Imagem de Metal Gear Survive
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Metal Gear Survive

Nota do Voxel
50

Falta de identidade e de bons personagem tornam Metal Gear Survive medíocre

 

Quando Metal Gear Survive foi anunciado, estive entre aqueles que preferiu dar ao game o benefício da dúvida. Não somente porque vi ali algumas coisas que pareciam interessantes, como também pelo fato de que sei que a série não precisa do envolvimento direto de Hideo Kojima para oferecer boas experiências — o Metal Gear Solid de GameBoy Color e a subsérie Acid são bons exemplos disso.

No entanto, devo dizer que o resultado final apresentado pela Konami me deixou um tanto triste. Não porque o game não continua a história de Big Boss ou de Solid Snake, nem porque ele traz bastante foco em modalidades multiplayer, mas sim porque consigo ver nele as sementes para um game bom, que acabam sendo prejudicadas por uma série de decisões duvidosas.

Metal Gear Survive

Ao tentar misturar uma experiência de sobrevivência hardcore com um jogo que depende da exploração e de elementos de Tower Defense, a desenvolvedora oferece aos consumidores um game sem muita identidade e com combates desengonçados. Somando isso a um sistema de progressão lento e que parece apostar contra o jogador, temos em Metal Gear Survive um jogo deslocado do contexto geral da série e que peca demais para conseguir ser divertido.

Zumbis e intrigas em um universo paralelo

Vamos admitir: Metal Gear é uma série que nunca foi conhecida por suas histórias “pé no chão”, misturando espionagem, intrigas militares internacionais e pessoas com poderes especiais (“nanomachines”) com bastante liberdade. No entanto, Survive parece não se encaixar nem mesmo dentro dos padrões mais soltos estabelecidos pelos games anteriores.

Metal Gear Survive

Você é um soldado sem muita personalidade que é transportado para uma dimensões conhecida como Dite, que foi destruída graças a um parasita que domina seres vivos e os transforma em uma espécie de zumbi. Sua missão inicial é resgatar os sobreviventes da missão que foi enviada anteriormente ao local e encontrar um meio de evitar uma invasão que ameaça a vida na Terra.

A premissa é complementada por algumas intrigas políticas e reviravoltas que até chegam a ser interessantes, mas não afetam o universo Metal Gear como um todo. O problema do game é que alguns dos conceitos apresentados (como o uso livre de buracos de minhoca) parecem forçados, e faltam personagens que possam ser considerados marcantes — algo estranho para uma franquia que estabeleceu figuras inesquecíveis como uma de suas marcas.

Survive funcionaria muito melhor como um game original

No final das contas, é difícil fugir da impressão de que Survive funcionaria muito melhor como um game original que não tivesse qualquer relação com a história de Big Boss. No entanto, até entendo porque o nome da franquia foi usado: sem essa associação, tenho sérias dúvidas se os sistemas de jogo apresentados seriam suficientes para atrair jogadores para uma nova propriedade intelectual.

Sobrevivência frustrante

O novo Metal Gear leva a sério o subtítulo Survive — muito a sério, de formas que nem sempre são legais ou interessantes para quem está jogando. Especialmente no começo da aventura, gerenciar o nível de fome e sede de seu personagem é uma tarefa frustrante e que deve ser feita em ritmo constante — e não é só com isso que você tem que lidar.

Metal Gear Survive

O problema até diminui um pouco conforme você avança e destrava novas ferramentas de sobrevivência (bendito seja o filtro de água), mas nunca chega a desaparecer completamente. O que mais incomoda é que seu personagem nunca fica satisfeito por muito tempo, sendo que alimentos e bebidas influenciam em sua quantidade de energia e na capacidade de correr e se esgueirar pelos ambientes.

Entendo que a Konami quis usar isso como um elemento de tensão, mas, na prática, isso acaba sendo mais uma fonte de irritação — especialmente porque seus assistentes vão ficar avisando constantemente que é preciso repor seus recursos. Como se isso não fosse suficiente, a maior parte da exploração acontece em áreas nas quais é preciso usar um tanque de oxigênio para sobreviver, algo que adiciona mais uma porcentagem que cai em ritmo constante com a qual é preciso lidar.

Metal Gear Survive

Esse elemento se torna ainda mais irritante quando você descobre que a única forma de repor seu estoque de oxigênio é usando os cristais Kuban, que também são usados para criar itens e aumentar o nível de seu personagem. Cada recarga consome uma quantidade maior desse elemento, e não é nada incomum coletar 40 ou 50 mil cristais para vê-los desaparecer quase completamente porque você precisou manter seu personagem vivo.

