Nobody Saves the World: ser um Zé Ninguém é divertido (e repetitivo)
“Vai estudar para não virar um Zé Ninguém”. Quem é brasileiro já ouviu essa frase pelo menos uma vez na vida, entrando em contradição com a também clássica “você não é todo mundo”. Mas será que nossas mães e pais estavam certos?
A Drinkbox Studios, desenvolvedora canadense conhecida pela série Guacamelee! decidiu embarcar em uma nova jornada que, mesmo mantendo o estilo da empresa, tem sua própria pegada e se destaca de seus outros projetos. Com isso nasceu Nobody Saves the World. Confira agora a nossa análise do jogo:
Muitas formas para dar porrada
A principal palavra que define Nobody Saves the World é variedade. Tudo o que o jogo dispõe a apresentar está lotado de opções para que o jogador escolha as que mais se adéquem com seu estilo enquanto o incentiva a testar novas combinações que afetarão muito sua jogatina.
Controlamos Ninguém, um pequeno ser branco que acorda em um barraco sem lembrança de nada. Ao sair de lá, descobrimos que o grande Nostramagus, o mais poderoso dos feiticeiros, desapareceu bem quando uma entidade chamada Calamidade está invadindo o mundo com o objetivo de destruir tudo. Ao entrar na casa do sumido, encontramos a sua varinha mágica, cuja funcionalidade é transformar seu portador em diversas formas, cada uma com habilidades diferentes e únicas.
A égua não é exatamente a melhor forma, mas tem habilidades interessantes.Fonte: Voxel / Francesco Casagrande
Com 18 formas disponíveis no total, essa é a principal mecânica do jogo. Cada uma delas tem diferentes ataques e possuem habilidades ativas e passivas que influenciam bastante a forma de se jogar. Não só isso, mas após conhecermos o martelo Marty Joe, podemos equipar poderes de uma forma em outra.
Essa personalização é um ponto muito positivo por dar a liberdade ao jogador de testar combinações de ataques e passivas para tirar o melhor proveito de cada situação, seja a distância, corpo-a-corpo ou mesmo aplicando efeitos que ajudarão a drenar a vida dos adversários.
Para desbloquear novas formas e habilidades, é necessário completar pequenas missões com as habilidades que você já tem em um esquema parecido com jogos freemium de celular. Então, ao Consumir inimigos envenenados com o Rato, por exemplo, ganhamos experiência que vai ser necessária para subir o ranking do personagem e desbloquear o Guarda e a Patrulheira.
O Guarda é praticamente um tanque.Fonte: Voxel / Francesco Casagrande
O jogo incentiva algumas combinações com missões em que é preciso usar habilidades de uma forma em outra. Em alguns casos, se cria uma sinergia útil, em outros, nem tanto. Felizmente não é nada fixo, então após completar o objetivo, é só voltar para sua build favorita.
Esse formato de evolução não só é criativo como também foi uma ótima ideia da Drinkbox Studios para que os jogadores conheçam todas as suas formas diferentes feitas com muito carinho para o game.
Missões engraçadas mas repetitivas
Esse formato de missão freemium também está presente nos objetivos principais e secundários. Para acabar de vez com a Calamidade, precisamos juntar os 5 Cacos da Joia espalhados pelo mapa, mas encontramos pelo caminho a Guilda dos Cavaleiros, extraterrestres pedindo ajuda para encontrar seus amigos e até mesmo uma cientista que quer traduzir a língua dos golfinhos.
A escrita do jogo é ótima, com ótimos personagens, piadinhas criativas e ideias fora da caixa. Eu ri de diversas missões absurdas ou comentários sarcásticos feitos pelas dezenas de personagens que encontramos durante nossa aventura. Ainda que a justificativa para as missões sejam divertidas, não dá para dizer o mesmo dos objetivos.
Fiquei com pena do alien, ele só quer encontrar seus amigos.Fonte: Voxel / Francesco Casagrande
Participar de uma corrida, realizar desafios com uma forma específica, procurar algum personagem perdido no mapa é legal, mas a maioria das missões envolve entrar em masmorras, derrotar inimigos e achar algo lá dentro. Mesmo em áreas diferentes e com inimigos únicos, a dinâmica não muda, o que faz com que o jogo fique bem repetitivo principalmente após sua primeira metade. Foi muitas horas grindando só para subir de nível e ir para um lugar que eu deveria fazer as mesmas coisas.
Ainda assim, nem toda masmorra é igual a outra. Além de um nível específico necessário para ter uma chance contra os inimigos, algumas delas têm regras diferentes que desafiam a habilidade do jogador. A mais comum é que os adversários possuam um escudo que só possa ser destruído com um efeito, como veneno ou impacto, mas há uma boa variedade. Por exemplo, tem uma que multiplica o dano por milhares de vezes, então qualquer ataque é letal, e até uma que não disponibiliza nenhum item de cura. A fórmula continua a mesma, mas pelo menos traz um pouquinho de frescor nas batalhas.
Visuais: uma faca de dois gumes
E falando nelas, as batalhas começam a ter tantos inimigos em tela com o passar da aventura que se cria uma poluição visual gigantesca. Eu fui cercado diversas vezes por tantos inimigos que fiquei só esmurrando botão e olhando para minha barra vida, pois eu não fazia a menor ideia de onde meu personagem estava. Inicialmente, pensei que isso era só em uma ou outra masmorra, mas foi se repetindo um grande número de vezes. Felizmente isso pouco acontece no mapa aberto.
Uma confusão tão grande que é difícil saber onde estou.Fonte: Voxel / Francesco Casagrande
Mesmo que essa confusão gráfica aconteça, ela não ofusca em momento algum a beleza do jogo. Nobody Saves the World é todo feito como um desenho animado que passaria facilmente na Cartoon Network nos anos 2000. Isso já é a pegada da Drinkbox desde seu primeiro jogo, mas aqui eles conseguiram pegar tudo o que aprenderam em Guacamelee! e Severed para entregar visuais lindos, únicos e com uma ótima iluminação. Inclusive, como fã do metroidvania de luchador deles, acredito que ele é ainda mais bonito que Guacamelee! 2, que eu sou apaixonado.
Vale a pena?
Nobody Saves the World é mais um acerto da canadense Drinkbox Studios, que já se solidificou no cenário independente. Bonito, engraçado e cheio de variedade, ele é uma ótima pedida para os fãs de dungeon crawlers que querem uma aventura mais leve. Ainda assim, ele exige que os jogadores tenham paciência para fazer atividades repetitivas e bons olhos para se achar no meio da multidão. A escrita inteligente faz com que todas as missões, mesmo as repetitivas, tenham seu valor além de criar um afeto ou menosprezo por algum personagem específico, tudo de forma equilibrada. E, para fechar, ele está disponível no Xbox Game Pass.
"Bonito, criativo e cheio de variedades, Nobody Saves the World apresenta uma boa e divertida ideia que peca na repetição"
Categorias
- Variedade de formas, poderes, ambientes
- Boa personalização das formas
- Aproveitamento das ideias de jogos mobile de cumprir missões, ganhar estrelas e progredir
- Gráficos em desenho bonitos com boa iluminação
- Escrita divertida, com bons personagens e que arranca algumas risadas
- Masmorras com desafios próprios que tornam cada uma difícil de seu próprio jeito
- Poluição visual quando há muitos inimigos na tela, difícil de saber onde estamos
- Dificuldade baseada em quantidade em certos momentos
- Obrigatoriedade no grinding para subir o nível e conseguir estrelas
- Jogabilidade repetitiva após a metade do game
- A maioria das missões secundárias são as mesmas
Nota do Voxel