Knack 2 acerta em se redimir pelas falhas do primeiro, mas também cansa
Quando foi lançado, em novembro de 2013, o PS4 não exatamente apresentou uma linha de títulos exclusivos que justificassem a aquisição do console. Knack e Killzone: Shadow Fall figuraram como os mais chamativos, mas o jogo que brilhou, por incrível que pareça, foi o singelo Resogun, do enxuto estúdio Housemarque.
Knack é uma aventura concebida por Mark Cerny, um dos arquitetos do PS4 e membro envolvido diretamente na trilogia original de Crash Bandicoot. À época do lançamento, o criador propagou Knack como uma “jornada que resgataria a essência e a magia” das plataformas de outrora. O jogo, no entanto, embora divertido, sofreu do velho mal da repetição, foi simples demais e não trouxe tanto carisma assim.
Mesmo com esse fardo nas mãos, a Sony somou bons números em seus cofres com as vendas do game: Knack foi um sucesso comercial e despontou no Top 20 do Reino Unido até ano passado. Razão suficiente para produzir uma sequência. Assim nasce Knack 2: com a missão de se redimir pelas falhas do primeiro e trazer uma experiência mais sólida, sem perder aquele charme da nostalgia.
Gameplay: melhor, maior e mais robusto
A história da sequência segue as desventuras de Lucas e seu companheiro de estimação, Knack, um ser vivo formado por partículas e relíquias resultantes de um experimento bem-sucedido, em busca da fortaleza dos Altos Goblins, que são os algozes dos heróis ao longo da jornada.
Knack 2 é um conto infantojuvenil ilustrado através de um jogo, que qualquer um consegue acompanhar
Se você quiser, pode descartar essa parte, até porque os personagens se esforçam para ter carisma e nem sempre conseguem. Mas, se preferir acompanhar o enredo, há momentos agradáveis, descompromissados, em formato de fábulas, no melhor estilo Disney ou Pixar mesmo. Knack 2 é um conto infantojuvenil ilustrado através de um jogo, que qualquer um consegue acompanhar – e tudo dublado em português brasileiro.
Mas é no gameplay que a continuação brilha. Agora, sim, temos um jogo de ação e plataforma digno do gênero ao qual pertence – com a robustez necessária que os tempos atuais exigem. Isso significa que Knack tem uma variedade maior (enfim aceitável) de socos, chutes e pontapés, com direito a roladas, ganchos e diversas combinações que esses golpes permitem usar.
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Até uma árvore de habilidades maior foi implementada, exigindo que você colete energia vinda de pedras azuis para ganhar pontos de skills e gastá-los na fortitude de Knack. Um personagem que começa pequeno e, tão grande quanto Gulliver, cresce a alturas homéricas, maiores que as vistas no primeiro game. Há também variantes como o Knack de gelo, o Knack emparafusado, o Knack pequeno invisível e mais. E ah, importante: a jogatina pode ser desfrutada cooperativamente, online ou offline.
Mas a repetição...
A melhoria no gameplay não necessariamente se traduz em diversificação da experiência. Claro que esses upgrades dão um incentivo e complementam o fator replay, para bem ou para mal. E preciso falar desse “mal” chamado repetição.
Knack 2 dura mais do que deveria. A aventura pega de surpresa os despreparados de plantão e reserva, a quem explorar minimamente os cenários lineares, cerca de 15 horas. O problema é que, depois de umas 7 ou 8 horas, você se sente plenamente saciado. É como se estivesse em um rodízio de carne, sentindo-se estufado, e a comida não parasse de vir, mesmo que você tenha identificado o seu cansaço.
Aí a sua empolgação, que estava no ponto alto da curva, começa a cair. Há lampejos que se preocupam em trazer um tempero diferente, como um tanque que pode ser controlado nos capítulos finais, no melhor estilo Battlefield, e os momentos de QTE, que mostram Knack executando uma série de ações cinematográficas conforme você pressiona os comandos que aparecem na tela. Claro que sem a escala épica de outros jogos que utilizam a mecânica.
Você vai empurrar com a barriga a segunda metade quase inteira
De resto é bater, correr, rolar, pular e resolver alguns puzzles simplórios, alternando essas ações em ritmo cadenciado, que cansa após as 7 ou 8 horas citadas. Se o jogo durasse isso, seria melhor. Mas, prolongado do jeito que está, deu espaço para a repetição. Você vai empurrar com a barriga a segunda metade quase inteira – que é divertida, sim, mas cansa. Em resumo: o jogo deixou a carne passar do ponto na brasa, quando o fogo deveria ter sido apagado mais cedo.
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Colecionáveis escondidinhos
Como não poderia faltar, Knack 2 traz de volta as cartas do primeiro, aquelas que, quando coletadas em quantidade suficiente, criam um dispositivo capaz de trazer melhorias passivas ao herói – como a habilidade de detectar tesouros, enxergar a barra de energia dos inimigos e outras.
Esses itens estão escondidos com sabedoria nos cenários. Alternar entre o Knack grandão e o pequenininho com o R1 se torna uma tarefa mais divertida quando você precisa se envergar em superfícies estreitas e túneis ocultos, muitos deles contendo baús secretos com as ditas cartas.
Graças a isso, existe a motivação certa para você explorar os ambientes de forma mais inteligente. Se for um caçador de platinas, o fator replay aumenta – mas não se esqueça de que a repetição cansa.
Vale?
Se você gostou do primeiro título, Knack 2 justifica a sua aquisição porque é, no mínimo, aquilo que o anterior poderia ter sido. A simplicidade é, para bem ou para mal, um elemento que torna o jogo acessível, embora ele tenha essa cara de “começo de geração”.
Se Knack 2, do jeito que está, fosse o jogo de 2013, seria um produto melhor. Hoje ele vai divertir, mas corre o risco de envelhecer rapidamente e cair no esquecimento – assim como o primeiro. O processo pode ser mais demorado para que isso aconteça porque a experiência está mais robusta e consegue classificar o jogo como, no mínimo, algo bom.
Na ausência de títulos desse gênero, Knack 2 se apresenta como uma opção interessante e diverte um bocado. Mas, apesar dos esforços, ainda precisa de mais arroz com feijão para se consagrar no hall de mascotes da família PlayStation – quem sabe um terceiro Knack seja a experiência definitiva.
- Diversão descompromissada
- Simples, acessível, puro e inocente
- Mais robusto que o primeiro, principalmente no combate, que está mais diversificado
- Exploração agradável
- História esquecível
- Os personagens se esforçam para ter carisma e são caricatos, mas nem sempre conseguem
- Sofre do mal do primeiro: é repetitivo, principalmente da metade em diante, quando você já se sente satisfeito, mas precisa ter “gula” pra continuar
Nota do Voxel