Essas decisões fazem com que a exploração de Metal Gear Survive seja extremamente punitiva e faça com que o progresso de seu personagem seja muito lento. A única forma de equilibrar um pouco as coisas e ter mais satisfação é usando os bônus oferecidos pela Konami que, obviamente, só são liberados mediante algumas microtransações. No fim, a sensação que fica é que a progressão foi ajustada para ser frustrante em um nível no qual pagar dinheiro pra jogar menos parece algo atraente.

a sensação que fica é que a progressão foi ajustada para ser frustrante em um nível no qual pagar dinheiro pra jogar menos parece algo atraente

Também não ajuda muito o fato de que você vai passar a maior parte do tempo envolto em confrontos que não são atraentes do ponto de vista mecânica. Seus inimigos são burros e não perseguem você durante muito tempo, tampouco são capazes de desviar de cercas para realizar ataques, oferecendo um caso clássico no qual eles vencem mais pelo número do que pela inteligência.

Com a escassez de recursos, armas de fogo se tornam item raro e você vai passar a maior parte do tempo usando ataques corpo a corpo que não são muito satisfatórios. Na prática, Metal Gear Survive é um exercício de paciência no qual você vai ter que aceitar o fato de passar dezenas de horas “espetando” zumbis através de grades com uma lança.

Redenção no multiplayer

O modo mais divertido de Metal Gear Survive é sem dúvida seu multiplayer, no qual você pode esquecer um pouco da necessidade de repor recursos para se focar nos elementos de tower defense do jogo. Os itens disponíveis são bloqueados aos poucos, sendo que é preciso avançar um pouco na aventura principal para conseguir obter algumas das construções mais básicas para a sua sobrevivência.

Metal Gear Survive

Enquanto na campanha principal é preciso investir tanto em grades e barreiras quanto em abrigos, filtros de água e fazendas, no multiplayer o foco é muito mais na proteção de um ponto específico de sua base. Com isso, os processos de gerenciar inventário e decidir o que é importante ou não carregar são simplificados e você pode dedicar sua atenção a combater inimigos e colocar defesas em pontos certos.

Apesar de o modo cooperativo manter o mesmo sistema de combate da campanha, contar com a ajuda de outras pessoas para matar monstros se mostra mais divertido (e rápido). Além disso, os recursos disponíveis no mapa são menos escassos e as recompensas de uma defesa bem-sucedida costumam ser generosos tanto do ponto de vista de itens quanto da experiência acumulada.

Infelizmente, para ter chances de sobreviver, é preciso enfrentar boa parte da campanha single player, na qual a evolução de seu personagem é muito mais lenta. Isso porque ao jogo recomenda que você tenha pelo menos o nível 20 para participar das missões de nível fácil, algo que não havia ficado evidente durante os testes Beta realizados pela empresa.

Metal Gear Survive

Para deixar as coisas mais rápidas, pode ser necessário depender de um jogador mais experiente (e forte) disposto a “carregar” você nas primeiras partidas enquanto seu personagem ainda não é bom o suficiente. Depois desse ponto, o multiplayer se mostra bastante proveitoso e recompensador, mesmo que um pouco repetitivo em seus objetivos.

Não foi dessa vez, Konami

Metal Gear Survive é um game com estilo visual pouco atraente e que claramente foi construído com base em recursos criados para a região do Afeganistão vista em Metal Gear Solid V: The Phantom Pain. Tudo é muito cinza e marrom, o que resulta em uma experiência cansativa do ponto de vista pessoal na qual todas as áreas que você visita parecem ser exatamente a mesma.

Metal Gear Survive

O orçamento apertado dedicado ao projeto poderia ser compensado com uma história legal ou com mecânicas mais interessantes, mas isso não é o que encontramos aqui. Na prática, temos um game que até é bem sucedido em criar um clima de horror e tensão, mas que peca por não saber se quer ser uma experiência de sobrevivência ou de exploração — e que, para tornar tudo ainda mais confuso, também aposta em elementos de construção e de tower defense.

Metal Gear Survive não é de todo o ruim e dá para tirar algumas coisas legais da experiência depois de certo tempo. Mas, se ao falar sobre um game, meu comentário é de que “ele fica um pouco divertido depois que você investe umas 8 horas nele”, é porque há alguma coisa muito errada acontecendo.

Metal Gear Survive não é de todo o ruim e dá para tirar algumas coisas legais da experiência

Em resumo, esse é um game que adiciona pouco à série e que, mesmo distante dela, não conseguiria ser uma experiência de sobrevivência muito recompensadora. Até é possível ver um ou outro relance de uma ideia legal ou de uma mecânica que funciona, mas tudo isso está envolto em um pacote de mediocridade. Acredito que Metal Gear é uma série que ainda tem futuro distante de Hideo Kojima, mas o caminho seguido pela Konami neste lançamento não me parece o mais adequado.

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Pontos Positivos
  • Multiplayer traz momentos divertidos
  • O game consegue criar um bom clima de tensão em alguns momentos
Pontos Negativos
  • Mecânicas de sobrevivência ajustadas para serem frustrantes
  • Evolução do personagem acontece em ritmo muito lento na campanha
  • A história até tenta, mas não consegue ser relevante nem trazer bons personagens
  • Combate tedioso contra inimigos nada inteligentes
  • Aposta clara em mecânicas que favorecem microtransações