Mafia 2: Definitive Edition revive glamour da série em ritmo de banho-maria
A máfia ostenta uma palavra que parece ter sido inventada só para ela: glamour. Respirar os tempos áureos das gangues ítalo-americanas é algo que o entretenimento já ofereceu em todas as mídias possíveis, especialmente no cinema, com grandes nomes que passaram pela linha do tempo e trouxeram seu sotaque macarrônico.
É por isso que, nos games, a franquia Mafia se livra de quaisquer firulas no nome e se empodera dessa forma: não há qualquer ambiguidade em saber exatamente a proposta da série se algum desinformado fizer um julgamento cru apenas com base no título.
O primeiro, de 2002, antes de ser publicado pela 2K, mostra o taxista Tommy Angelo se envolvendo com a máfia da fictícia cidade de Lost Heaven, uma espécie de mistura entre Nova York, Chicago e Los Angeles. Com as mesmas inspirações arquitetônicas e já sob o guarda-chuva da 2K, Mafia 2 nasceu 8 anos depois para PS3, Xbox 360 e PC — e, é claro, com ambições de expandir tudo o que o antecessor implementou.
Após 1 década, a remasterização, batizada como a tradicional edição definitiva, chega para PS4, Xbox One e PC. O glamour permanece intacto, mas e a parte técnica? O macarrão saiu al dente, mas o molho precisa de tempero.
A videoanálise de Mafia II: Definitive Edition está em produção e será postada em breve.
Bem-vindo à família
Em nome da transparência, é conveniente refrescar a memória para introduzir a mensagem a quem nunca jogou essa poesia mafiosa de 2010, que parece ter saído de um livro de Mario Puzo, autor de O Poderoso Chefão e O Siciliano. Uma jornada que respeita os códigos de conduta de grupos mafiosos com ascendência italiana na América. Aliás, só podia fazer parte da família quem tivesse origem lá na terra dos europeus.
Ambientado na década de 1940, Mafia 2 conta a história de Vito Scaletta, veterano da Segunda Guerra Mundial — cujas mazelas deixavam o mundo de joelhos — que viaja para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Para isso, o ex-combatente conta com a ajuda de Joe, amigo de infância que mais parece uma versão italiana de Saul Goodman, o advogado infame das séries Breaking Bad e Better Call Saul.
Como manda a cartilha da temática gângster, Vito precisa pagar uma dívida do pai a um agiota. Outra tradição dessa roupagem é a quantidade de subtramas: os personagens são explorados dentro de seus próprios dramas e histórias, que acontecem de forma alheia à jornada de Vito.
-Fonte: Reprodução/Mafia 2
Mundo aberto sem tanta abertura
Embora seja concebido como mundo aberto, a verdade é que Mafia 2 obedece a uma linearidade nas missões; ele é comparável, sim, a GTA e a outros títulos do gênero, mas só até certo ponto.
Depois da página 2, o jogo se transforma apenas em um sandbox roteirizado, o que não é ruim, mas cabe a observação para dosar a (falsa) sensação de liberdade que a aventura oferece e saber o tipo de expectativa que se pode criar.
É importante registrar que se trata de um título lançado em 2010, portanto a variedade de missões segue o padrão da época: entrar em um galpão e eliminar capangas, roubar bancos, assumir falsa identidade (com uniformes adulterados), infiltrar-se em museus, realizar fugas espetaculares etc. Quando há uma brecha, lojas de roupas e restaurantes permitem que Vito tenha uma distração.
Galeria 1
Visual? Aprovado. Performance? Então...
Enquanto remasterização, Mafia 2 faz um bom trabalho nas expressões faciais: muitas foram retrabalhadas para que se adequem a um padrão mínimo da atualidade, embora isso só tenha acontecido com os personagens principais.
Diversos NPCs estão com o mesmíssimo rosto estampado no Xbox 360 e PS3, só que em resolução maior, copiados e colados, junto aos sinais de desgaste naturais do tempo. Ainda assim, o saldo é satisfatório.
