Ao contrário da série de mangás, World Red passa longe do sucesso
Baseado na popular obra de Eichiro Oda, One Piece Unlimited: World Red é um game que tem uma história de desenvolvimento peculiar. Lançado originalmente no Japão de forma exclusiva para o Nintendo 3DS em novembro de 2013, o game ganhou adaptações para o PlayStation Vita, o PlayStation 3 e o Nintendo Wii U em julho deste ano — o que marcou sua chegada ao mercado ocidental.
Embora tenha grande influência do mangá e do anime, o jogo conta uma história totalmente inédita estrelada pelos Piratas do Chapéu de Palha. Após aportar em uma nova ilha, Monkey D. Luffy se separa de seus amigos e, pouco tempo depois, descobre que eles foram raptados por uma força misteriosa.
Agora, cabe a você não somente descobrir a localização do resto de seus companheiros, como também é preciso cumprir sozinho a promessa de reconstruir toda uma cidade. No meio disso tudo, o jogador não somente vai reencontrar (e controlar) seus amigos, como também vai ter que enfrentar diversas figuras que marcaram o passado da série.
Estrutura engessada
One Piece Unlimited: World Red é constituído por dois modos de jogo: “Battle Colisseum” e “Main Story”. Enquanto o primeiro envolve uma série de batalhas com grau de dificuldade crescente, o segundo é onde o jogador vai poder testemunhar a história do título — e provavelmente vai ser a opção com a qual você mais vai gastar seu tempo.
O título possui uma estrutura bastante clara: após cada trecho de aventura, você volta para a cidade de Transtown e usa o dinheiro e os itens que coletou para adquirir suprimentos ou investir na construção de novas estruturas. Além disso, também é possível iniciar missões secundárias, que vão desde enfrentar algum chefe em condições diferentes até reunir determinada espécie de inseto ou peixe em um determinado limite de tempo.
Embora em um primeiro momento isso pareça garantir certa variedade ao título, não demora muito tempo até que você se pegue repetindo o mesmo ritual. Grande parte disso se deve à estrutura das fases apresentadas pelo título, que repetem exatamente os mesmos tipos de desafios do início ao fim.
Ao entrar em alguma das opções disponíveis, o jogador é transportado a um mapa que lembra alguns dos cenários pelos quais os Piratas do Chapéu de Palha já passaram em seu passado. Exemplo disso é a cidade de Alabasta, que serve novamente como palco para um confronto com o Shichibukai Crocodile.
Antes de enfrentar o personagem que atua como “chefe”, o jogador se junta a dois personagens controlados pela inteligência artificial para enfrentar uma série de inimigos sem personalidade e que podem ser derrotados facilmente. Após passar aproximadamente 20 minutos fazendo essa atividade, você finalmente enfrenta o grande vilão da fase que, apesar de exigir o uso de algumas estratégias de ataque mais variadas, nunca se prova realmente desafiador.
Mistura de Dinasty Warriors e Monster Hunter
Os combates de One Piece Unlimited: World Red têm bastante influência da série Dinasty Warriors, fazendo com que os jogadores tenham que enfrentar uma série de inimigos “genéricos”. Cada adversário abatido faz aumentar a barra de especial do personagem escolhido que, assim que é preenchida, permite realizar ataques devastadores que muitas vezes são suficientes para acabar com uma luta.
Também é possível sentir certa influência da série Monster Hunter da Capcom, principalmente no ritmo de jogo adotado pela desenvolvedora Ganbarion. Os golpes dos personagens têm certo “peso” e se mostram um pouco mais lentos do que o desejado, além de não permitirem a realização de grandes combinações.
Na tentativa de trazer mais variedade a esse sistema, os desenvolvedores incorporaram um sistema conhecido como “Break Rush”. Após seguir uma série de comandos apresentados no canto da tela, o jogador ganha um aumento temporário para seu poder de ataque, o que ajuda a tornar mais rápidos os combates. Infelizmente, os benefícios trazidos por esse sistema são limitados e muitas vezes você vai preferir ignorar as instruções mostradas e se focar em combinações que sabe serem mais eficientes.
Em qualquer momento do combate, você pode tomar o controle de um dos dois personagens que o acompanham durante a aventura (definidos antes o início de cada fase). Algo que surpreendeu foi o fato de que os membros de sua equipe possuem uma boa inteligência artificial e são capazes de derrotar facilmente várias levas de soldados inimigos sem receber qualquer dano no processo.
