Imagem de Mirror's Edge Catalyst
Imagem de Mirror's Edge Catalyst

Mirror's Edge Catalyst

Nota do Voxel
75

Mirror's Edge Catalyst inova, mas falha em manter a qualidade do original

A geração passada de consoles teve um leque enorme de grandes títulos memoráveis - daqueles que são icônicos e difíceis de não colocar em listas de melhores games. Apesar de ser uma opinião que pode dividir águas e encontrar diversas pessoas que dirão o contrário, para mim, Mirror's Edge foi um deles.

Quer você tenha gostado do primeiro jogo da série ou não, algumas qualidades são impossíveis de negar, como a imersão de altíssima qualidade, a introdução de mecânicas de parkour em primeira pessoa e gráficos soberbos que misturavam o fotorrealismo com o design minimalista. De uma forma ou de outra, Faith e suas "piruletas" se tornaram um dos ícones da sétima leva de video games.

Contudo, mesmo com tamanha representação e boas avaliações, a franquia da EA ficou no limbo durante muito tempo. Apenas na E3 de 2014 foi que a produtora deu um novo sopro de vida para dizer aos fãs que ainda havia planos para Mirror's Edge no currículo. Reboot? Sequência? Prequel? Durante muito tempo nós ficamos sem informações, mas Mirror's Edge Catalyst finalmente chegou, trazendo algumas dezenas de novas ideias, que nem sempre se alinham e combinam em uma boa jogatina. Confira a nossa análise completa.

Seria "1984"? Não, é pior

Esqueça tudo o que você conhece da história de Mirror’s Edge. Catalyst é um reboot total, no qual conheceremos a origem de Faith, a mesma protagonista do primeiro game, mas em um mundo apenas semelhante. A história começa com um excelente pontapé inicial que se assemelha muito a "1984", obra de George Orwell. Todos os cidadãos vivem em uma cidade controlada por um governo autoritário e por grandes empresas de segurança, que vigiam cada passo dos habitantes.

Krueger é o antagonista da série, responsável pela segurança da cidade

Parece promissor, não? Infelizmente, a DICE tinha a faca e o queijo na mão, mas não soube aproveitar muito bem esse universo rico e o material já desenvolvido no primeiro título. Até a metade da trama, poucas coisas realmente bacanas acontecem, enquanto estão presentes plots twists previsíveis e um roteiro que não se destaca.

Apesar de ter uma ótima premissa, a narrativa cai em um ritmo lento e, muitas vezes, desinteressante. Os personagens, as corporações e os grupos não são necessariamente ruins, mas simplesmente não são memoráveis ou cativantes o suficiente para se tornarem ícones nas suas lembranças. Em outras palavras, algo foi mal executado. Por exemplo: você pode até gostar das ideias do Novembro Sombrio, mas vai ter pouco tempo para se identificar e simpatizar com a causa.

Esse mundo é colorido ou monocromático?

A maior novidade em relação ao seu predecessor é o mundo aberto. Como quase todos os elementos de Mirror’s Edge Catalyst, há características marcantes e bem executadas, enquanto outras parecem não combinar com a experiência. Apesar de existir o livre movimento pela cidade, a sensação é de que temos apenas um playground de parkour em grande escala, pois os telhados tendem a ser sem vida e sem pontos marcantes, se afastando do conceito de sandbox.

O mundo de Mirror's Edge Catalyst é aberto agora

Talvez a decisão de manter 60 quadros por segundo nos parâmetros dos consoles – que vamos detalhar mais para frente – não tenha sido a melhor decisão. Certamente, a experiência fica muito mais fluida, ideal para a execução de movimentos de parkour ou free running. Todavia, fica a pergunta: a que preço? Neste caso, o valor foi um mundo muito mais vazio e desinteressante do que o esperado.

Apesar de a maioria das missões principais ser muito boa, foi muito cansativo ir e vir pelos mesmos lugares todas as vezes que uma delas acaba, tornando a experiência repetitiva em certos momentos. Porém, aqui, como você vai ver, é sempre tudo 8 ou 80. Enquanto se mover do ponto A ao B para encontrar objetivos ou se locomover pela metrópole é sem sal, correr atrás das missões secundárias, participar de desafios e até mesmo criar os seus próprios percursos é algo em que você pode gastar horas sem enjoar. Caso você seja visto pelas autoridades enquanto vaga pelos telhados, terá que fugir e ficar fora de alcance por um tempo, igual em Grand Theft Auto V.

