Universos colidem dentro do seu video game
Quando criança, uma das minhas principais diversões era usar bonecos de séries diferentes para criar, por conta própria, aventuras que nunca poderiam ocorrer oficialmente. Em minha imaginação jovem, fazia completo sentido Os Cavaleiros do Zodíaco se unirem para batalhar com os X-Men em uma cidade de LEGO na qual Spawn e Batman faziam algumas aparições, só para citar um exemplo de trama hipotética.
J-Stars Victory VS+ revive essas lembranças ao apresentar um conceito que, até alguns anos atrás, pareceria no mínimo improvável de ser realizado. O título reúne alguns dos principais personagens (mais de 50 nomes, no total) da história das revistas Shonen JUMP e V JUMP e os coloca para brigar em pé de igualdade em arenas semidestrutíveis.
Além de figuras já conhecidas no Ocidente, como Kenshin Himura, Son Goku, Naruto, Kenshiro e Ichigo (entre outras dezenas de rostos familiares), o título apresenta personagens de séries um tanto obscuras por aqui, como Neuro Nogami e Heihachi Edajima — o que deve ter sido um verdadeiro inferno do ponto de vista do licenciamento. Apesar de ser bastante forte no “fator fanservice”, o game peca por apresentar mecânicas que não se sustentam de forma duradoura.
O torneio dos sonhos
Seguindo a tradição dos jogos de luta do mercado, J-Stars Victory VS+ apresenta modos consagrados, como o Arcade e o Versus. No entanto, você vai passar a maior parte do tempo na opção “J-Adventure”, que apresenta alguns elementos de RPG na tentativa de trazer uma maior variedade ao título.
Após escolher uma entre quatro histórias disponíveis, você toma o controle de um barco e deve explorar o mundo em busca de oponentes. Independente de estar controlando Luffy (de One Piece) ou Naruto (da série homônima), seu objetivo é o mesmo: se sagrar campeão de um torneio organizado por uma espécie de deus misterioso que em nenhum momento mostra seu rosto.
Entre batalhas, você vai cumprir missões secundárias que, em essência, envolvem derrotar inimigos mediante alguma condição especial ou limitação. A história apresentada não é muito bem desenvolvida e em nada contribui o fato de ela ser apresentada por figuras estáticas de seus heróis, que sequer possuem dublagem em todas as suas falas.
Há mais de 50 personagens à escolha do jogador
Conforme você navega, também se depara com uma série de lutas aleatórias, cujo principal objetivo é aumentar as estatísticas de sua equipe — algo que, infelizmente, parece não ter muito impacto na maneira como você joga. Esses elementos mal construídos fazem com que a aventura se arraste de maneira desnecessária, diminuindo o estímulo para conferir todos os cenários oferecidos pela Bandai Namco.
A maior recompensa oferecida pelo game são moedas que devem ser usadas para desbloquear personagens adicionais nas diversas modalidades de jogo oferecidas. Felizmente, você já começa com uma quantia generosa de dinheiro, o que permite desbloquear pelo menos alguns de seus heróis preferidos logo de início.
Combate divertido, mas superficial
Uma das principais qualidades de J-Stars Victory VS+ também atua como um de seus defeitos mais evidentes. Bastante acessível, o sistema de combates pode ser dominado em questão de poucas lutas. O problema surge quando você percebe que a quantidade de estratégias e comandos disponíveis é bastante limitada quando comparada à quantidade de lutadores possíveis à disposição.
O game oferece um botão para ataques fracos e rápidos, um para ataques mais poderosos e lentos e outro para acionar habilidades especiais (que gasta uma espécie de barra de magia com duração finita). Além disso, é possível fixar a mira nos inimigos e se defender ou desviar de seus ataques.
O título também oferece comandos que quebram a defesa inimiga, a possibilidade de pedir ajuda para um personagem assistente e uma série de golpes finalizadores. Para acessar esses poderes, é preciso causar dano suficiente em seus adversários de forma a preencher uma barra que surge na parte superior da tela.
Tudo isso funciona bem até o momento em que você percebe que não há muita variação nas táticas empregadas por seus inimigos Com isso, as lutas acabam virando um exercício de esperar por uma brecha na defesa adversária e apertar os botões de ataque até que suas animações (das quais não é possível escapar assim que o primeiro impacto ocorre) cheguem ao fim, repetindo esse processo incontáveis vezes.
