O advogado mais amado do mundo tem que usar a justiça para permanecer vivo
Em Phoenix Wright: Ace Attorney – Spirit of Justice, o advogado mais famoso do mundo dos games parte em uma visita ao reino de Khura’in para visitar Maya, uma de suas antigas assistentes. Chegando lá, não demora até que o personagem se veja envolto no julgamento de um crime e tenha que usar seus poderes como defensor para provar a inocência de um acusado.
Embora a sequência de eventos siga um padrão conhecido por quem acompanha a série, logo as diferenças do novo game começam a aparecer. Khura’in é um local no qual advogados de defesa são vistos como criaturas demoníacas e mentirosas e no qual os culpados por um crime são definidos por visões de sacerdotes ligados à deusa local — fatos que tornam ainda mais difícil que o normal a missão de Phoenix.
Durante a história, o jogo também nos permite tomar o controle de Apollo Justice, que, encarregado de cuidar da agência Wright Anything na ausência de seu chefe, tem que lidar com um caso bastante delicado. Embora a princípio esses dois cenários pareçam funcionar de forma individual, conforme você progride na aventura as ligações entre eles se tornam evidentes, resultando em uma conclusão surpreendente.
Evolução natural da fórmula
Caso você já esteja habituado à série Phoenix Wright, não vai demorar a se habituar aos sistemas de Spirit of Justice. A principal diferença do jogo fica por conta do sistema “Divination Séance”, no qual o jogador é apresentado a uma visão e deve evidenciar as contradições presentes nela para defender seu cliente.
O novo sistema serve como um bom complemento às mecânicas de investigação de ambientes, análise de provas e interrogatório de testemunhas presentes no passado, sendo bastante condizente com a narrativa criada pela Capcom. O segredo para “vencer” nesses momentos é ficar atento às ordens dos eventos apresentado e às falas dos médiuns que surgem nos tribunais, algo que se torna cada vez mais complicado conforme você progride.
Os demais momentos do título se baseiam em mecânicas conhecidas, que passaram por alguns refinamentos ligeiros, seja na maneira como você interage com elas ou em sua apresentação visual. A maior parte do tempo dedicada ao jogo é usada para visitar diferentes ambientes, conversar com os personagens presentes lá e investigar locais em busca de pistas.
É interessante o fato de que, embora Spirit of Justice possa ser jogado sem o auxílio da tela de toque do Nintendo 3DS, ele é um dos raros jogos atuais do console que reconhecem a utilidade da tecnologia. O display secundário é especialmente útil na hora de analisar ambientes e lidar com objetos tridimensionais, ações que podem parecer um tanto “desengonçadas” quando feitas com os controles convencionais.
Em geral, o título é competente do ponto de vista mecânico e sabe dosar bem os diferentes momentos em que cada recurso oferecido ao jogador deve ser usado. Também surge como uma boa surpresa o fato de que o game traz de volta detalhes importantes, como o registro de conversas, e que ele não se apoia excessivamente no novo recurso de “Divination Séance” para guiar sua trama.
Trama divertida e surpreendente
Phoenix Wright: Ace Attorney – Spirit of Justice pode não ser um game complexo do ponto de vista mecânico, mas isso não é um problema quando levamos em consideração o gênero ao qual ele pertence. Assim como acontece com outras visual novels, o elemento mais importante encontrado aqui é o roteiro — e, nesse ponto, a Capcom não decepciona.
Mesmo que o título esteja repleto de personagens já presentes em lançamentos anteriores, quem está começando agora na série não vai se sentir perdido. Embora novatos possam perder algumas piadinhas internas e certas referências a acontecimentos passados, o título trata com respeito quem está entrando só agora na série e oferece uma pequena biografia de cada personagem para ajudar a entender as relações entre eles.
No entanto, o que mais chama a atenção é a inventividade e o bom humor do roteiro. Embora nem sempre os trocadilhos e brincadeiras funcionem (afinal, há limites para o trabalho de adaptação de um título originado no Japão), o título consegue divertir e manter sua identidade como uma experiência que mistura de maneira única situações bastante sérias a um humor que, em alguns momentos, beira o pastelão.
