Enredo incrível, combate refinado e vastidão de conteúdo: o combo perfeito
Eu sou um cara que gosta de brincar em jogos de luta, mas não de levá-los a sério em nível de campeonato. Já me diverti durante dezenas de horas em Street Fighter IV e, mais recentemente, me aventurei no quinto game. Porém, por conta dessa certa casualidade, jogos como Mortal Kombat (principalmente depois de 2011) e Injustice sempre me apeteceram, por ter mais foco em história e combate mais acessível.
A NetherRealm sempre foi uma das empresas mais consagradas nesse gênero, mas, de uns anos para cá, quando o reboot de Mortal Kombat apareceu, isso foi ainda mais reforçado. Seria esta a fórmula aperfeiçoada da companhia, ideal para games de lutas mais cadenciados? Errado. Desde então, a produtora só acertou e aprimorou ainda mais as mecânicas marcantes que regem os gameplays de pancadaria.
Injustice 2 é uma evolução natural e ainda mais perfeita em relação a Mortal Kombat X e ao próprio Injustice 1. Absolutamente tudo foi aprimorado desde o primeiro título: história, jogabilidade, gráficos, o novo sistema de equipamentos e até mesmo o modo online. Pode acreditar: mesmo se você for “marvete”, vai valer a pena dar uma chance para o novo jogo dos personagens da DC.
Novas alianças serão formadas
O grande trunfo: jogabilidade acessível e divertida
A NetherRealm conseguiu algo muito difícil e louvável: conciliou mecânicas de luta que são convidativas a novatos e desafiadoras para veteranos. Se você for ruim no gênero, ainda vai se divertir com super-heróis de primeira utilizando golpes especiais, mas, se for bom, poderá passar horas nos tutoriais e modo online realizando combos bem complexos. Trata-se de um game com diferentes camadas de aprendizagem e experiências distintas para cada quantidade de tempo investido.
É veterano? Dá para arregaçar nos combos; é novato? Dá para se divertir muito
Tudo depende do que você procura; independentemente do que for, pode ter certeza: será bem divertido. A grande sacada de Injustice 2 é justamente essa. Ele é tão bem-feito e acessível que qualquer um consegue passar um bom tempo na frente da TV, seja ele um competidor de eSport ou um fã aficionado das HQs da DC.
Tudo é muito leve e acessível, mas há várias camadas
Caso queira se aprofundar no combate, pode ficar tranquilo, pois há um modo tutorial com muitos ensinamentos para cada um dos heróis, ideal para treinar o mano a mano do multiplayer. Há cerca de seis a nove ensinamentos para cada personagem, e eles ajudam muito a entender cada mecânica, combo e tipo de jogo deles. Porém, a melhor forma de se adaptar à jogabilidade de forma geral é partir para o modo mais básico do game: a história.
História fenomenal e digna de HQs de peso
A história do jogo é simplesmente incrível, bem contada e fechadinha. Não é uma regra, mas convenhamos que isso é uma exceção em games de luta. A narrativa está ainda mais madura, sombria, e respeita muito o legado do primeiro jogo, a identidade original e o plano de fundo de cada personagem.
Em outras palavras, você verá a arrogância do Batman bem escancarada, as piadas do Arqueiro Verde, a atuação completamente fora da casinha de Arlequina – que, por sinal, segue o atual arco da DC, no qual ela reconhece o relacionamento abusivo do Coringa e o descarta da sua vida – e muito mais, sempre considerando o próprio clima que o universo de Injustiça tem (Injustiça mesmo, já que se tornou um dos multiversos oficiais da DC).
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Houve muita atenção aos detalhes em criar um enredo coerente e que aproveita perfeitamente o gancho do primeiro jogo, explorando uma sacada bem interessante. Superman foi derrubado do seu regime tirano e ditatorial e o mundo parece em paz, mas uma ameaça ainda maior, o Brainiac em carne e osso, chega ao planeta. Será que os heróis podem confiar no Homem de Aço para forjar novas alianças?
A história geral é excelente e segue um modelo muito parecido com o da estrutura de uma HQ. Há uma trama principal com diversos personagens que contribuem de maneira distinta ao roteiro e que, de quebra, ainda mostram um pouco da sua personalidade para alegrar os fãs, tudo isso com cenas impressionantes sobre as quais falarei em breve. Não é uma narrativa de explodir cabeças, mas está pau a pau com grandes conflitos da DC.