Também decepciona o fato de que, apesar de o jogo trazer mais de 50 personagens distintos, na prática há somente duas categorias de lutadores: aqueles que se beneficiam de ataques físicos e aqueles que têm vantagens usando magias à distância. A partir do momento em que você percebe isso, fica bastante evidente a impressão de que na prática somos forçados a lidar com “skins” diferentes do mesmo lutador genérico.
Embora o modo multiplayer traga lutas mais imprevisíveis, ele também falha em alguns pontos. O principal dele é a decisão da Bandai Namco de restringir bastante o campo de visão de ambos os jogadores nas partidas locais, o que torna bastante difícil entender o que está acontecendo durante os confrontos. Já as partidas online não sofrem com esse problema, mas parecem estar vazias a maior parte do tempo.
O fator fanservice
O aspecto mais forte de J-Stars Victory VS+ é justamente o fato de o game ser baseado em séries que possuem personagens marcantes. É interessante ver as pequenas referências no título, demonstradas tanto na interação entre alguns lutadores quanto nas falas antes do início de um embate.
E é justamente essa dependência grande de referências externas que vai ditar o quanto você vai aproveitar o título. Caso você seja um grande fã de mangás que sempre quis provar que Kenshiro é muito mais poderoso que Jonathan Joestar, deve se divertir ao menos um tempo participando de batalhas inusitadas como essa. Mas, se para você esses nomes não querem dizer nada, dificilmente vai encontrar motivos para investir no título de forma mais aprofundada.
Reconheço que desenvolver um jogo capaz de combinar universos tão distintos mantendo o respeito pelas características únicas a cada um deles seria basicamente impossível. No entanto, da maneira como a Bandai Namco trabalhou, a personalidade e o poder únicos de cada lutador simplesmente não foram representadas de forma satisfatória — falta uma distinção no peso de cada golpe que ajude a tornar cada personagem uma entidade distinta das demais.
J-Stars Victory VS+ deve ser especialmente atraente para os fãs de animes e mangás
Para não se ater somente às críticas ao game, é preciso elogiar o trabalho de adaptação feito pela empresa. Apesar de todas as vozes se manterem em japonês na versão nacional, todos os textos presentes no game estão trazidos de forma competente para o português falado no Brasil – com destaque para o fato de que a empresa respeitou a maior parte das nomenclaturas de golpes usadas nas obras que já foram adaptadas ao mercado nacional.
Vale a pena?
Conforme dito anteriormente, a quantidade de diversão que você vai conseguir retirar de J-Stars Victory VS+ depende muito de seu envolvimento pessoal com os personagens apresentados no game. Caso você seja fã de figuras como Gintoki Sakata, Arale, Seiya e Goku, provavelmente vai querer dedicar um bom tempo conferindo todos os golpes e animações especiais de cada um deles.
No entanto, mesmo o fã mais entusiasmado de animes e mangás não demora a perceber como o sistema de luta do jogo é superficial. Embora isso traga a vantagem de permitir que mesmo iniciantes no gênero se divirtam, inevitavelmente essa característica resulta em batalhas com características repetitivas e com desenvolvimentos bastante previsíveis.
Em essência, J-Stars Victory VS+ é um game que só pode ser considerado mediano. Enquanto seus elementos básicos funcionam conforme o esperado, o título não se destaca em nenhum ponto a não ser em sua seleção de personagens — aspecto cujo impacto desaparece em questão de pouco tempo.
Ideal para partidas curtas ou para um final de semana descompromissado, o lançamento da Bandai Namco está longe de poder ser considerado uma compra obrigatória. Caso as locadoras brasileiras ainda tivessem a força dos tempos em que eu ainda me divertia brincando com bonecos de universos diferentes, diria que o jogo valeria um aluguel curto e nada mais.
Categorias
- Boa seleção de personagens
- Adaptação competente para o português brasileiro
- Sistemas acessíveis
- Trama principal que não se sustenta
- Jogabilidade repetitiva
- Sistema de combate se prova raso em pouco tempo
- Pouca variedade entre os personagens
Nota do Voxel