Imagem de Jotun
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Jotun

Nota do Voxel
75

Uma luta árdua para conquistar o respeito dos deuses

Quando tive a oportunidade de testar Jotun durante a Gamescom 2015, me defrontei com um game muito bonito, mas que era prejudicado por um sistema de dificuldade um tanto injusto. Agora com a versão completa em mãos, finalmente tive a chance de desenvolver melhor aquela impressão inicial e descobrir que, se ela não estava totalmente errada sobre o produto final, ainda permanece um pouco do gosto agridoce que senti na feira alemã.

Baseado na mitologia nórdica, o jogo conta a história de Thora, uma guerreira que sofre uma morte que não é considerada honrosa pela tradição de seus deuses. Devido a isso, em vez de ir para Valhalla, ela é enviada para uma espécie de “limbo”, onde vai ter a oportunidade de provar seu valor para as divindades.

Seguindo as tradições do povo viking, o único meio que ela tem de fazer isso é em batalha — mais especificamente em confrontos contra criaturas conhecidas como Jotuns. Para isso, a protagonista percorre desde os troncos de Yggdrasil, a árvore da vida, até as planícies gélidas habitadas por algumas das criaturas mais sombrias da mitologia nórdica.

Trabalho feito à mão

O aspecto que mais surpreende em Jotun é o fato de que todos seus ambientes e animações foram feitas à mão pelo time de desenvolvedores. Assim, embora seja possível traçar alguns paralelos com jogos como Bastion e Titan Souls nos aspectos mecânicos do título, visualmente ele é uma experiência totalmente única.

Destaque especial nesse sentido deve ser dado para os chefes, que são o principal tipo de inimigo que você vai encontrar na aventura. Além de possuírem tamanhos gigantescos que fazem a protagonista parecer mais frágil, eles têm animações bastante fluídas que em muito lembram desenhos mais antigos.

Cada ataque dessas criaturas é facilmente identificável graças a isso, e percebê-los se torna essencial para conseguir sobreviver. A única crítica sobre o trabalho da Thunder Lotus Games é o fato de que certos elementos parecem “recortados” em relação ao cenário, o que causa certo estranhamento e, para alguns, pode denotar falta de cuidado por parte do estúdio.

Linha tênue entre desafio e frustração

Tal qual o já citado Titan Souls, Jotun é um game basicamente voltado ao confronto contra chefes. Embora haja momentos de exploração e alguns puzzles espalhados pelos diferentes mapas do jogo, a maior parte de seu tempo vai ser dedicada a enfrentar os gigantescos jotuns que estão no caminho entre você e a glória eterna.

Infelizmente, a maneira como a Thunder Lotus construiu essas criaturas faz com que o título muitas vezes não saiba se pretende ser uma experiência desafiadora ou simples frustrante. Muito disso se deve ao fato de que a maior parte dos erros cometidos pelo jogador tem consequências muito grandes.

Isso não seria exatamente um problema não fosse o fato de que muitos desses erros só podem ser evitados depois de você já ter sofrido as consequências trazidas por eles. Mesmo que os chefes tendam a “telegrafar” seus movimentos, muitas vezes você só vai saber a área de efeito de um golpe ou sua consequência imediata após ser atingido por ele.

E isso é algo preocupante em um jogo cujas batalhas constituem basicamente na observação de padrões e em agir de maneira adequada em relação ao que eles representam. Como a movimentação da personagem principal é lenta — especialmente na hora de atacar —, é preciso saber respeitar os “cacoetes” dos chefes para atacá-los somente em momentos em que há a certeza de que eles estão desprotegidos.

O que torna certos confrontos especialmente frustrantes é que, fora algumas habilidades especiais adquiridas em ritmo pouco balanceado, Thora não possui muitas ferramentas de defesa. Ou seja, quem é mais desatento e não partiu em busca dos escassos reforços oferecidos pelo título pode passar a aventura inteira tendo de lidar com uma personagem que morre após dois ou três golpes.

Essa frustração poderia ser diminuída caso, ao morrer, o jogador fosse transportado imediatamente para o chefe — ou ao menos tivesse que lidar com alguns inimigos em seu caminho. Infelizmente, tal qual acontecem Titan Souls, geralmente sua derrota vem acompanhada da punição adicional que constitui andar várias telas — e rever uma animação que não é possível evitar — antes de tentar outro confronto.

Não me entendam mal: em geral, as batalhas de Jotun são bem feitas e possuem mudanças de ritmo bem boladas, fazendo com que o jogador nunca se sinta realmente seguro. No entanto, parece que os desenvolvedores não levaram muito em consideração a frustração do jogador na hora de determinar o grau de dificuldade do título.

O “jogador hardcore”, que tira proveito mais da dificuldade em si do que em uma experiência que seja divertida, pode argumentar que estou defendendo a “geração leite com pera” e que “bom mesmo era no passado”. No entanto, acho que não é muito pedir simplesmente por uma barra de vida ligeiramente mais resistente ou de, quem sabe, um sistema de chekpoints mais rápido tal qual o adotado em Super Meat Boy.

Mistura de amor e ódio

Após finalizar Jotun, não consigo deixar de ter um misto de amor e ódio pelo jogo. As animações, ambientes e trilha sonora são simplesmente excelentes, e em nada lembram o fato de que estamos lidando com um jogo independente financiado com a ajuda do Kickstarter — que, em si, tem muito mais ambições que muitos jogos triplo A.

No entanto, o título da Thunder Lotus Games não é uma experiência que pretendo reviver, especialmente devido a grande frustração proporcionada por muitos de seus chefes. Em muitos momentos, a exigência de que meus movimentos diante do desconhecido fossem perfeitos resultou na criação de certo rancor contra algumas criaturas que sinto que vai demorar um bom tempo até que seja possível processá-lo.

Em resumo, Jotun me trouxe uma experiência que definitivamente não devo esquecer tão cedo — não exatamente pelos motivos certos. Grande parte do sentimento misto que tenha quanto ao título é o fato de que, quando não estava ameaçando jogar o controle na parede, conseguir me divertir com o título e perceber as boas ideias trazidas por seus criadores, mesmo que pareça que faltou certo balanceamento à ação.

Recomendo o título especialmente para quem procure uma experiência desafiadora e que goste de experiências visuais que fujam aos padrões estabelecidos pela indústria dos jogos. O esforço da Thunder Lotus Games deve ser elogiado, mesmo que a empresa não tenha encontrado o ponto certo de desafio capaz de tornar o jogo um produto digno de virar referência em sua área.

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Pontos Positivos
  • Belos visuais feitos totalmente à mão
  • Trilha sonora de alta qualidade
  • Algumas batalhas possuem desenvolvimentos surpreendentes
Pontos Negativos
  • A dificuldade tende a ser punitiva
  • Certas decisões de design tornam o game excessivamente punitivo