Imagem de Lost Odyssey
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Lost Odyssey

Nota do Voxel
87

Sakaguchi apresenta o seu "Final Fantasy" para o Xbox 360.

Quando Hironobu Sakaguchi anunciou que estava se desligando da Square o mundo dos videogames ficou em choque. Criador de alguns dos títulos mais populares do mundo como Rad Racer, Chronno Trigger, Kingdom Hearts e é claro, uma das maiores franquias do mundo, Final Fantasy, Sakaguchi é um dos maiores nomes da indústria e seu anunciou criou uma onda de expectativa em torno de seus projetos para o futuro.

Portanto, quando Sakaguchi comunicou que a sua produtora recém formada firmara um acordo com a Microsoft Game Studios para a produção de dois títulos para o Xbox 360, os olhares se voltaram para o oriente à espera do que muitos acreditavam ser a versão de Final Fantasy para o console da Microsoft.

O acordo da Microsoft com a Mistwalker (produtora de Sakaguchi) pretendia alavancar as vendas do console no oriente, para tanto os empresários apostavam alto na criação de dois jogos nos melhor estilo JRPG (RPG japonês que baseia a sua dinâmica de combate em turnos), o primeiro seria voltado para o público infanto-juvenil, Blue Dragon.

O segundo, Lost Odyssey, pretendia alcançar o público do Xbox 360 que ficara órfão da franquia Final Fantasy, exclusividade da Sony. Para tanto Sakaguchi resolveu reunir um time dos sonhos, a exemplo do que havia feito na produção de Blue Dragon, recriando a equipe de Chrono Trigger.

Agora, Sakaguchi articulou uma aliança com alguns dos maiores artistas do Japão. Para ajudar na concepção da trama e do cenário o produtor convocou o talento do escritor Kiyoshi Shigematsu, autor de vários romances e vencedor de prêmios literários. O design do jogo ficaria por conta do renomado mangáka (autor de mangás) Takehiko Inoue, o mesmo responsável por títulos como Vagabond, Slam Dunk e Chameleon Jail. Por fim, a trilha sonora seria conduzida pelo parceiro de longa data, Nobuo Uematsu, o mesmo da série Final Fantasy e Super Smash Bros. Brawl, entre outros.

Com a equipe formada bastava apenas tirar a idéia do papel e transformá-la em um jogo de sucesso, capaz de motivar os jogadores japoneses sem se tornar desinteressante aos ocidentais (mais voltados para a ação em tempo real).


Caminhando contra o tempo

Kaim Argonar é um imortal cuja longa existência já se estende por cerca de mil anos. Entretanto, por razões desconhecidas suas memórias cobrem apenas os últimos trinta e poucos anos de vida. Ele não recorda e nem quer se lembrar do passado, ele simplesmente segue ordens e caminha de acordo com a trilha que aparece a sua frente.

A última trilha de Kaim o levou até a nação de Uhra, onde ele encontrou Gongora, membro líder do conselho nacional. O país encontra-se em guerra, uma batalha sangrenta contra seus vizinhos do reino de Gohtze.

As origens do conflito são ambíguas, mas giram em torno do controle das vastas fontes de magia que começaram a aparecer no planeta a cerca de trinta anos atrás. Este elemento mágico deu início a uma verdadeira revolução tecnológica que alavancou uma série de inovações em diversos âmbitos da sociedade (nada que nenhum fã de Final Fantasy já não tenha visto).

A própria natureza fantástica de Kaim transforma-o em uma espécie de arma secreta do reino de Uhra. Gongora, líder do país também conta com outra surpresa, um companheiro d
e eternidade de Kaim, outro imortal, chamado Seth Balmore. Juntos os dois são os trunfos de Gongora contra as forças de Gohtze.

Após uma batalha campal de proporções épicas aos pés da cordilheira de Wohl, na qual Kaim dizima dezenas de soldados de Gohtzan, um meteoro gigantesco rasga o céu e faz chover lava em cima dos combatentes (tudo apresentado em uma seqüência de animação soberba que mostra todo o empenho artístico da equipe de criação).O mocinho da história.

