One Piece: Pirate Warriors 4 é um musou variado e com boas ideias
Não hesito em dizer que o gênero musou sempre esteve entre os meus favoritos. Para quem não está muito familiarizado com o termo, musou é uma derivação do hack and slash, só que sempre com hordas de inimigos e um elemento tático para lidar com essas tropas. Uma mistura de pancadaria frenética e domínio de bases.
Quando se fala em musou, a primeira desenvolvedora que vem à mente é a Omega Force, responsável por Dynasty Warriors e pela consolidação do gênero. O estúdio japonês, aliás, assinou meus dois jogos prediletos do estilo: Hyrule Warriors e Dragon Quest Heroes: The World Tree’s Woe and the Blight Below.
Fonte: Voxel
Honestamente, a junção da bagagem da Omega Force com a popularidade de One Piece é um tiro certeiro. One Piece: Pirate Warriors 4, o primeiro game da franquia concebido para os hardwares atuais, escalou tudo aquilo que funcionou nos jogos anteriores e ainda corrigiu alguns dos deslizes apresentados por eles. Confira a nossa análise completa.
Enredo enxuto, mas fiel
Eis a pergunta do milhão: como resumir em uma campanha de 20 horas um anime que já tem quase mil episódios? É um questionamento complexo que, convenhamos, Pirate Warriors 4 não soube responder. Em meio a tantas aventuras do Bando do Chapéu de Palha, o game se perde na tentativa de contextualizar o jogador que nunca assistiu ao anime ou leu o mangá.
A campanha é dividida em seis arcos: Alabasta, Enies Lobby, Guerra dos Melhores e Novo Mundo, além de cenários mais recentes, como a Ilha Whole Cake e o inédito e exclusivo País de Wano. Cada arco conta com seis ou sete missões, sendo que algumas delas devem ser cumpridas com personagens específicos.
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Com breves resumos antes de cada missão no Log Dramático, como é conhecido o modo história, os acontecimentos foram enxugados de tal forma que não fazem muito sentido para quem acabou de chegar. Os personagens iniciais, por exemplo, como Zoro, Nami, Sanji e Usopp, sequer são introduzidos. Ao invés de apresentar os eventos de forma mais objetiva, o jogo deixa lacunas que contribuem para uma narrativa um tanto desconexa. Faltou se aprofundar em detalhes importantes.
Embora o modo história seja o grande chamariz, Pirate Warriors também oferece conteúdo pós-jogo a quem pretende continuar a jogatina depois de zerar. No Log do Tesouro, você pode embarcar rumo ao desconhecido em partes inexploradas do mar, com episódios desmembrados em três oceanos: East Blue, Grand Line e Novo Mundo.
As missões do Log do Tesouro têm recompensas únicas e regras especiais para apimentar a experiência, como dificultar a quebra de armadura em certos inimigos ou controlar determinados vilões. Há conteúdo suficiente para distrair o jogador por cerca de 15 horas ou mais, mas os complecionistas que quiserem miletar ou platinar terão que investir cerca de 35 horas no total, intercalando entre campanha e Log do Tesouro. O pacote é até que honesto, não?
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A variedade de que o gênero tanto carece
O segredo para quebrar o caráter repetitivo do musou é oferecer um combate variado. E isso Pirate Warriors 4 cumpre com êxito. Os mais de 40 heróis e vilões jogáveis são separados por categorias, o que inclui diferentes tipos de abordagem, como poder, velocidade, técnica e céu. Lutadores especializados em combate céu, por exemplo, como Smoker, dependem de combos aéreos e execuções especiais em plano alto. Já Luffy, o protagonista, desfere golpes mais pesados e sem tanta velocidade por pertencer ao tipo poder.
Existe um bom contraste de personagens e é justamente isso que enriquece o sistema de combate. Cada lutador é único, com seus próprios padrões de ataque e movimentação, então não é só esmagar os botões de ação para que as batalhas possam fluir - pelo contrário, é preciso compreender cada personagem se sua intenção for varrer campos de batalha com sequências irrefreáveis.
