O mundo de blocos que sempre quisemos ainda está longe de existir
Em um mundo onde qualquer conjunto de LEGO passa facilmente a marca dos 500 reais, não são poucos aqueles que sonham em ter a chance de montar o que sua criatividade permitir com os famosos blocos de montar – mesmo que limitado ao universo digital. Isso finalmente acabou por se tornar realidade com LEGO Worlds, um sandbox que coloca você no papel de um aspirante a Mestre Construtor enquanto viaja por diversos mundos de pecinhas.
Visto minhas quase mil horas dedicadas a minerar e construir em Minecraft, comparações são inevitáveis, mas só em nível mais básico. Diferente do aclamado título da Mojang, LEGO Worlds se mantém no “alto astral” que você certamente conhece se jogou algum game da franquia; assim, no lugar do desafio de testar suas habilidades de sobrevivência, esse título é mais sobre montar, explorar e se divertir sem compromisso.
Que isso tem muito potencial para ser um grande sucesso, não há dúvidas. Afinal, como um game de construção que une um mundo aberto e a abismal variedade de peças, coleções e temáticas de LEGO poderia dar errado?
Bem, lamentamos dizer que, embora não chegue a ser um fracasso, LEGO Worlds chega perigosamente perto disso.
Começo divertido. E só.
Antes de tudo, precisamos dizer que o game tem um início bastante interessante. Começando com um tutorial nos moldes dos jogos mais conhecidos da série, LEGO Worlds apresenta a você o conceito dos blocos dourados (algo como um “combustível” para que o jogador possa explorar novos mapas) e o ensina a cumprir algumas quests básicas, como coletar um item específico ou usar uma das ferramentas de construção que seu personagem adquire ao longo dessas fases iniciais.
Toda essa parte, de fato, é divertida por dar um “norte” para a jogatina e o incentivar a avançar. Quem é fã dos games LEGO, inclusive, pode esperar momentos divertidos nesse aspecto, já que a sensação é a de estar em um mundo um pouco maior e mais aberto dos títulos da franquia bem na medida certa.
Cheio de elementos pensados cuidadosamente, o começo de LEGO Worlds é sua melhor parte. Mas depois dele...
O problema começa a partir do momento em que você está livre para explorar os mundos gerados de maneira totalmente procedural de LEGO Worlds. Pode esquecer os cenários projetados de maneira inteligente ou as missões que ao menos fazem algum sentido: a partir daqui, temos apenas locais surpreendentemente vazios que raramente apresentam algo de realmente interessante para ver.
A tediosa jornada de ser um mestre construtor
Nesse caso, o que há para fazer no game? Basicamente, duas coisas: explorar e construir. A primeira delas pode ser descrita como uma extensão dos games de LEGO, trazendo aquela jogabilidade bem-humorada enquanto seu personagem corre por aí socando de outros humanos a zumbis, jacarés, tubarões e praticamente cada enfeite e planta no cenário. Tudo, claro, para conseguir algumas moedas e liberar novas roupas e objetos.
Ferramentas para manipular o mundo não faltam – usá-las é que poderia ser melhor
A maior adição para a experiência em LEGO Worlds fica por conta das várias ferramentas de construção, que dão enorme liberdade para as maneiras como o jogador consegue manipular o cenário. Temos desde itens para moldar o terreno até máquinas de pintura e de copiar outros objetos; cada uma delas frustrante em seu próprio jeito, mas falaremos disso mais tarde.
Sua principal ferramenta, porém – e que serve de impulso para boa parte da jogatina – é a “Ferramenta de Descoberta”, que é basicamente um catalogador e construtor de itens que você marcar. Acredite quando dizemos que você vai passar muito tempo empunhando ela e registrando cada pedaço de grama, concha, móvel ou construção que encontrar, assim como juntando moedas para desbloquear todas essas peças.
Junto disso, LEGO Worlds também dá a você a chance de coletar itens especiais dos mais variados tipos. Normalmente escondidos em baús ou dados como presente, eles vão de katanas a regadores, disparadores de gancho, lanças e até equipamentos mágicos, permitindo ao jogador dar cabo daquele inimigo com ainda mais facilidade. Há também montarias e veículos bacanas para encontrar pelo mapa; não que você precise deles, com um personagem tão ágil e capaz de escalar qualquer estrutura.