Injustice 2 não explode cabeças, mas tem uma narrativa incrível que honra o legado do primeiro e se equipara com grandes arcos da DC
O modo história é relativamente demorado e consegue satisfazer bastante quem procura uma boa narrativa de HQs. E fica a dica: há dois finais, um mais legal que o outro. Há pequenos furos de roteiro e problemas resolvidos em um passe de mágica, mas o resultado é algo muito bem-feito, bem mais pesado que o normal. Porém, logo que o enredo acaba, vem a segunda parte: partir para os outros modos e explorar a fundo o combate do game.
Mulher Maravilha no lado dos vilões? Em Injustice 2, sim
O melhor jogo de luta da NetherRealm até o momento
O combate de Injustice 2 está ainda melhor em relação aos games anteriores. De certa forma, é quase como uma mistura entre Injustice 1, Mortal Kombat X e algo completamente novo. O alicerce do primeiro jogo foi mantido e ainda há uma jogabilidade de três botões, uma habilidade especial de personagem (usado com B ou Círculo) e utilização de partes de cenário para a porradaria. A parte boa é que todos esses elementos foram refinados e têm um aspecto mais pesado e cadenciado, causando uma sensação de impacto maior.
Com 30 personagens e mais 9 que chegarão por DLC, há variedade para todos os gostos. Há heróis com jogabilidade corpo a corpo, alguns que usam projéteis como principal mecânica, outros que usam mais poderes especiais e um restante que mescla um pouco de tudo. É fácil fazer golpes especiais e se divertir com pouco, mas é desafiador entender como linkar cada combo e habilidade, compreender os tempos de frames para cada golpe e criar movimentos que incidem um dano considerável de maneira executável.
Há 30 personagens disponíveis e mais 9 chegarão via DLC
Para apimentar as coisas, a NetherRealm colocou alguns elementos e mudou outros. Há duas grandes novidades dessa vez e elas são bem interessantes: a primeira, chamada Confronto, é uma mecânica que serve para evitar combos, similar ao que Mortal Kombat X faz, mas de forma diferente, pois se trata de um mini game que aposta as barras EX dos jogadores para tentar atacar ou recuperar vida: ambos decidem quanto querem gastar do medidor e ganha quem colocar mais. Já o segundo é o dash com EX, um movimento que faz o personagem percorrer grandes distâncias do cenário e atravessar qualquer projétil.
Além de ter muitas novidades, o combate está mais cadenciado e impactante, algo bem agradável para os fãs do gênero
Esse último é particularmente importante, pois muitos personagens, como Aquaman, Superman e Pistoleiro, conseguem manter o oponente muito longe da tela, e ele é necessário para se aproximar em momentos mais complicados. Em Injustice 1, isso era relativamente fácil de evitar, mas o modelo mudou aqui e os esquemas para desviar não funcionam mais.
Injustice 2 é um jogo extremamente competitivo? Difícil dizer a curto prazo, mas certamente parece que a NetherRealm acertou em um combate bem envolvente e balanceado. Aquaman e Pistoleiro estão completamente fortes no momento? Sim, mas, como em todo jogo de luta, a harmonia entre os personagens vem com o tempo. Com a empresa investindo em campeonatos, o jogo pode substituir Mortal Kombat X em curto ou médio prazo.
O combate de Injustice 2 é fenomenal e brilha muito
Modo online recheado de opções para se divertir
Assim como um modo história decente, um componente online que não tenha muitos problemas é algo raro de se ver no lançamento. E Injustice 2 tem isso? Por ora, parece que a conexão online é refinada, com um netcode que parece suportar bem as conexões do nosso país, mas que ainda precisa de alguns meses de testes na mão da comunidade para termos um veredito definitivo.
Em outras palavras: dá para mandar ver em lutas online sem medo de ser assombrado pelo lag – pelo menos por enquanto. Em termos de variedade contra outros jogadores, há poucos modos, do jeito que normalmente é. Você pode participar de batalhas casuais, modo ranked ou de partidas de King of the Hill.
O Multiverso é um dos principais modos online e é perfeito para quem não quer batalhar contra outros jogadores
O que brilha mesmo aqui são as outras opções que você pode explorar enquanto estiver conectado na internet, ideal para quem não quer ficar o tempo todo em lutas competitivas. O principal modo para se divertir é o Multiverso, que é bem similar às Torres Vivas do Mortal Kombat. Nele, você enfrenta personagens controlados pela IA com modificadores especiais, algo que garante recompensas bem legais que citarei no próximo tópico.