A iluminação ganhou um belo tratamento; já a performance vai dos 30 fps para 0 em uma disparada e volta
A iluminação ganhou um belo tratamento, notável especialmente durante a noite, quando as fontes de luz ficam mais vistosas em postes, faróis e ambientes internos. O “crepúsculo” gerado pelo HDR oferece boa suavização no contraste entre o claro e o escuro.
Já o frame rate é assombroso. As quedas na taxa de quadros por segundo acontecem de duas formas: continuamente, quando o índice cai e o jogo fica lento; e no “frame time”, quando a jogatina sofre breves congeladas de tela, às vezes por segundos, e volta ao normal. Ou seja, sim, vai de 30 fps a 0 fps em uma disparada e regressa. Daí nascem as travadinhas constantes, que dão aflição — para peritos ou não, tanto faz. Igual coceira: sempre incomoda.
-Fonte: Reprodução/Mafia 2
Esses problemas são recorrentes durante a experiência em inúmeras circunstâncias: ao entrar em um túnel, virar uma esquina, encontrar muitos carros... quando há fogo então? O tombo é de 15 fps a 20 fps, e não dura pouco.
Em se tratando de remaster de um jogo de 2010 em pleno 2020, é chato se sujeitar a esperar atualizações para corrigir esse tipo de coisa. Devíamos ter trocado esse disco há muito tempo.
Outro problema técnico que formigou os ouvidos foi a mixagem de som: em alguns diálogos, a voz dos personagens fica suja, áspera e com ruídos, como se o volume estivesse estourando, sinal de má codificação na hora de compilar os áudios do jogo de 2010.
-Fonte: Reprodução/Mafia 2
Sistema de cobertura: envelheceu bem
É curioso que, em meio a esse fogo cruzado de problemas técnicos relativos à performance, o sistema de cobertura do jogo ainda funcione muito bem — quando a queda de frames não corta o barato, obviamente.
O departamento de tiroteios continua em ordem e plenamente funcional em Mafia 2. Retícula afiada, lisa e precisa. Recomendo expressamente que você jogue no modo difícil, para que o combate tenha mais imersão na hora de intercalar entre proteção e exposição para atirar. Gears of War fez escola em jogos de ação em terceira pessoa, e Mafia 2 bebe muito bem dessa fonte.
-Fonte: Reprodução/Mafia 2
Veredito
Maculado por alguns problemas técnicos de áudio e performance que, em 2020, jamais deveriam estar ali, Mafia 2 fica longe de ser a melhor remasterização que você vai jogar, mas também está distante de ser a pior. E, sim: o jogo tem textos em português brasileiro.
Trata-se de uma experiência que faz o mínimo para se tornar agradável na modernidade. O duro é pensar que poderia ser mais que isso, tecnicamente falando. Ainda assim, as expressões faciais retrabalhadas, a iluminação e o uso decente do HDR garantem a Mafia 2 o ingresso para se infiltrar em uma nova camada de jogadores que precisam conhecer esse glamour inspirado em obras como O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros, Casino, Era uma Vez na América, só para citar alguns.
O jogo também pavimenta o terreno para a chegada do remake do 1, previsto para 28 de agosto. É nele que podemos depositar nossas maiores expectativas. Se a gente quiser sonhar um pouco mais alto, quem sabe a retomada da franquia, com essa trilogia reunida, signifique um possível anúncio de Mafia 4. Por enquanto, a macarronada segue em banho-maria.
Mafia II: Definitive Edition foi gentilmente cedido pela 2K Games para a realização desta análise.
Categorias
- Boa iluminação e aplicação decente do HDR
- Personagens principais com rostos mais vistosos
- Narrativa macarrônica
- Textos em português brasileiro
- Quedas brutais na taxa de quadros por segundo, com breves congelamentos de tela e performance muito instável
- Má mixagem de som traz alguns diálogos com volume estourado e áspero
- Falta de sintonia na modelagem facial de NPCs secundários em relação aos principais
Nota do Voxel