Madden NFL 21 traz novidades mas não impressiona
Futebol americano é uma paixão para mim. Mesmo que eu torça para o Baltimore Ravens desde 2012, quando assisti o esporte pela primeira vez, comecei a entender e acompanhar de verdade em 2019. Com isso, corri atrás dos jogos para me divertir no mundo virtual e me sentir como um verdadeiro jogador.
Depois de centenas de horas de gameplay de Madden NFL 20, finalmente pude colocar minhas mãos na mais nova edição do game, Madden NFL 21, disponível para PS4, Xbox One e PC. Como é de se esperar, fiquei muito empolgado não só pelos novidades anunciadas mas por ter o quarterback do meu time, Lamar Jackson, como capa do game.
Pude experienciar o jogo por um certo tempo e notei muitas coisas positivas e negativas sobre ele. Agora é hora de compartilhar tudo com vocês. Vamos para os detalhes que temos muito o que falar!
Touchdowns no gameplay
o gameplay passou por algumas boas melhorias que mudaram bastante o jogo. A principal é o sistema de Pass Rush. Os jogadores de linha defensiva, outside linebackers e até blitzers podem usar uma variedade maior de movimentos para chegar nos jogadores ofensivos do backfield, como quarterbacks e running backs. Antes, você apertava dois ou três botões que diziam se você vai usar força ou velocidade para passar pela linha ofensiva. Já nesse game, você tem uma variedade de movimentos que usam força, agilidade e técnica para superar os adversários com movimentos do analógico direito.
Cada jogador possui barrinhas que mostram quantos movimentos eles poderão executar naquele snap. Quanto melhor o jogador, mais movimentos são possíveis. E engana-se quem acha que pegará um Von Miller e vai ficar só na velocidade para derrubar os adversários. A linha ofensiva tem uma espécie de memória, decorando os movimentos que você usa e por qual lado entra. Sendo assim, para ser efetivo no pass rush, é necessário ficar alternando entre as opções disponíveis.
Uma coisa que foi melhorada e agradou muito são os bloqueios em campo aberto, tanto no ataque quanto na defesa. No game anterior, eu usava com frequencia jogadas como HB Slip Screen e a secundária adversária me parava pois os jogadores da minha linha ofensiva não faziam o seu trabalho. O mesmo vale para cornerbacks que não conseguiam dar o tackle no jogar de ataque pois a animação não ajudava.
Agora, no ataque você terá o bloqueio bem feito pelos seus companheiros para conseguir mais jardas e na defesa o jogador mirará nas pernas do adversário para pará-lo de forma muito mais eficaz.
Outra adição que diminuiu a raiva de muitos jogadores, eu incluso, são os passes enquanto está sendo sackado. No Madden NFL 20, era só o adversário começar a animação de derrubada que o QB não completava o passe, mesmo que a bola estivesse quase saindo de sua mão. Já em Madden NFL 21, o passe vai ser feito, mesmo que não seja aquelas mil maravilhas em muitos casos.
Na vida real, os jogadores que sofrem tackles ou são derrubados a menos de uma jarda do first down ou da endzone se esticam para fazer a bola passar dessas marcas. Agora, isso também está presente no game. Com bastante frequência você verá seu running back, recebedores e até quarterbacks fazendo de tudo para conquistarem seus objetivos de campanha ou de snap. Isso, junto do lançamento durante o sack, com certeza diminuem a raiva que você pode sentir enquanto joga.
Algumas outras pequenas mudanças são as animações enquanto se escolhe jogada, em que os jogadores conversam com os coordenadores ofensivos e defensivos, comemoram do lado do campo ou ficam estressados com uma jogada errada feita pelo próprio time, e a maior facilidade de entrar em gaps quando fazendo blitz.
Ainda dá pra ressaltar as mudanças de direção durante corridas, que foi melhorada, a “extinção” de money plays do Madden NFL 20, tipo crossing routes, e até comemorações após qualquer grande jogada, não só touchdown.
