Into the Breach é um sopro de criatividade nos games de estratégia atuais
Atualmente, o gênero de estratégia, seja ele RTS ou algo de turnos, acabou sobrevivendo muito mais aos games indies do que lançamentos AAA. Into the Breach representa perfeitamente isso, já que é um game independente dos criadores de FTL (Faster than Light). Apesar de não traz nada de revolucionário à fórmula, ele capricha tanto que cativa até mesmo os menos fãs do estilo a darem uma chance.
O jogo tem a típica cara de indie de PC: pixel art e apresentação simples. Em um primeiro olhar, pode ser que o título não chame sua atenção, mas não se engane: o game traz elementos refinadíssimos e nos compele e a jogar sem parar, sempre trazendo uma novidade à mesa que muda toda a forma de jogar e nos faz buscar novas soluções a problemas difíceis.
Apresentação simples, mas caprichada
Into the Breach traz uma premissa bem legal: você deve lutar em robôs gigantes contra kaijus – sim, Kaijus do tipo Mothra, Godzilla e outras criaturas enormes. Porém, isso não acontece no tempo presente, e sim no passado. Todas os esquadrões de mechas são enviados do futuro para impedir que os alienígenas consigam sair do fundo da terra e criar uma fenda irreparável na Terra.
Apesar de ser uma trama que pode ser complexa se bem desenvolvida, Into the Breach não aposta nesse lado. O jogo é praticamente feito para ser jogado em partidas: caso você falhe em salvar a Terra, uma nova equipe é enviada do futuro e você deve recomeçar a linha temporal. Essa é apenas a premissa para juntar coisas da cultura pop que amamos. O gameplay cativante é o que leva o jogo para frente e encanta os fãs do gênero.
Objetivos e estruturas que te fazem pensar (de verdade)
Into the Breach tem objetivos simples: cumprir determinadas tarefas concedidas em cada missão, evitar que a energia elétrica das ilhas se esgote e não deixar todas as tropas morrerem de uma só vez na batalha – caso somente uma ou duas morram, você pode continuar a jogar, mas elas serão controladas pelo piloto automático e não poderão ser aprimoradas. O escopo maior é simples, mas não é fácil cumprir essas missões, mesmo em dificuldades baixas.
O maior ponto forte do jogo é a jogabilidade construída completamente em um sistema de turnos. Into the Breach não tem nenhuma mecânica complexa: você tem um turno de ataque e os inimigos têm o deles. As suas ações vêm sempre primeiro, seguida da dos kaijus e, por fim e quando disponível, ações do cenário.
Para deixar bem claro o quão simples é o gameplay, os cenários têm apenas 8x8 quadrados e não oferece um espaço enorme de planejamento. Tudo isso parece negativo, mas é aí que entra a genialidade da Subset Games: cada mapa do game é praticamente um puzzle complexo.
A tentativa e erro até adianta no começo e ajuda a entender como o jogo funciona, mas ela não vai funcionar por muito tempo. O grande ponto é que os inimigos não estão interessados apenas em você e a defesa pessoal não é a sua maior preocupação. Para o bem maior, você se verá sacrificando unidades – e dessa forma impossibilitando que elas passem de nível para sempre – e pensando em formas de terminar a missão com a menor quantidade de perdas possível.
Cada missão é uma partida de xadrez
Um dos maiores motivadores para avançar em uma experiência lúdica é a recompensa. O jeito preguiçoso é oferecer pontos, a maneira aceitável é apresentar coisas novas e o método difícil é trazer sensação de realização e recompensa ao jogador, mas sem que ele se sinta frustrado ou menosprezado – ou seja, que atinja isso com facilidade. Não é uma tarefa qualquer.
Apesar de ser algo difícil de se realizar, Into the Breach tira isso de letra. Cada partida é diferente e você deve pensar em formas alternativas de vencer. Em jogos de estratégia, geralmente devemos bolar planos que nos levem até o objetivo com o menor prejuízo possível. Mas não aqui. Nas missões do game, você deve sempre defender, mas não necessariamente a si mesmo, um determinado número de turnos.