Há diversos tipos de sidequests, colecionáveis e corridas extras para realizar aqui, mas apenas alguns valem a pena. As missões secundárias são as mais interessantes, seguidas pelos desafios extras. Entretanto, a maior parte das lutas contra o cronometro ocorrem em espaços curtos, que são mais entediantes e sem sentido do que agradáveis. Grande parte deste conteúdo também pode ser acessado e visualizado pelo app do título: Mirror's Edge Companion.

Fazer entregas em uma luta contra o tempo é um dos desafios opcionais espalhados pela cidade

Contudo, há uma opção de fazer a sua própria corrida aqui, algo que pode quebrar a monotonia das eventuais entregas de pacotes do jogo. Basta ir até os pontos do mapa que você deseja colocar um checkpoint para criar a sua própria rota. O mais bacana disso é que se um amigo estiver online e passar por ali, o seu desafio será exibido automaticamente.

Le petit parkour

Felizmente, o ponto mais forte do game original foi mantido e até mesmo aprimorado, pois Mirror’s Edge Catalyst executa todas as mecânicas de parkour com maestria. O simples fato de correr, pular e rolar com a câmera balançando já é uma experiência de tirar o fôlego. Tudo é muito bem-feito e, principalmente, muito bem animado. Faith possui animações de movimento soberbas que dão mais veracidade e imersão ao jogo.

A protagonista ganhou novas "manobras", como pulos maiores ao segurar o LB/L1, o Shift (que garante um breve impulso) – e até mesmo movimentos com canos e outros objetos nas bordas para virar mais rápido. No geral, quase tudo foi melhorado. Houve muitos aprimoramentos em relação ao primeiro jogo, tornando quase tudo no mapa escalável – podem ser até mesmo usados como plataforma –, diferente dos obstáculos que tinham funções específicas no título original.

Entre as novidades mais legais, temos o MAG Rope, – um arpéu/gancho parecido com o do Batman – que nos ajuda a chegar em locais mais distantes, escalar mais rapidamente um prédio alto ou puxar objetos pesados. Um baita de um acessório legal para um mundo aberto, não? Infelizmente, trata-se de outro recurso mal utilizado.

O arpéu é uma das novidades

É simplesmente genial e extremamente divertido utilizar este acessório, mas você raramente tem a chance de usá-lo. Diferente dos títulos da série Arkham, o gadget não é elegível para utilizar em qualquer lugar, ou seja, ele funciona apenas em pontos específicos, que são bem escassos e mal aproveitados. Outra novidade é o Disruptor, um acessório que pode desnortear inimigos e paralisar drones e outros equipamentos de segurança.

Tanto os movimentos do parkour, como quick turn e rolamento, quanto as habilidades de combate podem ser aprimoradas em um sistema de skills bem básico. Não há reais vantagens nem desvantagens, apenas uma maneira diferente de conseguir as skills. Porém, vale ressaltar que ele passa longe do sistema de árvores visto em Rise of the Tomb Raider, por exemplo.

A árvore de skills de Mirror's Edge é bem pequena e não tem muito sentido

Combate: uma relação de amor e ódio

Agora vamos falar de um dos principais pontos negativos do game: o combate. Dessa vez, as lutas funcionam muito mais em conjuto com o parkour, mesclando movimentos das personagens com chutes e socos. A grande sacada aqui é que você pode direcionar o seu ataque, golpenado os adversários para o lado que você especificar. Quer chutar um soldado para uma parede na direita? Basta pressionar Y + LS (direta)/ Triângulo + LS (direita). Na teoria, isso é ótimo, mas...

Infelizmente, a inconsistência ataca novamente, pois, de vez em quando, as coisas fluem naturalmente e as lutas se misturam com o parkour de Faith, garantindo um espetáculo visual que se assemelha muito ao de um filme muito bem coreografado. Chutes direcionados conseguem quebrar os capacetes dos oponentes, há golpes à la krav maga e muita "piruleta" para tornar as coisas bonitas.

Às vezes, o combate pode ser bonito e coreografado

Entretanto, isso só funciona esporadicamente, pois os inimigos frequentemente aparecem em áreas mais abertas, impossibilitando a utilização correta das mecânicas de luta. Nesse momento, podemos observar uma inteligência artificial boba que mais se parece com a atuação de “Os Trapalhões”. É possível observar inimigos sendo nocauteados frequentemente ao tropeçar em um banquinho, atirar sem noção de alvo ou cair de um parapeito de uma forma mais pastelona que capanga de filme B.

