O conto de um herói que viveu tempo suficiente para se transformar em vilão
Metal Gear Solid V: The Phantom Pain é um game que fecha de vez a história de Big Boss (ou Snake) ao explicar um dos raros momentos da série que ainda não haviam sido esclarecidos por Hideo Kojima. Após os eventos de Ground Zeroes, o protagonista passa nove anos em coma, período durante o qual o exército formado durante o jogo Peace Walker se desfaz.
Após fugir do hospital em que ficou internado durante todo esse tempo, Venom “Punished” Snake parte em uma busca vingança contra o XOF, grupo de elite da Cypher responsável pelos ataques ocorridos no passado. Enquanto a hora da desforra não chega, cabe a você retomar o sonho de criar um país guiado pelas forças armadas no qual ideologias ou nacionalidades não têm importância.
Repleto de missões, segredos escondidos e revelações, The Phantom Pain é um game ao qual você pode dedicar meses de sua vida — especialmente se quiser obter a pontuação máxima em todos os desafios. O título é uma verdadeira carta de amor para os fãs da série que a acompanharam durante os últimos 28 anos e a maior prova que, além de saber contar uma história de maneira única, Hideo Kojima sabe se adaptar às exigências dos tempos atuais, sem depender da mera nostalgia para brilhar.
Furtividade flexível
Quem jogou Ground Zeroes vai ter grande facilidade em se acostumar com o sistema de jogo apresentado em The Phantom Pain. Embora o game ainda preze pela furtividade e recompense quem se movimenta de maneira cuidadosa pelos cenários, pela primeira vez na série é viável deixar de lado qualquer espécie de precaução e simplesmente sair atirando em tudo o que aparece na frente.
O título expande bastante os conceitos mostrados na introdução jogável lançada em 2014, especialmente no que diz respeito às ferramentas que Snake tem à sua disposição. Além de uma grande variedade de armas (que podem ser customizadas e evoluídas em uma área própria), o jogador conta com diversas ferramentas de distração e com um novo sistema de aliados.
Essas figuras controláveis de maneira indireta são a melhor adição ao título e oferecem uma série de oportunidades táticas inconcebíveis nos capítulos anteriores. O cachorro DD, por exemplo, pode apontar a localização exata de inimigos e outros objetos de interesse no mapa, facilitando a vida de quem quer se esgueirar silenciosamente pelos cantos.
Já Quiet, atiradora de elite que apareceu em destaque em vários dos materiais promocionais do jogo, serve como um ótimo suporte em situações de combate. Dependendo da forma como você evoluir sua relação com ela, a personagem também pode aprender a usar armas silenciosas e providenciar cobertura contra surpresas inimigas.
Ainda há a possibilidade de usar um cavalo e de contar com a ajuda de uma espécie de “mini-Metal Gear” que oferecem novas possibilidades de ataques e de transporte. Como só é possível levar um companheiro por vez às batalhas, cabe ao jogador se acostumar às características próprias de cada um deles para descobrir qual o mais apropriado a cada circunstância.
Mother Base
Quando você não está lutando (ou mesmo durante conflitos, caso tenha a coragem necessária), é bom passar tempo investindo em melhorias para seus equipamentos e para a Mother Base — local que serve como base do grupo Diamond Dogs. Através de uma série de menus, o jogador gerencia os recursos obtidos em campo de batalha de forma bastante expansiva.
A melhor maneira de recrutar novos soldados para o local é usando uma técnica conhecida como “Fulton Recovery” — um balão que envia inimigos inconscientes para seu quartel-general. Além de humanos, o recurso também pode ser usado para transportar animais, armamentos e até mesmo veículos, contanto que você tenha evoluído o equipamento de maneira suficiente.
A quantidade de elementos oferecidos pela Mother Base é imensa, e vale a pena gastar alguns minutos estudando os quadros de evolução disponíveis para planejar o futuro de seu herói. As armas disponíveis têm diversas opções de desenvolvimento futuro, e não é surpreendente chegar ao final do jogo principal sem ter testado nem metade do que a Kojima Productions adicionou ao catálogo de equipamentos.
Infelizmente, sua base de operações não oferece tantas coisas a fazer na maioria das visitas que você faz pessoalmente pelo local. Fora alguns desafios de tiro ao alvo, o local é cenário de algumas cenas de história bastante esparsas, o que significa que, na maior parte do tempo, você vai andar por ele em busca de alguns poucos diamantes sendo interrompido por poucos soldados que sempre batem continência para Snake.
Na prática, é possível passar diversas horas sem visitar o quartel general, se concentrando somente nas missões principais e secundárias que você tem à disposição. Muito disso é possível graças a um prático sistema de entregas, através do qual o jogador gasta alguns recursos para pedir a recarga de munição e silenciadores ou até mesmo a entrega de equipamentos pesquisados recentemente.