Há MUITO o que fazer no modo online de Injustice 2, tanto para quem quer batalhar online quanto para quem quer uma experiência solo
Aventurar-se no Multiverso pode ser particularmente mais legal quando você faz parte de uma Guilda, uma espécie de clã que qualquer um pode criar. Nas Guildas, é possível batalhar com outros jogadores ou realizar missões específicas que dão presentes para todos os membros quando cumpridas.
O modo online oferece muitas recompensas
Porém, Injustice 2 vai além: você pode se juntar aos amigos para enfrentar chefes com mais HP que o normal, transformando o jogo em uma espécie de Marvel vs. Capcom que coloca três personagens contra um inimigo mais forte. A grande sacada é que cada jogador controla um dos heróis, criando uma dinâmica bem legal. Além disso, você pode programar um time, também de três personagens, mas controlados pelo computador, para batalhar contra outras equipes conduzidas por IA para ganhar prêmios e recompensas enquanto está longe do console.
Como alguem nunca pensou em personalização antes?
Sabe para que serve passar tanto tempo no modo online? Para ganhar recompensas. Tudo isso é coroado com o novo e fenomenal sistema de equipamentos, um dos grandes charmes de Injustice 2. Cumprir desafios diários, participar de guildas ou realizar atividades online, como o Multiverso, garantem caixas do Irmão Olho, um tipo de looting similar às caixas de Overwatch. Abrir esses compartimentos rende armaduras, joelheiras, armas e muito mais para qualquer personagem.
Sério, o sistema de equipamentos de Injustice 2 é a cereja do bolo e traz o glamour que os jogos de luta precisavam
A grande sacada é que esse sistema é basicamente uma progressão de RPG. Cada equipamento tem atributos, como força, defesa e vida, e todos melhoram bastante o personagem, inclusive com habilidades novas em certas situações. Caso você queira uma competição leal no online e preze apenas pelas características visuais, sem problemas: é só habilitar o modo competitivo antes de uma batalha e os dois oponentes se tornam equivalentes, desconsiderando os stats extras que poderiam desbalancear a experiência.
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Contudo, ao mesmo tempo que o looting e a personalização são alguns dos maiores trunfos de Injustice 2, eles também trazem um dos únicos pontos negativos: ganhar itens visuais é recompensador pra caramba, mas ficar dependendo de caixas aleatórias o tempo todo pode ser frustrante.
Não quer ser atrapalhado pelos sistema de atributos de equipamentos? Basta desligá-lo na escolha de mapas para uma partida justa
Em vez de ter uma opção para comprar skins, igual ao próprio Overwatch, só é possível comprar mais caixas. Além disso, muitos equipamentos dependem do nível do personagem, e utilizar aquela nova máscara maneira do Lanterna Verde vai forçar você a jogar muito com ele antes para conquistar o nível certo, algo que pode ser frustrante.
O sistema de caixas maternas é legal, mas pode ser frustrante depender apenas da aleatoriedade
Visual de cair o queixo
Das diversas qualidades que Injustice 2 tem, uma das coisas que mais me impressionaram foi o visual do game. Injustice 1 tinha uma direção de arte legal, mas os gráficos já eram meio estranhos na época. O que o primeiro tinha de ruído, o segundo tem de maestria. O nível de detalhamento dos cenários, dos rostos, das roupas, dos equipamentos, dos poderes e de todo o resto é simplesmente de cair o queixo. Cada herói tem um detalhamento facial tão absurdo que é possível ver as dobras da pele a cada expressão, algo que é difícil enxergar em outros AAAs.
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O fotorrealismo impera e traz resultados tão reais que, sem a menor sombra de dúvida, são os melhores gráficos já vistos em um jogo de luta, entrando facilmente na lista de melhor visual da oitava geração. A Unreal 4 é soberba para o estilo artístico do jogo, e tudo roda lindamente a 60 frames por segundo, com exceção das cutscenes, que são executadas a 30 fps para dar um tom mais cinematográfico.
