Uma nova e divertida maneira de experienciar o mundo quadrado de Minecraft
Minecraft é um dos jogos mais vendidos do mundo e conquistou uma legião de fãs ao longo dos anos. Apesar de ter uma proposta simples, muitos admiradores conseguiram criar verdadeiras histórias com o game. E, para aproveitar tudo isso, a Telltale quis dar o seu toque pessoal em uma aventura de blocos.
Minecraft: Story Mode é o novo título da desenvolvedora, que utiliza os conceituados elementos de narrativa e decisões por trás de The Walking Dead e The Wolf Among Us. Será que, mesmo com um universo tão diferente, a companhia conseguiu produzir uma boa experiência e acertou no “raio adventurizador”?
Uma história fraca, mas com muito potencial
Em Minecraft: Story Mode, controlamos um personagem chamado Jesse, que, dessa vez, pode ser um menino ou uma menina de mais de uma etnia. O personagem deve, junto com seus melhores amigos Axel, Olivia, Petra, Lukas e o porquinho Ruben, ganhar a competição de construção de blocos da EnderCon, uma feira anual do mundo do game.
Contudo, eles não são muito bons e frequentemente são taxados de perdedores. Em algum momento da história, uma catástrofe acontece, e a equipe deve reunir os quatro heróis lendários da Ordem da Pedra, famosos por derrotarem o poderoso Ender Dragon, para resolver a situação. Em outras palavras, a típica aventura de um filme da “Sessão da Tarde”. De certa forma, grande parte do enredo se parece muito com os dos jogos de LEGO.
Desde a primeira cena da aventura, a Telltale foca em aprofundar duas coisas: a correlação com o universo Minecraft e um roteiro com o qual o público infantojuvenil se identifique. Mesmo com um enredo que se mantém raso e, de certa forma, bobinho, a desenvolvedora consegue prender a atenção na reta final deste primeiro capítulo.
O grande problema é que, durante grande parte das mais de duas horas de campanha do primeiro capítulo, o jogador deve realizar pequenas tarefas, como treinar para o campeonato da EnderCon, coletar materiais – que é muito mais acelerado em relação ao Minecraft original e feito a partir de QTEs – e tomar pequenas decisões que não impactam a narrativa.
Decisões pouco significativas
A Telltale é famosa por seus contos incríveis e a proposta de decisões que impactam muito o rumo da trama. Em The Walking Dead e The Wolf Among Us, por exemplo, não há conceitos de bem ou mal, apenas um sobrevivente de um apocalipse zumbi e um detetive – que é o Lobo Mau – que deve buscar respostas em meio a um caos de crimes.
Contudo, a desenvolvedora teve que dosar melhor as escolhas e a história de Minecraft: Story Mode, pois não há como encaixar a temática adulta aqui. Portanto, não espere por uma narrativa madura e recheada de mortes, dramas ou conceitos éticos e morais.
O game é muito mais voltado para o público jovem, com linguagem de gíria e piadas mais leves. As decisões perdem os tons cinzentos e nebulosos de The Walking Dead para dar lugar a escolhas mais óbvias. Aqui, as coisas são mais “preto e branco”, ou seja, você sabe qual é a decisão boa e qual é a ruim.
No fundo, elas não fazem muita diferença na trama. Escolher entre buscar o seu animal de estimação ou salvar o seu trabalho de ser destruído jamais vai causar um grande impacto na história. Entretanto, certas decisões podem liberar – ou excluir – alguns trechos exclusivos, que diferenciam a sua jogatina da de um amigo, por exemplo.
Somente no final do capítulo é que as coisas parecem a tomar o rumo de um típico título da Telltale. Algumas das escolhas realmente parecem ter um grande impacto e isso é muito bom para empolgar e prender os fãs ansiosos para um próximo episódio.
Minecraft na essência
A aventura de Jesse é lotada de referências ao Minecraft. O próprio enredo menciona o lendário Ender Dragon, os Withers, os Creepers, os Zumbis, as aranhas, o Iron Golen, os Ghasts e muitos outros. Todos os personagens e cenários parecem retirados diretamente de uma partida do título original da Mojang.