Mas venhamos e convenhamos, eles poderiam dar um pouco de atenção nas Run Pass Options, já que ainda com frequência são marcadas faltas de Illegal Man Downfield. Além disso, para mim é muito estranho que o flea flicker, que virou trick play padrão em muitos playbooks, não esteja presente no jogo. E ainda tem bugs que atrapalham a experiência, como o QB adversário fazendo passes depois da linha de scrimmage e o seu jogador não realizando o tackle mesmo que você aperte o botão.
Mesmo com esses pontos negativos, é difícil não dizer que a jogabilidade está muito mais gostosa e divertida, dando mais vontade de vestir as chuteiras e entrar no campo de futebol americano virtual.
Cara da franquia ou jogador reserva?
O modo Face of the Franchise foi introduzido ano passado e deixou muito a desejar. Basicamente você jogava duas partidas dos playoffs do College, participava do Combine, era draftado e fim. A partir dali, era como fazer um Franchise Mode com um QB.
Já na edição desse ano, a desenvolvedora deu uma atenção maior para entregar uma experiência mais cativante. O resultado foi uma melhora significativa, mas ainda longe do satisfatório.
A história começa com o nosso personagem voltando à escola em que ele cursou seu ensino médio e começou no futebol americano para dar uma entrevista sobre sua carreira lendária. No total, jogamos três partidas do high school, incluindo o campeonato nacional, e mais três do College.
Ainda é possível jogar mais uma temporada do futebol universitário mas com um diferencial: em vez de ser o quarterback, o protagonista será um running back ou wide receiver. Se você preferir, pode partir direto para o Combine. Escolhendo continuar, você pode fazer os testes pra entrar na NFL como QB, WR ou RB.
Não sei ao certo se é um bug, mas tanto eu quanto outras pessoas que jogaram foram Draftados pelo Chicago Bears, não importando a posição escolhida. Provavelmente é um bug que a EA deve consertar em um futuro próximo.
Chegando finalmente à NFL, o jogador não irá se deparar com um modo franchise de jogador, como no anterior, mas sim uma narrativa que focará em alguns jogos para contar sua história. No meu caso, joguei a Week 1 contra os Lions, avancei direto para a Week 12 contra os Packers, fui para o Wildcard nos Playoffs e, então ao Super Bowl.
Felizmente, a trama não acaba depois da grande final da liga. Como a ideia é acompanhar a carreira do jogador até chegar no Hall da Fama, passamos por diversos momentos bons e ruins com ele, participamos de coletivas de imprensa, conversamos com jogadores e etc.
Em momentos de diálogos, podemos escolher a resposta. Cada uma afetará o sistema de personalidade presente e, assim, irá liberar novas falas nesses momentos. As quatro personalidades são Intenso, Líder, Entertainer e Team Player. Pessoalmente, eu não senti esse sistema afetar muito a gameplay, mas a possibilidade de escolher o que falar dá uma sensação maior de interação com o modo.
Infelizmente, a qualidade de escrita da história é bem fraca. Não só opta por caminhos “lugar comum” como usa de clichês. Muitas das coisas aqui presentes já foram vistas em filmes e séries relacionadas ao tema, mas com uma qualidade bem melhor.
Toda a história dos “Heartbreak Kids” não é só chata mas nem faz muito sentido. Os dois brigam pela mesma posição, não se dão muito bem mas mesmo assim moram juntos e chamam o outro de irmão. E depois de draftado tem momentos como “a lesão e a volta triunfante” que não me empolgou nem um pouco.
Além disso, vamos lembrar que o Face of the Franchise totalmente offline, mas em mais de uma ocasião a minha internet caiu enquanto eu jogava e eu era mandado para o menu principal. Depois de draftado, era possível retomar o jogo de onde parei, mas no high school e no College, todo o progresso era perdido. Como você joga tanto com o ataque quanto com a defesa, a falta de conexão no fim de uma partida te fará perder quase uma hora de jogo como se não fosse nada.
No fim das contas, o Face of The Franchise é interessante e rende boas horas de conteúdo, mas está longe de ser realmente cativante. A linearidade e falta de desafio fazem com que você nunca efetivamente empolgue com o que está sendo apresentado.