Conteúdo de sobra
Metal Gear Solid V: The Phantom Pain é um game imenso,tanto no tamanho de seu mapa quanto na quantidade de atividades à disposição. O título adota uma espécie de postura mista em relação ao território de cada missão: embora cada uma delas aconteça em um quadrante específico, você é livre para sair do rumo a qualquer momento com a intenção de explorar cantos distantes do mapa.
Para tornar isso mais fácil, desde o início da aventura há a possibilidade de usar um cavalo ou chamar a ajuda de um helicóptero de suporte. Conforme você desenvolve sua base e adquire recursos, é possível começar missões com uma série de veículos diferentes e requisitar pedidos de ataques aéreos — isso sem contar com as opções de locomoção que o jogador encontra em estradas e em bases inimigas.
Ao todo, o game oferece 50 missões principais e uma quantidade ainda maior de objetivos secundários que podem ser completados quantas vezes você quiser — não gostou de seu desempenho em um desafio? Basta voltar a ele para tentar de novo. Além disso, há uma série de missões não presenciais (tanto online quanto offline) que é possível cumprir enviando as tropas recrutadas conforme a trama de The Phantom Pain avança.
Em resumo, o novo Metal Gear Solid é um daqueles títulos que possui conteúdo suficiente para ocupar meses de sua vida. E o melhor é que, apesar de algumas missões terem objetivos semelhantes, elas nunca são exatamente iguais às outras, apresentando restrições e posicionamentos de inimigos variados que vão fazer você quebrar a cabeça para chegar à vitória.
Não pense que o jogo é fácil: desde o começo da história, os inimigos vão ficar atentos a seus passos e não vão desistir de descobrir onde está o protagonista caso ele seja visto. Mesmo que você ganhe novos equipamentos e opções de ataque conforme o game se desenvolve, seus adversários também recebem melhorias — a não ser que o jogador aposte em missões paralelas que podem bloquear suprimentos de capacetes, coletes e outros itens.
Fechando pontas soltas
Por motivo de respeito a nossos leitores, não vou falar detalhes sobre a trama de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, me restringindo a falar que ela deve agradar em muito a quem já acompanhou a série até aqui. Embora nem todos os pontos soltos da franquia sejam fechados, o título oferece muitas explicações e é uma ótima maneira de entender a transição de Big Boss de herói para vilão.
Quem conhece o estilo de Hideo Kojima já sabe o que vai encontrar no novo game: reviravoltas, vilões tão carismáticos quanto o protagonista e momentos em que situações ridículas acontecem para quebrar a tensão de uma cena. Tudo isso permeado por uma série de cenas de ação que conseguem tirar o fôlego devido à forma competente como elas são apresentadas.
A diferença em relação aos games do passado é a forma como muitos desses momentos são apresentados. Em vez de apostar em longas conversas de codec, a Kojima Productions introduz um sistema de fitas cassete que podem ser reproduzidas em qualquer ordem, servindo como um ótimo complemento para a trama.
O fato de muito da história ser apresentado de forma optativa deve agradar àqueles que têm em The Phantom Pain sua primeira experiência no mundo da série. Afinal, mesmo sem sua trama principal bastante interessante, o produto em geral é um game de ação bastante competente que funciona bem somente por sua parte mecânica — algo que infelizmente não pode ser dito de todos os capítulos da franquia.
Uma despedida agridoce
Há muito que poderia ser escrito sobre The Phantom Pain, e sinto que minha análise não tocou nem em metade dos pontos que se destacam no game. O lançamento é essencial para qualquer fã da série Metal Gear, adaptando de maneira genial os conceitos que a série vem apresentando nos últimos 28 anos a uma estrutura de mundo aberto.
O título apresenta uma jogabilidade ótima e prazerosa, na qual você realmente se sente no controle de um dos soldados mais habilidosos da história. Isso sem contar com a já conhecida habilidade de Hideo Kojima de narrar uma história que mistura momentos sérios, cenas ridículas e eventos improváveis em uma fórmula que funciona muito bem — e que, agora, recebe alguns tons sóbrios ausentes em capítulos anteriores.
Infelizmente, essa parece ser a última vez que os nomes Kojima e Metal Gear vão ser associados a um game, visto o fato de que o diretor está deixando a Konami (que detém os direitos sobre a série. Com o título, a Kojima Productions prova que sabe o que é preciso para fazer um ótimo jogo de espionagem, brincando com expectativas e surpreendendo os jogadores mesmo após dezenas de horas de exploração. Definitivamente esse é um título obrigatório para qualquer coleção que se preze.
- Jogabilidade acessível e envolvente
- Trama ajuda a fechar pontas soltas da série
- Gráficos atraentes em todas as plataformas
- Grande variedade e quantidade de missões
- Personagens carismáticos
- Alguns bugs menores típicos a jogos de mundo aberto
- Tempos de carregamento um tanto longos nos consoles
Nota do Voxel