A Telltale fez um excelente trabalho ao trazer todo o espírito do universo dos blocos para a nova aventura. A jogabilidade pode até ser a mesma da já consagrada desenvolvedora, mas a sensação é de que estamos experimentando uma sessão de Minecraft.
Contudo, há ressalvas. Para se aproximar desse mundo de montar blocos, a produtora simplificou demais os puzzles e tornou a narrativa muito mais linear que a dos demais títulos de point and click da empresa. Lembra-se das longas caminhadas de The Walking Dead ou dos desafios investigativos de The Wolf Among Us? Eles não estão presentes aqui.
A exploração é limitada, pois a quantidade de diálogos com outros personagens e a coleta de itens para resolver enigmas é bem menor. Basicamente, andamos em uma linha reta, com eventuais cutscenes em que devemos tomar decisões. As grandes novidades, conforme supracitado no texto, são a coleta de materiais e a criação de equipamentos, tal qual acontece em Minecraft.
Apesar de ser uma boa referência e funcionar exatamente da mesma maneira, o sistema de craft serve mais para tapar um buraco e ser uma nova forma de resolver puzzles do que uma boa adição. Durante as mais de duas horas de campanha, só criamos objetos três vezes.
De uma maneira resumida, a Telltale simplificou a sua forma para agradar mais o público infantojuvenil. Durante a nossa análise, o jogo estava totalmente em inglês, algo que poderia interferir na experiência de crianças menores. Felizmente, depois da publicação, a desenvolvedora inseriu o idioma português brasileiro.
Gráficos pixelados (mas isso não é ruim)
Além dos personagens, itens, cenários e todos os outros elementos de background, a Telltale também recriou os gráficos de uma maneira muito semelhante à do original. Os visuais são extremamente fiéis à estética pixel art 3D e, muitas vezes, parece que foram criados dentro do próprio Minecraft.
O título utiliza ângulos de câmera, efeitos e pontos de vistas muito interessantes para criar uma boa campanha. É como se estivéssemos, literalmente, assistindo a um adolescente jogar uma partida do game de montar blocos, só que por uma perspectiva cinematográfica.
Durante a campanha, não há um único objeto que pareça fora de contexto com a estética Minecraft. Mesmo com mais polígonos para compor as expressões faciais dos personagens – algo que não existe no jogo da Mojang –, eles parecem pertencer ao universo e não deixam nada a desejar. Mais uma vez, a Telltale criou uma experiência audiovisual incrível, que busca o melhor da obra original, seja ela blocos digitais ou impressões de quadrinhos.
Vale a pena?
No final das contas, o primeiro episódio de Minecraft: Story Mode é uma excelente referência ao mundo do game original. Apesar de não apresentar decisões tão marcantes e ter um começo bem fraco, a Telltale consegue criar momentos muito bem-feitos durante a aventura e desperta uma grande expectativa nos minutos finais. Se você é fã do jogo da Mojang, com certeza vai amar a nova história.
Caso você seja alheio à Minecraft, mas goste da fórmula point and click da desenvolvedora, pode ter um pouco de dificuldade para assimilar o universo pixelado e a temática mais leve, mas, consequentemente, pode gostar bastante da narrativa – principalmente no final.
Nota de atualização: durante a nossa experiência com Minecraft: Story Mode – Episódio 1, o game estava todo em inglês, conforme foi citado nesta análise. Contudo, a Telltale adicionou legendas em português com a chegada do Episódio 2. Portanto, a partir da data de publicação deste texto, a aventura já conta com o idioma nacional.
Cabe ressaltar que a existência ou não do português brasileiro no jogo não interferiu no veredito da nota, apenas entrou como ressalva à experiência.
Categorias
- Final muito empolgante
- Gráficos extremamente fiéis ao Minecraft
- Pequenos mini games que se assemelham a jogabilidade de Minecraft
- Algumas sequências da aventura são muito bem-feitas
- A trama tem um começo bem lento
- Grande parte das decisões não afetam a trama
- Poucos puzzles e sequências interativas
Nota do Voxel