verde jorra de seu corpo, o que denuncia a sua posição no mapa. Ainda assim, é relativamente fácil escapar usando o botão de pulo em longa distância, fazendo o monstro saltar para uma altura maior do que a maioria dos prédios. Mesmo com tantos recursos para o Predador, nesse jogo de gato e rato, mais de 80% das minhas partidas terminaram com pelo menos 1 ou 2 humanos sobrevivendo cerca de 6 horas de teste online.
“Get to the choppa!”
Uma boa sacadinha de Predator: Hunting Grounds foi pegar a icônica frase cheia de sotaque do Arnoldão e transformá-la no objetivo principal das partidas. Toda rodada consiste em um ciclo de objetivos pequenos, como implantar bombas em acampamentos, destruir certos alvos, sabotar equipamentos e reunir sua equipe em um ponto de extração onde devem encontrar um helicóptero de resgate, ou seja, “get to the choppa!”.
É nesse clímax de ação que costumam acontecer a maioria das mortes de todos os lados, já que o Predador acaba sendo obrigado a se expor para matar os jogadores remanescentes que, por sua vez, são obrigados a tentar se conectar ao cabo de resgate. Some a isso hordas de soldados inimigos controlados pela inteligência artificial e você tem uma receita pronta para muitas emoções, adrenalina e risadas.
A batalha final perto do helicóptero costuma ser a parte mais legal do jogo.Fonte: Illfonic
Sem tempo para sangrar
Os tais soldados controlados pela inteligência artificial dão as caras o tempo todo durante a missão, e um contador de abates premia os jogadores que conseguem exterminar mais deles. Embora eles sejam uma boa sacada para movimentar as partidas e ajudar o Predador a encontrar o foco da ação, sua execução não é das melhores.
É divertido customizar seu Predador ou soldado com novas skins e acessórios.Fonte: Illfonic
Os soldados inimigos são muito, muito burros! Têm problemas para atirar e dificilmente oferecem grande resistência. Eles são tão passivos e atrapalhados que às vezes dá até para esquecer que eles existem, e você nem precisa se preocupar com sangramentos ou em se meter nos conflitos enquanto cumpre algumas missões.
O Predador, por sua vez, também esbarra em alguns problemas psicotécnicos: não é raro esbarrar com bugs e glitches ao tentar escalar uma árvore, mover-se pelos galhos ou fazer um pulo para outros locais. É um problema sério e irritante que pode até resultar em mortes acidentais no calor da ação, já que a câmera também não colabora em nada nos pontos mais altos do mapa.
Subir de nível garante recompensas rápidas e gratificantes.Fonte: Illfonic
Jogando no PlayStation 4 versão básica, algumas vezes a taxa de quadros por segundo dá uma caída, algo inesperado para um jogo com visual altamente simples e competente. Todos esses elementos precisam ser acertados em patchs futuros para que o jogo atinja todo o seu potencial.
Custo benefício questionável
O simples ato de jogar e completar partidas já garante que seu perfil suba de nível, o que, por sua vez, é revertido em loot boxes. Estranhamente, o sistema ainda não está atrelado a microtransações e, francamente, é melhor assim, considerando que temos aqui um jogo muito caro. Na fase atual do game, você pode colecionar moedas virtuais dentro das partidas e comprar novas caixas, com valor baratinho, e com isso você sempre se sentir progredindo.
Todas as melhorias adquiridas com a moeda virtual são cosméticas e servem apenas para botar outras máscaras e uniformes no Predador, ou adereços como tapa-olho, bonés e pinturas faciais nos soldados. Tanto predador como soldado podem ser machos ou fêmeas, também sem impacto de performance.
A falta de conteúdo e variedade é o grande problema do jogo.Fonte: illfonic
Subir de nível ainda libera acesso a novas armas e habilidades passivas, o que ajuda os combates a ganhar um pouco mais de variedade nos níveis mais altos. Ainda assim, a impressão que fica é que o jogo tem pouquíssimo conteúdo para o valor cobrado no lançamento, cerca de R$ 160 por um único modo de jogo extremamente repetitivo.
Veredito
Seria mais fácil recomendar e tolerar as falhas técnicas de Predator: Hunting Grounds caso ele fosse um free to play monetizando apenas suas loot boxes cosméticas. As partidas até que são divertidas, mas, como um jogo quase de preço cheio, só mesmo os fãs mais ardorosos da franquia ou de multiplayers assimétricos deveriam embarcar nessa caçada.
Predator: Hunting Grounds foi gentilmente disponibilizado pela Sony para a realização desta análise.
Categorias
- Crossplay entre PC e PS4
- Divertido em pequenas doses
- Boa sensação de progresso de nível
- Música e estética oficial dos filmes
- Longas filas para jogar com Predador
- Pouco conteúdo
- Gameplay repetitivo
- Muito caro para o pouco que oferece
Nota do Voxel