É estranho que, comparando com o game original, muitos elementos bons foram retirados, como os contra-ataques, os comandos para desarmar os inimigos e até mesmo as armas de fogo, que serviam como um quebra galho. Para compensar, há uma barra de foco que reduz o dano e aumenta o momento, potencializando os ataques. Porém, ao adentrar uma área fechada com alguns inimigos, fica claro que a barra é inútil no mano a mano e os confrontos no geral são toscos.

Chutar um inimigo em um banquinho pode nocauteá-lo na hora. Faz sentido?

Visuais aos trancos e barrancos

De vez em quando, os gráficos são lindíssimos e de cair o queixo, rodando a incríveis e constantes 60 frames por segundo. Porém, advinhe? Mais uma vez, temos coisas muito ruins em contraponto com os visuais fotorrealistas. Frequentemente, as texturas vistas são de baixa qualidade ou demoram para carregar, enquanto os efeitos de reflexo são recheados de glitches, que ficam piscando e deixando tudo bizarro. Além disso, há muitos elementos com borrões, incluindo rostos de NPCs e objetos menores no cenário.

Repare que o rosto desta NPC está com um qualidade baixa e com um filtro que o deixa borrado

Diferente do game original, a cidade toda conta com muitos menos detalhes, incluindo menos cores na metrópole. De vez em quando, como nas missões principais, a paleta de tonalidades é um recurso mais que genial para conduzir o jogador pelo level design fantástico de Mirror’s Edge Catalyst. Contudo, durante o modo livre, vemos paredes opacas, telhados sem vida e uma linha virtual vermelha que faz um trabalho preguiçoso para guiá-lo nas alturas.

Se o traço imaginário incomodar – na verdade, trata-se de uma projeção de realidade aumentada de um acessório de Faith –, é possível desativá-lo e usufruir do “modo clássico”, que realça apenas alguns objetos para indicar o caminho. Contudo, este recurso frequentemente se perde e para de exibir dicas, tornando a navegação confusa.

Frequentemente encontramos texturas de baixa qualidade, como o colete deste inimigo

Vale a pena?

No final das contas, Mirror’s Edge Catalyst não é de forma alguma um game ruim. Quando os elementos certos se alinham, vivemos momentos fantásticos que se igualam à imersão original do primeiro título da franquia ou até a superam. Contudo, essas ocasiões são raras e nem sempre estão presentes de maneira consistente, mesmo na campanha principal.

Se analisadas separadamente, nenhuma das mecânicas ou características da jogabilidade é malfeita. Porém, o combate poderia ser melhor, a cidade poderia ter desafios mais interessantes, os novos recursos poderiam ser mais utilizados e a narrativa poderia ter sido aproveitada de forma melhor. Em outras palavras, quando Mirror’s Edge Catalyst é destrinchado em camadas menores, não há nada realmente muito bom além dos movimentos de parkour.

O que nos resta é um reboot que falha em seguir os próprios passos, criando uma experiência boa, mas longe de ser memorável. Você vai se divertir no modo livre e fazer muito parkour nas alturas, aproveitando o pouco do que uma cidade majoritariamente monocromática – mas que deveria ser cheia de cor – tem a oferecer. Mesmo com pontos positivos fortes, a sequência não vive na medida das expectativas.

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Pontos Positivos
  • A imersão em primeira pessoa é melhor do que nunca
  • Os movimentos de parkour foram aprimorados e ganharam novidades
  • Os gráficos geralmente são lindos e rodam em constantes 60 frames por segundo
  • As missões principais são muito boas e contam com um excelente level design
  • Parte do conteúdo do mundo aberto é divertido
  • É possível criar os seus próprios desafios e compartilhá-los online
  • Excelente level desing nas missões principais
Pontos Negativos
  • História conta com uma boa premissa, mas é mal executada
  • Muitas vezes, o combate é confuso, monótono e conta com uma IA boba
  • Parte dos novos recursos é mal aproveitado no mundo aberto
  • Muitas texturas e efeitos visuais lavados, além de diversos glitches visuais
  • O mundo aberto não conta com uma variedade grande desafios ou interações bacanas