Jump Force não eleva o cosmo ao 7º sentido, mas traz golpes divertidos

Jump Force foi anunciado durante a E3 2018 no palco da Microsoft, mostrando o estreitamento das relações do Xbox com o Japão, algo que comumente acontecia com o PlayStation. Simbolizando a comemoração de 50 anos da revista Shonen Jump, berço das maiores obras de mangá da história, a proposta era trazer diversos personagens do universo dos animes em um único game de luta.

Se você está vendo esse review agora, você já deve ter visto duas coisas: que Jump Force é simplesmente fantástico em termo de visuais e que choveu notas ruins e críticas para cima dele. Mas, depois de jogar dezenas de horas, será que Jump Force é mesmo esse fiasco que estão pintando? Então bora ver a nossa análise completa!

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Modo história ruim e genérico

Acima de tudo, Jump Force é um jogo de luta comemorativo. Deixando a trama e gráficos de lado por um momento, o que encontramos aqui é um pacotão de lutadores famosos, como Seiya, Goku, Yugi, Luffy, Gon, Yusuke e muitos outros personagens icônicos da revista Shonen Jump em um game de luta raso, longe de grandes destaques como Dragon Ball FighterZ.

Mas para juntar tudo isso, é preciso de uma cola, que neste caso é a narrativa. A história do game é bem simples e mais clichê impossível. Uma galerinha do mal pretende dominar o mundo real e acaba sobrando para os heróis darem cabo da bagunça, tudo através da organização Jump Force, que reuniu diversos universos de mangás para acabar com a ameaça. Sua missão é basicamente acabar com cubos maléficos que empestearam o universo, estejam eles nos lacaios dos chefões ou infectando os mocinhos.

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Contudo, mesmo com traços de diversos mangás famosos e antagonistas criados pelo próprio Akira Toriyama, criador de Dragon Ball, o enredo parece mais uma fanfic e um motivo para unir todo mundo do que algo bem trabalhado, roteirizado e que seja agradável de consumir. Não é péssimo, mas está longe de ser bom.

A trama poderia ser excelente, mas é rasa demais e não utliza de maneira boa tantos personagens icônicos na tela

Os vilões são bem genéricos, os personagens originais da trama não adicionam ao enredo e a interação entre todos os heróis da Jump Force, que poderia ser o grande trunfo, não é aproveitada de maneira satisfatória. Os diálogos são muito rasos e não há uma boa utilização de tantas celebridades no mesmo lugar.

Galeria 1

Esse é possivelmente o pior ponto negativo de Jump Force. O modo história simplesmente não é coeso, e não só em termos de narrativa. Para guiar o jogador pela trama e apresentar os personagens da Shonen Jump um a um, a Bandai adotou uma clássica forma que já vimos diversas vezes: experienciar tudo pela perspectiva de um avatar.

Campanha com fórmula simples, mas confusa

A campanha basicamente consiste em fazer diversas missões com um personagem criado por você, capaz de adquirir muitas habilidades diferentes, como Meteoro de Pégasus e Kamehameha. A rotina acaba se resumindo em ficar perdido em um lobby com diversos personagens genéricos, caçando missões principais sem indicações na tela e realizando tarefas secundárias para ganhar XP e dinheiro, elementos necessários para continuar a personalização do avatar, seja na aparência ou nas habilidades. Apesar de não ser nada muito glorioso, a personalização é bacana, principalmente na aparência.

Se você jogou Dragon Ball Xenoverse, a receita de bolo terá um gostinho familiar. Mas veja bem: isso está longe de ser um problema. O defeito aqui é que a apresentação é desastrosa em diversos aspectos. As missões são difíceis de encontrar, não há mapa, os personagens não têm vozes em 90% do tempo e as cutscenes são horrorosas.

Galeria 2

Por ser um jogo celebrativo, muitos esperavam que Jump Force fosse uma evolução do que já vimos em Naruto Storm ou o próprio Dragon Ball Xenoverse. Contudo, sequer é comparável, pois aqui é pior do que os demais. Os gráficos são lindos, claro, mas as animações carecem de um polimento básico.

Nas poucas cenas com vozes, que pelo menos são os dubladores japoneses originais, os modelos são bons, mas a atuação é péssima. O sincronismo labial é fraco (frequentemente com atrasos), as expressões nos olhos são horrorosas as as animações são bem ruins. Sério, em alguns casos mais parece um mod de GTA mal encaixado do que um game feito do zero. Isso sem contar a performance ruim durante as cutscenes.

Jump Force compensa seus erros na apresentação das lutas

Falando assim, Jump Force parece um grande fiasco, regredindo a fórmula já consolidada de jogos de anime mais simples. Mas de verdade: ele está longe de ser um game ruim. As críticas do modo história podem ser duras, mas ele é verdadeiramente divertido. Como um jogo celebrativo de luta, os combates são incrivelmente bem-feitos.

Chega até ser cômico. O que falta em capricho nas cenas da história tem de sobra nas batalhas comuns. Os efeitos, jogo de câmeras e apresentação das lutas são bem contrastantes com o que vemos na campanha. De todos os games de lutas simples da Bandai, Jump Force certamente ganha a coroa no quesito capricho dos combates, com cenários belíssimos, golpes incríveis e sensação épica.

Galeria 3

Apesar da carinha bonita ser o destaque, o combate também não deixa a desejar. É preciso endossar uma coisa antes de começarmos: Jump Force não é um jogo voltado para o eSport. Jump Force não é Dragon Ball FighterZ, Mortal Kombat ou SoulCalibur. Jump Force é um jogo de luta simples no estilo de outros do mesmo gênero, como My Hero: One’s Justice, Dragon Ball Xenoverse e mais.