Além dos botões de ataque e pulo, o jogador também conta com um comando para desviar ou contra-atacar inimigos, que se mostra especialmente útil durante as batalhas contra chefes. Infelizmente, nem sempre essa opção responde de forma ágil o bastante (especialmente se você está em meio a um combate), e não raras vezes ela o coloca no rumo de algum ataque do qual não é possível desviar.
Fora a repetição constante, o que mais incomoda nos combates é a câmera, que nem sempre se adéqua aos espaços reservados pelos desenvolvedores. Esse problema se mostra especialmente grave em confrontos contra inimigos gigantescos, cuja proximidade geralmente faz com que você perca totalmente a noção do posicionamento de seu grupo.
Respeito ao material-base
Um ponto que não pode ser criticado em One Piece Unlimited: World Red é seu respeito ao material-base produzido por Eichiro Oda. Não somente o game conserva os traços do autor original (graças ao uso de técnicas de cell-shading), como reproduz ataques famosos de maneira bastante convincente.
Um ponto que se destaca nesse sentido são as cenas não interativas, todas elas dubladas exclusivamente em japonês (com texto em inglês). Além de avançar a história, elas são responsáveis por resgatar muito do humor característico ao mangá e ao anime e devem agradar a quem é fã do estilo de roteiro de Oda.
Os novos personagens introduzidos pelo game foram criados pelo próprio autor, o que faz com que eles se encaixem muito bem no contexto geral da ação. No entanto, caso você esteja começando a acompanhar a obra, recomendamos esperar um pouco para jogar o título — muitos dos personagens e poderes que aparecem surgem após o período em que Luffy e seus amigos ficam separados, então é bom ter acompanhado a aventura até pelo menos esse ponto para não se deparar com surpresas.
Diferenças entre as versões
Durante nossa análise de One Piece Unlimited: World Red, tivemos a oportunidade de testar as versões do game para Nintendo 3DS, PlayStation 3 e PlayStation Vita. Embora todas elas sejam essencialmente iguais, cada uma apresenta algumas peculiaridades que podem fazer você pensar duas vezes antes de realizar uma compra.
Enquanto o lançamento para o PlayStation 3 é a forma mais “convencional” do título, no Vita ele traz como vantagem o fato de a tela OLED do portátil lidar de maneira mais agradável com a paleta de cores brilhantes adotadas pelos desenvolvedores. Além disso, é possível usar a tela de toque do video game para acessar mais rapidamente alguns equipamentos e comandos.
Já o Nintendo 3DS possui gráficos ligeiramente mais simples, mas se beneficia com a presença de uma segunda tela, que torna muito mais prático navegar pelos mapas e averiguar pontos de interesse. No entanto, essa opção sofre com a falta de um segundo direcional analógico, deixando a um pouco mais grave o problema enfrentado durante certas batalhas e em alguns momentos de exploração.
Já o lançamento para Wii U pode ser considerado a “versão definitiva” do título para consoles de mesa, combinando um maior potencial gráfico a recursos exclusivos oferecidos pelo GamePad. Independente da versão escolhida, você vai obter exatamente a mesma experiência básica, embora ela se apresente de forma ligeiramente diferente em cada meio.
Para completar, quem decidir investir em duas cópias do game poderá realizar o compartilhamento de saves entre plataformas de mesas e video games portáteis. Naturalmente, a compatibilidade nesse sentido se dá entre o PS Vita e o PlayStation 3 e entre o Nintendo 3DS e o Wii U.
Vale a pena?
Vamos ser sinceros: One Piece Unlimited: World Red é um game feito para fãs e dificilmente vai capturar a atenção de quem não acompanha a série ou tem aversão a ela. Apostando em mecânicas repetitivas, o título se mostra uma experiência cansativa, na qual você só prossegue caso deseje ver quais personagens da obra de Eichiro Oda foram incluídos pelos desenvolvedores.
O lançamento se encaixa muito bem naquela categoria de jogos medíocres que, embora não possam ser considerados estritamente ruins, simplesmente não possuem elementos que os destaquem em meio a ofertas melhores. World Red é aquele tipo de produto que você compra em uma promoção, termina somente uma vez e depois deixa esquecido em alguma prateleira.
Caso você seja um verdadeiro fã de One Piece, provavelmente a quantidade de homenagens e referências feitas à série vão se mostrar suficientes para você desejar explorar a história até o seu final. Caso contrário, pode ser uma boa ideia conferir o que títulos concorrentes têm a oferecer antes de decidir levar o game para casa.
Categorias
- Respeito ao material original criado por Eichiro Oda
- Boa dublagem em japonês
- Combate limitado e repetitivo
- Estrutura engessada
- Quase nenhuma dose real de desafio
Nota do Voxel