Ultimate Team e Superstar KO: o mesmo Playbook
Falar do modo Ultimate Team é deveras complicado. Eu sei que há um número bem grande de fãs que acabam comprando Madden NFL todo ano para jogar ele, mas muitas coisas me incomodam, como a falta de possibilidade de importar seu time do game anterior e a clara estratégia da EA de fazer você gastar cada vez mais dinheiro com o jogo, o famoso “jogo como serviço”.
Claro, houveram mudanças como o design das cartas e diversos desafios solo, mas a ideia de montar seu time, jogar contra adversários online, levar uma surra, pegar o cartão de crédito, comprar pacotinhos e melhorar o time continua a mesma. Se você é fã, vai na fé que você vai se divertir. Pro resto, eu recomendo passar longe.
Já o Superstar KO é basicamente a mesma coisa do ano passado, quando foi introduzido. Vocês escolhe seu treinador e três jogadores de peso, enfrenta adversários online com regras parecidas com a prorrogação do college. Se vencer, pega um jogador do adversário e enfrenta outro player, se perder recomeça tudo de novo. É divertindinho, pode render algumas horas de conteúdo mas não passa muito disso.
Futebol (americano) de quintal
Esse ano foi adicionado um novo modo chamado The Yard, que lembra muito a série NFL Street só que com muito foco no online. Dois times se enfrentam em partidas de 6x6 em que os jogadores do ataque também realizam funções na defesa. Cada time tem três drives para marcar touchdowns, não existem field goals e o PAT são conversões de um, dois ou três pontos, cada vez mais longe da endzone.
Algumas outras regras diferentes são dois passes para frente atrás da linha de scrimmage, um segundo de espera para os blitzers correrem, já que não há linha ofensiva, quatro segundos para passar a bola e primeiras descidas de bem mais do que dez jardas. Como o campo é reduzido a 60 jardas, a partida se torna bem mais dinâmica que as padrões.
Mas se engana quem acha que o modo foi criado só para trazer um frescor para a série. Em março desse ano, a 2K fechou um contrato com a NFL para fazer jogos arcade da liga, já que os simuladores estão nas mãos da EA até pelo menos 2025. Então a ideia de The Yard parece ser ao mesmo tempo provocar a “concorrência” e mostrar para os fãs que eles não precisam do novo se o atual já faz esse trabalho também.
E não para por aí. A pegada mais “cool” do modo não fica só na jogabilidade, mas se estende pros visuais. Você tem que criar um jogador para ele ser seu representante, já que os seus companheiros de time mudam com frequência. Como a Eletronic Arts não perde a oportunidade de lucrar quando pode, existe diversas roupas que podem ser compradas pelo jogador tanto com dinheiro do jogo quanto com dinheiro real. É possível escolher desde a jersey até o protetor bucal do seu personagem.
Sendo sincero, é bem provável que The Yard não passe de um modo arcade divertidinho em que você pode gastar dinheiro para deixar seu jogador do jeito que quiser. Pessoalmente, não acredito que o hype dele ultrapasse esse ano e ele acabe sendo esquecido ou utilizado como um passa-tempo pela esmagadora maioria dos jogadores. Ainda assim, vale dar uma conferida.
#FIXFRANCHISEMODE
E chegamos ao momento de falar dele, o modo mais amado pelos fãs e ignorado pela EA Sports, o Franchise mode. Mas antes de tudo, vamos para uma rápida retrospectiva. Anos atrás, a desenvolvedora do título começou a dar menos importância para o modo, já que Madden NFL estava fazendo sua transição para se tornar um “jogo como serviço”.
Em Agosto de 2020, foi lançado o trailer e diversas informações sobre o novo game da série, mas sem nenhuma informação sobre o modo franquia, Com isso, os jogadores levantaram as hashtags #FixFranchiseMode e #FixMaddenFranchise para mostrar sua insatisfação com a empresa.