Nem tudo está perdido: a jogabilidade tem seus méritos

Dentro do seu próprio escopo, que não é o de um game de luta competitivo, Jump Force manda muito bem. Há golpes básicos, ataques fortes, agarrões, defesa e vários golpes especiais. Mas o legal é que há mecânicas mais profundas que o básico, como dashes rápidos, esquiva de última hora, contra-ataques e até a chance de gastar recursos pra fugir dos combos adversários.

Apesar de todas as lutas serem de 3 versus 3, as barras de vida, de habilidade, de movimentação (utilizada para dashes e escapar de combos) e de despertar são compartilhadas. É legal ver as trocas de lutadores em tempo real sem prolongar a luta. As mudanças de personagem servem apenas para mudar os combos, tornando as batalhas mais rápidas.

Cada uma das habilidades são muito bem-feitas, com jogos de câmera e efeitos espetaculares

Todos esses elementos podem ser combinados de algumas formas surpreendentemente mais profundas do que eu esperava. Dashes podem ser contra-atacados com certos golpes especiais, defesas podem ser quebradas com ataques carregados, combos comuns podem ter mudança de direção para confundir o inimigo e ataques comum podem ser combados com habilidades únicas de cada lutador. Tem esquema de “jokenpô” mecânico o tempo todo.

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É legal testar cada lutador e ver suas particularidades. Cada um deles têm três habilidades e um golpe supremo (além de alguns terem transformações permanentes) e é legal ver cada uma delas em ação. Novamente, não é nada profundo e serve mais como uma boa diversão com os amigos em uma tarde livre do que uma dedicação para aprender os movimentos. E, como existem 40 personagens e a possibilidade de personalizar seu avatar, tem conteúdo suficiente para diversão.

Claro, sempre falta aquele personagem querido ou aquele anime estimado. Afinal, são 50 anos de Shonen Jump e apenas 40 personagens. Não temos Hyoga, Ikki, Kurama, Hiei e muitos outros heróis marcantes, mas não tem como atender todos. 40 heróis já é um número bem alto e teremos mais 10 chegando por DLC.

Visuais de altíssima qualidade: ótima transição para traços realistas

O grande destaque do game fica com os gráficos fotorrealistas que surpreendentemente caíram como uma luva no estilo. Apesar de o game se inspirar em obras de mangás e animes, mídia famosa por utilizar a técnica de cel-shading no visual, o resultado é bem bom.

Com exceção de alguns poucos personagens, como alguns de Dragon Ball ou One Piece, todos os demais têm gráficos incríveis de forma realista, especialmente os de YuYu Hakusho e Saint Seiya. As lutas apresentam cenas belíssimas, os efeitos especiais recheiam a tela o tempo todo e há sempre algo memorável visualmente.

As partículas são espetaculares, os efeitos gráficos para simular os golpes são incríveis, os materiais realistas desempenham um papel bem importante (é de chorar ver as armaduras de Cavaleiros do Zodíaco reluzirem de forma realista), as roupas e armaduras se quebram com os golpes e muito mais. E, apesar de ser em 30 fps, há um ótimo motion blur em ação para ajudar a deixar a experiência mais fluida.

Galeria 4

Entretanto, os gráficos de altíssima qualidade têm um custo: performance. Além de ser um jogo a 30 fps, algo pouco comum para o gênero de luta, essa meta não é atingida com eficiência. Durante as batalhas comuns, a performance cai em alguns poucos momentos em que os efeitos especiais estão em alta, mas nada que atrapalhe.

Mas durante a história é comum ver quedas constantes. A plataforma que joguei foi o Xbox One X, e mesmo ali é visível que há problemas, mesmo que a resolução seja alta. Porém, o principal problema técnico de Jump Force é outros: os loadings demorados. Qualquer coisa, desde abrir um menu diferente a aceitar uma revanche no mesmo cenário e com os mesmos personagens abre uma tela de carregamento bem longa.

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A Bandai Namco já prometeu solucionar esses impasses técnicos, mas a análise é feita com o que temos em mão: até o momento, essas coisas incomodam. Nada que quebra a experiência, mas certamente longe do polimento que esperávamos.

Vale a pena?

Não, Jump Force não é horrível. Muito longe disso. Dado o seu gênero e caráter comemorativo, a expectativa é que o game fosse melhor do que os demais do mercado, que é o de luta casual. Em alguns pontos ele supera, em outros regride. Realmente o modo história é bem aquém do esperado e carece do refinamento que um game do tipo requer. No final, ele não é o que os 50 anos da Shonen Jump merece.

Contudo, isso não quer dizer que ele não tem seus méritos. Pode parecer forçado, mas é real: eu me diverti bastante com Jump Force, principalmente no multiplayer de sofá. Os personagens são bem representados e a luta é satisfatória, atendendo os pontos de um game casual. Ele certamente poderia ser melhor, mas não deixa de ser uma boa adição para os jogos de luta de anime.

Jump Force foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise.

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Pontos Positivos
  • Ótima seleção e quantidade de personagens jogáveis
  • Criação de avatar é legal e há bastante opções de personalização
  • O combate é raso, mas divertido na medida do gênero
  • Efeitos especiais e dinâmica de luta bem legais
  • Visuais espetaculares que adaptam bem o estilo de mangás para o fotorrealismo
Pontos Negativos
  • Modo história repetitivo e com indicações confusas
  • Cutscenes são terríveis e carecem de polimento básico
  • Quedas de performance
  • Loadings muito demorados que quebram o ritmo rápido do jogo
  • Muitas cutscenes não têm vozes