Por falar nisso, a NetherRealm usou e abusou de cutscenes lindíssimas, com cenários criados exclusivamente para contar a história, diferente de Mortal Kombat X, que utilizava os locais de batalha já modelados para a narrativa. Isso ajuda a enriquecer o enredo em um game de luta acima do nível no mercado. O trabalho da empresa é magnífico: bolar telas apenas para aproximar mais o jogador da história sem prejudicar as já criadas para tirar contra.
Há trechos feitos apenas para o modo história e eles são incríveis
Dublagem brasileira maravilhosa, mas com problemas de produção
Toda a atmosfera imersiva de Injustice 2 é completada com uma dublagem simplesmente fenomenal. As vozes em inglês são ótimas, mas os brasileiros terão uma surpresa ainda melhor, pois todos os dubladores oficiais estão presentes. O jogo tem participação de Marcio Seixas, Guilherme Briggs e muitas outras lendas da dublagem nacional.
E pode acreditar: as vozes em português estão incríveis, com destaque para Arqueiro Verde, Arlequina e Batman. Entonação, atuação e execução são estonteantes, trazendo toda a nostalgia e a qualidade das animações da DC direto para a tela dos consoles. Dá para falar sem receios que este é um dos melhores trabalhos já feitos no Brasil.
"Eu sou o Batman"
Porém, o processo de dublagem nacional tem uma contrapartida bem ruim: os dubladores não têm acesso às imagens. Portanto, apesar da qualidade alta, há margem para alguns erros chatos, como traduções erradas (Wildcat é traduzido como “gata selvagem” e não como Pantera, o personagem) e sincronização de lábios malfeita em alguns casos. São raríssimas exceções, mas caso elas atrapalhem, basta trocar para o áudio original. Em outras palavras: isso não será descontado na nota final.
O trabalho de dublagem é excelente e um dos melhores até hoje, mas há pequenos problemas que incomodam
Vale a pena? SIM!
No final das contas, Injustice 2 é um prato cheio para muita gente. Fãs de jogos de luta casuais, fanáticos por competições e fãs da DC Comics terão uma quantidade de conteúdo simplesmente absurda e da mais alta qualidade. O game é uma evolução magnífica em todos os aspectos em relação ao primeiro e, sem nenhuma dúvida, é a fórmula mais sólida da NetherRealm até o momento.
Isso quer dizer que o título é perfeito para todos os gostos? De forma alguma. Se você é um cara que se identifica mais com jogabilidade rápida e de combos grandes, como se vê em um Marvel vs. Capcom, esta não será a experiência ideal. Apesar de ser uma questão de gosto, as qualidades técnicas e a melhoria colossal são inegáveis.
Há alguns probleminhas aqui e outros acolá, mas estão anos-luz de distância em ofuscar os méritos de Injustice 2. Uma coisa é clara: possivelmente, essa é a melhor experiência do gênero para agradar fãs hardcore ou novatos, pois se trata de um dos jogos mais abrangentes, acessíveis e bem construídos dos últimos tempos. Pode ter certeza: o que a DC Comics não acerta nos seus filmes, tira de letra com muita maestria nos games.
Vale lembrar que as notas são particulares e subjetivas, e que, para alguns, o game pode não ter o melhor sistema de combate ou a DC Comics pode não ser a melhor editora de HQs. No fim, dentro do próprio gênero, o jogo em si é um ponto fora da curva. Por mais que haja muito conteúdo e opções para entreter, elas podem não agradar a todos. Portanto, a nota alta não será a ideal para gregos e troianos.
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- Uma das experiências mais acessíveis e divertidas do gênero de luta
- História fenomenal e contada de forma extremamente bem-feita
- Combate foi aprimorado em todos os aspectos e agrada a veteranos e a novatos
- As novas mecânicas são interessantes e apimentam ainda mais a fórmula ideal da NetherRealm
- A quantidade de personagens é ótima e traz muita variedade de gameplay
- O netcode parece, até o momento, muito bom para jogar online
- Há muito o que se fazer no modo online e isso aumenta drasticamente o tempo de vida do game
- Customização é a melhor ideia que um jogo de luta teve em anos, com centenas de itens disponíveis
- Um dos melhores gráficos da nova geração, rodando tudo a 60 fps
- Sem dúvidas, uma das melhores dublagens brasileiras de jogos até hoje
- O sistema de looting exclusivamente aleatório incomoda de vez em quando
- Ganhar equipamentos para níveis altos pode frustrar na personalização
- Há pequenos erros de dublagem
Nota do Voxel