Outro complemento interessante é que existem desvantagens baseadas em fraquezas reais do anime. Sanji, por exemplo, é ineficiente contra o sexo feminino, isto é, ele absorve mais dano e tem menos poder de ataque contra mulheres. O mais legal é que o jogo te avisa quando a escolha de personagem não for tão inteligente.
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Assim como em outros jogos do gênero, Pirate Warriors 4 sofre com uma câmera que teima em ir na contramão da pancadaria desenfreada. A trava de mira também é inflexível e nem sempre conduz a câmera para onde você quer, o que acaba atrapalhando em lutas contra chefes que ganham proporções absurdas - um tipo de forma gigante que também é novidade. Deixo aqui o pensamento filosófico: será que vai chegar o dia em que não teremos mais problemas de câmera nos musous?
Sistema de progressão competente
Em linhas gerais, o sistema de progressão baseado em níveis é simples e viciante. Basicamente, cada lutador tem o seu próprio nível de crescimento e um mapa único de habilidades a serem desbloqueadas. Além disso, você utiliza materiais obtidos nas batalhas para melhorar os atributos do mapa inicial, uma espécie de árvore compartilhada em que os mesmos upgrades são aplicados para todos os personagens.
Você também pode equipar conjuntos de habilidades diferentes em heróis ou vilões, bem como alterar seus movimentos especiais para criar novas formas de explorar os pontos fracos dos inimigos. O sistema é bastante maleável e consegue imprimir a gratificante sensação de se sentir cada vez mais forte.
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A dificuldade, por sua vez, torna-se inexistente depois que os personagens evoluem no sistema de progressão. Mesmo nos níveis difícil e muito difícil, você não se sentirá acuado e com problemas em avançar ou concluir atividades. Trata-se de um jogo mais descerebrado (no melhor sentido que isso possa ter) e que não propõe grandes desafios. Ser invencível faz parte da graça.
Visual razoável e algumas correções
Pirate Warriors 4 está bem longe de ser um dos jogos mais bonitos de anime, mas passa de ano. Com elementos destrutíveis e personagens fiéis à estética da obra original, seria injusto apontar limitações gráficas a um jogo que não se arrisca em ser mais do que realmente é: uma experiência arcade do início ao fim.
Na verdade, é preciso elogiar a parte técnica que, mesmo quando há muitos elementos na tela, não sofre com quedas de frame e nem lentidão - um problema comum em títulos do gênero. Por incrível que pareça, Pirate Warriors 4 supera obstáculos de performance e talvez seja o musou mais estável que eu já vi.
Há, no entanto, alguns detalhes que não passam despercebidos, basta se atentar aos erros grotescos nas legendas (parece que alguém simplesmente esqueceu de traduzi-las). O trabalho questionável de localização é a prova viva de como a falta de cuidado pode comprometer a imersão.
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Veredito
Autêntico à sua maneira, One Piece: Pirate Warriors 4 é competente o suficiente para atrair fãs do anime e adeptos do gênero ao qual pertence. Mesmo não sendo convidativo a quem desconhece o mangá, o game tenta ser um musou menos previsível ao aplicar mecânicas de combate que, na prática, diversificam a experiência. Se você é daquele tipo de jogador que só gosta de ligar o videogame para relaxar e descontrair, sem ter que pensar muito, saiba que Pirate Warriors 4 tem potencial para ser seu novo xodó.
One Piece: Pirate Warriors 4 foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise.
- Boa variedade de combate entre os personagens
- Progressão orgânica que te deixa com a sensação de estar cada vez mais forte
- Um dos poucos jogos do gênero que se manteve tecnicamente estável
- Conteúdo honesto: bom número de personagens, mapas e objetivos
- O arco do País de Wano, uma das novidades, corresponde à altura
- História enxuta torna a experiência um tanto desconexa
- Falta de cuidado na adaptação de legendas
- Câmera teimosa
Nota do Voxel