Quer essa arma disparadora de gancho para subir locais? Mesmo se tiver sorte de achá-la, qual é sua utilidade quando escalar normalmente é mais fácil?
Novamente, isso é bastante parecido com a ideia dos próprios jogos de LEGO que temos por aí. Mas o fato de ser um mundo aberto trabalha negativamente para a experiência: enquanto os games da franquia usam sua maior linearidade para apresentar ambientes criados cuidadosamente e trazer novidades interessantes, LEGO Worlds rapidamente vira um mar de mesmice.
O que isso quer dizer para a jogatina em si? Digamos que, em resumo, você vai passar uma parte esmagadora de seu tempo socando arbustos, esmurrando o botão de ataque descontroladamente para bater nos inimigos, descendo o braço em mais árvores, brigando com mais adversários... Por vez ou outra, você até vai encontrar um novo item para catalogar ou uma missão, mas é mais uma exceção do que a regra.
A skin dos mundos pode até mudar, mas as bases do game continuam rasas
Não adianta, aliás, pensar que é só uma questão de mudar de mapa. A skin dos mundos pode até ser outra e os itens podem ser um pouco diferentes, mas, em uma situação muito parecida com o que vimos em No Man’s Sky, não há muito o que fazer.
A mais bela e limitada construção
Felizmente, ao menos na hora de começar a construir, o game consegue mostrar a que veio. Isso porque LEGO Worlds dá opções para que você controle cuidadosamente a posição de cada pecinha disponível naquele mundo; logo, quão grande ou elaborada sua casa ou castelo pode ser basicamente só está limitado por sua imaginação.
Tudo isso, porém, vem com ressalvas gigantescas. Para começar, não adianta ter qualquer esperança de criar casas, itens ou outra construção maluca que sua mente imaginar. LEGO Worlds está limitado à criação de estruturas estáticas – e apenas isso. Mesmo que você monte algo no formato de um carro ou nave, não há como fazê-lo sair do lugar.
Pensando em construir seu próprio carro-perfuratriz? Nem pensar
Lembra das ferramentas que comentamos anteriormente, aliás? Pois bem, chegou a hora de falar delas. Em resumo, elas são um dos principais motivos de descontentamento dos fãs desde a época do Acesso Antecipado, com uma combinação de uma câmera ruim e controles extremamente confusos que mal mantêm um padrão entre um e outro. Por culpa disso, construir em LEGO Worlds é uma batalha constante e cheia de tropeços contra os comandos.
Nada disso, no entanto, se compara ao simples fato de que sua seleção de peças no game é ridiculamente limitada, de início. Embora haja uma seleção razoável de bloquinhos para usar (mesmo que nem de longe chegue perto da variedade disponível na vida real), apenas uma pequena fração dela está disponível desde o início.
Para se divertir, só suando muito a camisa
Esse fator dito acima nos leva ao que faz com que o game acabe perdendo a maior parte de seu ímpeto: por mais que evolua para apresentar mais, todas as partes divertidas da jogatina são “limitadas” pelos elementos mais chatos da experiência, evoluindo a passos lentíssimos.
Exemplos para isso não faltam. Você quer uma peça que ainda não está disponível em sua coleção? Então é bom ter a sorte de encontrar um Encrenqueiro que tenha exatamente o bloco desejado para caçar – e torcer que eles não acabem derrubando sua peça fora do cenário depois de longos minutos da chata perseguição. Quer achar mapas maiores e mais variados? Só se cumprir as irritantes quests para ganhar os blocos dourados de prêmio.
Horas de exploração para não achar nada: esse é um cenário bem frequente na jogatina
Para piorar, todos esses elementos dependem incrivelmente da sorte do jogador. Não são poucos os casos, por exemplo, em que personagens querem sua ajuda em quests por itens que simplesmente não existem naquele mapa – ou estão tão bem escondidos que você dificilmente vai encontrar ao vagar a esmo pelo cenário.
Como resultado, LEGO Worlds consegue ser exatamente o oposto do que se espera de um bom game. De um lado, aprender os comandos mais importantes para conseguir jogar, construir e modelar seu mundo é bem mais difícil do que os fãs dos títulos LEGO vão estar dispostos. Do outro, não há qualquer desafio para incentivar um jogador mais experiente a querer passar pelos tediosos obstáculos só por uma nova peça ou um item aleatório.
