As ruas guardam mais segredos do que você pode imaginar...
Need for Speed Underground 2 (NFSU2) amplia as opções do título anterior, dentro da mesma temática underground das corridas em cenários noturnos. A variedade de eventos e veículos disponíveis deve agradar aos fãs da série, bem como as variadas possibilidades de tuning nos veículos. A fraca história felizmente não compromete a diversão de dirigir máquinas potentes e a liberdade de desafiar carros para rachas a qualquer momento.
Mais do mesmo
É difícil criar altas expectativas com os jogos da EA, pois a essa altura todos já entendem mais ou menos qual é o modo de operação da empresa: em primeiro lugar estabelece uma franquia que cai no gosto do público, como Need for Speed, The Sims ou FIFA. Depois recria eternamente em cima da mesma marca, lançando expansões e novas versões que normalmente são apenas upgrades do jogo original.
Não há nenhum problema em desenvolver jogos aos poucos, transformando e melhorando a jogabilidade e recursos de uma franquia em acordo com a demanda dos jogadores. O grande problema é que cada jogo é vendido como se fosse algo novo, quando não passam de versões melhoradas (ou pioradas) de algo que já foi lançado no último ano. Com cada nova versão, parece que a empresa está apenas tentando tirar o máximo lucro em cima de uma marca. Essa idéia é reforçada principalmente pelo excesso de propagandas e merchandising encontrados nos jogos recentes da EA, como Fight Night e Tiger Woods PGA Tour.
Need for Speed Underground 2 também mostra uma série de marcas conhecidas no mundo tuning (principalmente fabricantes de peças), mas nem sempre elas estão presentes com o objetivo único de adicionar mais realismo ao jogo. É importante levar o excesso de propagandas em consideração, a fim de decidir se o que você está jogando é um jogo ou um catálogo comercial. Será NFSU2 apenas mais um caça-níquel da EA?
Ok, boa história. Que tal correr agora?
Jogos de corrida nunca precisaram de uma boa história para que fossem divertidos. Já era hora da EA se dar conta de que ninguém joga Need for Speed pelo enredo. Quando a história é tão fraca como em NFSU2, talvez fosse importante considerar a hipótese de simplesmente fazer o jogo sem história nenhuma.
Títulos como Gran Turismo mostram que é possível criar um jogo de corrida que é espetacular baseando-se apenas em jogabilidade e gráficos, sem a necessidade de criar um personagem com motivações duvidosas e amigos totalmente irreais como os apresentados em NFSU2. Brooke Burke (uma famosa modelo americana), faz o papel de principal aliada do seu personagem, mas nem isso desperta interesse pelo que ela tem a lhe dizer.
A história não poderia ser mais genérica: seu personagem envolveu-se em um acidente com uma gangue rival e agora mudou-se para Bayview, a fim de recomeçar a carreira. Você receberá mais pedaços de história periodicamente através de telas estáticas com um visual de histórias em quadrinhos. Mas o enredo se desenrola de maneira tão pouco interessante que certamente a maioria dos jogadores simplesmente escolherá pular esses pedaços a fim de explorar as novas corridas e partes da cidade.
Movidos pela adrenalina
A exploração em tempo real de Bayview Area é uma das maiores diferenças em relação ao primeiro Undreground. Você simplesmente pega um de seus carros e dirige pela cidade até encontrar os eventos de seu interesse. A cidade é enorme, com vias de níveis diferentes, que podem fazer com que você se perca. Depois de um tempo também fica chato, pois você tem que literalmente correr atrás de cada evento. Seria interessante se o jogo possuísse um modo mais simples de acessar cada evento diretamente, através de um menu.
Outros carros trafegam pela área, incluindo possíveis oponentes, que estão indicados no mini-mapa por uma seta amarela. É fácil identificá-los visualmente, devido ao visual customizado. Basta chegar com o seu carro atrás deles e apertar o direcional pra cima, para iniciar um racha. Bem, uma espécie de racha, pois é iniciado com os dois carros já em movimento: basicamente você precisa alcançar o oponente, ultrapassá-lo e abrir uma distância considerável, indicada por uma barra no canto superior esquerdo.