Findada a batalha, Kaim é enviado em uma missão: investigar as dificuldades por trás do maior projeto de Uhra, o Grand Staff. Esta missão dá início a uma jornada incrível que vai levar Kaim, Seth e um grupo formado por vários personagens “clichês” até as fronteiras do mundo, em uma corrida para salvar o planeta das pretensões megalomaníacas de um homem sedento por poder.

É a cara do papai

Mesmo com uma apresentação tão opulenta o jogo logo se revela um tanto previsível (a maioria dos títulos de Sakaguchi) e mesmo correndo o risco de anunciar alguns elementos chave da trama, podemos revelar que todas as suas suspeitas iniciais vão se confirmar no final (isso mesmo aquele cara suspeito é na verdade o vilão da história).

A trama um tanto óbvia é por conseqüência bem fácil de ser acompanhada e certamente vai causar alguma decepção em alguns fãs mais radicais do tradicional diretor japonês. Mas também fica o lembrete de que ao longo de toda a sua carreira Sakaguchi sempre optou por enredos básicos, mas que cumpriam soberbamente a sua função, basta conferir a sua obra-prima.

A série Final Fantasy por mais prolixa nunca foi exatamente um primor no quesito enredo, oras, Kefka, Golbez e Sephiroth — tradicionais vilões da franquia — são todos apresentados desde o início da história e pouco a pouco revelam sua verdadeira índole.

Memórias de mil vidas

Alguns dos momentos mais interessantes da trama são revelados de forma ainda mais tradicional, em uma espécie de apresentação de Powerpoint. Um homem com mil anos de existência certamente tem muitas histórias para contar, como as memórias de Kain são um tanto restritas, pouco a pouco, ao longo da sua jornada ele vai desbloquear alguns elementos do seu passado.
EU TENHO A FORÇA!

Estas lembranças aparecem na forma de texto e revelam toda a fragilidade, força e efemeridade do ser humano, tudo sob a perspectiva de um homem que não pode morrer. São momentos que relatam situações trágicas, ou animadoras, mas que de alguma forma acabam tocando o jogador.

Isso acontece graças ao trabalho do escritor japonês Kiyoshi Shigematsu, vencedor de vários prêmios literários japoneses e autor de livros e mangás (quadrinhos tradicionais japoneses) de sucesso.

Ação estática

O sistema de combate de Lost Odyssey é o mais tradicional possível, pelo menos no que tango os JRPG, seguindo a mesma linha de inúmeros títulos do mesmo gênero. Os confrontos acontecem de forma aleatória — no pior estilo Final Fantasy, no qual você está andando e, sem qualquer aviso, é transportado para uma cena de combate.

Dentro dos embates você vai encontrar os bons e velhos menus de ação. Com ações básicas como atacar, defender, fugir, usar itens, habilidades ou magia a maioria dos jogadores familiarizados com o gênero vai se sentir totalmente à vontade com o sistema.

Tudo é muito simples, sem nenhum tipo de invocações (summons) ou combinações mágicas. Na verdade parece que Sakaguchi está apresentando o estilo japonês de se fazer um jogo de RPG para o ocidente.

Senhor dos anéis


A dinâmica dos equipamentos segue a mesma linha simplista e didática de todo o resto da jogabilidade, os personagens podem equipar uma (arma seja uma espada, lança ou cajado) e um anel.Pode vir mané!

Os anéis acrescentam um elemento bem interessante ao sistema de jogo. Cada anel adiciona ao personagem alguma habilidade de combate, como por exemplo: mais força de ataque, maior defesa, espadas flamejantes, cura e muitos outros.


Os anéis são encontrados em vários locais diferentes, dentro de vasos, baús, gavetas e qualquer lugar suspeito. Caso você não tenha muita sorte, ou paciência para procurar, os anéis também podem ser forjados.

Obtidos através da manipulação de matérias primas (pedaços de monstros, rochas e outros elementos), estes anéis “personalizados” carregam poderes diferentes que variam de acordo com a sua matéria prima. Um bom exemplo é o Flame Ring (anel de chamas), para criar este item, basta juntar três pedras de fogo e forjar o anel.