Os kaijus quase sempre miram os edifícios do cenário, causando perdas energéticas que podem levar à catástrofe que destruirá a Terra. Portanto, você deve impedir baixas de civis enquanto se preocupa com a sua própria equipe. Cada ilha do arquipélago traz variáveis extras à fórmula, como tsunamis que assolam a costa, mares que matam as criaturas, terrenos congelados que oferecem perigos escondidos e por aí vai, e todos podem mudar o ritmo da partida, tornando Into the Breach muito interessante.
Agir sem pensar certamente o levará ao fracasso. Atirar em monstros pode destruir estruturas importantes, se mover para certos locais pode deixar prédios desprotegidos e por aí vai. Até mesmo quando você cumpre os objetivos existe o risco de ter prejuízos sérios que o levam para a derrota. Perder energia sempre é crucial e vez ou outra você terá que trocar missões que trazem benefícios para aprimorar seus robôs para recuperar a energia das ilhas – ou pode simplesmente jogar arriscando um game over e tentar ser cauteloso.
Galeria 1
Isso é simplesmente genial: nem sempre é possível realizar o cenário perfeito. Mesmo jogando muito bem, suas escolhas também envolvem mensurar quais perdas são piores para a sua jogatina. A única ressalva é que, às vezes, os monstros podem ter um comportamento aleatório demais, o que acaba tirando parte do brilho do pensamento estratégico.
O sistema de progressão também é legal: apesar de ser meio baseado em partidas, você ganha alguns pontos que podem ser gastos para comprar outras unidades e também pode salvar um dos pilotos dessa linha do tempo falha, levando consigo um pouco de experiência para a próxima tentativa.
Cada esquadrão tem seu jeito único de gameplay. E quando digo único, é único mesmo. Alguns são completamente voltados para a ofensiva, enquanto outros requerem que você estude muito bem o mapa e derrote os inimigos pela movimentação. Com tamanha mudança de jogabilidade, você poderá testar diversas formas de se dar bem. Into the Breach se resume a isso: o gameplay não é revolucionário, mas é um dos mais bem-feitos que há. Basta saber explorar as variáveis mais inteligentes.
Pixel art muito bem-feita
Os gráficos de Into the Breach segue o padrão de qualidade de sua apresentação: recheados de capricho. O game tem cara de indie do começo ao fim, mas os visuais 2D são muito bem-feitos. Os sprites já trazem o charme e a identidade visual única, mas a estética nos conquista nas animações, que são espetaculares.
Cada mecha, cada kaiju e cada personagem tem um estilo próprio muito legal de se observar. Cada esquadrão tem suas características que remetem a um país diferente, cada monstro é bem-feito para o ambiente em que está situado e por aí vai. Não é nada de encher os olhos como um Owlboy, mas Into the Breach construí uma identidade própria muito boa.
Vale a pena?
Into the Breach é um indie fora da curva. Há games independente no mercado que se destacam por inúmeros motivos, como direção de arte, temática diferente, gameplay inovador. Aqui, não temos a reinvenção da roda, muito pelo contrário: é pela simplicidade, mas com muita atenção aos detalhes, que o game prova seu valor.
Sem dúvidas, fica evidente depois de horas de jogatina que Into the Breach tem um level design de cair o queixo e prova que não é preciso trabalhar em sistemas absurdamente complexos para oferecer desafios: basta pensar nas variáveis certas e nos objetivos que façam mais sentido.
Além de compelir o jogador a continuar sempre pensando e desenvolvendo soluções perfeitas para sobreviver ao dia, o game também traz recompensas novas que alteram drasticamente a forma de jogar, o que motiva ainda mais a continuar e ver quais surpresa nos esperam na frente. Sem dúvidas, um jogo imperdível tanto para fãs de estratégia quanto para apreciadores de experiências extremamente bem-construídas.
*Este jogo foi adquirido pelo redator para a realização desta análise.
Categorias
- Apresentação de primeira, com uma temática muito interessante
- Apesar de não reinventar a roda, o sistema de batalhas é extremamente bem-feito
- Toda missão é muito desafiadora e recompensa o jogador com uma satisfação real
- A progressão é sempre uma sinuca de bico e obriga o jogador a pensar de forma inteligente, sempre sacrificando o que é de menor valor
- Pixel art muito bem-feita e caprichada
- Os diferentes esquadrões mudam drasticamente o gameplay, trazendo um fator replay altíssimo
- O comportamento dos inimigos pode ser aleatório demais às vezes, prejudicando o pensamento tático
Nota do Voxel