Essas corridas podem ser emocionantes, dependendo de onde você as inicia; existem áreas da cidade com muitas curvas, que geram rachas mais lentos e tensos, onde você não pode dobrar errado, pois perderá o oponente de vista. Outras áreas incluem vias com 4 pistas de alta velocidade, onde qualquer erro de manobra ou colisão significa derrota. Com o tempo você definirá os melhores lugares para iniciar a corrida, de acordo com seu carro e habilidades.
Além dos rachas (que são chamados de Outruns) existem mais 6 tipos de eventos: Circuit, Drag, Drift, Sprint, URL e Street X. Os quatro primeiros retornam do primeiro título, com pequenas alterações para melhorar a jogabilidade. Os dois últimos são variações de corridas normais e não se destacam na diversão como as Outruns. As corridas Drag continuam sendo as únicas que dão uma sensação real de velocidade, comparando-se a jogos como Burnout, por exemplo.
Acidentes com um ar de drama
Na maior parte do tempo você estará andando rápido o suficiente ou pelo menos se sentirá assim, devido ao grande número de efeitos visuais colocados pelos desenvolvedores. Alguns chegam a ser exagerados, como o rastro de luz das lanternas traseiras quando o turbo é acionado, mas em geral são bonitos e melhoram o jogo. Os efeitos de clima são especialmente bonitos: quando chove, tudo brilha, as gotas atingem a câmera do jogo e uma neblina prejudica a visibilidade. Só não preste muita atenção no fato de que parece chover apenas sobre o seu carro.
A sensação genuína de velocidade é muito prejudicada quando você bate ou projeta o carro a uma certa altura. Caso isso aconteça no meio de uma corrida, imediatamente o jogo entrará em slow-motion, a fim de dar mais dramaticidade ao acontecimento. A idéia é boa, mas isso atrapalha demais a jogabilidade. O slow-motion normalmente envolve uma mudança de câmera, que desconcentra o jogador e quebra o ritmo da corrida.
Outra falha importante é o fato dos carros nunca sofrerem danos. É meio contraditório que o jogo entre em slow-motion para aumentar a emoção de uma colisão ao mesmo tempo que os carros capotam e rolam uns sobre os outros sem sofrer nenhum arranhão.
Questões técnicas à parte, o jogo é muito bonito e bem construído. Os modelos dos carros remetem perfeitamente aos carros reais e não perdem sua personalidade quando modificados com as inúmeras partes e peças que o jogo oferece. Os fãs de tuning tiveram a atenção da EA em NFSU2, pois é possível recriar carros “famosos” como os do filme The Fast and the Furious, utilizando as opções do Body Shop.
De acordo com os ritmos das ruas
Coerente com a atenção dada aos modelos dos veículos, NFSU2 também apresenta efeitos sonoros muito bons, notadamente no ronco dos motores. Cada modificação no motor produz diferenças e você pode sentir o carro ficando mais potente. Os outros efeitos também são de ótima qualidade, deixando derrapagens, freadas e colisões mais satisfatórias e realistas.
A trilha sonora é destacada pela releitura do clássico do The Doors, “Riders on the Storm” na voz do Snoopy Dog, que aliás, colabora para reforçar o clima noturno (que domina o jogo inteiro). Outras faixas e artistas são: "Lean Back" do Terror Squad, "LAX" de Xzibit, além de artistas como Sly Boogy, Felix Da Housecat, Paul Van Dyk, Cirrus, Ministry, Queens of the Stone Age, Mudvayne e Helmet, entre outros.
Need for Speed Underground 2 não é o melhor jogo de corrida no PS2, mas certamente é melhor do que o primeiro Underground. Entretanto, isso não é suficiente para manter a série Need for Speed no domínio do gênero corrida de rua, sendo que jogadores apreciadores de tuning devem prestar também atenção a outros jogos como Midnight Club ou Project Gotham que podem dominar o gênero no longo prazo.
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Nota do Voxel