Mercenários fazem um terrível trabalho em World in Flames.
O primeiro jogo da série Mercenaries debutou no PlayStation 2 e no Xbox, com um estilo extremamente similar a Grand Theft Auto. O título colocava você na pele de um mercenário e seu objetivo era eliminar 52 criminosos de guerra representados por cartas. Para isso, era necessário causar muitas explosões e embarcar em diversos conflitos intensos para receber uma graninha extra.
Mercenaries: Playground of Destruction trouxe muita ação para a tela dos jogadores e foi extremamente bem recebido pela crítica. A Pandemic Studios, empresa responsável pelo desenvolvimento do título, logo anunciou a seqüência da série, algo que causou muita ansiedade para os fãs de explosões.
Neste ano, o tão aguardado herdeiro chega às prateleiras. Intitulado Mercenaries 2: World in Flames, o título mantém suas furiosas explosões e a eterna busca por dinheiro, mas em uma estrutura repleta de bugs e outros problemas que colocam em dúvida a honra dos mercenários.
Disponível para Xbox 360, PlayStation 3, PC e PlayStation 2 (em uma versão ainda mais decepcionante), o título pode até oferecer alguns pontos positivos, como explosões e a liberdade de exploração, mas estes certamente são superados pelos diversos erros cometidos pela equipe de desenvolvimento. Pense muito bem antes de contratar Mercenaries 2: World in Flames caso esteja a procura de um jogo bem feito.
Assim como a maioria dos jogos de ação intensa, Mercenaries 2 não possui uma história digna de roteiros hollywoodianos. No início, você irá escolher entre três mercenários: Mattias Nilsson, Jennifer Mui ou Chris Jacobs. Cada um deles possui características únicas — e poderia ser diferente? —, mas em jogo as diferenças são quase imperceptíveis.
Mattias Nilsson é o mercenário de moicano, conhecido pelos jogadores por ter sua cara estampada na capa do game. Adora viver em caos e anseia por momentos em que o governo entra em colapso. Além disso, o protagonista não liga para a autoridade e para as pessoas em geral, conforme indica sua breve biografia disponibilizada em jogo. Nilsson possui a habilidade regenerar sua saúde de maneira mais rápida em relação aos seus comparsas.
Já Chris Jacobs é o típico soldado fortão. Sua força permite que carregue mais munição que os demais personagens — uma das características mais úteis no jogo. É conhecido por ter um coração bom e pela sua indignação com alguns atos cometidos pela humanidade. Tudo que deseja é encontrar e dar um fim a quem merece.
A asiática Jennifer Mui é a mercenária mais rápida entre os heróis. Conhecida como Jen por seus amigos, a protagonista é completamente focada em dinheiro, e nada mais lhe interessa. Sua experiência no ramo é de dar inveja aos companheiros, assim como sua beleza peculiar.
Um dos elementos que todos os personagens possuem em comum, além, é claro, de serem mercenários, é a trama da qual participam. A história basicamente é a mesma para todos, e sofre apenas algumas mudanças nos diálogos.
“Todos têm de pagar”
O plano de fundo de Mercenaries 2: World in Flames envolve acontecimentos ocorridos na Venezuela, local que se encontra em total caos devido uma rebelião envolvendo conflitos por petróleo. Você é então contratado por Ramon Solano para resgatar um de seus parceiros. Entretanto, após completar seu objetivo, o mercenário é traído por Solano e acaba sem seu pagamento e com um tiro na nádega.
Após isto, a vida dos mercenários se resume a vingança. Você embarca então em uma aventura absurda que possui como objetivo a queda de Ramon Solano. A história logo se torna previsível, e acaba realmente sendo apenas um plano de fundo para toda destruição. Algumas CGs explicam determinados momentos do jogo, mas são tão desprezíveis que provavelmente serão deixadas de lado pelo jogador.
Você também irá conviver com 5 facções diferentes — Universal Petroleum, People’s Liberation Army of Venezuela, Chinese Army, Allied Nations e os Rastafarian Pirates. Cada uma delas possui missões específicas que, de alguma maneira, irão aproximar o jogador de seu objetivo final. A convivência entre os grupos pode não ser muito harmoniosa, já que algumas vezes não se pode agradar a gregos e troianos.
Amigos ou inimigos?
Entretanto, existe uma bela convivência entre as facções e os mercenários. Ao realizar objetivos propostos pelos grupos ou simplesmente matar alguém da lista negra das equipes, você irá ganhar mais respeito das facções. Com isso, é possível pousar em seus heliportos e até mesmo adquirir suporte aéreo. Caso desrespeite os membros, as atitudes dos soldados não serão muito agradáveis. Eles começarão a disparar contra você e podem até fechar as portas do quartel-general do grupo.
Felizmente, a harmonia pode ser mantida sem dificuldades, e o jogador acaba nem notando seus status em relação às facções. Tudo que se tem a fazer é simplesmente completar as missões requeridas de um dos grupos até que estas acabem para então iniciar as atividades com outros comparsas.
Junto com as facções, surgem também diversos NPCs (Personagens não controlados pelo jogador) e seus terríveis diálogos. A variedade de falas é absurdamente baixa, e o título entra para a classe dos mais pobres no quesito. Para piorar, existem várias frases ambíguas que são usadas por inimigos e companheiros. Algumas vezes, elas aparecem fora de contexto e de maneira correta.
Um dos exemplos da pobreza nos diálogos é quando o jogador é solicitado para retornar a base para ser instruído. A fala desempenhada é sempre a mesma, e foi ouvida mais de 150 vezes, sem exageros, pela equipe do Baixaki Jogos. Nem mesmo os protagonistas se safaram das catástrofes do áudio, e repetem diversas vezes as poucas frases atribuídas pelos dubladores. Isto é realmente irritante.