Também deve ser elogiado o fato de que a Capcom soube criar casos repletos de surpresas reais — mesmo sabendo o culpado por um crime, você muitas vezes vai ter que lidar com mudanças de rumo inesperadas que vão desafiar sua capacidade de provar que alguém é inocente. Isso, somado à qualidade da escrita, faz com que chegar ao final de um caso proporcione um prazer semelhante ao de ter lido um bom livro de mistérios.
Infelizmente, nem tudo é perfeito no jogo: em alguns momentos, a trama perde ritmo graças à inserção repetida de diversas piadas ou comentários aleatórios que fazem com o jogador se sinta estagnado. Também há o retorno de certas limitações que, se necessárias para que o roteiro funcione, não deixam de ser frustrantes — mesmo dispondo de uma prova capaz de mudar o rumo das investigações (e sabendo de sua importância), você só pode apresentá-la no momento em que o game julga necessário.
No entanto, isso não é suficiente para estragar a experiência oferecida pelo game. Com cada caso durante uma média de 5 horas para ser concluído (isso é, caso você não decida pular todos os diálogos), ele oferece uma boa dose de entretenimento pelo preço cobrado. Vale notar que a aventura está disponível somente em inglês, sendo preciso um bom domínio do idioma para compreendê-la.
O game mais bonito da série
Phoenix Wright: Ace Attorney não é o jogo mais bonito do 3DS, mas sem dúvida é o mais atraente da série. Ao mesmo tempo em que é possível identificar facilmente as origens bidimensionais da franquia nos modelos tridimensionais dos personagens, a maneira como eles são animados se mostra bastante atraente — embora um tanto limitadas.
Algo que merece elogios é o fato de que a empresa responsável não decidiu seguir o “caminho fácil” e não reciclou nenhum dos modelos vistos em Dual Destinies, lançamento anterior da franquia. Isso não só faz com que os personagens preexistentes ganhem um novo patamar de qualidade em sua apresentação, como permitiu a criação de uma aventura com uma apresentação com elementos bastante coerentes entre si.
Aproveitando o poder oferecido pelo portátil da Nintendo, a Capcom apresenta cenários detalhados, “panoramas” interessantes dos tribunais e personagens com caracterizações bem definidas. No caso, o que mais chama a atenção são os pequenos detalhes, que vão da maneira como um promotor enrola seu cabelo até o dedilhado de um monge “metaleiro” em seu bandolim.
Para completar, a desenvolvedora também investe em algumas cenas de animação muito bem-feitas. Elas surgem tanto como uma forma de ajudar pontos-chave da narrativa a se desenvolver quanto como uma “recompensa visual” para os jogadores, funcionando como um respiro bem-vindo à visão em primeira pessoa que domina a aventura.
Faça uma visita a Khura’in
Phoenix Wright: Ace Attorney – Spirit of Justice mostra a série em sua melhor forma. A escolha do reino de Khura’in como cenário para a aventura permite não somente que a Capcom introduza uma nova mecânica coerente com a narrativa (e interessante do ponto de vista da jogabilidade), mas também crie um roteiro com novas figuras carismáticas e situação surreais interessantmes — fatores que sempre foram essenciais à franquia.
O game e sua história devem agradar tanto a fãs antigos quanto àqueles que estão entrando agora nesse universo, algo difícil para uma série cujas origens datam do Game Boy Advance. Apesar de algumas escolhas contribuírem para tornar o desenvolvimento da história um pouco lento em vários momentos, a Capcom merece elogios pelo trabalho realizado e por conseguir explorar bem o hardware e as características únicas ao Nintendo 3DS.
Caso você esteja procurando um visual novel bem-escrito e repleto de humor, não é preciso ir além do novo game da série. As diversas horas dedicadas ao título compensam bem o valor investido e o tamanho do download que você deve realizar para obtê-lo — infelizmente, tal qual aconteceu com seu antecessor, Spirit of Justice não vai ter no Ocidente o lançamento físico que sua qualidade justificaria.
- Apresentação que tira proveito das capacidades do 3DS
- Esquemas de controle variados e que aproveitam bem a tela de toque
- Personagens interessantes
- Roteiro que sabe ser intrigante e engraçado
- O ritmo da história fica muito lento em alguns instantes
- Limitações técnicas ainda restringem algumas atividades dentro dos tribunais
Nota do Voxel