Uma obra de arte interativa
Talvez não seja muita arriscado dizer que alguns jogos lançados para redes online do PS3 e do Xbox 360 estão para a indústria principal de games assim como o cinema arte está para os blockbusters hollywoodianos. Em ambos os casos, o que se tem é um espaço mais amigável para o experimentalismo, para desvios de formulas batidas... Bem diferente da indústria massiva, que normalmente garante as vendas com uma série de jogos pasteurizados e custosos para o desenvolvimento.
Mas se jogos como Braid, echochrome e Flower não foram suficientes para convencê-lo desse cenário, então talvez Outland o faça. Entretanto, antes de qualquer coisa, vale aqui um aviso: em suas partes, a proposta da desenvolvedora Housemarque talvez não possa reclamar grande originalidade. Isso porque há aqui elementos de Mario (plataforma), de Ikaruga (em sua concepção de cores polarizadas), de Super Metroid (no que tange a exploração de cenários) e de vários outros clássicos que construíram alguns dos arquétipos mais utilizados hoje em dia.
Entretanto, há um detalhe que coloca Outland instantaneamente em uma posição diametralmente oposta daquela que seria ocupada por uma simples cópia: o requinte de detalhes e a consequente imersão que conseguida pela Housemarque.
Em outras palavras, você provavelmente já pulou em plataformas, mas não com essa mecânica; você também já deve ter resolvido puzzles baseados em cores, mas não desse jeito; você também já deve ter visto centenas de histórias envolvendo maniqueísmos (forças do “bem” e do “mal” bem delineadas), mas não com a imersão e o estilo que se podem encontrar aqui.
Além disso, conduzindo a experiência toda, está uma direção artística a toda prova. Outland é um jogo belíssimo, com uma riqueza ímpar de contrastes, fundos dinâmicos e uma temática mística onipresente que apenas faz intensificar a experiência final. Após algumas horas, a impressão que se tem é invariavelmente esta: “Sim, eu já joguei isto... Mas não deste jeito”.
Assim como vários outros títulos menores e criativos, Outland serve como prova cabal da existência, hoje, de um nicho necessariamente artístico dentro da indústria de games. Embora não seja totalmente original, Outland — na sua simplicidade deliberada — consegue resgatar e jogar nova luz sobre elementos clássicos e até mesmo clichês dos games.
Afinal, você vai saltar em plataformas, vai resolver puzzles baseados em cores e destroçar chefões nada menos do que épicos. Ao longo do percurso, ainda ficará uma impressão de progressão muito semelhante a determinado clássico da Nintendo, o que é complementado por uma direção artística absolutamente detalhista e primorosa. Conforme dito anteriormente, isso tudo, é claro, já foi feito antes. Mas não. Não desse jeito.
Nota do Voxel