Exploda tudo o que puder!
É possível dar um fim neste terror, utilizando, é claro, seu robusto arsenal. O sistema de combate é simples: correr e atirar. Entretanto, muitas limitações denigrem a matança. Mercenaries 2: World in Flames não conta com um sistema de cobertura, algo que seria muito útil em jogo. Além disso, o jogador não pode se abaixar para aprimorar a precisão de seus disparos. Isso realmente atrapalha, pois atingir um alvo em movimento é frustrante.
O jogador pode equipar até duas armas diferentes e também conta com a possibilidade de utilizar granadas. As granadas não são muito eficientes e a terrível experiência de lançá-las pode render apenas danos ao jogador. Existem diversas armas espalhadas pela Venezuela virtual do jogo, assim como uma série de veículos.
Motocicletas, carros, botes e helicópteros compõem o cenário e podem ser adquiridos pelo jogador — nem sempre da maneira agradável. Alguns dos veículos mais poderosos, como tanques de guerra e alguns helicópteros, só podem ser roubados através da realização de minigames. Nestes eventos, o jogador tem de simplesmente apertar o botão indicado na tela. Caso obtenha sucesso, você verá uma animação cinematográfica que terminará com um novo piloto.
Até mesmo os helicópteros que se encontram no ar podem ser adquiridos pelo jogador. Para isso, é necessário que as aeronaves encontrem-se relativamente perto, permitindo então que o jogador dispare uma espécie de gancho no veículo e realize a ação. Vários minigames diferentes estão presente no jogo, diminuindo sua experiência repetitiva.
Ajuda quase divina
Um dos momentos mais interessantes de Mercenaries 2 é quando o jogador solicita suporte aéreo. É possível pedir carros e armas, mas a opção mais eficiente envolve os ataques aéreos. Estes podem ser comprados em lojas ou encontrados espalhados pelo mapa. Qualquer uma das opções custa combustível ao jogador, mas, felizmente, existem muitos litros do fluido que podem ser adquiridos sem muita dificuldade.
Os ataques aéreos também apresentam seus problemas, principalmente em momentos intensos. Para acionar o menu com opções aéreas, é necessário que o jogador pare de se movimentar. Isso faz com que, muitas vezes, o protagonista seja prejudicado, pois o tiroteio não é interrompido.
Para compensar, Mercenaries 2 oferece um sistema de regeneração de saúde, algo muito útil. Em certos momentos de risco de vida, tudo que o jogador tem a fazer é se esconder e se aproveitar da fraca inteligência artificial do título enquanto seu life se reconstitui. Além disso, o jogo fornece possibilidades de destruição quase incríveis aos seus jogadores.
Tudo, com exceção das rochas, pode ser destruído. Árvores, edifícios e veículos voam pelos ares, de maneira bela e sem quedas absurdas na taxa de quadros por segundo. Talvez isto se defina como o ponto mais divertido de Mercenaries 2: World in Flames, juntamente com a modalidade para multiplayer.
Incinerado por bugs
Em contraparte, os problemas incendeiam o mundo dos mercenários. Alguns deles são críticos, e obrigam o jogador a reiniciar a plataforma. Existem também momentos incrivelmente absurdos. Um exemplo disto é quando o jogador dirige um tanque de guerra e passa por cima de diversos veículos sem sofrer qualquer dano. Como se não bastasse, o gigantesco veículo é danificado por míseros objetos, como hidrantes.
Alguns outros problemas envolvem a jogabilidade e as animações que se apresentam de maneira incorreta. Soldados inimigos, por exemplo, sempre se movimentam da mesma maneira quando morrem, uma ação extremamente engraçada e esquisita. A inteligência artificial é um dos fatores mais prejudicados em Mercenaries 2.
Muitas vezes os inimigos encontram-se totalmente perdidos pelo mapa, e tudo que o jogador tem a fazer é mirar calmamente e acabar com a vida dos oponentes. Além disso, os soldados inimigos são tão desprovidos de inteligência que é possível simplesmente correr em direção a eles e aplicar um golpe corporal, uma técnica extremamente eficiente.
Seus aliados também não se safam da burrice. É possível pedir suporte aos NPCs aliados buzinando e fazendo com que estes embarquem no veículo em que o jogador se encontra. Contudo, a experiência normalmente não é tão simples. Os soldados se perdem e simplesmente correm de um lado para o outro sem qualquer motivo aparente.
Trabalho dispensável
Para compensar todos estes terríveis problemas, Mercenaries 2 oferece um divertido modo multiplayer para dois jogadores. Não existe o popular “mata-mata”, mas o modo cooperativo disponibilizado pelo título supre qualquer ausência. O jogo se torna ainda mais fácil e divertido, fornecendo também prêmios e dinheiro ao jogador secundário que acompanha o anfitrião da partida.
Infelizmente, tal modo só pode ser conferido via online, e a possibilidade de jogar dividindo a tela não é consolidada. Mesmo assim, o foco da diversão se encontra nesta modalidade. Nem mesmo a morte interrompe este "glorioso" momento, pois, caso seu companheiro morra, é possível revivê-lo com um simples comando.
Mercenaries 2: World in Flames possui muitos problemas, e fica muito atrás do primeiro jogo da série. Contudo, é possível desfrutar de alguns momentos divertidos — se o jogador conseguir conviver com centenas de bugs. Se você é um destes, arrisque-se junto dos mercenários em uma experiência que não deve oferecer muitas recompensas.
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Nota do Voxel