Mario Strikers: Battle League é pura anarquia futebolística
Após um longo período na geladeira, a série de futebol da Nintendo enfim retorna às quadras com seu show de anarquia futebolística. Desenvolvido pela produtora canadense Next Level Games, agora subsidiária da Big N, Mario Strikers: Battle League entra em campo com uma postura retranqueira, trazendo exatamente a mesma experiência simplista de Super Mario Strikers, uma das joias do GameCube.
Pense em Mario Strikers: Battle League como uma boa pelada de fim de semana: amigos reunidos, poucas regras e muita zoeira — você só precisa substituir o churrasco pelos cascos de tartaruga que está tudo certo. É impressionante como a vibe de futebol de várzea combina com o caráter cooperativo do Nintendo Switch, ainda que o “rachão” de Battle League pareça o mesmo de 17 anos atrás, da era 128-bits. Confira a nossa análise:
Voadora de dois pés
Mario Strikers é mais um grande exemplo da capacidade da Big N de reinventar certas modalidades esportivas com seu “nintendismo”, vide as ótimas franquias Mario Golf e Mario Tennis. A dinâmica do futebol freestyle de Battle League não se resume apenas a fazer gols, ao ato de estufar as redes, já que é igualmente importante neutralizar os adversários com entradas violentas. Por exemplo: você não só pode como deve entrar na voadora para lançar o rival em um alambrado eletrificado, assim deixará o time oposto com um jogador a menos por alguns segundos.
Fonte: Voxel
A baderna que rola nos gramados sintéticos do Reino Cogumelo pode ser resumida como uma mistura de FIFA Street, Mario Kart e até Super Smash Bros. Tal como no icônico título de corrida do herói bigodudo, você coleta blocos (aqui arremessados pela torcida) e atira itens nos bonecos sem ser penalizado por isso. Há, inclusive, a possibilidade de agredir membros da própria equipe como estratégia para interceptar jogadas.
O caos instaurado nas partidas de cinco contra cinco, especialmente se você estiver disputando online ou em níveis mais altos de dificuldade, acaba transformando o estádio em um verdadeiro ringue de luta. Antecipar-se às investidas e saber o momento certo de golpear o rival à la Zlatan Ibrahimovic são ações tão importantes quanto tocar, cruzar e chutar. Por mais irônico que seja, a bola muitas vezes se torna um elemento secundário quando o “pau está torando” em campo.
Prepare-se para vivenciar situações absurdas durante as partidas, como um tapa calibrado de Donkey Kong desferido na cara do zagueiro, além das infames boladas “de dedo” afundando o rosto de Wario e companhia. Eu perdi a conta de quantas vezes repeti a mim mesmo a famosa frase “só mais uma partida”, pois a vontade de continuar rindo e me divertindo era maior.
Fonte: Voxel
Descomplicado como deve ser
Não há muitas mecânicas a serem aprendidas como em um FIFA ou PES da vida (para mim, eFootball nunca existiu), o difícil mesmo é dominá-las com tanta coisa acontecendo na tela. Tanto que o jogador tem um único botão para executar dribles, sendo outros dois dedicados a passes rasteiros e longos, um para dar carrinho e um só para chutes. Confesso que nem cheguei a usar todos os botões do Pro Controller.
O segredo do sucesso em Battle League é pressionar os botões com precisão, sempre respeitando o trajeto da bola até que outro boneco esteja apto a bater de primeira. Ao segurar o botão de chute e definir a direção da redonda com o analógico esquerdo, o tiro sai do jeito certo, venenoso e com efeito rumo ao gol de Boom Boom. Entender o timing de cada ação requer tempo, mas evoluir é algo natural à medida que se joga mais.
Se você não está tão familiarizado com jogos de esporte, fique tranquilo. Battle League explica tudo em um generoso tutorial, com textos totalmente em português do Brasil e exemplos práticos de como realizar jogadas. Seguindo a cartilha da série, Battle League preza por uma experiência acessível e comandos descomplicados para atrair a atenção de quem não entende ou não gosta muito do ritmo do futebol real.
Fonte: Voxel
Os 10 personagens jogáveis importados do universo de Mario ainda têm um superchutaço especial que, quando habilitado e bem executado, passa a valer dois gols. O superchutaço, no entanto, só pode ser usado quando um dos mascotes do time absorve um poder reluzente, um tipo de especial que surge no gramado em momentos-chave, de modo a manter o confronto equilibrado.
No melhor estilo Super Campeões, as animações dos superchutaços dão um show à parte graças às habilidades do talentoso estúdio Next Level Games, a meu ver o que melhor sabe trabalhar com os modelos da Nintendo na atualidade. Não é para menos: estamos falando da produtora que concebeu Luigi's Mansion 3, um dos games mais visualmente impressionantes do Switch.