Além disso, os anéis também habilitam o Aim Ring System. Este sistema confere um grau de ação no sistema de ataque em turnos. Quando você for executar um ataque, um círculo vai aparecer em torno do seu inimigo. Ao pressionar o gatilho da direita um círculo maior vai surgir e gradualmente irá diminuir até tocar o perímetro no anel menor, sendo que neste exato momento o jogador deve soltar RT (gatilho da direita).

Se a sincronia for precisa, o jogador vai conseguir um bônus extra em seu ataque, causando assim um dano maior ao seu oponente. Caso o jogador demore muito ou precipite-se na sincronia, existe a possibilidade do inimigo esquivar-se e/ou contra-atacar.

Mil anos de sonhos

Os gráficos de Lost Odyssey merecem um destaque especial. Como era de se esperar de uma produção de Sakaguchi, animações em computação gráfica permeiam todo o título com cenas absolutamente fantásticas. A seqüência de introdução do jogo é algo simplesmente impressionante.

Galerinha do mal! Infelizmente os gráficos em jogo, fora das animações, não são tão expressivos assim, na verdade ficam aquém da qualidade esperada para um título do Xbox 360 deste porte. Mas de forma alguma prejudicam a apreciação do jogo, mesmo porque os modelos dos personagens principais estão bem detalhados, com objetos de suas roupas movendo-se individualmente e outras nuances que ajudam a revelar um pouco do verdadeiro potencial do título e do console.

Mas o verdadeiro ponto alto fica por conta dos designs do artista japonês Takehiko Inoue. Autor de vários mangás de sucesso como Slam Dunk e a adaptação da novela Musashi (de Eiji Yoshikawa) intitulada Vagabond.

O traço inconfundível do artista pode ser conferido nas feições dos personagens que mesmo trazendo muitos aspectos próprios da cultura japonesa, acabam fugindo um pouco do estilo popularizado pela própria série Final Fantasy, com heróis andróginos e roupas extravagantes.

Inoue prefere uma caracterização diferente que acaba construindo um ambiente todo especial e além de ajudar a expressar uma gama de expressões faciais que facilmente transformam meros guerreiros virtuais em personagens carismáticos e, por que não, inesquecíveis.

Se os gráficos dão um show à trilha sonora certamente não fica nem um pouco atrás. Composta pelo maestro Nobuo Uematsu, o jogo apresenta trilhas dignas de um épico. Seguindo o estilo de títulos como Final Fantasy, Chrono Trigger e do mais recente Blue Dragon, Uematsu apresenta faixas que incorporam toda a sua essência musical e mais uma vez o artista usou toda sua inspiração para desenvolver músicas fantásticas.


Beleza ai monstrão? O diferencial fica por conta das músicas What You Are e Eclipse, na qual Nobuo articula uma parceria bem afinada com a artista escocesa Sheena Easton.

Em meio a tantas maravilhas não podemos nos esquecer de evidenciar os defeitos. Ao longo do jogo você vai sofrer um bocado com seguidos slow downs, principalmente com relação ao carregamento do jogo, quando você tenta avançar uma cena e o jogo ainda não conseguiu ler todas as informações necessárias.

Também vale apontar a queda considerável de frame rate (quadros por segundo) em algumas partes, ocorrendo de forma mais clara nos momentos em que a câmera opera em close nos personagens, sobrepostos à tela principal.

Final Fantasy com uma rodela de limão

Com mais de cinqüenta horas de duração, Lost Odyssey chega para preencher uma lacuna bem específica na biblioteca de jogos do Xbox 360, a dos JRPG (RPG japoneses). Órfãos da franquia Final Fantasy vão encontrar em Lost Odyssey um placebo bem eficiente.

Para os jogadores alheios a tal febre asiática, o jogo pode se mostrar um tanto lento. Basta observar que títulos como Mass Effect e Oblivion IV, se mostram mais atraentes para os jogadores ocidentais.

Em suma, a novíssima criação de Sakaguchi é um belo exemplar do gênero e deve agradar em cheio a todos os do tradicional estilo japonês de se fazer um RPG.
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