Tanto trabalho por tão pouca recompensa...
A parte boa, é claro, é que aqueles valentes (e pacientes) o suficiente para passarem por toda essa montanha de dores de cabeça de coletar pecinhas, cumprir quests e aprender a lidar com os controles são recompensados com um game bastante completo de construção. Enquanto Minecraft permite apenas formas bastante primitivas, por exemplo, LEGO Worlds tem opções mais do que suficientes para você criar o que sua imaginação conceber.
Precisamos admitir também que, na parte visual, LEGO Worlds é lindo de morrer. Não vão ser poucas as vezes que, ao jogar, você vai querer parar simplesmente para observar uma construção especialmente interessante, um vulcão cheio de peças reluzentes ou mesmo as ruínas de uma civilização subaquática. Ajuda muito, é claro, a presença de uma enorme variedade de temas, que promete deixar muitos fãs dos LEGOs clássicos cheios de nostalgia.
De que adianta tudo isso, entretanto, se o aspecto primordial de um game – a jogatina em si – não consegue agradar? Infelizmente, a tentativa de alcançar fãs de longa data dos bloquinhos de plástico com muitas possibilidades de construção sem abandonar todo o tom e facilidade do “gênero” que ela mesma criou resultou em um título que falha em acertar ambos.
Vale a Pena?
Alguns de nossos leitores talvez se lembrem do hands on que tive a chance de fazer quando LEGO Worlds estava apenas engatinhando quase dois anos atrás. Naquela época, deixei claro que o game era cheio de potencial, mas que precisava trazer mais elementos e melhorar o que já tinha para ser o jogo de LEGO que tantos fãs sonhavam.
Hoje, no entanto, minha impressão é a de que o título deu um passo para trás em comparação às suas bases. Sim, há um número considerável de novos cenários, objetos, veículos, missões e inimigos para encontrar; todos esses elementos, porém, parecem incrivelmente rasos ao ponto de mais atrapalharem do que ajudarem na experiência.
Tudo é tão desinteressante, de fato, que me vi desejando voltar para a época em que o game estava em seus estágios iniciais. Você tinha pouco a fazer, mas ao menos não era necessário passar por tantas chatices e focar no que importa.
Nessa hora, novamente me vejo comparando o game com Minecraft. Mesmo com os gráficos claramente inferiores e uma seleção de blocos menor em formas e cores, o título da Mojang é gostoso de jogar – seja por seus controles muito mais intuitivos, seus elementos de exploração mais interessantes ou a maior facilidade de construir estruturas. Mas, acima de tudo, Minecraft tem uma base simples e expande absurdamente nela.
Por outro lado, LEGO Worlds tinha um potencial inacreditavelmente maior pelo vasto número de peças, coleções e temáticas. No entanto, o que ele oferece é exatamente o contrário, com menos a fazer em construções e mecânicas de exploração que não tiram bom proveito de nenhum desses elementos. Assim, minhas quase 15 horas de jogo em LEGO Worlds mais pareceram uma tortura, e tenho a certeza de que não quero voltar a uma jornada de ser um mestre construtor.
Se é possível se divertir com LEGO Worlds? Sim, mas só se você tiver muita paciência mesmo para aguentar todas as partes irritantes envolvidas com quests, exploração e coletar itens para que a construção (o único aspecto realmente interessante da jogatina) seja apenas razoavelmente limitada.
Categorias
- Gráficos espetaculares
- Mantém o tão amado bom humor dos jogos LEGO
- Dá ao jogador acesso a uma enorme variedade de peças
- Ferramentas permitem a criação de construções nos mínimos detalhes
- Traz uma variedade considerável de mundos e biomas para explorar
- Usar as ferramentas de construção é extremamente confuso
- Controlar a câmera é um desafio em boa parte da jogatina
- Boa parte do conteúdo do game está travado detrás de missões
- Quests são repetitivas e pouquíssimo interessantes
- Combates alcançam um nível sem precedentes de tédio
- Recompensas por explorar raramente valem o esforço
- Velocidade com que novos conteúdos são liberados é incrivelmente lenta
- -Modo de construção é limitado apenas a estruturas, e não veículos ou outros objetos
Nota do Voxel