Foi então que a EA decidiu se pronunciar e anunciou diversas melhorias que seriam feitas após o lançamento do jogo e até algumas para Madden NFL 22, como a melhoria na lógica nas negociações, update nos playoffs e mudanças no scout de talentos do college. Tudo para agradar a comunidade e diminuir o ódio que estavam sofrendo.
Com isso dito, vamos a grande pergunta: Como está o modo Franchise no Madden NFL 21? Do exato mesmo modo que o do jogo anterior, basicamente sem tirar e nem por! O clássico copiar e colar que já conhecemos.
As negociações com os NPCs ainda geram absurdos, negociar contratos com free agents é impossível, a moral dos jogadores não afeta efetivamente seu rating, os training camps são inexistentes, fazer scout de talentos é só apertar botões, não é possível arrumar back ou front ends nas negociações de contrato e muitas outras questões que são pedidas pelos fãs a anos.
Quer saber o pior de tudo? Alguns problemas citados não existiam em jogos anteriores da franquia, lá da metade dos anos 2000. Isso mostra que o interesse da EA com o jogo deixou de ser “o melhor simulador de futebol americano do mundo” para virar “compre nosso jogo pelo preço cheio e gaste ainda mais”. Se você tem o interesse de comprar Madden NFL 21 só por esse modo, aconselho que não o faça até que as mudanças sejam efetivamente postas em prática.
Informações no overtime
E para fechar, ainda tem mais alguns pontos passíveis de discussão. A começar pelos gráficos que não passaram por melhoria nenhuma de um ano para outro. Para alguns, ele até piorou! É claro que a EA está focada na nova geração de consoles e provavelmente a versão do game nela será muito mais chamativa aos olhos, mas é quase um descaso para quem comprou o jogo para seus consoles atuais.
O jogo não está em português. Nenhuma legenda, nem nada. Até é entendível, já que o público de futebol americano no nosso país não seja tão grande, mas há um crescimento exponencial que pode abrir os olhos da desenvolvedora para futuras edições do jogo.
Os X-Factors, que são tipo super poderes que os jogadores ativam depois de cumprir alguns objetivos, foram melhorados e expandidos. No total, são 24 habilidades especiais, com muitas sendo introduzidas nesse jogo como Truzz, criada para Lamar Jackson, em que o jogador não pode sofrer fumble quando leva um tackle.
Há uma falta de atenção nos detalhes quando falamos de design. As edições de imagens dos jogadores vestindo seus novos uniformes são irrisórias e ainda teve uma pessoa que captou a imagem de um jogador com fundo em vez de um .png transparente.
VEREDITO
Não podemos dizer que a EA não tentou. As melhorias na gameplay dão um prazer maior de jogar, já que inova, melhora e conserta. A evolução do Face of the Franchise também é louvável, mesmo que os resultados ainda não sejam tão positivos. Mesmo assim, a desatenção da desenvolvedora com o modo Franchise e seu claro objetivo de lucrar com microtransações mesmo sendo um game de preço cheio desagradam quem é fã dos jogos. Se você possui Madden NFL 20 ou 19, melhor nem se aproximar deste. Agora, se for de seu interesse, espere uma promoção pois R$ 300,00 é salgado até demais.
Madden NFL 21 foi gentilmente cedido pela EA Games para a realização desta análise.
Categorias
- Gameplay muito mais divertido que de seu antecessor
- Diversas inovações que tornam a jogabilidade mais desafiadora e realista
- Face of the Franchise continua evoluindo e mostrando potencial
- Novo modo The Yard traz um certo frescor ao título
- Os novos X-Factors estão bem balanceados e afetam positivamente a jogabilidade
- Modo Franchise continua a mesma coisa de seu antecessor, sem tirar nem por
- Ultimate Team continua sendo pay-to-win
- Microtransações por todos os lados
- Roteiro do Face of the Franchise é fraco e lotado de clichês
- Necessidade de conexão online em alguns modos singleplayer
- Falta de atenção em detalhes relacionados a design
- Não há legendas em PT-BR
Nota do Voxel