A mesma inovação que OnRush traz pode ser sua condenação
Em 2016, a Sony fechou o Evolution Studios, responsável por DriveClub. Diante da oportunidade, a Codemasters, que atualmente é uma das desenvolvedoras envolvidas de forma mais intensa com o gênero de corrida, não perdeu tempo e tratou de contratar boa parte do time da Evolution para tocar um novo projeto dentro de casa.
Encabeçado por Paul Rustchynsky, que foi o diretor de DriveClub, a equipe ficou responsável por OnRush, um jogo de corrida que, diferente do conceito amplamente empregado na indústria, não tem como objetivo cruzar a linha em primeiro. Na verdade, OnRush é descrito como um jogo de "combate veicular" – e é aí que a coisa fica interessante.
Inovar em um gênero tão tradicional é algo que sempre é visto com bons olhos, mas também é sabido que é repleto de desafios. No entanto, boas inspirações não faltaram: como eu disse durante a live de gameplay que fizemos lá em junho, uma das coisas mais evidentes de OnRush é que ele buscou muitos elementos presentes em Overwatch, o shooter/MOBA da Blizzard, e em outros MOBAs também.
Mas será que, assim como os primeiros Twisted Metal, Vigilante 8, Interstate 76, Rocket League e pouquíssimos outros títulos, OnRush consegue romper com o ciclo da corrida feijão com arroz?
MOBA + Corrida = OnRush
No papel, OnRush tem uma premissa legal, mas um tanto limitada: diferente dos exemplos que dei anteriormente, as "corridas" de OnRush ainda acontecem em circuitos, com muitos trajetos offroad, com diversos terrenos acidentados e envolvem muita velocidade e saltos, algo que fãs de MotorStorm, por exemplo, vão conseguir reconhecer logo de cara.
No entanto, você não tem uma quantidade de voltas e nem uma posição na pista: fundamentalmente, como em um MOBA, o objetivo do jogo é derrotar a equipe adversária. Cada equipe é composta por seis veículos e, no modo mais tradicional, a briga é por quem fica mais tempo na frente.
Sendo assim, a ideia é impedir que seus adversários fiquem na frente, enquanto você tem que manter a maior quantidade possível de carros do seu time na frente. Isso envolve estratégia e, claro, bater nos seus concorrentes – em uma pegada que lembra muito os primeiros títulos da série Burnout.
Os "takedowns" garantem mais pontos e também enchem uma barra pra sua "ult", com cada um dos veículos – que são basicamente buggies e motos – tendo a sua própria. As pistas são também povoadas por alguns mobs neutros, como se fossem os "minions" ou "creeps" dos MOBAs mais tradicionais, que também contribuem para que você ganhe mais pontos e encha a barra de especial mais rápido.
Aqui vem que a inspiração nesses games é bem clara: alguns veículos, como o Dynamo, oferecem um poder que libera mais itens de boost para a sua equipe e, portanto, tem uma função mais de suporte. Outros, como o Interceptor, já tem uma função mais de ataque, enquanto as motos são mais ágeis e conseguem rapidamente se manter à frente dos demais, mas são também mais frágeis e fáceis de abater.
Outros modos também envolvem manter a maior quantidade possível de carros do seu time dentro de um círculo móvel, ou passar por dentro de marcadores na pista para que você extenda o tempo de um timer. A constante aqui é, justamente, que o trabalho em equipe é essencial.
No entanto, a sensação que se tem com OnRush é que ele não consegue reforçar os objetivos de forma suficiente no gameplay e o resultado final é sempre um gameplay meio bagunçado e, apesar de divertidíssimo, é confuso: fica difícil focar nos objetivos com tanta coisa acontecendo na pista, então você meio que entra, bate em todo mundo e espera pra ver qual vai ser o resultado da partida.
Para fechar os paralelos, é impossível olhar para as ferramentas de customização do personagem – com skins, lápides e poses de fim de partida – e também o sistema de pontuação ao fim das partidas, com medalhas, e não lembrar de Overwatch. Isso acaba ajudando bastante o jogo a deixar clara a sua proposta.
O que OnRush faz bem
Uma coisa que é inegável é que OnRush é estupidamente divertido, além de ter poderes e roles para os veículos que fazem muito sentido estrategicamente. A diversidade de veículos e poderes também ajudam bastante à trazer um pouco de dinamismo às partidas e à experiência do jogador, que pode dedicar seu tempo para ver qual combinação de modos e veículos podem lhe servir melhor.
O gameplay frenético é envelopado por uma trilha sonora excelente e que complementa muito bem a experiência.
Graficamente o game também é muito competente, com destaque para os cenários riquíssimos e performance fluida nos consoles. A jogabilidade, apesar de não ser extremamente precisa, faz bem seu trabalho – em partes por ser bastante simples e acessível.
A parte de áudio também merece destaque, uma vez que o jogo vem totalmente localizado para português do Brasil com um trabalho de dublagem tão bom quanto o original.
O que OnRush não faz tão bem
Apesar de se apoiar em um conceito tão popular na atualidade e ter elementos que podem soar familiares para vários jogadores (inclusive os que não costumam jogar games de corrida), OnRush sofre, principalmente, em dois pontos: a estratégia de venda adotada e sua dependência do multiplayer.
Embora Overwatch tenha chegado ao mercado cobrando o preço cheio, parece que a Codemasters foi um pouco ambiciosa demais ao querer cobrar mais de 200 reais por um jogo que ainda é de corrida e, portanto, ainda é de nicho. Em outras palavras: a experiência final não vale o que foi cobrado no período de lançamento do jogo e, talvez, considerar uma abordagem free-to-play tivesse sido mais coerente para instigar as pessoas a experimentarem OnRush.
Isso porque o jogo é amplamente dependente do modo multiplayer e, assim sendo, precisa de muita gente jogando – algo que não aconteceu. Quando jogado no single player, OnRush rapidamente se torna repetitivo e uma experiência insossa, vazia, que entretém por algumas poucas horas. O modo multiplayer ranqueado, o queridinho pelos amantes de MOBA, é justamente o que pode dar o tempero à experiência – mas, para isso, é necessário ter jogadores.
Vale a pena?
No fim, embora tecnicamente OnRush seja extremamente competente e sua vontade de inovar seja louvável, a execução de tudo isso dependia de um fator comum: volume de jogadores.
Além disso, a execução do conceito é um pouquinho confusa e o direcionamento para os objetivos dos diferentes modos poderia ser um pouco maior, evitando que o gameplay seja confuso e até mesmo sem muito sentido.
Ainda assim, numa promoçãozona generosa, vale muito a pena considerar OnRush porque, no geral, a experiência é muito divertida.
- Gameplay extremamente frenético e divertido
- Trilha sonora complementa bem a experiência
- Conceito inovador para o gênero de corrida
- Controles simples e acessíveis
- Experiência single player se torna repetitiva rapidamente...
- ... O que o torna dependente demais do multiplayer
- Apesar de divertido, jogatina por ser um tanto confusa
- Muito caro pelo o que oferece inicialmente
Nota do Voxel