Guarda-roupa útil, mas limitado
Para trazer mais dinamismo às partidas, a Next Level Games incorporou um sistema de equipamentos nos moldes do que vimos em Mario Kart 8, permitindo que o jogador monte equipes à sua maneira, priorizando certos atributos e características do time. Você pode usar as moedas de ouro adquiridas em copas e disputas online para comprar peças de conjuntos, seja para melhorar força, técnica, passe, chute ou velocidade.
Fonte: Voxel
À primeira vista, os diferentes tipos de acessórios podem não fazer tanta diferença em meio à bagunça em campo, mas logo você percebe que são, sim, relevantes. Sugiro colocar o game em uma dificuldade mais alta para sentir na pele como os itens turbo, focados em velocidade, por exemplo, são capazes de ajudá-lo a encarar uma equipe cujo atributo principal é força.
Gostei bastante de como podemos personalizar o nosso elenco, inclusive por servir de pretexto para repetirmos copas e desbravarmos o multiplayer a fim de farmar moedas. O problema é que existem pouquíssimos conjuntos desbloqueáveis, dá para contar nos dedos das mãos quantos são. Talvez eu só esteja muito acostumado com a generosidade de Mario Kart 8 Deluxe nesse aspecto, por isso acabei me decepcionando.
Online promissor e poucos modos de jogo
Não vou mentir: fiquei negativamente surpreso com os modos de Battle League disponíveis no lançamento. Super Mario Strikers e Mario Strikers Charged também não são bons exemplos de vasto conteúdo, mas estamos falando de dois jogos lançados há mais de 15 anos. Os tempos são outros! Agora, há recursos e tecnologia para ousar, ir além, até porque os games ficaram mais caros para o consumidor, que consequentemente ficou mais exigente.
Fonte: Voxel
Battle League se apega muito ao passado, à nostalgia, em vez de pegar carona nos games esportivos mais robustos da Big N. Teria sido muito massa ver um modo carreira, por exemplo, ou até mesmo uma história englobando os 10 personagens. Por ter poucos modos e vários DLCs já programados, chego à conclusão de que o título está “cru” em seu lançamento por mera opção de quem o produziu (ou publicou).
Falando sobre os modos, você pode se aventurar pelo jogo rápido de três formas: sozinho e contra bots, no modo local para até oito jogadores ou online. Além disso, temos as copas, presentes desde Super Mario Strikers, e Clube Strikers, o multiplayer dedicado. As copas representam o único flerte com conteúdo single-player, oferecendo cinco torneios iniciais e um secreto, com direito a troféus e tudo, incluindo uma nova dificuldade. Poxa, estamos em 2022, né? Um jogo que se propõe a ser arcade com apenas três opções é muito raso. Afinal, ele chegou às lojas custando 300 reais.
O modo multiplayer, por sua vez, permite criar um clube do zero e recrutar um máximo de 20 membros. Você, como proprietário do clube, passa a ser o responsável pela gestão, desde decidir a aparência dos estádios a escolher os uniformes que serão usados pelos “atletas” — entre aspas mesmo, porque não tem ninguém com potencial de atleta no elenco de Super Mario. Ao integrar um time, você pode participar de competições sazonais do Clube Strikers num esquema semelhante às viciantes temporadas de FIFA (em escopo menor, é claro).
Fonte: Voxel
Embora o multijogador pareça promissor, nem sempre ele funciona. Há problemas constantes de lag e instabilidade no servidor, impedindo o matchmaking de encontrar partidas ou de manter viva uma sala que está em andamento. Se melhorar, o que eu imagino que aconteça, o componente online tem todos os requisitos para atrair e sustentar uma grande comunidade.
Conclusão
Mario Strikers: Battle League é mais um belo gol da Nintendo, só não é digno de concorrer ao Prêmio Puskás. Com mecânicas acessíveis e foco absoluto em diversão, Battle League entrega o que se espera de um jogo esportivo com o carimbo da Big N, mas não tem a mesma robustez dos títulos de outras modalidades que levam o mascote bigodudo na capa — não em termos de conteúdo. Se receber o devido suporte, a “pelada nintendista” tem potencial de sobra para figurar entre os melhores party games do Nintendo Switch.
Mario Strikers: Battle League foi gentilmente cedido pela Nintendo para a realização desta análise
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- Uma pelada sem regras é sempre mais divertida — e garante boas risadas
- Visual de ponta, à altura dos jogos mais bonitos do Switch
- Consegue simplificar muito bem as complexidades do futebol
- Como party game, tem um dos melhores cooperativos da biblioteca do console híbrido
- Multiplayer cheio de potencial (quando funciona)
- Absolutamente viciante e essencial aos fãs de jogos esportivos, apesar das ressalvas
- Carece de conteúdo single-player e offline
- Poucos equipamentos desbloqueáveis
Nota do Voxel